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Ministrio Pblico Federal

P ROCURADORIA

DA

R EPBLICA

NO

PARAN

F O R A -TA R E FA L AVA J ATO

EXCELENTSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA 13 VARA FEDERAL DA SUBSEO


JUDICIRIA DE CURITIBA/PR.

Distribuio por dependncia aos autos n 500661729.2016.4.04.7000/PR e 503520461.2016.4.04.7000/PR


Classificao no e-Proc: Sem sigilo
Classificao no NICO: Sem sigilo

O MINISTRIO PBLICO FEDERAL, por intermdio dos Procuradores da


Repblica signatrios, no exerccio de suas atribuies constitucionais e legais, vem, perante
V. Exa., com base nos elementos dos autos em epgrafe e dos demais relacionados, e com
fundamento no art. 129, I, da Constituio da Repblica Federativa do Brasil, oferecer
DENNCIA em face de

1. LUIZ INCIO LULA DA SILVA [LULA], brasileiro, filho de Euridece Ferreira de


Melo e de Aristides Incio da Silva, nascido em 06/10/1945 (70 anos), CPF
070.680.938-68, com residncia na Avenida Francisco Prestes Maia, n 1501, bloco
01, apartamento 122, Santa Terezinha, So Bernardo do Campo/SP;
2. MARISA LETCIA LULA DA SILVA [MARISA LETCIA], brasileira, filha de Regina
Rocco Casa e de Antnio Joo Casa, nascida em 07/04/1950, CPF 218.950.438-40,
com residncia na Avenida Francisco Prestes Maia, n 1501, bloco 01,
apartamento 122, Santa Terezinha, So Bernardo do Campo/SP;
3. PAULO TARCISO OKAMOTTO [PAULO OKAMOTTO], brasileiro, filho de Aida
Carvalho Okamotto e de Tadassi Okamotto, nascido em 28/02/1956, CPF
767.248.248-34, com residncia na Rua Arajo Viana, n 57, Jardim Silvina, So
Bernardo do Campo/SP:
4. JOS ADELMRIO PINHEIRO FILHO [LO PINHEIRO], brasileiro, filho de Izalta
Ferraz Pinheiro e de Jos Adelmrio Pinheiro, nascido em 29/09/1951, CPF
078.105.635-72, com residncia na Rua Roberto Caldas Kerr, n 151, Edifcio
Planalto, Alto de Pinheiros, em So Paulo/SP, atualmente recolhido na
Superintendncia da Polcia Federal em Curitiba/PR;
5. AGENOR FRANKLIN MAGALHES MEDEIROS [AGENOR MEDEIROS], brasileiro,
filho de Maria Magalhes Medeiros e de Waldemar Lins de Medeiros, nascido em
08/06/1948, CPF 063.787.575-34, com endereo na Rua Loureno de Almeida, n
580, apto. 121, Vila Nova Conceio, So Paulo/SP;
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6. PAULO ROBERTO VALENTE GORDILHO [PAULO GORDILHO], brasileiro, filho de
Carmen Valente Gordilho e de Adriano Velloso Gordilho, nascido em 08/06/1946
(70 anos), CPF 039.146.155-91, com residncia na Avenida Santa Luzia, n 610,
apartamento 1802, Ed. Ravello, Horto, Salvador/BA;
7. FBIO HORI YONAMINE [FBIO YONAMINE], brasileiro, filho de Massami Hori
Yonamine e de Jos Yonamine, nascido em 15/06/1972, CPF 163.120.278-21, com
residncia no endereo Rua Itacolomi, n 420, apartamento 9, Higienpolis, So
Paulo/SP;
8. ROBERTO MOREIRA FERREIRA [ROBERTO MOREIRA], brasileiro, filho de Lilia
Muylaert Moreira Ferreira e de Carlos Roberto Moreira Ferreira, nascido em
08/09/1974, CPF 249.713.938-54, com residncia na Rua Sarare, n 287,
apartamento 93, Lapa, So Paulo/SP.
pela prtica dos fatos delituosos a seguir expostos.
SUMRIO
1. SNTESE DA IMPUTAO..................................................................................................................... 3
1.1. BREVE RESUMO DO ESQUEMA CRIMINOSO........................................................................... 5
2. CORRUPO............................................................................................................................................ 8
2.1. CONTEXTUALIZAO........................................................................................................................ 8
Relao entre LULA e JOS DIRCEU..................................................................................................... 8
Presidencialismo de coalizo deturpado......................................................................................... 10
Mensalo e Lava Jato: faces de uma mesma moeda...................................................................14
LULA no vrtice de diversos esquemas criminosos.....................................................................18
Caixa geral de propina............................................................................................................................ 21
Uma complexa engrenagem criminosa a favor de LULA...........................................................28
LULA, JOS DIRCEU e a estruturao do Governo.......................................................................29
Nomeao de Paulo Roberto Costa para a Diretoria de Abastecimento............................30
Nomeao de Renato Duque para a Diretoria de Servios......................................................33
Nomeao de Nestor Cerver para a Diretoria Internacional.................................................35
Mensalo e influncia do PMDB na PETROBRAS.........................................................................36
Nomeao de Jorge Zelada para a Diretoria Internacional da PETROBRAS......................39
A estruturao de um grande esquema criminoso na PETROBRAS......................................40
O grande cartel de empreiteiras......................................................................................................... 44
2.2. IMPUTAES DE CORRUPO ATIVA E PASSIVA.................................................................49
A estrutura montada para os atos de corrupo..........................................................................51
A estrutura montada para os atos de corrupo na Diretoria de Abastecimento...........56
A estrutura montada para os atos de corrupo na Diretoria de Servios.........................59
Os contratos que originaram as vantagens indevidas................................................................63
A ao criminosa de LULA..................................................................................................................... 75
A ao criminosa de LO PINHEIRO e AGENOR MEDEIROS....................................................88
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3. DA LAVAGEM DE DINHEIRO............................................................................................................ 90
3.1. CRIMES ANTECEDENTES................................................................................................................ 90
3.2. DA CORRUPO E DA LAVAGEM DE DINHEIRO POR INTERMDIO DA AQUISIO,
PERSONALIZAO E DECORAO DE TRIPLEX NO CONDOMNIO SOLARIS NO
GUARUJ/SP........................................................................................................................................................... 94
3.2.1. DA CORRUPO E DA LAVAGEM DE DINHEIRO POR INTERMDIO DA
AQUISIO DE COBERTURA TRIPLEX NO CONDOMNIO SOLARIS NO GUARUJ/SP.............94
Aquisio do apartamento 141-A e recebimento da cobertura triplex 174-A..................95
Crise financeira da BANCOOP, assuno do Condomnio Mar Cantbrico pelo Grupo
OAS e entrega da cobertura triplex 174-A para LULA e MARISA LETCIA......................................99
Incremento ou upgrade da unidade de LULA e MARISA LETCIA no Condomnio
Solaris s custas da OAS.................................................................................................................................. 102
Concluso do Condomnio Solaris pelas OAS EMPREENDIMENTOS..............................107
A visita para definir a personalizao do imvel para LULA e MARISA.............................108
O projeto de personalizao do imvel para LULA e MARISA.............................................108
A visita para verificar a execuo do projeto de personalizao do imvel de LULA e
MARISA.................................................................................................................................................................. 109
O apartamento nunca foi anunciado para venda ou visitado por qualquer outro
interessado............................................................................................................................................................ 110
Da propina paga e ocultada mediante a aquisio da cobertura triplex 164-A............111
3.2.2. DA CORRUPO E DA LAVAGEM DE DINHEIRO POR INTERMDIO DO CUSTEIO
DE OBRAS DE PERSONALIZAO DA COBERTURA TRIPLEX DO CONDOMNIO SOLARIS...112
Valor recebido indevidamente de LO PINHEIRO e lavado mediante a reforma da
cobertura triplex 164-A do Condomnio Solaris.................................................................................... 118
3.2.3. DA CORRUPO E DA LAVAGEM DE DINHEIRO POR INTERMDIO DO CUSTEIO
DA DECORAO DA COBERTURA TRIPLEX DO CONDOMNIO SOLARIS....................................118
Da propina recebida e dos valores lavados mediante a decorao da cobertura triplex
164-A do Condomnio Solaris....................................................................................................................... 125
Totalizao dos valores lavados mediante a aquisio, reforma e decorao da
cobertura triplex 164-A do Condomnio Solaris.................................................................................... 125
3.3. PROVA DE AUTORIA...................................................................................................................... 126
3.4. DOS PAGAMENTOS, COM O PROVEITO DOS CRIMES ANTECEDENTES, DO
CONTRATO DE ARMAZENAGEM DE BENS............................................................................................... 132
Valor recebido indevidamente e lavado mediante a armazenagem de bens.................137
3.4.1. PROVA DE AUTORIA.................................................................................................................. 137
4. CAPITULAO..................................................................................................................................... 138
5. REQUERIMENTOS FINAIS................................................................................................................ 139
1. SNTESE DA IMPUTAO
1. O MINISTRIO PBLICO FEDERAL oferece denncia em face de LUIZ INCIO
LULA DA SILVA [LULA] da prtica do delito de corrupo passiva qualificada, por 3 vezes,

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em concurso material, previsto no art. 317, caput e 1, c/c art. 327, 2, todos do Cdigo
Penal, e JOS ADELMRIO PINHEIRO FILHO [LO PINHEIRO] e AGENOR FRANKLIN
MAGALHES MEDEIROS [AGENOR MEDEIROS] pela prtica, por 9 vezes, em concurso
material, do delito de corrupo ativa, em sua forma majorada, previsto no art. 333, caput e
pargrafo nico, do Cdigo Penal. As vantagens indevidas consistiram em recursos pblicos
desviados no valor de, pelo menos, R$ 87.624.971,26, as quais foram usadas, dentro do
mega esquema comandado por LULA, no s para enriquecimento ilcito dos envolvidos,
mas especialmente para alcanar governabilidade com base em prticas corruptas e
perpetuao criminosa no poder.
Com efeito, em datas ainda no estabelecidas, mas compreendidas entre
11/10/2006 e 23/01/2012, LULA, de modo consciente e voluntrio, em razo de sua funo e
como responsvel pela nomeao e manuteno de RENATO DE SOUZA DUQUE [RENATO
DUQUE] e PAULO ROBERTO COSTA nas Diretorias de Servios e Abastecimento da
PETROBRAS, solicitou, aceitou promessa e recebeu, direta e indiretamente, para si e para
outrem, inclusive por intermdio de tais funcionrios pblicos, vantagens indevidas, as quais
foram de outro lado e de modo convergente oferecidas e prometidas por LO PINHEIRO e
AGENOR MEDEIROS, executivos do Grupo OAS, para que estes obtivessem benefcios para o
CONSRCIO CONPAR, contratado pela PETROBRAS para a execuo das obras de ISBL da
Carteira de Gasolina e UGHE HDT de instveis da Carteira de Coque da Refinaria Getlio
Vargas REPAR e para o CONSRCIO RNEST/CONEST, contratado pela PETROBRAS para a
implantao das UHDTs e UGHs da Refinaria Abreu e Lima RNEST, e para a implantao
das UDAs da Refinaria Abreu e Lima RNEST. As vantagens foram prometidas e oferecidas
por LO PINHEIRO e AGENOR MEDEIROS, a LULA, RENATO DUQUE, PAULO ROBERTO
COSTA e PEDRO JOS BARUSCO FILHO [PEDRO BARUSCO], para determin-los a, infringindo
deveres legais, praticar e omitir atos de ofcio no interesse dos referidos contratos.
2. O MINISTRIO PBLICO FEDERAL tambm denuncia LULA, MARISA LETCIA
LULA DA SILVA [MARISA LETCIA], LO PINHEIRO, PAULO ROBERTO VALENTE
GORDILHO [PAULO GORDILHO], FBIO HORI YONAMINE [FBIO YONAMINE] e
ROBERTO MOREIRA FERREIRA [ROBERTO MOREIRA], pela prtica, por 3 vezes, em
concurso material, do crime de lavagem de dinheiro, em sua forma majorada, conforme
previsto no art. 1 c/c o art. 1 4, da Lei n 9.613/98. O montante de dinheiro lavado
mediante tais condutas totalizou R$ 2.424.990,83, conforme adiante narrado.
LULA, de modo consciente e voluntrio, no contexto das atividades da
organizao criminosa abaixo exposta, em concurso e unidade de desgnios com MARISA
LETCIA, LO PINHEIRO, PAULO GORDILHO, FBIO YONAMIME e ROBERTO MOREIRA,
pelo menos desde data prxima a 08/10/2009 at a presente data, dissimularam e ocultaram
a origem, a movimentao, a disposio e a propriedade de R$ 2.424.990,83 provenientes
dos crimes de cartel, fraude licitao e corrupo praticados pelos executivos da
CONSTRUTORA OAS em detrimento da Administrao Pblica Federal, notadamente da
PETROBRAS, conforme descrito nesta pea, por meio: (i) da aquisio em favor de LULA e
MARISA LETCIA, por intermdio da OAS EMPREENDIMENTOS, do apartamento 164-A do
Condomnio Solaris, localizado na Av. Gal. Monteiro de Barros, n 638, em Guaruj/SP, no
valor de R$ 1.147.770,96, assim como pela manuteno em nome da OAS
EMPREENDIMENTOS do apartamento que pertencia a LULA e MARISA LETCIA, pelo menos
desde data prxima a 08/10/2009 at a presente data; (ii) do pagamento de R$ 926.228,82,
entre 08/07/2014 e 18/11/2014, pela OAS EMPREENDIMENTOS TALLENTO CONSTRUTORA
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LTDA., para efetuar as reformas estruturais e de acabamento realizadas no imvel para
adequ-lo aos desejos da famlia do ex-Presidente da Repblica; e (iii) do pagamento de R$
350.991,05, entre 26/09/2014 e 11/11/2014, pela OAS EMPREENDIMENTOS KITCHENS
COZINHAS E DECORACOES LTDA. e FAST SHOP S.A., para custear a aquisio de mveis de
decorao e de eletrodomsticos para o referido apartamento, adequando-o aos desejos da
famlia do ex-Presidente da Repblica.
3. O MINISTRIO PBLICO FEDERAL tambm denuncia LULA, LO PINHEIRO e
PAULO TARCISO OKAMOTTO [PAULO OKAMOTTO] pela prtica, por 61 vezes, em
continuidade delitiva, do crime de lavagem de dinheiro, em sua forma majorada, conforme
previsto no art. 1 c/c o art. 1 4, da Lei n 9.613/98. O montante de dinheiro ilcito lavado
mediante tais condutas totalizou R$ 1.313.747,24, conforme descrito a seguir.
LULA, de modo consciente e voluntrio, no contexto das atividades da
organizao criminosa abaixo exposta, em concurso e unidade de desgnios com LO
PINHEIRO e PAULO OKAMOTTO, no perodo compreendido entre 01/01/2011 e
16/01/2016, dissimularam a origem, a movimentao e a disposio de R$ 1.313.747,24
provenientes dos crimes de cartel, fraude licitao e corrupo praticados pelos executivos
da CONSTRUTORA OAS, em detrimento da Administrao Pblica Federal, notadamente da
PETROBRAS, conforme descrito nesta pea, por meio de contrato ideologicamente falso de
armazenagem de materiais de escritrio e mobilirio corporativo de propriedade da
CONSTRUTORA OAS, o qual se destinava na verdade a armazenar bens pessoais de LULA,
firmado com a empresa GRANERO TRANSPORTES LTDA., que redundou em 61 pagamentos
mensais no valor de R$ 21.536,84 cada.
Todo valor objeto da lavagem tambm se constitui em vantagem indevidamente
recebida por LULA, totalizando R$ 3.738.738,07.
1.1. BREVE RESUMO DO ESQUEMA CRIMINOSO
4. No perodo entre 11/10/2006 at a presente data, LULA, MARISA LETCIA,
PAULO OKAMOTTO, LO PINHEIRO, AGENOR MEDEIROS, PAULO GORDILHO, FBIO
YONAMINE e ROBERTO MOREIRA participaram, cada um na medida de sua culpabilidade,
de uma trama criminosa que envolveu, dentre outros crimes, atos de corrupo e lavagem de
dinheiro.
5. Aps a assumir o cargo de Presidente da Repblica, LULA comandou a
formao de um esquema delituoso de desvio de recursos pblicos destinados a enriquecer
ilicitamente, bem como, visando perpetuao criminosa no poder, comprar apoio
parlamentar e financiar caras campanhas eleitorais.
De fato, LULA decidiu em ltima instncia e em definitivo acerca da montagem e
permanncia de uma estrutura criminosa que o beneficiou de diferentes formas: (a) garantiu,
durante seu mandato Presidencial, governabilidade assentada em bases criminosas, mediante
compra de apoio poltico; (b) formou, em favor de seu partido PARTIDO DOS
TRABALHADORES [PT] , um colcho de recursos ilcitos para abastecer futuras campanhas
eleitorais, no contexto de uma perpetuao criminosa no poder; (c) disponibilizou em seu
proveito dinheiro decorrente de crimes, propiciando enriquecimento ilcito. Todas essas
vantagens indevidas estiveram ligadas ao desvio de recursos pblicos e ao pagamento de
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propina a agentes pblicos e polticos, agremiaes partidrias e operadores financeiros.
6. A apurao revelou um cenrio de grande corrupo na PETROBRAS e um
cenrio de macrocorrupo maior ainda, em que o esquema identificado pela Operao
Lava Jato se desenvolveu. Conforme amplamente comprovado nessa Operao, diversas
grandes empreiteiras, por meio de seus executivos, constituram um cartel para fraudar
procedimentos licitatrios. Mediante ajustes recprocos e corrupo de funcionrios pblicos
de alto escalo e de agentes polticos, impuseram um cenrio artificial de "no concorrncia",
permitindo-lhes elevar ao mximo o preo que receberiam em decorrncia da execuo das
respectivas obras. Para que obtivessem a colaborao de agentes pblicos, as empresas
cartelizadas comprometiam-se a repassar, aps o incio da execuo das obras, percentuais
dos valores totais dos contratos que lhes fossem adjudicados. Parte desses valores esprios
foi entregue diretamente aos agentes pblicos corrompidos (funcionrios da PETROBRAS e
polticos), parcela foi disponibilizada por meio dos chamados operadores financeiros e, por
fim, uma terceira parte foi direcionada s prprias agremiaes partidrias mediante doaes
feitas apenas formalmente de acordo com as leis, ou mediante outras operaes de lavagem
de dinheiro.
O avano da investigao revelou, ainda, um cenrio de macrocorrupo para
alm da PETROBRAS, em que a distribuio dos altos cargos na Administrao Pblica
Federal, incluindo as Diretorias da PETROBRAS, era, pelo menos em muitos casos, um
instrumento para a arrecadao de propinas, em benefcio do enriquecimento de agentes
pblicos, da perpetuao criminosa no poder e da compra de apoio poltico de agremiaes
a fim de garantir a fidelidade destas ao governo LULA. As propinas eram arrecadadas pelos
detentores de posies prestigiadas em entidades pblicas, de particulares que se
relacionavam com tais entidades, diretamente ou por meio de intermedirios, para serem em
seguida distribudas entre operadores, funcionrios e seus padrinhos polticos. Nesse
contexto, a distribuio, por LULA, de cargos para polticos e agremiaes estava, em vrias
situaes, ligada a um esquema de desvio de dinheiro pblico, parte do qual descrito nesta
denncia.
7. Essa engrenagem servia a projetos pessoais de enriquecimento ilcito de
detentores de cargos, funcionrios pblicos e polticos, e, sobretudo, a projetos criminosos
de poder de partidos polticos, incluindo o PT. Todos ganhavam, mas as rdeas da criao e
desenvolvimento do esquema estavam nas mos de uma estrutura partidria, do PT, que
tinha grande influncia sobre as decises do governo federal de distribuio de cargos.
LULA, enquanto seu lder de maior projeo, foi o maior interessado e beneficirio da
governabilidade corrompida (compra de apoio de terceiros partidos) e da perpetuao
criminosa no poder pela formao de um colcho de propina que seria usado para financiar
campanhas eleitorais nos mais diversos nveis. Alm disso, seu esquema conduziu
distribuio de riqueza ilcita a integrantes de diversos partidos, incluindo o PT e ele prprio.
8. LULA, que ocupou o cargo de Presidente da Repblica no perodo
compreendido entre 01/01/2003 e 31/12/2010, escolheu e manteve, por longo perodo de
tempo, Diretores da PETROBRAS comprometidos com a arrecadao de propinas, a fim de
fazer o esquema funcionar. Na Diretoria de Servios, cuja direo cabia a RENATO DUQUE,
parcela substancial dos valores esprios foi destinada ao PT e seus integrantes. J na Diretoria

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de Abastecimento, comandada por PAULO ROBERTO COSTA, parte expressiva da propina foi
destinada a partidos da base aliada do Governo LULA, como o PARTIDO PROGRESSISTA [PP]
e o PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRTICO BRASILEIRO [PMDB]. Embora a participao
dos altos funcionrios pblicos fosse relevante no esquema, eles eram peas substituveis, no
sentido de que, se no se adequassem aos propsitos de seu comandante, LULA, seriam
colocados outros em seu lugar para que o esquema fosse implementado.
9. Nesse esquema criminoso, LULA dominava toda a estrutura por ele montada,
com plenos poderes para decidir sobre sua prtica, interrupo e circunstncias. O esquema
perdurou por, pelo menos, uma dcada. Diversas pessoas prximas a LULA e da cpula do
PT, que faziam parte desse arranjo criminoso, j foram denunciadas por seu envolvimento em
crimes de corrupo e lavagem de dinheiro, reforando o carter partidrio e verticalizado do
esquema criminoso. Dentre eles, esto ex-Ministros de Estado (como JOS DIRCEU DE
OLIVEIRA E SILVA [JOS DIRCEU], que j foi considerado a segunda maior autoridade do pas,
como brao direito de LULA), ex-tesoureiros do PT (como JOO VACCARI NETO),
marqueteiros de campanha presidencial (como JOO SANTANA), e pessoas de extrema
confiana do ex-Presidente da Repblica (como JOS CARLOS BUMLAI).
10. Nesse contexto, vrias empresas prximas a LULA foram beneficiadas pela
corrupo que fraudou licitaes da Administrao Pblica Federal, notadamente da
PETROBRAS. Com efeito, LULA manteve relao prxima com diversos executivos dessas
companhias. Alm da proximidade, identificou-se que o INSTITUTO LUIZ INACIO LULA DA
SILVA [INSTITUTO LULA] e a L.I.L.S. PALESTRAS, EVENTOS E PUBLICAES LTDA., entidades
em que LULA a figura mxima, receberam aportes multimilionrios das empreiteiras
participantes da organizao criminosa. Entre 2011 e 2014, as empresas de LULA tiveram
ingressos de recursos superiores a R$ 55.000.000,00, sendo mais de R$ 30.000.000,00 da
CAMARGO CORREA, ODEBRECHT, QUEIROZ GALVO, OAS, UTC e ANDRADE GUTIERREZ,
todas essas empreiteiras investigadas na Operao Lava Jato. Desse valor, mais de R$
7.500.000,00 foram transferidos a LULA1.
11. A partir desse macrocontexto criminoso, esta denncia imputa a LULA,
especificamente, os crimes relacionados ao Grupo OAS2 [OAS] que sero a seguir detalhados,
sem prejuzo de novas acusaes futuras. Dentre os procedimentos licitatrios da
PETROBRAS que foram fraudados pelas empreiteiras cartelizadas, esto os relativos a obras
da REPAR (Refinaria Presidente Vargas, localizada em Araucria/PR) e da RNEST (Refinaria
Abreu Lima, localizada em Ipojuca/PE), em que a OAS foi favorecida. Nesses casos, entre
11/10/2006 e 23/01/2012, LULA, contando com a atuao de RENATO DUQUE, PEDRO
BARUSCO e PAULO ROBERTO COSTA nas Diretorias de Servios e Abastecimento da Estatal,
foi o responsvel pela gerao e pagamento de vantagens indevidas de, pelo menos, R$
1 Fatos narrados para efeitos de contextualizao, portanto no imputados na presente denncia.
2 O GRUPO OAS um conglomerado multinacional brasileiro, de capital privado, que rene empresas presentes
em territrio nacional e em mais de 20 pases. [] Hoje, a OAS se estabelece em duas reas complementares: a OAS
Engenharia S.A. [integrada pela CONSTRUTORA OAS [OAS], OAS defesa, OAS Energy, OAS Logstica e comrcio
exterior, COESA] responsvel pela execuo de obras da construo civil pesada nos setores pblico e privado, como
estradas, aeroportos, hidreltricas, barragens e portos, e a OAS Investimentos S.A. [integrada pela OAS Arenas, OAS
EMPREENDIMENTOS, OAS leo e Gs, OAS Solues Ambientais e outras], focada em investimentos de
infraestrutura, saneamento, arenas multiso, leo, gs, concesses de vias urbanas, rodovias, metrs e aeroportos
(informao disponvel no site: <http://www.oas.com.br/oas-com/oas-s-a/quem-somos/>).
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87.624.971,26, oferecidas e prometidas por LO PINHEIRO FILHO e AGENOR MEDEIROS,
executivos da OAS, para que estes obtivessem benefcios nas referidas obras.
12. Parte dessa propina, cerca de R$ 2.424.990,83, foi recebida por LULA por
meio de expedientes de ocultao e dissimulao de propriedade de bens e valores, isto ,
mediante atos de lavagem de dinheiro. LULA, com a participao de sua esposa MARISA
LETCIA, assim como dos executivos do Grupo OAS LO PINHEIRO, PAULO GORDILHO,
FBIO YONAMIME e ROBERTO MOREIRA, pelo menos desde data prxima a 08/10/2009
at a presente data, recebeu o apartamento 164-A do Condomnio Solaris, em Guaruj/SP,
personalizado e decorado com recursos provenientes dos crimes praticados em prejuzo da
Administrao Pblica Federal, notadamente da PETROBRAS.
13. Outra parte dos recursos desviados, cerca de R$ 1.313.747,24, foi recebida
por LULA por meio de expedientes de ocultao e dissimulao da sua disposio e
propriedade, ou seja, por meio de atos de lavagem de dinheiro. LULA, com a participao de
PAULO OKAMOTTO e de LO PINHEIRO, entre 01/01/2011 e 16/01/2016, recebeu
indiretamente do Grupo OAS aquele valor, por meio do pagamento, por esse grupo,
mediante a assinatura de um contrato fraudulento, da armazenagem de bens no interesse do
ex-Presidente da Repblica.
2. CORRUPO
2.1. CONTEXTUALIZAO
Relao entre LULA e JOS DIRCEU
14. Para se eleger ao cargo de Presidente da Repblica 3 LULA formulou um
arranjo partidrio que marcou a estrutura administrativa federal a partir daquele momento e
que culminou em um esquema criminoso voltado corrupo, fraude a licitaes e lavagem
de dinheiro. LULA concorreu ao mencionado cargo pela Coligao formada pelo PT, PC do B,
PL, PMN, e PCB, e contou no segundo turno das eleies com o apoio de expoentes do PPS,
PSB e PDT4-5-6.
15. Durante a disputa eleitoral, duas pessoas j ocupavam posio de destaque
junto a LULA: JOS DIRCEU, presidente do PT na poca e coordenador da campanha 7; e

3 ANEXO 1 Disponvel em: <http://www.tse.jus.br/eleicoes/eleicoes-anteriores/eleicoes-2002/resultado-daeleicao-2002.


4 ANEXO 2 Disponvel em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2002/eleicoes/candidatos-LULAaliancas.shtml>.
5 No incio, o PMDB no integrava essa base de apoio, mas, sim, a candidatura oposta.
6 As siglas, em ordem em que citadas no texto, remetem a: Partido dos Trabalhadores [PT], Partido Comunista do
Brasil [PCdoB], Partido Liberal [PL], Partido da Mobilizao Nacional [PMN], Partido Comunista Brasileiro [PCB],
Partido Popular Socialista [PPS], Partido Socialista Brasileiro [PSB], e Partido Democrtico Trabalhista [PDT].
7 ANEXO 3 Disponvel em: <http://www2.camara.leg.br/deputados/pesquisa/layouts_deputados_biografia?
pk=100528&tipo=0.
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ANTONIO PALOCCI FILHO [PALOCCI] 8-9, sendo vistos como efetivos pilares de sustentao da
imagem e do programa governamental do ento candidato.
De fato, dentro do PARTIDO DOS TRABALHADORES, JOS DIRCEU era apontado
o homem forte do novo Governo10 e, apenas dois dias aps ser eleito, LULA indicou
PALOCCI11 para o cargo de coordenador da equipe de transio governamental 12-13. Apesar
disso, LULA assumiu publicamente que a escolha dos Ministros de seu Governo estava sob o
seu controle pessoal. Em manifestao imprensa, disse: Se quiserem falar dos ministrios,
no falem comigo. Eu falarei com vocs14.
16. Em 01/01/2003, LULA assumiu o cargo de Presidente da Repblica e,
imediatamente, expandiu o nmero de cargos ministeriais 15. Em seguida, deu posse a
diversos Ministros de Estado, dentre eles, JOS DIRCEU, na Casa Civil, e representantes das
legendas que o apoiaram no pleito presidencial.
17. JOS DIRCEU era pessoa de extrema confiana de LULA. Ambos fundaram o
PT em 1980 e, desde ento, foram filiados a essa agremiao poltica. LULA foi presidente do
PT de 1981 a 198816 e de 1990 a 199417. JOS DIRCEU foi presidente do PT de 1995 a 200218.
Essa relao de confiana de mais de 20 anos conduziu JOS DIRCEU
coordenao da campanha de LULA, em 2002, e culminou com sua nomeao para o cargo
de maior poder junto Presidncia da Repblica, qual seja, Ministro-Chefe da Casa Civil. Mais
do que isso, a condio poltica conquistada e a sua cumplicidade deram base para, juntos,
colocarem em prtica um esquema delituoso voltado perpetuao criminosa no poder,
governabilidade corrompida e ao enriquecimento ilcito, todos assentados na gerao e
pagamento de vantagens indevidas a agentes pblicos.
Para tanto, por meio do Decreto n 4.734 de 11/06/2003, LULA lhe conferiu
amplos poderes, delegando a ele a competncia para praticar os atos de provimento de
cargos em comisso do Grupo Direo e Assessoramento Superiores no mbito da
Administrao Pblica Federal, incluindo todas as secretarias especiais e o gabinete pessoal
8 ANTONIO PALOCCI assumiu a coordenao do plano de governo depois do assassinato do ex-prefeito de Santo
Andr, CELSO DANIEL, em janeiro de 2002
9 ANEXO 4 Disponvel em: <http://exame.abril.com.br/economia/noticias/palocci-sera-o-coordenador-dogoverno-de-transicao-m0064497>.
10 ANEXO 5 Disponvel em: <http://noticias.terra.com.br/transicao/interna/0,,OI66256-EI1006,00.html>.
11 ANEXO 6 Disponvel em: <http://exame.abril.com.br/economia/noticias/LULA-comeca-a-governar-o-brasilna-terca-feira-29-m0064480>.
12 ANEXO 7 Disponvel em: <http://noticias.terra.com.br/eleicoes/interna/0,5625,OI65082-EI380,00.html>.
13 Segundo o Ponto 2 da EM Interministerial n 346/MP/CCIVIL-PR da Medida Provisria n 76/2002
(posteriormente convertida na Lei n 10.609/2002), a constituio da equipe de transio tem por objetivo
permitir a atuao conjunta de integrantes da equipe designada pelo Presidente eleito com a Administrao
corrente, garantindo nova Administrao a oportunidade de atuar no programa de governo do novo Presidente da
Repblica desde o primeiro dia do seu mandato, preservando a sociedade do risco de descontinuidade de aes de
grande interesse pblico.
14 ANEXO 7 Disponvel em: <http://noticias.terra.com.br/eleicoes/interna/0,5625,OI65082-EI380,00.html>.
15 Medida Provisria n 103, de 01/01/2003, posteriormente convertida na Lei n 10.683/2003.
16 ANEXO 8 Disponvel em: <http://www2.camara.leg.br/deputados/pesquisa/layouts_deputados_biografia?
pk=106585&tipo=0>.
17 ANEXO 9.
18 ANEXO 3 Disponvel em: <http://www2.camara.leg.br/deputados/pesquisa/layouts_deputados_biografia?
pk=100528&tipo=0>.
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do presidente, inclusive aquelas necessrias estruturao de um grande esquema criminoso
que contaminou a Administrao Pblica Federal.
Presidencialismo de coalizo deturpado
18. Dentro do presidencialismo de coalizo 19, a formao da base aliada do
Governo envolve trs momentos tpicos. Primeiro, a constituio da aliana eleitoral, que
requer negociao em torno de diretivas programticas mnimas, a serem observadas aps a
eventual vitria eleitoral. Segundo, a constituio do governo, no qual predomina a
distribuio de cargos e compromissos relativos a um programa mnimo de governo.
Finalmente, a transformao da aliana em coalizo efetivamente governante, momento em
que emerge o problema da formulao da agenda real de polticas e das condies de sua
implementao. Numa estrutura multipartidria, o sucesso das negociaes, na direo de
um acordo explcito entre o Poder Executivo e os integrantes do Poder Legislativo, que
aprova as leis que concretizam o plano de governo, decisivo para capacitar o sistema
poltico a atender demandas polticas, sociais e econmicas.
Conforme descrito acima, a estratgia de atuao de LULA e seus auxiliares
prximos visava atuao conjunta e cooperativa na disputa eleitoral, envolvendo no s o
PT, partido de LULA, mas tambm outras agremiaes polticas. No segundo turno das
eleies, porm, foi necessrio que a campanha buscasse o apoio de outras legendas para
que a base de sustentao fosse forte o suficiente, sendo prometido, aos partidos que no
compunham originalmente a coligao que, em caso de vitria, essas agremiaes teriam
espao e integrariam a base aliada do novo Governo. Em outras palavras, essa articulao,
em que LULA, candidato, e JOS DIRCEU, coordenador da campanha, eram figuras centrais,
foi essencial para que houvesse suporte poltico para o sucesso no pleito eleitoral. Como
mencionado acima, aps as eleies, representantes de partidos polticos que apoiaram a
campanha presidencial de LULA tomaram posse como Ministros de Estado.
19. No entanto, esse ajuste se revelou insuficiente para conquistar ampla maioria
dentro de um Congresso Nacional multipartidrio e, assim, garantir a governabilidade do
Chefe do Poder Executivo. Com efeito, ao cabo das eleies, os partidos polticos que haviam
se comprometido em apoiar a candidatura de LULA no formavam uma maioria confortvel
nas Casas do Congresso Nacional 20-21. No incio de 2003, havia 259 Deputados Federais e 50
Senadores da Repblica de oposio, ante 254 deputados Federais e 31 Senadores da
Repblica da base aliada ao Governo Federal22.
19 A expresso presidencialismo de coalizo foi cunhada em artigo escrito pelo cientista poltico Srgio
Abranches, publicado ainda durante os trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte [ABRANCHES, Srgio
Henrique. Presidencialismo de coalizo: o dilema institucional brasileiro. Revista de Cincias Sociais, Rio de Janeiro,
31 (1988), p. 3 a 34]. No texto, Srgio Abranches destaca que o Brasil o nico pas que, alm de combinar a
proporcionalidade, o multipartidarismo e o "presidencialismo imperial", organiza o Executivo com base em grandes
coalizes. Esse trao peculiar da institucionalidade concreta brasileira, designado "presidencialismo de coalizo",
reflete a realidade de um pas presidencialista em que a fragmentao do poder parlamentar entre vrios partidos
obriga o Presidente, para governar, a costurar uma ampla maioria no Congresso Nacional, frequentemente
problemtica e no necessariamente alinhada ideologicamente.
20 ANEXO 10 Disponvel em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2002/eleicoes/congresso_nacionalsenado.shtml>.
21 ANEXO 11 Disponvel em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2002/eleicoes/congresso_nacionalcamara_dos_deputados.shtml>.
22 ANEXO 12 Disponvel em: <http://www.pragmatismopolitico.com.br/2011/02/congresso-toma-posse-com10/149

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20. Naquele momento, para melhor implementar as medidas atinentes ao seu
programa de governo e garantir sua empreitada criminosa, LULA precisava angariar maior
apoio dentro da Cmara dos Deputados e do Senado Federal23. Assim, a indicao poltica
para altos postos da Administrao Pblica Federal tinha por objetivo viabilizar a participao
no Governo dos partidos polticos da base aliada, mantendo sob controle direto os grandes
contratos pblicos, como forma de angariar vantagens indevidas, assegurando apoio poltico.
Normalmente, ao alcanar uma coalizo mais ampla, integrantes dos partidos
aliados poderiam participar no apenas dos projetos polticos no Congresso, mas tambm da
execuo desse plano de governo comum, mediante a sua vinculao com cargos
estratgicos. Essa base poltica aliada, tambm integrando o Governo, auxiliaria a
manuteno e ampliao de uma maioria nas casas parlamentares, o que permitiria a
aprovao de projetos de lei de que dependia a execuo do plano de governo do
Presidente da Repblica.
21. No entanto, de forma contrria, em vez de buscar apoio poltico por
intermdio do alinhamento ideolgico, LULA comandou a formao de um esquema
criminoso de desvio de recursos pblicos destinados a comprar apoio parlamentar de outros
polticos e partidos, enriquecer ilicitamente os envolvidos e financiar caras campanhas
eleitorais do PT em prol de uma permanncia no poder assentada em recursos pblicos
desviados. A motivao da distribuio de altos cargos na Administrao Pblica Federal
excedeu a simples disposio de cargos estratgicos a agremiaes polticas alinhadas ao
plano de governo. Ela passou a visar gerao e arrecadao de propina em contratos
pblicos.
Restou comprovado que determinados agentes polticos, guiados por interesses
escusos, fecharam os olhos para projetos de governo, em troca do direito de fazer indicaes
de pessoas de sua confiana para cargos pblicos. Nesse esquema, os apadrinhados que
assumiram altos cargos da Administrao Pblica serviam aos interesses escusos de seus
padrinhos polticos, inclusive arrecadando propinas. Assim, dentro de um sistema criminoso
bastante conhecido nas sombras do poder, objetivava-se, na realidade, permitir que os
agentes polticos responsveis pelas indicaes colocassem nos cargos pessoas
comprometidas com a arrecadao de propina.
Assim, LULA, com o apoio de JOS DIRCEU e de diversas outras pessoas de sua
grande confiana, lanou mo da distribuio de centenas de cargos de direo em
Ministrios, Secretarias, Empresas Pblicas e Sociedades de Economia Mista, assim como dos
18.374 cargos de confiana j previstos desde o governo anterior 24.
Importante frisar que a distribuio de cargos para arrecadar propina no teve
por propsito nico garantir a governabilidade, mas objetivou tambm a perpetuao no
poder do prprio partido do ento Presidente da Repblica (com a majoritria distribuio
de cargos), e o enriquecimento esprio de todos (tanto que expressiva porcentagem da
propina foi direcionada a funcionrios pblicos e agentes polticos).
formacao.html>.
23 Dentro da forma de relacionamento entre Poder Executivo e Poder Legislativo estabelecida no Brasil, chamada
de presidencialismo de coalizo, era natural que, em busca da governabilidade, o Poder Executivo buscasse o
apoio de integrantes de outros partidos. Nesse encadeamento, era esperado tambm que o Presidente
compartilhasse o poder, com distribuio interpartidria de cargos de Governo e, assim, atingisse a
governabilidade e conseguisse, como consequncia, aprovar medidas legislativas no Congresso.
24 ANEXO 13 Conforme se verifica na seguinte reportagem: <http://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2015-0327/governos-petistas-criaram-45-mil-cargos-comissionados-no-governo-federal.html>
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Portanto, a nsia de ganhar rapidamente o mximo de apoio no Congresso e o
desejo de perpetuar o PT no Poder no s no Executivo federal como em outros nveis de
governo em que as campanhas seriam alimentadas com dinheiro criminoso moveram
LULA, auxiliado por JOS DIRCEU, na orquestrao de uma sofisticada estrutura ilcita de
compra de apoio parlamentar. De fato, a arrecadao de propinas, assentada na distribuio
de cargos pblicos, permitiu o direcionamento de vantagens indevidas a agentes e partidos
polticos, funcionrios pblicos, operadores financeiros e empresrios, dando origem a um
esquema criminoso revelado, parte na ao penal relativa ao Mensalo e parte nas aes
penais da Operao Lava Jato.
22. Os indicados para os altos cargos da Repblica cumpriam o compromisso
assumido com seus padrinhos, polticos e partidos, de prestar favores a particulares no
exerccio de suas funes pblicas e, em contrapartida, obtinham dos favorecidos, no raro
grandes empresas e empreiteiras contratadas pelo Estado, o repasse de centenas de milhes
de reais em vantagens indevidas25.
Dentro dessa engrenagem perniciosa, recursos esprios foram gerados pelo
desvio e m aplicao de verbas pblicas e, em seguida, utilizados para proporcionar o
enriquecimento ilcito de agentes pblicos e polticos, empresrios e operadores financeiros,
e para financiar campanhas eleitorais milionrias do prprio PT ou de partidos aliados.
23. Essa articulao, iniciada logo no comeo de 2003, mostrou-se eficiente na
obteno do apoio dentro da Cmara dos Deputados e do Senado Federal. Com a
distribuio de cargos realizada pela Casa Civil, comandada por JOS DIRCEU, em maio
daquele ano, j se registrava que o nmero de Deputados Federais dos partidos da base de
apoio ao Governo de LULA chegava a 32526, um nmero muito maior aos 254 que
originalmente tinham lhe conferido apoio. No final de 2003, dos 15 partidos representados
na Cmara dos Deputados, 11 apoiavam LULA. Esse grupo reunia 376 Deputados Federais,
ou cerca de 73% da Casa. Em relao base parlamentar no incio da legislatura, o Governo
incorporou o apoio, dentre outros, do PMDB e do PP, que reuniam mais de 120 Deputados
Federais27.
24. Para angariar o apoio dos agentes polticos do PMDB, ainda em 2003, houve
indicaes, dentre outras com a anuncia de LULA, para o cargo de lder do Governo no
Congresso28; para o cargo de embaixador do Brasil em Portugal29; e de SRGIO MACHADO
(PMDB-CE) para a presidncia da TRANSPETRO 30-31-32. Na poca, o ento presidente da
PETROBRAS admitiu que o cargo de presidente da TRANSPETRO foi oferecido ao PMDB em
troca do apoio do partido ao Governo, cargo esse que, mais tarde, teria seu uso para
25 ANEXO 14 Termo de declaraes prestado por PEDRO CORRA, em 01/09/2016.
26 ANEXO 15 Disponvel em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc1505200302.htm>.
27 ANEXO 16 Disponvel em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u56811.shtml>.
28 ANEXO 17.
29 ANEXOS 18 e 19.
30 ANEXO 20 Relatrio de Informao n 172/2016 elaborado pela Assessoria de Pesquisa e Anlise
ASSPA/PRPR.
31 ANEXO 15 Disponvel em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc1505200302.htm>.
32 ANEXO 21 Disponvel em: <http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2003-06-17/sergio-machado-enomeado-novo-presidente-da-transpetro>.
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arrecadar propinas comprovado33.
Da mesma forma, para obter o suporte dentro do Parlamento de polticos ligados
ao PP, no incio do Governo LULA, foram indicados pela legenda mandatrios para cargos de
destaque dentro da Administrao Pblica Federal, como para a Diretoria Comercial do
INSTITUTO DE RESSEGUROS DO BRASIL [IRB]34; para o cargo de Secretrio de Cincia e
Tecnologia35; e para a Diretoria de Abastecimento da PETROBRAS (no caso, PAULO ROBERTO
COSTA)36-37-38-39.
LULA passou, ento, a contar, dentro da Cmara dos Deputados, no s com o
apoio de seu partido, o PT, mas tambm da terceira e quinta maiores bancadas da Casa,
formadas pelo PMDB e PP40. Dessa maneira, a atuao do Congresso Nacional esteve
alinhada s prioridades e projetos definidos pelo ento Presidente da Repblica: entre
fevereiro de 2003 e abril de 2004, as casas legislativas tornaram lei 82 propostas, sendo 68
delas (82,9%) de iniciativa do Poder Executivo e somente 14 (17,1%) de autoria do Poder
Legislativo41.
25. Nesse contexto, conforme ser melhor explicitado abaixo, to logo LULA
viabilizou, em troca da aquisio de um criminoso apoio poltico, que importantes Diretores
da PETROBRAS fossem nomeados para atender os interesses de arrecadao de propinas
dele prprio e de outros integrantes do PT, PP e PMDB, tais agentes passaram a servir na
Estatal como instrumentos para a consecuo desses mltiplos interesses.
Com efeito, se no exerccio de suas funes RENATO DUQUE, PAULO ROBERTO
COSTA, NESTOR CUAT CERVER [NESTOR CERVER] e JORGE ZELADA, quando eram
Diretores da PETROBRAS, gestionavam intensamente para que fossem atendidas demandas e
resolvidos problemas de empresas contratadas pela PETROBRAS, tambm solicitavam das
empresas favorecidas, na exata medida em que atendiam seus interesses e de seus padrinhos
polticos, repasses de vantagens indevidas para si e para os integrantes dos partidos polticos
que lhes sustentavam no cargo, quais sejam, PT, PMDB e PP.
Alm disso, parte desses valores esprios foi direcionada s prprias agremiaes
partidrias mediante doaes feitas apenas formalmente de acordo com as leis, ou mediante
outras operaes de lavagem de dinheiro.
Antes de adentrar especificamente nas ilicitudes praticadas por LULA e pelos
demais integrantes da organizao criminosa que atuou em detrimento da PETROBRAS,
considerando a absoluta similitude entre o esquema criminoso que se instalou e vilipendiou
essa Estatal com o esquema criminoso do Mensalo (ambos foram esquemas de compra de

33 ANEXO 22 Disponvel em: <http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/795/noticias/contratos-derisco-m0052145>.


34 ANEXO 23.
35 ANEXO 24.
36 ANEXO 25.
37 ANEXO 26 Disponvel em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc2506200520.htm>.
38 ANEXO 27 Disponvel em: <http://istoe.com.br/7001_O+PROFESSOR+DO+MENSALAO/>.
39 ANEXO 28 Disponvel em: <http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG70744-6009,00UMA+SOMBRA+INCOMODA.html>.
40 ANEXO 16 Disponvel em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u56811.shtml>.
41 Destaque-se que esse nmero de propostas de lei no engloba aquelas referentes a assuntos oramentrios
(majoritariamente de iniciativa do Poder Executivo), e aquelas de iniciativa de Tribunais e do Procurador-Geral da
Repblica. ANEXO 29.
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apoio poltico e de enriquecimento ilcito de agentes pblicos e particulares com dinheiro
pblico), oportuno que sejam tecidas algumas consideraes sobre este.
Mensalo e Lava Jato: faces de uma mesma moeda
26. A atuao de integrantes do Governo Federal e do PT para garantir apoio de
parlamentares no primeiro mandato presidencial de LULA foi, em parte, desvelada na Ao
Penal n 470. Aliada ao loteamento poltico dos cargos pblicos, foi apontada a distribuio
de uma "mesada" a agentes polticos (mensalo) em troca de apoio s propostas do
Governo submetidas ao Congresso Nacional.42 Dentre vrios eventos que apontaram
evidncias de prticas ilcitas envolvendo pessoas ligadas cpula do PT 43, o Mensalo foi o
caso mais notrio.
Naquela investigao, indicou-se que o esquema de desvio de recursos pblicos
foi mantido com a participao poltica, administrativa e operacional de integrantes da
cpula do Governo federal e do Partido dos Trabalhadores, como JOS DIRCEU, MinistroChefe da Casa Civil; DELBIO SOARES DE CASTRO [DELBIO SOARES], tesoureiro do PT;
SLVIO JOS PEREIRA [SLVIO PEREIRA], Secretrio-Geral do PT; e JOS GENONO NETO [JOS
GENONO], Presidente do PT. O objetivo era negociar apoio poltico repassando recursos
desviados a aliados, pagando dvidas pretritas do Partido dos Trabalhadores, e custeando
gastos de campanha e outras despesas, no que se evidenciou como um ntido esquema
partidrio, comandado pela cpula de um partido que ocupava o poder.
Apurou-se l que o denominado "ncleo poltico partidrio" teria interesse na
compra do apoio poltico que criaria as condies para que o grupo que se sagrou vencedor
nas eleies de 2002 se perpetuasse no poder, ao passo que os integrantes do dito "ncleo
publicitrio" participariam dos desvios e gerao de recursos e, a ttulo de remunerao,
aufeririam um percentual do numerrio que seria entregue aos beneficirios finais do
suposto esquema de repasses.
Nesse ncleo publicitrio, MARCOS VALRIO e seus comparsas, valendo-se de
empresas de publicidade (especialmente a SMP&B COMUNICAO LTDA. e a DNA
PUBLICIDADE LTDA.), obtiveram e mantiveram contratos com o Poder Pblico, a exemplo do
BANCO DO BRASIL, visando a gerao e repasse de recursos esprios para financiar os
objetivos acima indicados da cpula do Governo Federal e do PT. A gerao de recursos foi
promovida tambm por meio de outros contratos pblicos, em relao aos quais foram
identificadas vrias irregularidades, como no Contrato n 31/2001 SMP&B/MINISTRIO
DOS ESPORTES; no Contrato n. 12.371/2003 SMP&B/EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS
E TELGRAFOS ECT; e no Contrato n. 4500002303 DNA PROPAGANDA/CENTRAIS
ELTRICAS DO NORTE DO BRASIL S.A./ELETRONORTE. Tambm a se observavam razes do
esquema em diversos rgos, o que denotava uma origem num ncleo de governo e
partidrio comum.
42 ANEXO 30.
43 Importante registrar que outros casos com graves suspeitas de corrupo envolvendo pessoas prximas a
algumas das figuras centrais do Mensalo tambm repercutiram na poca, como exemplo: (a) em 13/02/2004,
uma revista semanal revelou uma gravao em que WALDOMIRO DINIZ, ento assessor de JOS DIRCEU, aparecia,
em 2002, exigindo vantagens indevidas de um empresrio; (b) em 08/07/2005, no Aeroporto de Congonhas em
So Paulo, JOS ADALBERTO VIEIRA DA SILVA, assessor do lder petista na Assembleia Legislativa do Cear
Deputado JOS NOBRE GUIMARES, membro do diretrio nacional do PT e irmo do presidente nacional da
legenda, JOS GENONO, foi detido quando estava embarcando com destino a Fortaleza, portando 209 mil reais
na mala e 100 mil dlares dentro da cueca.
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Gerados os recursos que aportavam nas empresas de MARCOS VALRIO, eles
eram em grande parte repassados para a cpula do Governo federal e do Partido dos
Trabalhadores para que fossem utilizados, dentre outros fins, para angariar ilicitamente o
apoio de outros partidos polticos para formar a base de sustentao no Congresso Nacional.
Nesse sentido, foram oferecidas e, posteriormente, pagas vultosas quantias a diversos
parlamentares federais, de legendas como PP, PL, PTB, e PMDB.
A negociao de cargos pblicos de alto escalo, visando formao de uma
base poltica aliada, era decidida pela cpula do Governo Federal e do Partido dos
Trabalhadores, assim como outras questes que fossem bastante relevantes da
Administrao Pblica Federal e que atraam muito os interesses de empresrios e
parlamentares (a exemplo dos contratos milionrios de publicidade de estatais). Na denncia
da Ao Penal n 470, indicou-se que JOS DIRCEU contava com o assessoramento de
MARCELO SERENO e de SANDRA CABRAL, ambos Assessores Especiais da Casa Civil, na
funo de acompanhar as nomeaes para os altos cargos do Governo.
Formalizado o acordo criminoso entre o ncleo poltico do esquema e os
dirigentes partidrios das legendas interessadas, os pagamentos foram efetuados pelo
ncleo publicitrio-financeiro44. Dentre os denunciados, destacam-se:
(a) Do PP, foram denunciados o Deputado Federal PEDRO CORRA, ento
Presidente do PP; o Deputado Federal JOS JANENE, vice-lder do partido na Cmara dos
Deputados e tesoureiro do PP; e o Deputado Federal PEDRO HENRY, ento lder da bancada
do PP na Cmara dos Deputados;
(b) Do PL, foram denunciados o Deputado Federal VALDEMAR COSTA NETO,
ento Presidente Nacional do PL, e lder da bancada do partido na Cmara dos Deputados; e
BISPO RODRIGUES, Vice-Presidente Nacional do partido e Presidente do PL no Estado do Rio
de Janeiro;
(c) Do PTB, foram denunciados o Deputado Federal ROBERTO JEFFERSON, ento
Presidente do partido; e o Deputado Federal ROMEU QUEIROZ, Presidente do PTB em Minas
Gerais e Presidente da Comisso de Viao e Transportes da Cmara dos Deputados;
(d) Do PMDB, foi denunciado o Deputado Federal JOS RODRIGUES BORBA, lder
da bancada do partido na Cmara dos Deputados.
Alguns desses parlamentares contaram com a ajuda de intermedirios da sua estrita
confiana para a prtica dos crimes: (i) JACINTO LAMAS, que auxiliou VALDEMAR COSTA
NETO; (ii) JOO CLUDIO GEN, que auxiliou PEDRO CORRA, PEDRO HENRY e JOS
JANENE; (iii) EMERSON PALMIERI, que auxiliou ROBERTO JEFFERSON e ROMEU QUEIROZ.
Observa-se que os envolvidos acima citados ocupavam posies-chave de
liderana para associar seus partidos aliana de LULA, assim solidificando uma coalizo
heterognea. Parte desses partidos e desses polticos j tiveram comprovada a sua
participao nos esquemas de corrupo revelados na Operao Lava Jato, como se ver, o
44 Conforme consta do voto do Ministro Joaquim Barbosa nos autos da Ao Penal n 470, diversos
parlamentares acusados admitiram o recebimento de dinheiro, Como exemplo, confira-se o seguinte trecho: O
pagamento de dinheiro aos parlamentares foi admitido por MARCOS VALRIO, DELBIO SOARES e pelos prprios
Deputados Federais acusados ( exceo do Sr. JOS BORBA, que no confessou, embora haja provas do
recebimento). Os parlamentares afirmaram que receberam o dinheiro em razo de acordos financeiros firmados
com o PT. Segundo confessou DELBIO SOARES em seu interrogatrio judicial, o Partido dos Trabalhadores repassou
uns R$ 8 milhes de reais para o PARTIDO PROGRESSISTA (fls. 16.614, vol. 77); em torno de R$ 4 milhes para o
PTB (fls. 16.614, vol. 77); Para o PMDB, na casa de 2 milhes de reais (fls. 16.614, vol. 77); e, por fim, o PL, entre 10
a 12 milhes de reais. Esse nmero deve dar, aproximadamente, 55 milhes de reais. Por a (fls. 16.614, vol. 77). ANEXOS 31 a 38.
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que aponta no sentido de uma continuidade de um nico e imenso esquema criminoso.
No Mensalo, evidenciou-se que a compra de apoio poltico mediante recursos
pblicos desviados redundou na manifestao favorvel a medidas propostas pelo Governo
LULA, a exemplo da aprovao da reforma da previdncia (PEC 40/2003, sesso do dia
27/08/2003) e da reforma tributria (PEC 41/2003, sesso do dia 24/09/2003). Chegou-se a
apontar que agremiaes polticas corrompidas se estruturaram em ncleos prprios para
viabilizar o cometimento dos crimes de corrupo passiva e lavagem de capitais 45. Registrese, ainda, que JOO PAULO CUNHA, Presidente da CMARA DOS DEPUTADOS e membro da
coordenao da campanha eleitoral de LULA para Presidncia da Repblica em 2002, foi
denunciado por fraude no contrato firmado em 2003 entre a Casa Legislativa que presidia e
uma empresa de MARCOS VALRIO, o que era mais um sinal da verticalizao partidria e
governamental do esquema.
27. Por ocasio de seu depoimento no mbito das apuraes da Ao Penal n
470 , ao discorrer sobre o motivo principal da troca de apoio pela indicao no
preenchimento de cargos e funes pblicas, ROBERTO JEFFERSON explicou que as Diretorias
e outros cargos relevantes na administrao pblica, resultantes da composio polticopartidria, tinham a funo de arrecadar dinheiro do prprio rgo pblico, pela sistemtica
do desvio e superfaturamento, e tambm de pressionar empresas privadas que se
relacionavam com esses rgos a fazer doaes. Na PETROBRAS, sob o comando de LULA,
no foi diferente. No mesmo sentido de ROBERTO JEFFERSON, alis, deporiam mais tarde, no
mbito da Operao Lava Jato, PAULO ROBERTO COSTA, SERGIO MACHADO e PEDRO
CORRA.
46

28. Interessante notar, ainda, a relao prxima de LULA47 com alguns dos
45 ANEXO 30.
46 ANEXO 30.
47 Conforme consta do voto do Ministro Joaquim Barbosa nos autos da Ao Penal n 470, LULA confirmou que
foi informado acerca da existncia dos pagamentos ilcitos objeto da referida ao. Confira-se o seguinte trecho:
A testemunha tambm confirmou que participou de reunio em que o acusado ROBERTO JEFFERSON informou ao
Presidente Lula sobre a existncia dos pagamentos. Alis, todos os interlocutores citados por ROBERTO JEFFERSON
Senhores Arlindo Chinaglia, Aldo Rebello, Walfrido dos Mares Guia, Miro Teixeira, Ciro Gomes e o prprio exPresidente da Repblica confirmaram que foram informados, por ROBERTO JEFFERSON, nos anos de 2003 e 2004,
sobre a distribuio de dinheiro a parlamentares para que votassem a favor de projetos do interesse do Governo.
Portanto, muito antes da deciso de ROBERTO JEFFERSON de delatar publicamente o esquema. [...] O Sr. Ministro
Aldo Rebelo confirmou ter participado dessa reunio (fls. 61/62, Apenso 39): o Deputado ROBERTO JEFFERSON, de
alguma forma, revelou ao presidente que haveria algo parecido com o que depois ele nominou de Mensalo, ou
seja: que haveria pagamento a parlamentares para que votassem a favor de projetos do governo. Outros
interlocutores confirmaram, como testemunhas nestes autos, que o ru ROBERTO JEFFERSON j havia comentado
sobre o pagamento de mesada aos Deputados, pelo Partido dos Trabalhadores. O Sr. Jos Mcio Monteiro disse
que, entre o final de 2003 e janeiro de 2004 (fls. 26 do Apenso 39), foi procurado pelo senhor DELBIO, porque este
queria me conhecer e tambm para que eu o colocasse em contato com o Presidente do PTB, Deputado ROBERTO
JEFFERSON (fls. 93 do Ap. 39). Confirmou, tambm, ter acompanhado o ru ROBERTO JEFFERSON numa audincia
com o ento Ministro Miro Teixeira, em 2004, na qual o ru conversou com o Ministro sobre a necessidade de alertar
o Presidente da Repblica sobre a existncia de mesada no mbito da Cmara Federal (fls. 93, Apenso 39). O Sr.
Walfrido dos Mares Guia, ento Ministro do Turismo pelo PTB, confirmou que o ru ROBERTO JEFFERSON o procurou
no princpio de 2004 para relatar algo grave e que, num voo para Belo Horizonte, o mesmo ru lhe afirmou: est
havendo essa histria de mensalo. Afirmou que tambm esteve presente reunio em que o ru ROBERTO
JEFFERSON afirmou ao ento Presidente Lula sobre o mensalo (fls. 65, Apenso 39). Tambm o Sr. ex-Presidente Lus
Incio Lula da Silva, ao prestar declaraes escritas na condio de testemunha nestes autos (fls. 38.629/38.644, vol.
179), confirmou que o ru ROBERTO JEFFERSON falou sobre o repasse de dinheiro a integrantes da base aliada,
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condenados no Mensalo: (a) JOS DIRCEU, condenado por corrupo ativa, era Ministro de
Estado pessoalmente escolhido por LULA como seu verdadeiro brao direito, o segundo no
comando do pas, o qual agia sob direo do primeiro; (b) DELBIO SOARES, condenado por
corrupo ativa, era tesoureiro do PT durante a campanha e incio do mandato presidencial
de LULA; (c) HENRIQUE PIZZOLATO, condenado por corrupo passiva, peculato e lavagem
de dinheiro, participou da administrao de recursos da campanha presidencial de LULA em
2002; (d) JOS GENONO, condenado por corrupo ativa, era Presidente Nacional do PT,
tendo sucedido JOS DIRCEU, logo no incio do mandato presidencial de LULA; (e) JOO
PAULO CUNHA, condenado por corrupo passiva e peculato, era filiado ao PT e integrou a
coordenao da campanha presidencial de LULA em 2002, aps o que foi eleito Presidente
da Cmara dos Deputados, em 2003. SILVIO PEREIRA, aps denunciado, teve seu processo
suspenso e, aps cumpridas condies, extinto sem o julgamento do mrito da acusao que
pesava contra ele.
Alm desses, h outras pessoas que tinham relao prxima com LULA no
contexto da negociao de apoio poltico que se instalou em favor do governo do prprio
LULA: (f) os Deputados Federais JOS JANENE (falecido), PEDRO CORRA, e PEDRO HENRY
(os dois ltimos condenados por corrupo passiva), eram dirigentes do PP que, at o
segundo turno das eleies presidenciais de 2002, no apoiavam LULA, mas passaram a
apoi-lo no incio de seu mandato; (g) o Deputado Federal VALDEMAR COSTA NETO,
condenado por corrupo passiva, era Presidente Nacional do PL e lder da bancada do
partido na Cmara dos Deputados, sendo o dirigente mximo do partido que integrou a
coligao que elegeu LULA Presidente da Repblica; (h) o Deputado Federal ROBERTO
JEFFERSON, condenado por corrupo passiva, era o Presidente Nacional do PTB; e (i) o
Deputado Federal JOS RODRIGUES BORBA, condenado por corrupo passiva, era o lder do
PMDB na Cmara dos Deputados.
Ou seja, estiveram diretamente envolvidos com os fatos denunciados na Ao
Penal n 470 (como corrupo e lavagem de dinheiro): Ministro de Estado e brao direito
escolhido por LULA como o segundo homem mais poderoso do Governo; integrantes do PT
com os quais LULA manteve contato por anos dentro do partido e que ocuparam cargos de
relevncia na sua campanha presidencial; dirigentes de partidos, como o PL, que apoiavam
LULA desde a campanha eleitoral; dirigentes de partidos, como o PP e PMDB, que passaram
a apoiar LULA aps iniciado o mandato presidencial; e lderes das maiores bancadas
apoiadoras de LULA dentro do Cmara dos Deputados (PT e PMDB). interessante observar
que, quando o Mensalo veio tona, a reao de LULA no foi tpica de quem foi trado
pelo seu brao direito e pelos grandes lderes partidrios que o apoiavam no comando do
partido. No buscou a apurao do que aconteceu nem revelou indignao com os crimes
praticados. Pelo contrrio, encampou uma campanha de proteo dos correligionrios que
praticaram crimes, bem como de negao e dissimulao da corrupo multimilionria que
foi comprovada perante o Supremo Tribunal.
29. Pois bem. As apuraes empreendidas no mbito da denominada Operao
Lava Jato permitem concluir que os crimes de corrupo e lavagem de dinheiro, verificados
no centro da Administrao Pblica Federal, no estiveram restritos ao que se identificou no
Mensalo. De fato, os desvios de dinheiro pblico para comprar apoio parlamentar,
financiar campanhas e enriquecer ilicitamente agentes pblicos e polticos no estiveram
restritos a um ncleo de empresas de publicidade e de bancos apontados na Ao Penal n
razo pela qual solicitou que os Srs. Aldo Rebelo e Arlindo Chinaglia apurassem os fatos.. - ANEXOS 31 a 38.
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470. Na verdade, avanaram sobre diversos outros segmentos pblicos e privados no Brasil,
inclusive sobre a PETROBRAS, a ELETRONUCLEAR, a CAIXA ECONMICA FEDERAL, o
MINISTRIO DA SADE e o MINISTRIO DO PLANEJAMENTO, na linha do que ROBERTO
JEFFERSON havia declarado. Com as investigaes em plena expanso, h indicativos de que
o esquema de corrupo sistmica se espalhou, em metstases, para diversos outros rgos
pblicos federais, como veremos a seguir.
LULA no vrtice de diversos esquemas criminosos
30. Os esquemas revelados no Mensalo e na Operao Lava Jato envolveram,
dentre outros, crimes de corrupo praticados no alto escalo da Administrao Pblica
Federal. Observou-se, nesses dois casos, a criao de uma estrutura que direcionava
benefcios aos que estavam no poder e aos seus partidos.
Assim, uma nota comum dessas engrenagens delituosas foi o seu funcionamento
em benefcio de LULA, no s pelas vantagens financeiras que recebeu, mas tambm pela
governabilidade conquistada e pelo fortalecimento de seu partido. Foram os partidos e os
polticos que orbitaram ao redor dele, como ele prprio, que enriqueceram e tiveram seus
projetos de poder alavancados por polpudas somas monetrias, desequilibrando pleitos
eleitorais e afetando uma face da democracia pela disputa eleitoral com candidatos
alavancados com o financiamento a partir de recursos ilcitos.
Ambos os esquemas eram simultaneamente de governo e partidrios. LULA era a
pessoa mais importante no Governo e no partido, em benefcio do qual fluram vantagens
centrais dos crimes. Contudo, no se trata apenas de corrupo identificada no Mensalo e
na PETROBRAS, pois, como se indicar, brevemente, a seguir, ao longo de todos os anos em
que LULA ocupou o mais alto cargo do Poder Executivo federal, diversos outros casos de
corrupo semelhantes foram verificados. Desenvolvidos no mbito da alta cpula poltica do
pas, com o envolvimento de diferentes partidos da base aliada do Governo federal, os
benefcios desses esquemas convergiram, direta e indiretamente, ao vrtice comum de todos
eles, no qual se encontrava LULA.
31. Na sentena dos autos n 5023121-47.2015.404.7000 48, que tramitaram nessa
13 Vara Federal de Curitiba, foi reconhecido que a agncia de propaganda BORGHI LOWE,
com contratos milionrios com a CAIXA ECONMICA FEDERAL e com o MINISTRIO DA
SADE, repassou, sem causa legtima e no perodo de vigncia dos contratos, comisses de
bnus de volume, em um total de R$ 1.103.950,12, entre 06/2010 a 04/2014, em
subcontratos com produtoras s empresas LIMIAR e LSI, sem atividade real e controladas por
ANDR VARGAS, na poca Deputado Federal pelo Partido dos Trabalhadores. Este foi, assim,
condenado por corrupo.
32. Na sentena prolatada nos autos n 0510926-86.2015.4.02.5101 49, que
tramitaram perante a 7 Vara Federal Criminal da Seo Judiciria do Rio de Janeiro, foi
reconhecido robusto conjunto probatrio que permitiu concluir que um esquema de
corrupo foi estruturado antes, durante e depois das licitaes da ELETRONUCLEAR para a
construo de ANGRA 3. No caso, pelo recebimento de, pelo menos, R$ 3.438.500,00 da
48 ANEXO 39.
49 ANEXO 40.
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ANDRADE GUTIERREZ e R$ 1.000.000,00 da ENGEVIX, executivos dessas empresas e OTHON
LUIZ PINHEIRO DA SILVA, presidente da ELETRONUCLEAR, responsvel pelo desenvolvimento
do Programa Nuclear do Brasil, foram condenados por corrupo. H evidncias de que
esquema verificado na ELETRONUCLEAR, em boa parte ainda sob investigao, era idntico
quele da PETROBRAS.
33. Destaque-se ainda um outro desdobramento da Operao Lava Jato 50. Tratase de caso, j denunciado perante a Justia Federal de So Paulo, relacionado a uma
organizao criminosa implantada no mbito do MINISTRIO DO PLANEJAMENTO,
ORAMENTO E GESTO (MPOG) entre os anos de 2009 e 2015, responsvel pelo pagamento
de propinas em valores milionrios para diversos agentes pblicos. A arrecadao de propina
envolveu a realizao de um Acordo de Cooperao Tcnica (ACT) com o MPOG, com a
finalidade de permitir a contratao de uma empresa de tecnologia CONSIST/SWR
INFORMTICA para desenvolver e gerenciar software de controle de crditos consignados.
No bojo de um acerto esprio, teriam sido repassados, a ttulo de propina, mais de cem
milhes de reais, para o Partido dos Trabalhadores e para agentes pblicos, como PAULO
BERNARDO, poltico brasileiro vinculado ao PT e Ministro do Planejamento entre 2005 e
2011, bem como DUVANIER PAIVA, Secretrio de Recursos Humanos do MPOG.
34. O vis partidrio dos esquemas, isto , a destinao dos recursos obtidos com
a corrupo dentro da Administrao Pblica Federal para agentes e partidos polticos foi
revelada no s no Mensalo e na Operao Lava Jato, mas tambm confirmada por exparlamentares que ocuparam posies de destaque na ltima dcada, como ROBERTO
JEFFERSON51, PEDRO CORRA52 e DELCDIO DO AMARAL53. SERGIO MACHADO, em
colaborao cujos termos j se tornaram pblicos, reconheceu crimes praticados frente da
TRANSPETRO, apontando um escalonamento das propinas nos diversos rgos pblicos das
rbitas federal, estadual e municipal. As declaraes do Diretor de Abastecimento da
PETROBRAS, PAULO ROBERTO COSTA, foram tambm reveladoras de um esquema pervasivo,
enraizado bem para alm da PETROBRAS. At mesmo LULA, ainda em 1993, reconheceu a
vinculao de congressistas a interesses particulares54.
No mesmo sentido, e conforme j destacado acima, a formao da base aliada do
Governo LULA, com a negociao do apoio do PMDB e PP, envolveu a distribuio de outros
cargos da alta Administrao Pblica Federal, dentro de um contexto em que lderes
partidrios comprovadamente usaram os cargos para a arrecadao de propinas. Embora no
se possa dizer que todos os indicados, em todos os casos, arrecadaram propina, possvel, a
partir das provas, afirmar que existia sim um sistema com esse objetivo, que abarcava
seguramente diversos cargos pblicos, como na PETROBRAS, ELETRONUCLEAR, MINISTRIO
DO PLANEJAMENTO e CAIXA ECONMICA FEDERAL, que, de fato, foram utilizados para a
arrecadao de propina para agentes e partidos polticos.
35. No mbito da Operao Lava Jato, revelou-se a atuao dos operadores
50 Trata-se de desdobramento da fase intitulada Pixuleco 1 (17 fase), deflagrada em 03/08/2015 e Pixuleco 2
(18 fase), deflagrada em 13/08/2015.
51 Conforme referido no item 27 acima.
52 Termo de declaraes prestado por PEDRO CORRA, em 01/09/2016 ANEXO 14.
53 Termo de declaraes prestado por DELCDIO DO AMARAL, em 31/08/2016 ANEXO 41.
54 ANEXO 42 300 PICARETAS Disponvel em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0205200904.htm>.
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ALBERTO YOUSSEF55, JOO VACCARI NETO56 e FERNANDO SOARES57, os quais intermediavam
a arrecadao de recursos ilcitos para as agremiaes partidrias e seus agentes. De fato,
esses intermedirios destinavam recursos aos polticos e legendas e prestavam contas do
quanto arrecadado, como j havia sido revelado no prprio Mensalo, em relao s
condutas de MARCOS VALRIO e de JOO CLUDIO GEN58.
Nesse sentido, ainda, na Operao Lava Jato ficou clara a existncia de
pagamentos feitos em benefcio de partidos polticos com dinheiro de propina, com
dissimulao de origem e natureza criminosa. Isso aconteceu, por exemplo, no caso da
utilizao da EDITORA GRFICA ATITUDE para lavar, em benefcio do Partido dos
Trabalhadores, parte do dinheiro sujo auferido pela empresa SETAL/SOG em contratos da
PETROBRAS e que foi transferido para a GRFICA a ttulo de propina devida para o PT 59.
Da mesma forma, no caso do emprstimo simulado entre o Banco SCHAHIN e
JOS CARLOS BUMLAI para quitar a dvida do Partido dos Trabalhadores. Nessa situao, o
emprstimo foi pago pela concesso de um contrato da PETROBRAS. De fato, a dvida foi
quitada valendo-se de contratao fraudulenta da SCHAHIN ENGENHARIA como operadora
do navio-sonda VITORIA 10.000 da PETROBRAS60. Alm disso, os prprios funcionrios
pblicos integrantes do esquema, como PAULO ROBERTO COSTA e PEDRO BARUSCO,
afirmaram que cerca de 50% da propina arrecadada, ou mais, era direcionada aos partidos
polticos.
36. De fato, a partir da Operao Lava Jato, no apenas a corrupo sistmica nos
contratos firmados pela PETROBRAS ficou clara. Restou evidente o quadro recorrente de
corrupo, com destinao de recursos desviados a agentes pblicos, envolvendo diferentes
regies do Pas e diferentes setores da Administrao Pblica, de que so exemplos a
Operao Turbulncia, envolvendo a obra de Transposio do Rio So Francisco e a
Operao Tabela Peridica, envolvendo a VALEC. H, na realidade, um esquema criminoso
complexo, envolvendo diversos agentes polticos, funcionrios pblicos, empresas e
operadores financeiros.
O que se observa que, nesse gigantesco esquema, os partidos e lderes
partidrios estavam no topo da pirmide criminosa. Eram eles que escolhiam a dedo os
ocupantes de cargos pblicos, optando por quem concordava em entrar no esquema de
arrecadao e distribuio de propinas. Era sob suas ordens que os altos detentores de
posies pblicas entravam em contato com grupos empresariais economicamente fortes,
pedindo propinas. Era sob o comando partidrio que atuavam os operadores como ALBERTO
YOUSSEF, FERNANDO SOARES, JOO VACCARI NETO e tantos outros, os quais lavavam o
dinheiro para entregar recursos com aparncia legtima aos beneficirios. Um esquema de tal
magnitude em articulao poltica, em volume de dinheiro lavado, e tomando em conta
ainda a destinao de grande parte dos valores para partidos a fim de enriquecer ilicitamente
agentes e financiar caras campanhas eleitorais, era algo que fez parte do jogo de poder no
seu mais alto nvel.

55 ANEXOS 43 e 44.
56 Conforme revelado na ao penal n 5012331-04.2015.404.7000.
57 Termo de declaraes prestado por FERNANDO ANTONIO FALCO SOARES, em 01/09/2016 ANEXO 45.
58 ANEXOS 31 a 38 Acrdo da Ao Penal N 470.
59 Objeto da denncia dos autos n 5019501-27.2015.404.7000.
60 Objeto da denncia dos autos n 5061578-51.2015.404.7000.
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37. Os elevados valores transacionados pelos lavadores de dinheiro (que
somente na PETROBRAS excedem a R$ 6 bilhes), a expressividade no cenrio nacional dos
agentes polticos favorecidos (lderes de grandes partidos polticos e at Ministros de Estado)
e a disseminao por diversos setores da Administrao Pblica Federal (a exemplo da
PETROBRAS, MINISTRIO DO PLANEJAMENTO e CAIXA ECONMICA FEDERAL) evidenciam
que essa grande estrutura delinquente atuou em benefcio e por intermdio de ocupantes
dos mais altos cargos da Repblica, notadamente do ento Presidente LULA.
Na arquitetura corrupta outrora atribuda apenas a JOS DIRCEU, que saiu do
Governo em 2005, LULA, enquanto ocupante do cargo de maior expresso dentro do Poder
Executivo federal, adotou atos materiais para que ela perdurasse por muitos anos e se
desenvolvesse em diferentes setores da Administrao Pblica Federal. Nesse cenrio, repisese que vrios dos agentes polticos envolvidos tinham acesso direto ao ex-Presidente da
Repblica, assim como, em consonncia com o demonstrado a seguir, diversos executivos
das empresas corruptoras eram prximos a LULA.
Como se apurou, a corrupo sistmica alm de persistir, foi incrementada
mesmo aps a sada formal de JOS DIRCEU do governo, notadamente porque o
comandante da estrutura criminosa no era ele, mas sim o prprio LULA.
Caixa geral de propina
38. Conforme j relatado, uma vez alado ao poder, LULA comandou a formao
de um grande esquema criminoso de desvio organizado de recursos pblicos federais por
meio da indicao, para os mais altos e estratgicos cargos da Repblica, de apadrinhados
polticos do PT e dos demais partidos que estavam dispostos a apoi-lo. Os apadrinhados,
to logo nomeados para esses importantes cargos da administrao direta e indireta do
Governo Federal, utilizavam-se de seus postos para catalisar a arrecadao de propinas para
si e para os agentes polticos que lhes sustentavam no poder.
Embora no se possa dizer que todos os indicados, em todos os casos,
arrecadaram propina, possvel, a partir das provas, afirmar que existia sim um sistema com
esse objetivo, que abarcava seguramente diversos cargos pblicos.
Em se tratando da distribuio de cargos no mbito do Governo Federal, que
possui dezenas de Ministrios e Secretarias, alm de mais de 100 Autarquias, Empresas
Pblicas e Sociedades de Economia Mista, importante dizer que o controle da coleta e
distribuio de propinas para comprar apoio parlamentar de outros polticos e partidos,
enriquecer ilicitamente os envolvidos e financiar caras campanhas eleitorais do PT em prol da
permanncia no poder, seguiu a lgica de um caixa geral.
39. Ao lotear a administrao pblica federal direta e indireta, com propsito
criminoso, LULA distribuiu para o PT e para os demais partidos de sua base, notadamente o
PP e o PMDB, verdadeiros postos avanados de arrecadao de propinas ou vertedouros de
recursos escusos. Os recursos ilcitos angariados pelos altos funcionrios pblicos
apadrinhados eram em parte a eles destinados (percentual da casa), em parte destinados
para o caixa geral do partido e em parte gastos com os operadores financeiros para fazer
frente aos custos da lavagem dos capitais.
Para melhor ilustrar essa diviso e na medida do que interessa especificamente
presente denncia, oportuno relatar como eram divididas as propinas pagas em decorrncia
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de contratos firmados no interesse da Diretoria de Abastecimento da PETROBRAS.
Conforme descrito por PAULO ROBERTO COSTA 61 e por ALBERTO YOUSSEF em
seus interrogatrios na ao penal 5026212-82.2014.404.7000 (Eventos 1025 e 1101), a partir
do ano de 2005, em todos os contratos firmados pelas empresas cartelizadas com a
PETROBRAS no interesse da Diretoria de Abastecimento, houve o pagamento de vantagens
indevidas aos empregados corrompidos da Estatal e pessoas por eles indicadas no montante
de ao menos 3% do valor total dos contratos e de seus respectivos aditivos, sendo que 1%
era destinado Diretoria de Abastecimento e 2% era repassado Diretoria de Servios.
Na diviso das vantagens indevidas pagas no mbito da Diretoria de
Abastecimento, o ru PAULO ROBERTO COSTA tinha a gerncia da destinao dos recursos,
dividindo-os para si e para terceiros. Nessa Diretoria, o montante da propina, correspondente
a 1% do valor dos contratos, era dividido, em mdia, da seguinte forma:
a) 60% era destinado a um caixa geral operado por JOS JANENE e ALBERTO
YOUSSEF at o ano de 2008, e somente por ALBERTO YOUSSEF a partir de ento, para
posterior repasse a agentes polticos, em sua grande maioria do PARTIDO PROGRESSISTA
(PP);
b) 20% era reservado para despesas operacionais, tais como emisso de notas
fiscais, despesas de envio, etc.;
c) 20% eram divididos entre o prprio PAULO ROBERTO COSTA e os operadores
do esquema, da seguinte forma: (i) 70% eram apropriados por PAULO ROBERTO COSTA; (ii)
30% eram retidos pelo falecido Deputado JOS JANENE e, posteriormente, por ALBERTO
YOUSSEF.
40. No que se refere Diretoria de Servios, o valor da propina repassada a
empregados corrompidos, em especial RENATO DUQUE e PEDRO BARUSCO, era de ao
menos 2% do valor total do contrato e era dividido da seguinte forma:
a) 50% era destinado ao caixa geral do Partido dos Trabalhadores (PT), gerido
em sua maior parte pelos prprios tesoureiros do partido, primeiro PAULO FERREIRA 62 e
depois JOO VACCARI NETO63;
61 Cite-se, nesse sentido, o seguinte trecho do interrogatrio judicial de PAULO ROBERTO COSTA no processo
criminal 5026212-82.2014.404.7000 (Eventos 1025 e 1101) ANEXO 43: [...] Juiz Federal: - Mas e quem, como
chegou, como foi definido esse 3%, esse repasse, foi algo que precedeu a sua ida para l ou surgiu no decorrer?
Interrogado: -Possivelmente j acontecia antes de eu ir pra l. Possivelmente j acontecia antes, porque essas
empresas j trabalham para Petrobras h muito tempo. E como eu mencionei anteriormente, as indicaes de
diretoria da Petrobras, desde que me conheo como Petrobras, sempre foram indicaes polticas. Na minha rea, os
dois primeiros anos, 2004 e 2005, praticamente a gente no teve obra. Obras muito pe..., de pouco valor porque a
gente no tinha oramento, no tinha projeto. Quando comeou a ter os projetos pra obras de realmente maior
porte, principalmente, inicialmente, na rea de qualidade de derivados, qualidade da gasolina, qualidade do diesel,
foi feito em praticamente todas as refinarias grandes obras para esse, com esse intuito, me foi colocado l pelas,
pelas empresas, e tambm pelo partido, que dessa mdia de 3%, o que fosse de Diretoria de Abastecimento, 1%
seria repassado para o PP. E os 2% restantes ficariam para o PT dentro da diretoria que prestava esse tipo de servio
que era a Diretoria de Servio. [] Juiz Federal: - Mas isso em cima de todo o contrato que... Interrogado: -No. Juiz
Federal: - Celebrado pela Petrobras? Interrogado: -No. Em cima desses contratos dessas empresas do cartel
No mesmo sentido, o interrogatrio de YOUSSEF: Interrogado: -Sim senhor, Vossa Excelncia. Mas toda empresa
que... desse porte maior, ela j sabia que qualquer obra que ela fosse fazer, na rea de Abastecimento da Petrobrs,
ela tinha que pagar o pedgio de 1%. [...]
62 Conforme se depreende da Ao Penal n 5037800-18.2016.4.04.7000, proposta perante esse Juzo.
63 Conforme se depreende das Aes Penais n 5019501-27.2015.4.04.7000, 5013405-59.2016.404.7000, 501972795.2016.404.7000, propostas perante esse Juzo.
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b) 50% era destinado Casa, ou seja, Diretoria de Servios, da seguinte forma:
(i) quando no havia custos operacionais (custo da lavagem de capitais), 40% do valor
ficava com PEDRO BARUSCO e 60% com RENATO DUQUE; (ii) quando eram utilizados
servios de operadores financeiros para o recebimento dos valores indevidos, a distribuio
era alterada: 40% era destinado a RENATO DUQUE, 30% para PEDRO BARUSCO e 30% para o
respectivo operador64.
41. Destarte, especificamente no que tange aos contratos firmados por
empreiteiras cartelizadas para a execuo de obras no interesse das Diretorias de
Abastecimento e de Servios da PETROBRAS, houve o repasse de propinas na ordem de 0,6%
para o caixa geral do Partido Progressista65, e 1% para o caixa geral do Partido dos
Trabalhadores.
Alm da existncia de um caixa geral de propinas de cada partido, que era
irrigado pelos recursos oriundos da PETROBRAS e de outras Estatais cujos altos dirigentes
indicaram, havia caixas gerais de propinas da Casa, ou seja, contas criadas em benefcio
dos funcionrios pblicos corrompidos para as quais eram direcionados valores ilcitos pelas
empresas corruptoras.
Pode-se dizer, assim, que, o caixa geral de propinas de cada partido era irrigado
por propinas oriundas de empresas contratadas por diversos entes pblicos, relativamente s
quais esse partido possua ascendncia e ingerncia. Em outros termos, se uma determinada
empresa corruptora oferecia e prometia vantagens indevidas a representantes do Partido dos
Trabalhadores em decorrncia de obras na PETROBRAS e na ELETROBRAS, por exemplo,
como o caso da OAS, o caixa geral de propinas do PT receberia, em relao a essa empresa,
recursos de ambas as frentes.
Alm disso, considerando que o dinheiro um bem fungvel, e tendo em vista
que os recursos ilcitos de cada uma das empreiteiras revertia para o mesmo caixa geral de
cada partido, os valores desviados de diferentes fontes nesse caixa se misturavam.
Em suma, o caixa geral de propinas do Partido dos Trabalhadores no recebeu
unicamente recursos da PETROBRAS, mas tambm de diversas outras fontes nas quais
tambm ocorreram prticas corruptas. A partir da Operao Lava Jato foi possvel verificar
sistemtica criminosa muito parecida com aquela instalada na PETROBRAS, da prtica
sistemtica de delitos de cartel, corrupo, organizao criminosa e lavagem de dinheiro, nos
seguintes entes pblicos: ELETRONUCLEAR66, CAIXA ECONMICA FEDERAL67, MINISTRIO
DO PLANEJAMENTO68, ELETROBRS69, dentre outros.
64 Neste sentido, declaraes de PEDRO BARUSCO (Termos de Colaborao n 02 autos n 507591664.2014.404.7000, evento 9, OUT4 ANEXOS 46 e 47): [] QUE na diviso de propina entre o declarante e
RENATO DUQUE, no entanto, em regra DUQUE ficava com a maior parte, isto , 60%, e o declarante com 40%, no
entanto, quando havia a participao de um operador, RENATO DUQUE ficava com 40%, o declarante com 30% e o
operador com 30% [].
65 Posteriormente, esse valor foi tambm dividido com o PMDB.
66 Conforme se depreende da Ao Penal n 5044464-02.2015.4.04.7000, proposta perante esse Juzo e mais
tarde declinada Justia Federal do Rio de Janeiro.
67 Conforme se depreende da Ao Penal n 5023121-47.2015.404.7000, proposta perante esse Juzo.
68 Conforme se depreende da Ao Penal n 0009462-81.2016.403.6181, proposta perante a Justia Federal de
So Paulo.
69 Conforme se depreende do Termo de Colaborao n 22, de MILTON PASCOWITCH (ANEXO 48): [] QUE o
declarante foi convidado por JOO VACCARI para uma reunio na sede do Partido dos Trabalhadores, quando
VACCARI lhe informou que a ENGEVIX deveria contribuir com a agremiao poltica em razo do contrato de
gerenciamento que a mesma detinha, referente s obras de BELO MONTE; QUE o declarante reportou a questo a
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42. De qualquer forma, por seu imenso porte, a PETROBRAS foi uma das
principais fontes de recursos ilcitos que aportaram nos caixas gerais do PT, PP e PMDB. Isso
porque, conforme dito acima, as propinas so ordinariamente calculadas sob um percentual
do valor dos contratos firmados pelas empresas corruptoras com o Poder Pblico, sendo que
a PETROBRAS foi responsvel pela execuo da maior parte do oramento federal em
investimentos.
Com efeito, entre 2007-2010, por meio do Programa de Acelerao do
Crescimento (PAC), a partir do oramento fiscal e de seguridade social, a Unio investiu R$
54,8 bilhes no pas. No mesmo perodo, as empresas Estatais federais investiram R$ 142,930
bilhes, dos quais a PETROBRAS respondeu por R$ 135,387 bilhes. Isso significa que todo o
Governo Federal (oramento fiscal, seguridade social e estatais) investiu R$ 197,730 bilhes,
dos quais o Grupo PETROBRAS foi responsvel por R$ 135,387 bilhes, ou 68,47% de tudo o
que foi investido no pas entre aqueles anos. Esses nmeros esto disponveis no parecer
sobre as contas do governo que o TCU elaborou em 201070.
Entre 2011-2014, o Governo passou a incluir na conta de investimento os
financiamentos feitos por meio dos bancos pblicos (CEF, BB, BNDES), mesmo para pessoas
fsicas. Nesse perodo, a Unio previu investir R$ 340 bilhes, dos quais as estatais (excludos
os bancos) responderam por 52,24% disso (ou R$ 177,79 bilhes), correspondendo
PETROBRAS R$ 167,12 bilhes, ou 49,1% do total aplicado em infraestrutura. Esses nmeros
esto disponveis no parecer sobre as contas do governo que o TCU elaborou em 2013 71.
43. No tocante destinao dos recursos ilcitos aportados nos caixas gerais de
propinas, cumpre-se salientar que tais valores eram utilizados tanto para quitar os gastos de
campanha dos integrantes do partido, como tambm para viabilizar o enriquecimento ilcito
desses agentes polticos e fazer frente a algumas despesas gerais desses. Especificamente no
que se refere aos caixas gerais do PT e do PP, insta destacar os seguintes abatimentos:
a) RICARDO PESSOA, principal executivo da empresa UTC, revelou que, do
montante geral de propina prometido e efetivamente pago pela empreiteira ao PT, foi
deduzido o montante de R$ 1.690.000,00, com a aquiescncia de JOO VACCARI NETO, haja
vista corresponder aos valores que RICARDO PESSOA repassou JOS DIRCEU nos anos de
2013 e 2014, com lastro em contratos ideologicamente falsos, ao tempo em que esse estava
sendo julgado no processo Mensalo72;
GERSON ALMADA, que concordou com o pagamento; QUE foi pago o valor bruto de R$ 532.765,05; QUE o valor foi
ressarcido JAMP por meio de um contrato firmado com a ENGEVIX com objeto especfico de BELO MONTE; QUE
em razo da interrupo da obra, consequentemente o contrato de gerenciamento tambm foi objeto de
paralisao; QUE o contrato tinha um valor total de R$ 2.247.750,00, tendo sido pagos apenas 400 mil reais lquidos;
QUE o valor foi pago diretamente a JOO VACCARI, por meio de pagamento em espcie, realizado na sede do
Partido dos Trabalhadores em SO PAULO [...].
70 ANEXO 49.
71 ANEXO 50.
72 Termo de Colaborao n 21 de RICARDO PESSOA (ANEXO 51): QUE o contrato de consultoria foi firmado em
01 de fevereiro de 2012; QUE o primeiro aditivo foi em 01 de fevereiro de 2013; QUE depois LUIZ EDUARDO veio e
solicitou um segundo aditivo; QUE nesta poca JOS DIRCEU j estava preso; QUE o declarante relutou, mas aceitou;
QUE este segundo aditivo foi em 01 de fevereiro de 2014; QUE depois da priso de JOS DIRCEU, claramente no
houve nenhuma prestao de servios; QUE assim, em relao ao segundo aditivo, no houve prestao de qualquer
servio; QUE o declarante resolveu comentar este assunto com JOO VACCARI, oportunidade em que este ltimo se
mostrou ciente da ajuda que o declarante estava dando a JOS DIRCEU; QUE o declarante ento buscou abater os
valores pagos a ttulo de ajuda para JOS DIRCEU, relativo aos dois aditivos, com os valores que o declarante devia
ao PT, relacionados aos contratos da PETROBRAS; QUE JOO VACCARI se negou a abater o valor total, mas aceitou
que fosse descontada parcela do valor dos aditivos; QUE o valor dos dois aditivos, somados, foi de R$ 1.746.000,00;
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b) RICARDO PESSOA tambm deduziu da conta geral de propinas do PP,
controlada por ALBERTO YOUSSEF, repasses de valores na ordem de R$ 413.000,00, efetuados
em favor da ex-deputada ALINE CORREA73;
c) o operador financeiro MILTON PASCOWITCH realizou, por solicitao de JOO
VACCARI NETO, pagamentos EDITORA 247 e GOMES E GOMES PROMOO DE EVENTOS
E CONSULTORIA que totalizaram, conjuntamente, R$ 240.0000,00, deduzindo-os, em seguida,
da conta geral de propinas que mantinha com esse representante do PT Trabalhadores 74-75;
d) WALMIR PINHEIRO, executivo da UTC, relatou ter abatido do caixa geral do
Partido dos Trabalhadores, que mantinha com JOO VACCARI NETO em decorrncia das

QUE o declarante logrou abater, dos valores a ttulo de propina que pagava ao PT, a quantia de R$ 1.690.000,00,
conforme tabela que ora junta; QUE esta tabela possui a sigla URJ, que era a sigla criada para se referir propina
decorrente da COMPERJ, do CONSRCIO TUC; QUE na segunda linha desta tabela consta a anotao V/JD na
coluna contato e 1.690 na coluna valor total; QUE esta anotao representa justamente o abatimento dos valores
pagos a JOS DIRCEU, no valor de R$ 1.690.000,00, em relao aos valores que devia para VACCARI, referente s
obras da PETROBRAS/COMPERJ; QUE foi pago para VACCARI a quantia de R$ 15.510.000,00 somente em relao s
obras da COMPERJ; [...]; QUE JOO VACCARI aceitou este abatimento parcial logo que o declarante fez a
proposta, sem consultar ningum, em uma das reunies feitas na UTC; QUE este valor foi abatido da conta
corrente que possua com VACCARI; [G.N.].
73 Termo de Colaborao n 14 de RICARDO PESSOA (ANEXO 52): [] QUE esta reunio foi marcada
especificamente para que ALBERTO YOUSSEF pedisse ao declarante contribuies para a campanha dela a
Deputada Federal; QUE na mesma reunio ALBERTO YOUSSEF disse que as doaes feitas para ALINE CORREA
poderiam ser descontadas dos valores a serem pagos a ALBERTO YOUSSEF e PAULO ROBERTO COSTA, relacionados
a contratos da PETROBRAS; QUE isto foi dito por ALBERTO YOUSSEF na frente de ALINE CORREA [] QUE como o
valor a ser doado seria descontado dos valores a serem pagos ao PARTIDO PROGRESSISTA, o declarante concordou
em doar para a campanha dela; QUE doou R$ 263.000,00 por meio oficial, sendo R$ 213.000,00 pela UTC
ENGENHARIA e o restante (R$ 50.000,00) pela CONSTRAN; QUE foi ALBERTO YOUSSEF quem entregou a conta da
campanha de ALINE CORREA para WALMIR PINHEIRO, que providenciou o pagamento, como uma doao oficial
ordinria; QUE na Tabela 6 Doaes 2010 oficiais, que ora anexa, referente s doaes feitas pela UTC, tambm h
o registro da doao de R$ 213.000,00 a ALINE CORREA, no dia 06 de outubro de 2010; QUE alm disso foi paga a
quantia de R$ 150.000,00 em espcie, em doao no oficial; [...]; QUE a entrega dos valores em espcie de valores
no declarados oficialmente foi providenciada por ALBERTO YOUSSEF, sendo que o declarante no tem
conhecimento sobre a forma como foi operacionalizada; QUE o total pago para ALINE CORREA foi abatido do
valor que o declarante deveria repassar ao PARTIDO PROGRESSISTA relacionado s obras da PETROBRAS;
QUE isto foi descontado por ALBERTO YOUSSEF, por meio da conta corrente que o declarante tinha com
ALBERTO YOUSSEF [G.N.].
74 Termo de Colaborao n 23 de MILTON PASCOWITCH (ANEXO 53): QUE com relao aos valores recebidos
em razo dos contratos com a empresa CONSIST, JOO VACCARI solicitou ao declarante que fosse feita uma
reunio com o representante da EDITORA 247, LEONARDO ATUCH, que esteve no escritrio do declarante na
Avenida Faria Lima, tendo encaminhado uma proposta de veiculao de um contrato de doze meses, com parcelas
de R$ 30.000,00; QUE o declarante no concordou e realizou dois pagamentos referentes a elaborao de material
editorial, no valor de R$ 30.000,00 cada uma; QUE na sequncia foram feitos mais dois pagamentos atravs de uma
nova solicitao de LEONARDO ATUCH, totalizando ento R$ 120.000,00 repassados EDITORA 247; QUE no
houve qualquer servio prestado pela EDITORA 247; QUE JOO VACCARI no estava presente na reunio, mas foi
indicado a procurar o declarante por JOO VACCARI; QUE na reunio entre o declarante e LEONARDO ficou claro
que no haveria qualquer prestao de servio mas que era uma operao para dar legalidade ao apoio que o
Partido dos Trabalhadores dava ao blog mantido por LEONARDO; QUE o valor pago foi abatido no valor que
estava disposio de JOO VACCARI referente ao contrato da CONSIST [G.N.].
75 Termo de Colaborao n 24 de MILTON PASCOWITCH (ANEXO 54): [...] QUE com relao aos valores
recebidos em razo dos contratos com a empresa CONSIST, JOO VACCARI para que ajudassem uma pessoa que
seria ligada ao Partido dos Trabalhadores ou a alguma central sindical ligada a agremiao partidria; QUE o
declarante disse que no poderia faz-lo a menos que fosse por meio de faturamento para alguma pessoa jurdica;
QUE essa pessoa esteve no escritrio do declarante, tendo falado com o irmo do declarante JOSE ADOLFO; QUE
essa pessoa ento disse que iria constituir uma empresa e retornou ao escritrio aproximadamente dois meses
depois, apresentando os dados da empresa GOMES E GOMES PROMOO DE EVENTOS E CONSULTORIA, tendo
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obras da PETROBRAS, R$ 400.000,0076;
44. Ainda no que se refere destinao de valores repassados por empreiteiras
corruptoras ao caixa geral de propinas de partidos polticos, ou ao caixa geral de propinas
da casa, ou seja de funcionrios pblicos, insta destacar que em diversos casos os repasses
de propinas para agentes pblicos e polticos continuou, inclusive, aps terem eles sado de
seus cargos. Essa continuidade dos pagamentos de propinas pelas empreiteiras ocorria
basicamente por trs diferentes razes: a) porque prometidas e pendentes de quitao em
contratos de trato sucessivo, ou seja, acordadas ao tempo em que os agentes pblicos e
polticos beneficirios ainda estavam em seus cargos; b) porque os ex-agentes polticos, no
obstante tenham deixado seus cargos, mantiveram grande influncia no partido, em Estatais
ou no Governo Federal; c) como retribuio monetria por vantagens ou benesses
concedidas pelos agentes pblicos ou polticos ao tempo em que eles exerciam seus cargos.
PAULO ROBERTO COSTA, por exemplo, mesmo depois de deixar a Diretoria de
Abastecimento da PETROBRAS, continuou recebendo propinas em decorrncia de contratos
firmados poca em que foi Diretor da Estatal. Para tanto, ele se serviu da celebrao
contratos fraudulentos de consultoria77 entre a sua empresa, a COSTA GLOBAL
CONSULTORIA, com as seguintes empreiteiras corruptoras: i) CAMARGO CORRA, no valor
de R$ 3.000.000,00; ii) QUEIROZ GALVO, no valor de R$ 600.000,00; iii) IESA OLEO & GS, no
valor de R$ 1.200.000,00; e iv) ENGEVIX, no valor de R$ 665.000,00, todas integrantes do
Cartel.
RENATO DUQUE, ao seu turno, constituiu a empresa de Consultoria D3TM e
lanou mo a celebrao de contratos ideologicamente falsos para receber parte das
propinas pendentes da ENGEVIX78.
JOS DIRCEU, finalmente, tambm persistiu recebendo propinas decorrentes de
contratos da PETROBRAS por um longo perodo depois de ter deixado a Casa Civil do
Governo Federal, tanto mediante o recebimento de valores em espcie, quanto por
intermdio do recebimento de bens mveis e imveis, sua reformas, quitao de dvidas e
sido feitos quatro pagamentos nos valor de R$ 30.000,00 cada um; QUE no houve qualquer formalizao de
contrato, mas somente a emisso de nota fiscal contra a JAMP; QUE emitidas quatro notas de R$ 30.000,00; QUE
no houve qualquer prestao de servios por parte da GOMES E GOMES; QUE a pessoa que esteve no escritrio do
declarante, cujo nome no se recorda, era uma senhora bastante humilde; QUE o valor de R$ 120.000,00 foi
definido por JOO VACCARI; QUE o valor pago foi abatido no valor que estava disposio de JOO
VACCARI referente ao contrato da CONSIST; QUE os pagamentos foram realizados entre dezembro de 2013 a
maro de 2014, conforme documentos que apresenta [G.N.].
76 Termo de Colaborao n 15 de WALMIR PINHEIRO (ANEXO 55): [...] QUE, o declarante ressalta que dos R$
900.000,00 (novecentos mil reais) que no somatrio foram doados para JOSE DE FILIPPI entre 2010 e 2014,
VACCARI permitiu que R$ 400.000,00 (quatrocentos mil reais) foram abatidos da conta corrente que
mantinham com ele e que estava vinculada aos contratos da PETROBRAS [G.N.].
77 Nesse sentido, destaca-se que no Curso da operao Lava Jato foi apreendida uma planilha na residncia de
PAULO ROBERTO COSTA, apontando contratos assinados e em andamento com a COSTA GLOBAL (ANEXOS 56 a
59), empresa de consultoria do acusado. Nestas planilhas esto relacionados contratos com algumas das
construtoras cartelizadas, com seus contatos, constando, ainda, o valor dos pagamentos (% de sucess fee).
78 Termo de Colaborao n 01 de MILTON PASCOWITCH (ANEXO 60): [] QUE questionado o contrato entre
D3TM X JAMP refere-se ao contrato entre com a PETROBRS x ENGEVIX para produo de oito cascos replicantes;
QUE o valor do contrato entre ENGEVIX x PETROBRAS foi de aproximadamente 349 milhes de dlares cada casco;
QUE foi convencionado um pagamento de 0,5 % do valor dos contratos para a chamada casa, que abrangia o
ento Diretor RENATO DUQUE e o Gerente Executivo PEDRO BARUSCO; QUE com a sada de RENATO DUQUE da
Diretoria de Servios da PETROBRAS foi formalizado o contrato entre a JAMP e a D3TM, por sugesto de RENATO
DUQUE, para que fosse quitado o valor do restante devido, no valor de R$ 1.200.000,00; QUE RENATO DUQUE
solicitou a formalizao do contrato para que gerasse receita declarada ao mesmo [...].
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celebrao de contratos ideologicamente falsos com sua empresa JD CONSULTORIA 79.
45. Especificamente no que interessa presente denncia, cumpre salientar que a
CONSTRUTORA OAS possua um caixa geral de propinas com o Partido dos Trabalhadores,
para o qual eram revertidas as vantagens indevidas prometidas pela empreiteira em
decorrncia das obras em que foi beneficiada no mbito do Governo Federal, notadamente
na PETROBRAS.
A destinao dos recursos desse caixa geral de propinas da OAS com o Partido
dos Trabalhadores seguiu o padro do caixa das demais empreiteiras, ou seja, visava quitar os
gastos de campanha dos integrantes do partido e tambm viabilizar o enriquecimento ilcito
de membros da agremiao, dentre os quais LULA.
46. Assim, LULA recebeu da OAS, direta e indiretamente, mediante dedues do
sistema de caixa geral de propinas do Partido dos Trabalhadores, vantagens indevidas
durante e aps o trmino de seu mandato presidencial. Uma dessas formas, como ser
demonstrado no captulo referente lavagem de capitais, foi o direcionamento de valores em
benefcio pessoal do prprio LULA. Alm disso, LULA recebeu por meio de agentes pblicos
e agremiaes partidrias as vantagens decorrentes dos pactos firmados pela
CONSTRUTORA OAS com a Administrao Pblica Federal, notadamente com a PETROBRAS,
em prol de uma governabilidade e de um projeto de poder que o beneficiavam.
Como o ex-Presidente da Repblica garantiu a existncia do esquema que
permitiu a celebrao de vrios contratos por licitaes fraudadas, incluindo aquelas
referentes s obras da PETROBRAS, as vantagens indevidas foram pagas pelo Grupo OAS de
forma contnua ao longo do perodo de execuo de tais contratos. Ou, nas palavras do exSenador da Repblica DELCDIO DO AMARAL GOMEZ, houve uma contraprestao pelo
conjunto da obra80, isso , uma contraprestao no especfica pelas contrataes de obras
pblicas ilicitamente direcionadas, em ambiente cartelizado, s empresas do Grupo OAS.
47. Registre-se que o Grupo OAS, no perodo entre 2003 e 2015, por meio de
suas diferentes empresas e consrcios, firmou contratos, somando mais de R$
6.786.672.444,5581, com a Administrao Pblica Federal. Aproximadamente 76% destas
contrataes correspondem a avenas firmadas com a PETROBRAS 82, o que significa que
grande parte do faturamento do grupo empresarial advinha de valores pagos pela estatal. No
arranjo criminoso ora descrito, LULA era o elemento comum, comandante e principal
beneficirio do esquema de corrupo que tambm favorecia as empreiteiras cartelizadas,
incluindo a CONSTRUTORA OAS. Dessa forma, as vantagens recebidas pelo Grupo OAS, sob a
influncia e o comando de LULA, criaram em favor de LULA uma espcie de subconta no
79 Termo de Colaborao n 13, 14, 15, 17 de MILTON PASCOWITCH (ANEXOS 61 a 64).
80 Termo de Declaraes de DELCDIO DO AMARAL, prestado em 28/03/2016, na sede da Procuradoria da
Repblica em So Paulo, de que se destaca o seguinte trecho: QUE a OAS sempre teve grande participao no
Governo de LULA; QUE entende que a reforma do stio de Atibaia foi uma contraprestao de LEO PINHEIRO e da
OAS para LULA, em decorrncia do conjunto da obra, ou seja, o conjunto de benefcios que a empresa OAS recebeu
em funo do Governo LULA, em contraprestao s obras pblicas que ganhou, inclusive relacionadas
PETROBRAS; QUE a OAS tinha muitas obras importantes no Governo LULA e no possvel estabelecer uma
contraprestao especfica; QUE, assim, afirma que se trata de uma contraprestao pelo conjunto da obra e no
uma vantagem especfica decorrente de uma obra determinada; (...). ANEXO 65.
81 ANEXO 66 Relatrio de Informao n 191/2016 elaborado pela Assessoria de Pesquisa e Anlise/PRPR.
82 ANEXO 66 Relatrio de Informao n 191/2016 elaborado pela Assessoria de Pesquisa e Anlise/PRPR.
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caixa geral do Partido dos Trabalhadores, a qual continuou a ser abastecida, inclusive, aps o
trmino de seu mandato presidencial, por meio de diversos contratos pblicos de longa
durao e aditivos ajustados ainda antes de 2011. Essa conta foi tambm alimentada por
crditos recebidos a partir dos contratos firmados com a PETROBRAS, incluindo aqueles
objeto da presente denncia.
Uma complexa engrenagem criminosa a favor de LULA
48. Para que a engrenagem criminosa funcionasse na forma antes descrita
obter e manter a governabilidade corrompida, enriquecer ilicitamente seus participantes e
financiar a permanncia no poder LULA comandou e coordenou, por meio de dinheiro
pblico desviado, embutido em lucros ilegais cada vez mais altos por parte de empresrios
corruptores, o concurso de vontades de agentes integrantes de 4 ncleos principais do
esquema descrito: empresarial, dos funcionrios pblicos, poltico e dos operadores
financeiros.
O modo de funcionamento desses ncleos criminosos ser melhor detalhado
adiante, cumprindo no presente momento apenas destacar que o maior responsvel pela
consolidao, desenvolvimento e operao desse grande esquema de corrupo foi o ento
Presidente da Repblica LULA. De fato, o ex-Presidente da Repblica comandou o esquema,
tendo sobre ele domnio de realizao e interrupo. No apenas determinou sua efetivao,
que beneficiava seu Governo e permitia a obteno de vantagens ilcitas, mas tambm
poderia ter interrompido esse grande esquema criminoso na sua origem ou ao longo de sua
realizao.
49. LULA foi, tambm, o agente que mais obteve vantagens dessa grande,
organizada e poderosa organizao criminosa. Beneficiou-se na seara poltica, uma vez que,
permitindo que fossem desviados bilhes de reais em propinas, para o PT e para os demais
partidos de sua base eleitoral, notadamente PP e PMDB, tornou-se: (a) politicamente forte, o
bastante para ver a ampliao e a continuidade da base aliada no poder federal; (b)
economicamente forte, o suficiente para obter vitrias em eleies seguintes, beneficiando
ainda campanhas eleitorais de outros candidatos de sua agremiao. No se tratava de um
projeto poltico lcito, mas sim, da conquista, ampliao e manuteno do poder, mediante
estratagemas criminosos. Parte do ganho ilcito era apropriada e parte destinada
manuteno da estrutura de poder, travestida de apoio poltico. Alm de comandar essa
estrutura, LULA auferiu diretamente vantagens financeiras, pois, conforme ser visto no
captulo 3, recebeu propinas decorrentes de ilicitudes praticadas por empreiteiras em
detrimento da Administrao Pblica Federal, notadamente da PETROBRAS.
50. O controle de todo esquema criminoso por LULA ficou muito claro quando,
em 2006, antes das eleies, PEDRO CORRA e JOS JANENE foram apresentar para LULA
reivindicaes de novos cargos e valores que seriam usados em benefcio de campanhas
polticas. Na ocasio, LULA negou os pleitos com a seguinte assertiva: Vocs tm uma
diretoria muito importante, esto muito bem atendidos financeiramente. Paulinho [PAULO
ROBERTO COSTA, Diretor de Abastecimento da PETROBRAS] tem me dito. LULA disse ainda
que Paulinho tinha deixado o partido muito bem abastecido, com dinheiro para fazer a
eleio de todos os deputados. Dessa forma, LULA revelou de forma explcita para PEDRO
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CORRA que tinha o comando da dinmica criminosa instalada na PETROBRAS e dela
beneficiava diretamente83.
51. Antes de adentrar nos detalhes especficos da atuao corrupta de LULA na
PETROBRAS, seja por intermdio de PAULO ROBERTO COSTA, ou de RENATO DUQUE,
NESTOR CERVER e JORGE ZELADA, importante que sejam detalhados os compromissos
escusos que foram pactuados entre LULA, JOS DIRCEU e os demais articuladores do
Governo para que tais agentes pblicos fossem nomeados para Diretorias estratgicas da
PETROBRAS.
LULA, JOS DIRCEU e a estruturao do Governo
52. Conforme mencionado acima, LULA incumbiu JOS DIRCEU, seu longa
manus nas articulaes polticas e Ministro-Chefe da Casa Civil, de executar sob seu
comando a estruturao do governo e de sua base aliada por meio da distribuio de cargos
pblicos, no que foi auxiliado por SLVIO PEREIRA, MARCELO SERENO e FERNANDO MOURA,
os quais ficaram incumbidos de consolidar uma grande planilha de controle na qual
constavam os cargos da administrao federal para loteamento, entre o partido do Governo
e os partidos da base aliada, bem como os nomes dos indicados e os respectivos padrinhos
responsveis pelas indicaes.
Como dito, JOS DIRCEU recebeu de LULA amplos poderes para negociao dos
cargos e estruturao do governo, sendo que nos casos em que havia consenso sobre as
nomeaes, ou seja, no havia maiores disputas, o primeiro possua autonomia para decidir.
Entretanto, nos cargos mais estratgicos ou em relao aos quais havia mltiplas
indicaes ou pretenses em jogo84, LULA era chamado a decidir85. As diretorias da
PETROBRAS atendiam ambos os critrios que suscitavam a interveno de LULA: eram
estratgicas e disputadas. De fato, o oramento de algumas Diretorias da PETROBRAS, como
a de Abastecimento, era maior do que o de muitos Ministrios do Governo.
53. LULA e JOS DIRCEU comearam a distribuir Diretorias da PETROBRAS de
forma a conquistar o apoio de grandes bancadas na Cmara dos Deputados, e tambm
contemplar os interesses arrecadatrios e escusos do prprio PT. Para tal finalidade foram
nomeados, no incio do governo LULA, os Diretores de Servios, Internacional e de
Abastecimento.
Em um primeiro momento, as Diretorias de Servios e Internacional passaram a
atender os interesses escusos do PT e a Diretoria de Abastecimento a atender os do PP.
Passados alguns anos, contudo, tendo sido diversos integrantes do PT envolvidos
diretamente nas investigaes do Mensalo, LULA viu a necessidade de buscar maior apoio
do PMDB para se livrar das implicaes do esquema criminoso. Para tanto, as arrecadaes
de propinas da Diretoria Internacional passaram a ser divididas com o PMDB, e aquelas
83 Termo de declaraes prestado por PEDRO CORRA, em 01/09/2016 ANEXO 14.
84 LULA enfrentou dificuldades nesse processo, pois boa parte dos cargos pblicos nos Estados, comumente
utilizados como moeda de troca com os partidos da base governamental, foram distribudos para sindicalistas e
pessoas vinculadas ao PT, os quais apoiaram LULA durante a campanha (Termo de declaraes prestado por
PEDRO CORRA, em 01/09/2016 ANEXO 14)
85 Termo de declaraes prestado por PEDRO CORRA, em 01/09/2016 ANEXO 14.
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oriundas da Diretoria de Abastecimento passaram a ser divididas entre PP e PMDB,
permanecendo as da Diretoria de Servios para o PT.
54. Nesse contexto, oportuno especificar os processos polticos que culminaram
na nomeao de PAULO ROBERTO COSTA, NESTOR CERVER e RENATO DUQUE para as
Diretorias de Abastecimento, Internacional e Servios da Estatal.
Nomeao de Paulo Roberto Costa para a Diretoria de Abastecimento
55. Uma das principais bancadas partidrias cuja aliana foi negociada com o PT,
foi a do PP, que contava, aps a eleio de 2002, com 43 Deputados Federais. Os laos entre
PT e PP foram atados logo no incio do Governo LULA. Aps a bancada do PP decidir que se
aliaria ao Governo, o que ocorreu em meados de fevereiro de 2003 86, PEDRO CORRA, na
condio de Presidente do Partido, PEDRO HENRY, enquanto lder da bancada, e JOS
JANENE, Secretrio da agremiao, foram incumbidos de representar o partido nas
negociaes com o PT.
O primeiro contato para o incio das tratativas entre os partidos se deu com JOS
GENONO, Presidente do PT, o qual agendou uma reunio com SLVIO PEREIRA e MARCELO
SERENO, assessores do Ministro-Chefe da Casa Civil, JOS DIRCEU. Iniciada a reunio os
representantes do PP disseram que o partido tinha interesse em obter cargos estratgicos em
diversos rgos e Estatais, a exemplo da TBG (Gasoduto Brasil-Bolivia), IRB, FURNAS,
Ministrios, ANVISA, Secretarias Nacionais dos Ministrios e Fundos de Penso 87. Logo em
seguida, considerando as dificuldades inerentes acomodao dos interesses do PP pelo PT,
os representantes de ambos os partidos comearam a realizar diversas reunies peridicas,
nas teras, quartas e sextas, com o ento Ministro-Chefe da Casa Civil JOS DIRCEU.
56. Algumas das pretenses do PP foram atendidas. Especificamente no que se
refere aos fatos objetos da presente acusao, foi acatada por LULA e JOS DIRCEU a
indicao de PAULO ROBERTO COSTA88 para o cargo de Diretor-Superintendente da
TRANSPORTADORA BRASILEIRA GASODUTO BOLVIA BRASIL S/A TBG 89, uma subsidiria da
PETROBRAS. O PP tambm foi contemplado com a Diretoria de Abastecimento da
PETROBRAS, tendo sido ajustado que o ento Diretor ROGRIO MANSO permaneceria no
cargo, mas passaria a atender ao PP repassando-lhe recursos 90.
ROGRIO MANSO, contudo, no concordou em utilizar o seu cargo para obter
recursos ilcitos das empresas contratadas pela PETROBRAS em favor do PP. Na primeira
reunio que teve com JOS JANENE, PEDRO CORREA e PEDRO HENRY, integrantes do PP,
ROGRIO MANSO mencionou que apenas deveria prestar satisfaes a JOS EDUARDO
DUTRA, ento Presidente da PETROBRAS91.
86 Termo de declaraes prestado por PEDRO CORRA, em 01/09/2016 ANEXO 14.
87 Termo de declaraes prestado por PEDRO CORRA, em 01/09/2016 ANEXO 14.
88 ANEXO 67 Relatrio de Informao n 175/2016.
89 Em operao desde 1999, a TBG pioneira no transporte de gs natural em grandes volumes no Brasil. A
Companhia proprietria e operadora do Gasoduto Bolvia-Brasil, em solo brasileiro, com capacidade de entrega de
at 30,08 milhes de metros cbicos de gs natural por dia. Disponvel em: <http://www.tbg.com.br/pt_br/atbg/perfil/quem-somos.htm>.
90 Termo de declaraes prestado por PEDRO CORRA, em 01/09/2016 ANEXO 14.
91 Termo de declaraes prestado por PEDRO CORRA, em 01/09/2016 ANEXO 14.
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Descontentes com essa resposta os membros do PP voltaram a se reunir com
JOS DIRCEU, o qual disse que conversaria com ROGRIO MANSO novamente, explicandolhe como este deveria proceder. Ocorre que, mesmo depois dessa conversa, quando
estiveram novamente com ROGRIO MANSO, os integrantes do PP ouviram dele que, no
obstante a explicao de JOS DIRCEU, ele no contribuiria com o partido 92.
57. Foi ento que os integrantes do PP passaram a pensar em um outro nome
para a Diretoria de Abastecimento da PETROBRAS, tendo sido aventado o nome de PAULO
ROBERTO COSTA. Este ltimo, que ainda em 2003 havia sido nomeado ao cargo de
superintendente da TBG, estava arrecadando, para o PP, de empresas que eram contratadas
por essa Estatal cerca de R$ 200 mil por ms isso em um cenrio de queda do oramento
da TBG.
Assim, para melhor conhecer PAULO ROBERTO COSTA, PEDRO CORRA e JOS
JANENE reuniram-se com ele em 2003 93, em um restaurante no aeroporto Santos Dumont,
Rio de Janeiro. Nessa ocasio, os membros do PP falaram que cogitavam nomear PAULO
ROBERTO COSTA para a Diretoria de Abastecimento, caso ele se comprometesse a atender as
demandas do partido. PAULO ROBERTO COSTA mencionou saber como as coisas
funcionavam, ou seja, que no exerccio do cargo ele deveria arrecadar vantagens indevidas
junto aos empresrios e repassar uma parcela para o PP. Ajustados esses compromissos, o PP
levou o pleito de nomeao a JOS DIRCEU94.
58. Se a nomeao de PAULO ROBERTO COSTA para a TBG se deu sem maiores
discusses, tendo sido aprovada pelo prprio JOS DIRCEU 95, a nomeao daquele para a
Diretoria de Abastecimento da PETROBRAS foi bem mais demorada e veio a envolver a
atuao direta de LULA. Aps a indicao do nome de PAULO ROBERTO COSTA pelo PP se
passaram 6 meses at que o Governo possibilitasse sua nomeao.
59. Devido demora na nomeao de PAULO ROBERTO COSTA, que tambm
envolvia pleitos no atendidos de outros partidos que estavam se dispondo a integrar a base
aliada (PTB e PV), tais partidos obstruram a pauta da Cmara dos Deputados por cerca de 3
meses. Tal circunstncia corroborada por notcias jornalsticas da poca 96, das quais se
depreende que efetivamente a pauta da Cmara dos Deputados esteve trancada no primeiro
semestre de 2004, por manobra da oposio que ganhou apoio de trs partidos da base PP,
PTB e PV.
60. Houve, assim, uma nova reunio entre PEDRO CORRA, PEDRO HENRY e JOS
JANENE, com o ento Ministro JOS DIRCEU, ocasio na qual esse confidenciou para os
representantes do PP que j tinha feito de tudo que podia, dentro do governo, para cumprir
a promessa de nomeao de PAULO ROBERTO COSTA, de sorte que a soluo dependeria da
92 Segundo PEDRO CORRA, que esteve presente na reunio, ROGRIO MANSO teria dito: entendi a ordem do
Ministro JOS DIRCEU, s que no fui nomeado para este cargo para cumpri-la (Termo de declaraes prestado
por PEDRO CORRA, em 01/09/2016) ANEXO 14.
93 Termo de declaraes prestado por PEDRO CORRA, em 01/09/2016 ANEXO 14.
94 Termo de declaraes prestado por PEDRO CORRA, em 01/09/2016 ANEXO 14.
95 Termo de declaraes prestado por PEDRO CORRA, em 01/09/2016 ANEXO 14.
96 ANEXO 68 Disponvel em: <http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2004-04-15/oposicao-obstruivotacao-de-mps-que-trancam-pauta-da-camara>.
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atuao direta de LULA97-98.
61. Foi ento agendada uma reunio com LULA em seu gabinete presidencial, na
qual se fizeram presentes PEDRO CORRA, PEDRO HENRY, JOSE JANENE, ALDO REBELO, JOS
DIRCEU e o Presidente da PETROBRAS, JOS EDUARDO DUTRA. Nessa reunio LULA indagou
a JOS EDUARDO DUTRA acerca dos motivos para a demora na nomeao de PAULO
ROBERTO COSTA, sendo que o Presidente da PETROBRAS mencionou que essa seria uma
deciso do Conselho de Administrao da Estatal. Foi ento que LULA disse para JOS
EDUARDO DUTRA repassar ao Conselho de Administrao da PETROBRAS o recado de que
se PAULO ROBERTO COSTA no fosse nomeado em uma semana, LULA demitiria e trocaria
todos os Conselheiros da PETROBRAS. JOS EDUARDO DUTRA argumentou na ocasio que
no era da tradio da PETROBRAS a troca injustificada de Diretores, ao que LULA retorquiu
que se fosse pensar em tradio, nem DUTRA era Presidente da PETROBRAS, nem ele era
Presidente da Repblica99.
62. A determinao de LULA na referida reunio surtiu os efeitos desejados. A
nomeao de PAULO ROBERTO COSTA veio a se concretizar em 14/05/2004 100. A partir de
ento, e at 29/04/2012, ele ocupou a Diretoria de Abastecimento da PETROBRAS. Por
determinao direta e indireta de LULA, ao conferir o cargo ao PP em troca de apoio poltico,
a fim de que este pudesse arrecadar propina usada para enriquecimento ilcito e
financiamento eleitoral, PAULO ROBERTO COSTA, desde sua nomeao, atendeu os interesses
de arrecadao de vantagens ilcitas em favor de partidos da base aliada do Governo,
notadamente do PP. Dias depois da nomeao de PAULO ROBERTO COSTA para a Diretoria
de Abastecimento da PETROBRAS, e de outras pessoas indicadas pelo PTB e PV, a pauta da
Cmara dos Deputados foi desobstruda101 e comearam a ser revertidos recursos da
PETROBRAS para o PP.
63. Em contrapartida s nomeaes de agentes pblicos efetuadas por LULA a
partir das indicaes do PP, com destaque para PAULO ROBERTO COSTA, toda a bancada do
PP no Congresso apoiava amplamente a aprovao de projetos de lei, medidas provisrias e
assuntos de interesse do Governo, sendo que para tanto seguiam as orientaes dos lderes
do Governo no Senado e na Cmara dos Deputados. Tais orientaes incluam, at mesmo,
movimentos de retirada ou manuteno de parlamentares do plenrio, de modo a garantir a
existncia ou a inexistncia de qurum para votao de projetos de lei. Alm disso, a bancada
do PP buscava impedir a criao ou instalao de CPIs ou de Comisses Especiais que
tivessem por objetivo investigar assuntos do Governo, ou ento, quando instaladas,
buscavam impedir a convocao de agentes vinculados e comprometidos com o Governo.

97 Termo de declaraes prestado por PEDRO CORRA, em 01/09/2016 ANEXO 14.


98 Termo de Depoimento de PAULO ROBERTO COSTA na ao penal n 5045241-84.2015.4.04.7000/PR (ANEXO
69): Eu fui indicado para assumir a diretoria de abastecimento em 2004 pelo PP e, como j falado, eu vou repetir
aqui, no h ningum que assumisse qualquer diretoria da Petrobras ou Eletrobrs, ou o quer que seja, nos ltimos,
talvez nas ltimas dcadas, se no tivesse apoio poltico, ento todos os diretores da Petrobras, todos os presidentes
da Petrobras assumiram com apoio poltico.
99 Termo de declaraes prestado por PEDRO CORRA, em 01/09/2016 ANEXO 14.
100 Comprovante de nomeao de PAULO ROBERTO COSTA ANEXO 25.
101 Termo de declaraes prestado por PEDRO CORRA, em 01/09/2016 ANEXO 14.
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64. Conforme dito acima, ao menos outras duas importantes Diretorias da
PETROBRAS tiveram seus dirigentes nomeados segundo a lgica exposta, em que cargos
estratgicos tinham a palavra final de LULA, que decidia com o apoio de JOS DIRCEU e do
PT. A nomeao para essas outras Diretorias aconteceu dentro do mesmo sistema, mediante
o compromisso de arrecadao de propinas para campanhas eleitorais e enriquecimento
pessoal de agentes pblicos e polticos, conforme se demonstrar: a Diretoria Internacional e
a Diretoria de Servios. Particularmente no que se refere a essas Diretorias, as nomeaes
no visaram inicialmente a conquistar o apoio de outros partidos, mas sim desviar recursos
para o prprio PT, a fim de favorecer a sua perpetuao no poder, mediante financiamento
lcito, regado a propina, de campanhas eleitorais em diferentes nveis do governo, e de
enriquecer de modo esprio os envolvidos.
Nomeao de Renato Duque para a Diretoria de Servios
65. Conforme j citado acima, JOS DIRCEU foi incumbido por LULA de
coordenar o processo de distribuio de cargos do Governo Federal, tarefa na qual contou
com o auxlio de SLVIO PEREIRA. Este, por sua vez, para organizar o processo e submet-lo
aprovao de JOS DIRCEU e LULA, ficou responsvel por consolidar em um sistema de
controle os cargos disponveis para distribuio pelo Governo, os nomes indicados para
preench-los e os respectivos padrinhos responsveis pelas indicaes. SLVIO PEREIRA
tambm se encarregou de entrevistar pretendentes para os cargos. Nessas tarefas, SLVIO
PEREIRA contou com o auxlio de FERNANDO MOURA.
66. Foi nesse contexto que LICNIO DE OLIVEIRA MACHADO FILHO, scio da
empreiteira ETESCO, pediu a FERNANDO MOURA que apresentasse RENATO DUQUE a SLVIO
PEREIRA, pois ele teria interesse em assumir a Diretoria de Servios da PETROBRAS 102. A prindicao foi aceita, de modo que foi agendada uma reunio em So Paulo entre SLVIO
PEREIRA, LICNIO e RENATO DUQUE103. Nessa reunio, RENATO DUQUE se comprometeu a,
sendo nomeado como Diretor de Servios da PETROBRAS, zelar pelos interesses do PT e de
seus integrantes, notadamente mediante a arrecadao de propinas de empresas e
empreiteiras contratadas pela PETROBRAS, em decorrncia de licitaes e contratos que
seriam celebrados sob sua coordenao.
Esse compromisso assumido por RENATO DUQUE era uma exigncia da cpula
do Partido dos Trabalhadores e do Governo Federal, especificamente de LULA e de DIRCEU,
embora ele tenha sido intermediado por SLVIO PEREIRA, que agiu como longa manus dos
dois. Satisfeito com tal compromisso, SLVIO PEREIRA levou a indicao de RENATO DUQUE
para LULA e JOS DIRCEU, os quais, anuindo com a escolha, efetivada segundo suas
diretrizes e critrios, providenciaram que ela fosse concretizada.
67. Se a escolha e nomeao de JOS EDUARDO DE BARROS DUTRA como
102 Termo de Interrogatrio de MILTON PASCOWITCH na ao penal n 5045241-84.2015.4.04.7000/PR (ANEXO
70): O meu conhecimento acho que o mesmo de todo mundo, dito at pelo prprio Fernando, o Jos Dirceu foi
indicado ao Fernando pelo Licnio Machado, que um dos acionistas da Construtora Etesco, por ser o Renato Duque
uma pessoa que ele tinha relacionamento anterior na PETROBRAS. Esse nome, o currculo do Renato Duque foi
apresentado ao Silvinho que levou l ao ministro Jos Dirceu e passou pelos critrios de aprovao l, de nomeao
dos diretores da PETROBRAS.
103 ANEXO 71 Termo de colaborao 2 de FERNANDO MOURA.
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Presidente da PETROBRAS, em 02/01/2003, foi, formal e materialmente, um ato de LULA104,
as nomeaes dos demais diretores da PETROBRAS, particularmente de PAULO ROBERTO
COSTA, NESTOR CERVER e RENATO DUQUE, decorreram de determinaes materiais de
LULA que foram referendadas pelo Conselho de Administrao da Estatal, rgo
formalmente incumbido dos atos.105-106
Com efeito, conforme reconhecido por LULA durante seu interrogatrio policial,
a escolha de JOS EDUARDO DE BARROS DUTRA para a presidncia da PETROBRAS foi uma
escolha pessoal sua. LULA tambm admitiu nessa oportunidade que foi sua a escolha dos
nomes dos demais diretores, os quais foram encaminhados ao Conselho de Administrao da
PETROBRAS para aprovao107.
68. Assim, depois de ter se comprometido a angariar propinas para o PT 108, tendo
sido o seu nome encaminhado por LULA para o Conselho de Administrao da PETROBRAS,
RENATO DUQUE foi nomeado Diretor de Servios da Estatal em 01/02/2003, cargo no qual
permaneceu at 27/04/2012. To logo nomeado Diretor de Servios da PETROBRAS, RENATO
DUQUE convidou PEDRO BARUSCO para ocupar a importante Gerncia de Engenharia da
Estatal. Assim, conforme revelado pelo prprio PEDRO BARUSCO 109 e detalhadamente
narrado nas aes penais n 5012331-04.2015.404.7000, 5045241-84.2015.404.7000,
5036528-23.2015.404.7000,
5036518-76.2015.404.7000,
5051379-67.2015.404.7000
e
5013405-59.2016.404.7000, PEDRO BARUSCO foi Gerente de Engenharia da PETROBRAS
entre 21/02/2003 e 10/03/2008110 e se tornou o brao direito de RENATO DUQUE nos
recebimentos de vantagens ilcitas de empreiteiras contratadas pela Estatal.
69. LULA, alis, conferia ateno aos assuntos da Estatal. Veja-se que no dia
17/01/2003 , depois da nomeao de JOS EDUARDO DE BARROS DUTRA para a
presidncia da PETROBRAS (02/01/2003), mas antes da nomeao de RENATO DUQUE para a
Diretoria de Servios (01/02/2003), LULA reuniu-se pessoalmente com JOS EDUARDO DE
BARROS DUTRA. Tal encontro se deu em paralelo s tratativas de representantes do PT com
RENATO DUQUE, para colher seu compromisso de zelar pelos interesses escusos do partido,
nos mesmos moldes em que o Partido Progressista fez com PAULO ROBERTO COSTA.
111

104 ANEXO 72 Ato de nomeao de JOS EDUARDO DE BARROS DUTRA como Presidente da PETROBRAS.
105 ANEXO 73 O Estatuto Social da Petrobras assim dispe em seu artigo 19.
106 ANEXO 74 Ofcio JURIDICO/GG-AT/DP 4016/2016.
107 ANEXO 75 Interrogatrio Policial de LULA: [...] Delegado da Polcia Federal: Era o senhor que indicava os
presidentes da Petrobras? Declarante: Os presidentes da Delegado da Polcia Federal: Os diretores da Petrobras e
o presidente? Declarante: O presidente da Petrobras foi escolha pessoal minha, o Gabrielli, e primeiro foi o Jos
Eduardo Dutra, escolha pessoal minha. No teve interferncia poltica, era minha. Delegado da Polcia Federal:
Certo. E os diretores? Declarante: Os diretores, eu acabei de dizer pra voc. Delegado da Polcia Federal: Sim, por isso
que eu perguntei ao senhor se a palavra final era sua. Declarante: A palavra de mandar para o conselho
minha. [...] [g.n.]
108 Conforme j reconhecido por esse Juzo na sentena condenatria proferida nos autos n 504524184.2015.4.04.7000/PR.
109 Conforme informou em seu Termo de Declaraes n 1 (autos n 5075916-64.2014.404.7000, evento 9, OUT3
ANEXOS 46 e 47): [] e, no final de 2002 ou incio de 2003, RENATO DUQUE, que havia sido nomeado Diretor
de Servios da PETROBRAS, convidou o declarante para ser Gerente Executivo de Engenharia, cargo ocupou at
maro de 2011 []
110 ANEXO 76.
111 ANEXO 77 Agenda de 17/01/2003 do ento Presidente da Repblica LUIZ INCIO LULA DA SILVA.
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70. Assim, LULA comandou o processo de nomeao de RENATO DUQUE para a
Diretoria de Servios da PETROBRAS. Tal nomeao, que atendia aos anseios do PT, viabilizou
que o partido e seus integrantes recebessem propinas calculadas em percentuais aplicados
sobre contratos de milhes de reais. Os valores eram pagos por empresas contratadas pela
Estatal a partir dos procedimentos licitatrios conduzidos pela Diretoria de Servios 112.
De fato, em troca da indicao e manuteno de RENATO DUQUE na Diretoria de
Servios da PETROBRAS, o PT e seus integrantes receberam diretamente ou por intermdio
de operadores financeiros um percentual que oscilava em torno de 1% e 2% de todos os
contratos firmados pela Estatal com o concurso da Diretoria de Servios 113. PEDRO BARUSCO,
Gerente Executivo da Diretoria de Servios, estimou o valor dos repasses em favor do Partido
dos Trabalhadores em algo entre USD 150 e 200 milhes 114, apenas no tocante sua
Diretoria115.
Nomeao de Nestor Cerver para a Diretoria Internacional
71. A nomeao de NESTOR CERVER para a Diretoria Internacional da
PETROBRAS tambm visou a atender interesses de integrantes da bancada do PT, e contou
com o seu prvio compromisso em arrecadar propinas para o partido a partir do exerccio de
suas funes na Estatal. Assim, como as demais nomeaes para cargos estratgicos e que
gerenciavam grandes oramentos, ela aconteceu sob o comando do ex-Presidente LULA.
72. Com efeito, ainda antes de ter sido nomeado para a Diretoria Internacional,
NESTOR CERVER sabia que, com a eleio de LULA para a Presidncia, ele estaria sendo
cotado dentre os possveis indicados para ocuparem uma Diretoria da PETROBRAS. Para que
tal nomeao fosse concretizada, NESTOR CERVER contou com o apoio de DELCDIO DO
AMARAL116.
73. Nos anos de 2000 e 2001, NESTOR CERVER esteve subordinado a DELCDIO
112 Termo de declaraes prestado por DELCDIO DO AMARAL, em 28/03/2016 ANEXO 65.
113 O apoio do Partido dos Trabalhadores a RENATO DUQUE no cargo de Diretor de Servios da Petrobras,
atrelado ao pagamento de vantagens indevidas pelas empresas integrantes ou participantes do cartel que
celebravam contratos com tal diretoria foi revelado por PAULO ROBERTO COSTA em seu interrogatrio nos autos
5026212-82.2014.4.04.7000 (ANEXO 43) e posteriormente confirmado por PEDRO BARUSCO (Termo de
colaborao n 03 de PEDRO BARUSCO ANEXOS 46 e 47) e por diversos empresrios e operadores que
celebrara acordos de colaborao com o MPF. Nesse sentido, oportuno citar os seguintes termos de colaborao:
a) n 02 e 07 de AUGUSTO RIBEIRO DE MENDONA NETO ANEXOS 78 e 79; b) n 03 de EDUARDO
HERMELINO LEITE ANEXO 80; c) n 01 de MARIO FREDERICO DE MENDONA GOES ANEXO 81); d) n 01 e
02 de ANTONIO PEDRO CAMPELLO DE SOUZA DIAS ANEXOS 82 e 83; e) n 1 de FLAVIO GOMES MACHADO
FILHO ANEXO 84; f) n 1 de OTAVIO MARQUES DE AZEVEDO ANEXO 85; g) n 2 de PAULO ROBERTO
DALMAZZO ANEXO 86; h) n 3 de ROGERIO NORA DE SA ANEXO 87. No bastasse isso, repasses especficos
de valores indevidos a representantes do referido partido em virtude de contratos celebrados no mbito da
Diretoria de Servios da Petrobras j foram analisados em outros processos criminais, onde, com base no apenas
na prova oral mas tambm em documentos das operaes, restaram absolutamente comprovados, conforme
reconhecido em sentena condenatria [citam-se, nesse sentido, as sentenas proferidas nos autos 501233104.2015.4.04.7000 (evento 1203, SENT1 ANEXO 88) e 5045241-84.2015.4.04.7000 (evento 985, SENT1 ANEXO
88).
114 Termos de Colaborao n 2 e 3 de PEDRO BARUSCO. (ANEXOS 46 e 47)
115 Termo de Colaborao n 3 de PEDRO BARUSCO. (ANEXOS 46 e 47)
116 Termo de declaraes prestado por FERNANDO ANTONIO FALCO SOARES, em 01/09/2016 ANEXO 45.
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DO AMARAL ao tempo em que este foi Diretor de Gs e Energia da PETROBRAS. Em 2001,
contudo, DELCDIO DO AMARAL retira-se da Estatal, aproxima-se do Governador do Mato
Grosso do Sul, ZECA DO PT, tornando-se seu Secretrio de Infraestrutura. Logo em seguida,
em 2002, DELCDIO lana sua campanha eleitoral pelo PT e se elege Senador pelo Estado do
MS.
Assim, no incio de 2003, quando estava sendo formada a nova Diretoria da
PETROBRAS, DELCDIO DO AMARAL em conjunto com ZECA DO PT e com os demais
integrantes da bancada desse partido no MS, indicam o nome de NESTOR CERVER para o
cargo de Diretor Internacional da PETROBRAS 117. E, nesse mbito, conforme informado por
DELCDIO DO AMARAL, as indicaes para a Diretoria da PETROBRAS, dada sua relevncia,
sempre passavam pela Presidncia da Repblica118.
74. Deste modo, previamente comprometido a viabilizar a arrecadao de
propinas para o PT e seus integrantes, NESTOR CERVER foi nomeado Diretor Internacional
da PETROBRAS no dia 31/01/2003.119
75. Assim, no incio do ano de 2004, mediante a nomeao de PAULO ROBERTO
COSTA, RENATO DUQUE e NESTOR CERVER para as Diretorias de Abastecimento, Servios e
Internacional da PETROBRAS, respectivamente, e com o considervel incremento dos gastos
da Companhia em grandes projetos e obras, estariam estabelecidas as condies na Estatal
para a consolidao de um cenrio de macrocorrupo.
Mensalo e influncia do PMDB na PETROBRAS
76. Em maio de 2005, vieram a pblico graves fatos ilcitos que envolviam o
pagamento de propina a funcionrio do alto escalo dos CORREIOS, assim como a agentes
polticos que lhe davam sustentao, em troca de favorecimentos em licitaes da Estatal. As
investigaes sobre tais fatos, aprofundadas durante o restante do ano de 2005 e incio de
2006, revelaram um grande esquema criminoso que mais tarde se celebrizou com o nome
Mensalo. Segundo restou evidenciado, agentes polticos pertencentes aos partidos da
chamada base aliada recebiam, regularmente, recursos ilcitos, uma espcie de uma grande
mesada, em troca da concesso de apoio aos projetos e interesses do Governo Federal.
O desenvolvimento das investigaes sobre esse grande esquema criminoso, que
uma parte do mesmo gigantesco esquema criminoso desvendado na Operao Lava Jato,
resultou no oferecimento de acusaes criminais em face de agentes polticos da cpula do
Governo Federal e do PARTIDO DOS TRABALHADORES como JOS DIRCEU, JOS GENONO e
DELBIO SOARES, o que culminou na perda de apoio poltico pelo Governo LULA. Tal
situao foi agravada diante do fato de que JOS JANENE (PP), PEDRO CORRA (PP), PEDRO
HENRY (PP), VALDEMAR COSTA NETO (PL) e ROBERTO JEFFERSON (PTB), parlamentares que
dirigiam os partidos da base aliada que concedia apoio ao governo em troca de vantagens
ilcitas, tambm foram implicados no esquema criminoso do Mensalo 120-121.
117 Termo de declaraes prestado por NESTOR CUAT CERVER, em 31/08/2016 ANEXO 90.
118 Termo de declaraes prestado por DELCDIO DO AMARAL, em 31/08/2016 ANEXO 41.
119 ANEXO 91.
120 Termo de declaraes prestado por PEDRO CORRA, em 01/09/2016 ANEXO 14.
121 Termo de declaraes prestado por FERNANDO ANTONIO FALCO SOARES, em 01/09/2016 ANEXO 45.
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Nesse contexto, LULA passou a buscar o apoio do PMDB para superar a crise
poltica e de governabilidade que o afetava. No haveria nada de errado nisso se no fosse o
meio ilcito que foi adotado para tanto. No interesse de buscar o alinhamento do PMDB ao
Governo, foi novamente utilizada como moeda de troca, pelo ex-Presidente da Repblica, a
(re)distribuio de cargos com vistas, sabidamente, arrecadao de propinas. Uma das mais
importantes pastas governamentais que foi concedida por LULA ao PMDB, em 2005, no
intuito de buscar apoio para se ver livre da crise foi o Ministrio de Minas e Energia.
77. Especificamente no que tange PETROBRAS, cumpre salientar que, para
resolver a crise poltica que afetava seu governo e partido, decorrente do Mensalo, LULA
tambm comandou ativamente o processo que resultou na concesso, total e parcial,
conforme se ver abaixo, das Diretorias Internacional e de Abastecimento para o PMDB 122.
78. A concesso de tais Diretorias, cuja finalidade precpua era alavancar a
captao de recursos ilcitos em favor de agentes polticos do PMDB, foi habilmente realizada
por LULA em um contexto de fragilizao dos antigos padrinhos polticos responsveis
pela indicao de PAULO ROBERTO COSTA e NESTOR CERVER, respectivamente, o PARTIDO
PROGRESSISTA e o Senador DELCDIO DO AMARAL com a Bancada do PT do Mato Grosso
do Sul.
79. Se o PARTIDO PROGRESSISTA se encontrava fragilizado pelo envolvimento de
seus lderes no Mensalo 123, especialmente JOS JANENE, PEDRO CORRA, PEDRO HENRY,
o ento Senador DELCICIO DO AMARAL estava fragilizado no perodo, pois, eleito Presidente
da CPI dos CORREIOS, no conseguiu conter os danos que dela decorreram para o PARTIDO
DOS TRABALHADORES. Nas palavras do prprio DELCICIO DO AMARAL, ele caiu em
desgraa perante o PT em virtude dos reflexos da CPI dos CORREIOS no desenvolvimento

122 Termo de declaraes prestado por DELCDIO DO AMARAL, em 31/08/2016, do qual se destacam os
seguintes trechos: QUE quanto a mudana da base aliada aps o Mensalo, tem a informar que no incio o
Governo do PT era mais fechado; QUE JOS DIRCEU sempre defendeu que o PMDB integrasse de maneira mais forte
no governo; QUE LULA inicialmente disse no, porm aps o Mensalo reviu esse posicionamento, tendo o PMDB
assumido cargos importantes aps o Mensalo; [] QUE quanto a substituio de NESTOR CERVER do cargo da
Diretoria Internacional da PETROBRAS recorda-se que aps o Mensalo ele era sustentado no cargo pelo PMDB do
Senado; QUE com a questo da CPMF o PMDB da Cmara exigiu participao na Diretoria Internacional, sob pena
de no aprovao da CPMF; ANEXO 41.
123 Termo de declaraes prestado por PEDRO CORRA, em 01/09/2016 ANEXO 14.
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das investigaes do Mensalo, o que resultou no apadrinhamento poltico de NESTOR
CEVER na Diretoria Internacional pelo PMDB124-125-126.
80. Tambm contribuiu para o apadrinhamento poltico de PAULO ROBERTO
COSTA pelo PMDB, na Diretoria de Abastecimento da PETROBRAS, o fato de que ele prprio
buscou esse apoio em 2006, pois, enquanto convalescia de uma grave doena, um dos
gerentes a ele subordinado, ALAN KARDEC tentou buscar apoio poltico para assumir a
Diretoria de Abastecimento em seu lugar. Para reverter esse quadro e se manter no cargo,
PAULO ROBERTO COSTA contou com o auxlio de FERNANDO SOARES e JORGE LUZ,
operadores financeiros do PMDB, os quais gestionaram junto a integrantes da cpula do
PMDB no Senado para que PAULO ROBERTO COSTA fosse mantido no cargo127-128-129.
Ainda nesse sentido, NESTOR CERVER relatou que, aproximadamente em
junho/julho de 2006, recebeu um convite de SERGIO MACHADO para um jantar em Braslia,
em que seriam conversados assuntos relacionados a contribuies para o PMDB. Nessa
ocasio, PAULO ROBERTO COSTA esteve presente porquanto havia sido indicado para o cargo
por JOS JANENE, falecido, e o PMDB via nesse fato uma oportunidade para apadrinh-lo.
A ideia da aproximao teria partido de JORGE LUZ, operador financeiro, que achava que a
Diretoria de Abastecimento e a Internacional seriam bons files para a obteno de recursos
para financiar as campanhas de 2006130.
81. Assim, com a anuncia de LULA e o prvio comprometimento de PAULO
ROBERTO COSTA em tambm auxiliar financeiramente o PMDB com vantagens ilcitas pagas
por empresas contratadas pela PETROBRAS, este Diretor passou a ser suportado no cargo
mediante o apoio de trs partidos: PP, PMDB e PT.
124 Termo de declaraes prestado por DELCDIO DO AMARAL, em 31/08/2016, do qual se destacam os
seguintes trechos: Quando sobreveio a crise do mensalo o depoente foi escolhido para ser o presidente da CPI. O
depoente no foi escolhido por acaso, mas sim por que era iniciante e no conhecia o regimento, e poderia
embaralhar as investigaes. S que as coisas viraram e foi feita uma investigao dura. Falou com o ex presidente
LULA e disse que no colocaria panos quentes na investigao e no que teve como resposta doa a quem doer. S
que com isso, acabou se tornando um exilado poltico dentro do PT, ficou na geladeira. [...] QUE aps o Mensalo
vrios diretores que tinham sido indicaes de outros partidos passaram a ser sustentados pelo PMDB ANEXO 41.
125 Termo de declaraes prestado por DELCDIO DO AMARAL, em 28/03/2016, do qual se destacam os
seguintes trechos: [...] QUE este movimento de entrada do PMDB nas Diretorias de Abastecimento e Internacional
foi uma consequncia do Mensalo, pois o PT estava fragilizado, assim como LULA; QUE em razo disso foi
necessrio trazer um Partido grande, para manter a governabilidade; QUE era um momento de muito instabilidade;
QUE de certa forma isto se assemelha e era uma repetio do caso do Mensalo, ou seja, concedia-se uma diretoria
para um Partido da base aliada para que o Governo tivesse apoio para aprovar determinadas matrias e pudesse
governar [] QUE LULA participou diretamente desta articulao para trazer o PMDB para a base aliada e, inclusive,
para conceder-lhe tais Diretorias; QUE, inclusive, JOS DIRCEU, no incio do Governo de LULA e antes do Mensalo,
achava que o PMDB deveria ser trazido ao Governo, o que poderia passar por tais "concesses"de diretorias; QUE, no
entanto, neste momento, LULA acabou no aceitando o PMDB na sua base aliada; QUE, no entanto, conforme dito,
aps o Mensalo, LULA acabou cedendo e aceitando o PMDB no Governo [] ANEXO 65.
126 Termo de declaraes prestado por NESTOR CUAT CERVER, em 31/08/2016, do qual se destaca o seguinte
trecho: QUE em funo do Mensalo a questao da arrecadao pelas diretorias da PETROBRAS foi alterada; QUE
DELCDIO DO AMARAL, em funo de ter sido relator da CPI do Mensalo, ficou muito desgastado politicamente;
QUE SILAS RONDEAU nomeado Ministro de Minas e Energias, procurou o depoente e informou que se pretendesse
continuar na diretoria internacional passaria a ser o representante do PMDB na PETROBRAS ANEXO 90.
127 Termo de declaraes prestado por PEDRO CORRA, em 01/09/2016 ANEXO 14.
128 Termo de declaraes prestado por FERNANDO ANTONIO FALCO SOARES, em 01/09/2016 ANEXO 45.
129 Termo de Colaborao n 15 prestado por PAULO ROBERTO COSTA ANEXO 92.
130 Termo de declaraes prestado por NESTOR CUAT CERVER, em 31/08/2016 ANEXO 90.
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Nomeao de Jorge Zelada para a Diretoria Internacional da PETROBRAS
82. Novamente, no segundo semestre de 2007, LULA lanou mo da entrega de
Diretoria da PETROBRAS e da arrecadao de propinas por meio dela, para obter a aprovao
de seus projetos polticos.
Com efeito, em 2007, JORGE LUZ noticiou ao PMDB a ideia de que a Diretoria
Internacional da PETROBRAS seria uma fonte de grandes quantias em propina. Nesse
contexto, o PMDB da Cmara quis se tornar responsvel pela indicao do Diretor
Internacional e, por consequncia, destinatrio das propinas oriundas dos negcios dessa
pasta estratgica da PETROBRAS131. Nesse perodo, de outro lado, LULA desejava manter a
CPMF e buscava, para isso, apoio poltico. Assim, de forma a conquistar o apoio do PMDB da
Cmara para tanto, LULA permitiu que eles indicassem um novo Diretor Internacional para a
PETROBRAS132.
83. NESTOR CERVER, vendo a movimentao que estava sendo feita para sua
destituio da Diretoria Internacional, procurou junto a FERNANDO SOARES e JOS CARLOS
BUMLAI apoio junto ao PMDB para se manter no cargo. Tal partido, contudo, estava decidido
a substitu-lo na Diretoria Internacional da Estatal133-134.
84. O primeiro nome sugerido para ocupar a Diretoria Internacional foi o de
JOO AUGUSTO HENRIQUES, Ex-Diretor da BR DISTRIBUIDORA, o qual encontrou resistncia
dentro e fora da PETROBRAS, pois ele havia sido condenado no TCU 135-136. Foi ento indicado
pelo PMDB da Cmara, mediante sugesto de JOO AUGUSTO HENRIQUES, o nome de
JORGE ZELADA137, o qual, por interferncia direta de LULA tornou-se, em 03/03/2008, Diretor
Internacional da Estatal138.
85. No obstante NESTOR CERVER tenha sido destitudo da Diretoria
Internacional da PETROBRAS, o fato de ter angariado nessa Diretoria vantagens ilcitas de
grande valia para o PARTIDO DOS TRABALHADORES foi reconhecido por LULA e demais
integrantes da cpula do Governo. Como forma de prestigi-lo, foi concedida a ele a
Diretoria Financeira da BR DISTRIBUIDORA139.
131 Termo de declaraes prestado por NESTOR CUAT CERVER, em 31/08/2016 ANEXO 90.
132 Termo de declaraes prestado por NESTOR CUAT CERVER, em 31/08/2016 ANEXO 90.
133 Termo de declaraes prestado por NESTOR CUAT CERVER, em 31/08/2016 ANEXO 90.
134 Termo de declaraes prestado por FERNANDO ANTONIO FALCO SOARES, em 01/09/2016 ANEXO 45.
135 Termo de declaraes prestado por NESTOR CUAT CERVER, em 31/08/2016 ANEXO 90.
136 ANEXOS 93 e 94.
137 Termo de declaraes prestado por DELCDIO DO AMARAL, em 31/08/2016, do qual se destacam os
seguintes trechos: [] QUE com a questo da CPMF o PMDB da Cmara exigiu participao na Diretoria
Internacional, sob pena de no aprovao da CPMF; QUE o nome pretendido era o de JOO HENRIQUES, que foi
vetado por DILMA, tendo sido indicado ento JORGE ZELADA; [...] ANEXO 41.
138 ANEXO 95.
139 Termo de declaraes prestado por NESTOR CUAT CERVER, em 31/08/2016, do qual se destaca o seguinte
trecho: QUE o PMDB de minas da Cmara dos Deputados exigiu do Preside te LULA a Diretoria Internacional, caso
contrario no voariam pela manuteno da CPMF, que chegou a ser mantida pela cmara; QUE essa bancada era
composta por cerca de 50 deputados; QUE essa interlocuo com o presidente LULA era feita de forma alternada
pelos deputados da bancada; QUE foi informado disso pelo ministro LOBO, em reunio realizada em Buenos Aires;
QUE isso ocorreu em janeiro de 2008; QUE foi informado por LOBAO que o PRESIDENTE LULA comunicou que teria
que substituir o depoente; QUE o depoente informou do acordo existente para sua manuteno no cargo de Diretor
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Com efeito, o operador JOS CARLOS BUMLAI inclusive confidenciou a
FERNANDO SOARES que tinha conversado com LULA sobre o assunto, no Palcio do
Planalto. Em tal ocasio, o ex-Presidente afirmou que no havia mais como manter NESTOR
CERVER na Diretoria Internacional. JOS CARLOS BUMLAI disse, ainda, que, em decorrncia
da ajuda prestada por NESTOR CERVER na contratao do Grupo SCHAHIN para a
operao da Sonda Vitria 10.000, o que resultou em crditos de propinas que foram
abatidos de dvidas do PT com tal empreiteira, NESTOR CERVER seria indicado Diretoria
Financeira da BR DISTRIBUIDORA140-141.
86. Em suma, e como j relatado alhures, LULA capitaneou e se beneficiou desse
grande e poderoso esquema criminoso. Beneficiou-se de forma econmica e direta, pois,
conforme se ver no captulo 3 desta denncia, recebeu propinas decorrentes de ilicitudes
praticadas por empreiteiras em detrimento da Administrao Pblica Federal, notadamente
da PETROBRAS. No entanto, seu maior benefcio foi na seara poltica, uma vez que,
permitindo que fossem desviados bilhes de reais em propinas, para o PT e para os demais
partidos de sua base de apoio, especialmente PP e PMDB, tornou-se politicamente forte o
bastante para ver a aprovao da maioria dos projetos de seu interesse perante as Casas
Legislativas e propiciar a permanncia no poder de seu partido mediante a injeo de
propinas em campanhas eleitorais.
A estruturao de um grande esquema criminoso na PETROBRAS
87. O desenvolvimento da Operao Lava Jato permitiu que fosse desvelado um
grande esquema criminoso que se assentou na PETROBRAS e ensejou a prtica sistemtica
de crimes licitatrios, de corrupo, de lavagem de dinheiro, assim como a atuao de um
grande e poderoso Cartel. Esse grande esquema, que teve suas bases estruturadas a partir da
nomeao de Diretores da PETROBRAS mancomunados com agentes polticos, encontrou no
mercado empresrios e operadores financeiros vidos por maximizar enormemente os seus
lucros, mesmo que absolutamente margem da lei.
Enquanto os funcionrios pblicos, empregados da PETROBRAS, buscavam o
apoio poltico necessrio para serem alados aos maiores postos dentro da Companhia, os
agentes polticos almejavam ser usuais destinatrios de repasses de propinas decorrentes dos
grandes contratos da PETROBRAS. Os empresrios, por sua vez, objetivavam majorar seus
lucros, tanto por meio da defraudao da competitividade de grandes certames, quanto por
intermdio da obteno de favores dos agentes pblicos e polticos corrompidos nos
da rea Internacional; QUE Lobo informou que o presidente LULA sabia desse acordo, mas a substituio teria que
ocorrer; QUE foi efetivamente substitudo em 03/03/2008, tendo sido nomeado, na mesma data, Diretor Financeiro
da BR DISTRIBUIDORA. [] QUE naquela tarde foi comunicado por DUTRA que seria o novo Diretor Financeiro da
BR DISTRIVUIDORA; QUE na reunio LULA teria questionado sobre o destino de CERVER; QUE DUTRA informou
desse cargo vago, sendo que LULA informou que o cargo estaria disponvel para o depoente, caso tivesse interesse;
QUE foi informado que essa nomeao seria em retribuio ao fato de ter liquidado a dvida da SCHAIN atravs do
contrato de operao da VITORIA 10.000; QUE SANDRO TORDIN j havia dito ao depoente que sua atuao nessa
operao seria um grande trunfo; QUE a nomeao foi aprovada pelo Conselho da PETROBRAS em pauta axilar;
QUE pela manh entrou a pauta da substituio na Diretoria Internacional e pela tarde de nomeao para Diretoria
Financeira da BR DISTRIBUIDORA. ANEXO 90.
140 Termo de declaraes prestado por FERNANDO ANTONIO FALCO SOARES, em 01/09/2016 ANEXO 45.
141 Parte dos ilcitos praticados em decorrncia desse contrato foram objeto da ao penal de n 508383859.2014.404.7000, julgada em 17/08/2015, conforme sentena penal condenatria anexa (ANEXO 96).
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contratos celebrados com a Estatal. Os operadores financeiros, por fim, verdadeiros elos
entre os empresrios, agentes pblicos e polticos, buscavam lucrar no exerccio da lavagem
profissional de capitais.
88. Assim, possvel dizer que a grande organizao criminosa que se estruturou
com a finalidade de praticar delitos no seio e em desfavor da PETROBRAS compreendia
quatro ncleos fundamentais, a seguir ilustrados na figura de uma pirmide, na qual o ncleo
poltico est no topo e os outros trs esto na base:

89. O ncleo poltico, formado principalmente por parlamentares, exparlamentares e integrantes dos diretrios das agremiaes partidrias, j teve seu
funcionamento parcialmente descrito nos pargrafos acima. Trata-se do ncleo responsvel
por indicar e dar suporte permanncia de funcionrios corrompidos da PETROBRAS em
seus altos cargos, em especial os Diretores, recebendo, em troca, vantagens indevidas pagas
pelas empresas contratadas pela sociedade de economia mista. As provas j angariadas nas
investigaes indicam que o ncleo poltico que atuou nesse esquema criminoso contra a
PETROBRAS era composto, principalmente, por polticos do PT, PP e PMDB, assim como
pessoas a eles relacionadas.
90. O ncleo empresarial, integrado por administradores e agentes das maiores
empreiteiras do Brasil, voltava-se prtica de crimes; de cartel e licitatrios contra a
PETROBRAS; de corrupo dos funcionrios desta e de representantes de partidos polticos
que lhes davam sustentao; bem como lavagem dos ativos havidos com a prtica destes
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crimes. Esse cartel teve composio varivel no tempo, mas certo que, ao menos durante
algum perodo, dele participaram as seguintes empresas: OAS, ODEBRECHT, UTC, CAMARGO
CORREA, TECHINT, ANDRADE GUTIERREZ, PROMON, SKANSKA, QUEIROZ GALVO, IESA,
ENGEVIX, GDK, MPE, GALVO ENGENHARIA, MENDES JUNIOR e SETAL.
91. O ncleo administrativo, integrado por PAULO ROBERTO COSTA, RENATO
DUQUE, PEDRO BARUSCO, NESTOR CERVER, JORGE ZELADA (sucessor de CERVER na
Diretoria Internacional) e outros empregados do alto escalo da PETROBRAS, foi corrompido
pelos integrantes do ncleo empresarial, passando a auxili-lo na consecuo dos delitos de
cartel e licitatrios, bem como a apoi-lo para os mais diversos fins, facilitando a sua atuao
na PETROBRAS.
Com efeito, diante dos importantes cargos ocupados por PAULO ROBERTO
COSTA (Diretoria de Abastecimento), RENATO DUQUE (Diretoria de Servios), PEDRO
BARUSCO (Gerncia de Engenharia da Diretoria de Servios), NESTOR CERVER (Diretoria
Internacional) e JORGE ZELADA (Diretoria Internacional), a organizao criminosa possua
ingerncia direta sobre metade das Diretorias da Estatal poca, assim como ocupava
grande parte dos assentos na Diretoria Executiva, rgo colegiado responsvel por tomar a
maior parte das decises estratgicas da PETROBRAS. Os Diretores da PETROBRAS atuavam
como Ministros de Estado, sendo grandes gestores com ampla autonomia e responsveis por
oramentos que, muitas vezes, superavam os de muitos Ministrios do Governo. O esquema
visual abaixo retrata a estrutura corporativa da Estatal poca:

92. O ncleo operacional, brao financeiro da organizao criminosa, funcionou


no entorno de uma figura que se convencionou chamar de operador, verdadeiro
intermediador de interesses escusos que se volta operacionalizao do pagamento das
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vantagens indevidas pelos integrantes do ncleo empresarial aos dos ncleos administrativo
e poltico, assim como lavagem dos ativos decorrentes dos crimes perpetrados por toda a
organizao criminosa.
Ao longo da investigao foram identificados vrios subncleos, ou subgrupos,
cada qual comandado por um operador diferente, que prestava servios a uma ou mais
empreiteiras, grupo econmico, servidor da PETROBRAS ou integrante de agremiao
poltica. Referidos operadores encarregavam-se de, mediante estratgias de ocultao da
origem dos recursos, lavar o dinheiro e, assim, permitir que a propina chegasse aos seus
destinatrios de maneira insuspeita. Dentre eles, se destacam ALBERTO YOUSSEF 142, MARIO
GOES143 e JOO VACCARI NETO144.
93. Assim estruturada, a grande organizao criminosa praticou de forma
sistemtica os crimes:
i) de cartel, em mbito nacional, previsto no art. 4, II, a e b, da Lei n
8.137/90, tendo em vista que os integrantes do ncleo empresarial firmaram acordos, ajustes
e alianas, com o objetivo de, como ofertantes, fixarem artificialmente preos e obterem o
controle do mercado de fornecedores da PETROBRAS;
ii) contra as licitaes, em mbito nacional, previsto no art. 90, da Lei n
8.666/96, uma vez que, mediante tais condutas, os integrantes da organizao frustraram e
fraudaram, por intermdio de ajustes e combinaes, o carter competitivo de diversos
procedimentos licitatrios daquela Estatal, com o intuito de obter, para si ou para outrem,
vantagens decorrentes da adjudicao do objeto da licitao;
iii) de corrupo ativa, previsto no art. 333, caput e pargrafo nico, do Cdigo
Penal, pois, muitas vezes com intermediao de operadores do ncleo financeiro, os
integrantes do ncleo empresarial ofereceram e prometeram vantagens indevidas aos
empregados pblicos da PETROBRAS e representantes dos partidos polticos que lhes davam
sustentao, para determin-los a praticar e omitir atos de ofcio, sendo que tais empregados
incorreram na prtica do delito de corrupo passiva, previsto no art. 317, caput e 1, c/c
art. 327, 2, todos do Cdigo Penal, pois no s aceitaram tais promessas de vantagens
indevidas, em razo da funo, como efetivamente deixaram de praticar atos de ofcio com
infrao de deveres funcionais, e praticaram atos de ofcio nas mesmas circunstncias, tendo
recebido vantagens indevidas para tanto, alm de, em diversas ocasies, esses mesmos
empregados solicitarem o pagamento de tais vantagens para o mesmo fim;
iv) de lavagem de ativos, previsto no art. 1 da Lei n 9.613/98, pois ocultaram e
dissimularam a origem, disposio, movimentao, localizao ou propriedade dos valores
provenientes, direta e indiretamente, dos delitos de quadrilha/organizao criminosa,
formao de cartel, fraude licitao, corrupo e, ainda, contra a ordem tributria, valendo142 Denunciado na ao penal n 5083258-29.2014.404.7000 pela lavagem por meio de depsitos nas empresas
GFD Investimentos, MO Consultoria e Empreiteira Rigidez com base em contratos simulados de prestao de
servio; ao passo que na ao penal n 5083401-18.2014.404.7000, por exemplo, foi denunciado pela ocultao
de capital pela aquisio de diversos bens com recursos provenientes dos crimes praticados em detrimento da
Petrobras, como empreendimentos hoteleiros na Bahia posteriormente desmembrada na ao penal n
5028608-95.2015.404.7000.
143 Acusado na ao penal n 5012331-04.2015.404.7000 pelo recebimento de valores ilcitos por meio de
offshores.
144 Na ao penal n 5019501-27.2015.404.7000 JOO VACCARI NETO, juntamente com RENATO DUQUE e
AUGUSTO MENDONA, foram denunciados pela lavagem de recursos desviados da Petrobras por doaes oficias
ao Partido dos Trabalhadores PT e repasses Editora Grfica Atitude.
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se, para tanto, dos servios dos operadores que integravam o ncleo financeiro da
organizao;
v) contra o sistema financeiro nacional, previstos nos arts. 21, pargrafo nico,
e 22, caput e pargrafo nico, da Lei n 7.492/1986, pois, uma vez recebidos os valores das
empreiteiras, os operadores integrantes do quarto ncleo da organizao criminosa fizeram
operar instituies financeiras sem autorizao legal, realizaram contratos de cmbio
fraudulentos e promoveram, mediante operaes de cmbio no autorizadas, a sada de
moeda e evaso de divisas do Pas;
vi) contra a ordem tributria, previstos nos arts. 1 e 2 da Lei n 8.137/1990,
uma vez que, para ensejar a lavagem dos ativos gerados pelo esquema criminoso os
empreiteiros, operadores financeiros, agentes pblicos e polticos prestaram informaes
falsas s autoridades fazendrias, falsificaram documentos e adulteraram informaes com a
finalidade de suprimir e reduzir tributos, maquiando a quantia e natureza de seus
rendimentos ilcitos.
94. Muito embora tais crimes tutelem diferentes bens jurdicos e sejam bastante
diferentes, foram praticados de forma coordenada, sistemtica e interconectada no interesse
da perpetuao e desenvolvimento do grande esquema criminoso ora narrado. Se os crimes
de cartel, licitatrios e de corrupo viabilizaram a majorao dos preos e lucros das
grandes empreiteiras em contratos pblicos, os crimes contra a ordem tributria, contra o
sistema financeiro nacional e de lavagem de capitais instrumentalizaram, em um segundo
momento, a destinao do excedente ilcito gerado para os bolsos de todos os agentes
criminosos que participavam do esquema.
95. Nesse sentido, para a melhor compreenso dos delitos de corrupo que
sero imputados a seguir, afigura-se de grande importncia a explicitao do modo como os
representantes das maiores empresas de construo do Brasil associaram-se em cartel. De
fato, as evidncias comprovaram que eles se conluiaram para, de forma estvel e
permanente, com abuso do poder econmico, dominar o mercado de grandes obras de
engenharia civil demandadas pela PETROBRAS, mediante prvios ajustes fraudatrios s
licitaes e outras condutas voltadas eliminao da concorrncia.
O grande cartel de empreiteiras
96. A partir de 2003, com a assuno da Presidncia da Repblica por LULA e a
nomeao, por sua vontade, de PAULO ROBERTO COSTA, RENATO DUQUE, PEDRO BARUSCO
e NESTOR CERVER para cargos estratgicos na PETROBRAS, um cartel de empreiteiras que
antes existia de modo mais tmido ganhou foras e se estruturou melhor para defraudar
certames na Estatal. Contudo, importante reconhecer que no foi nesse perodo que ele foi
criado. De fato, esse cartel ou clube de grandes empreiteiras preexistia ao Governo do
PARTIDO DOS TRABALHADORES. possvel afirmar que, embora com atuao mais
acanhada, ele funcionava pelo menos desde 1990145.
145 Nesse sentido, destacam-se, em especial, o depoimento do colaborador AUGUSTO RIBEIRO DE MENDONA
NETO (Termo de Colaborao n 01 ANEXO 97) e a nota tcnica n 38/2015/ASSTEC/SG/SGA2/SG/CADE,
elaborada pelo CADE em relao ao cartel de empreiteiras que atuaram na Petrobras (disponvel em
<http://sei.cade.gov.br/sei/institucional/pesquisa/documento_consulta_externa.php?0a75bImSo44/149

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97. Ao longo da histria desse cartel que atuou no mercado de obras da
PETROBRAS sua composio variou. Em uma primeira fase, que perdurou at meados da
dcada de 2000, o cartel das empreiteiras, batizado de CLUBE, era formado pelos seguintes
grupos empresariais: 1) ODEBRECHT, 2) UTC, 3) CAMARGO CORREA, 4) TECHINT, 5)
ANDRADE GUTIERREZ, 6) MENDES JNIOR, 7) PROMON, 8) MPE e 9) SETAL SOG.
98. Contudo, aps certo perodo de funcionamento, o CLUBE de grandes
empreiteiras verificou a necessidade de contornar alguns empecilhos para que o cartel
pudesse funcionar de forma ainda mais eficiente. Nesse sentido, uma das medidas tomadas
pelas empresas cartelizadas foi a de cooptar, mediante corrupo, funcionrios de alto
escalo da PETROBRAS que, por suas posies funcionais na estatal, tinham poder suficiente
para zelar pelos interesses das cartelizadas. Para tanto, encontraram um ambiente propcio
para as promessas escusas.
Segundo o acima descrito, o esquema de corrupo tinha por intuito beneficiar
no apenas os Diretores da PETROBRAS, mas tambm os partidos e agentes polticos
responsveis pela indicao e manuteno desses funcionrios pblicos nos cargos.
Rememore-se, por exemplo, que PAULO ROBERTO COSTA ingressou na Diretoria de
Abastecimento da PETROBRAS, em 14/05/2004, por meio de acerto entre LULA e integrantes
do PP, especialmente JOS JANENE, PEDRO CORRA e PEDRO HENRY146-147. Caso no
honrasse o compromisso de arrecadar propinas 148, PAULO ROBERTO COSTA seria
eventualmente destitudo do cargo149.
Como integrantes de partidos polticos definiam previamente com os
funcionrios pblicos e, direta ou indiretamente, com as empreiteiras cartelizadas percentuais
de propina que seria paga em razo dos contratos celebrados com a PETROBRAS, havia um
quadro favorvel ao oferecimento de vantagens indevidas aos empregados da Estatal
indicados pelas agremiaes partidrias. Esses acertos no excluam os ajustes que
ocorreram diretamente entre as empresas e os prprios funcionrios pblicos.
Nessa toada, as empresas cartelizadas participantes do CLUBE, j previamente
ajustadas com partidos e agentes polticos, firmaram tambm com os funcionrios da
PETROBRAS, como RENATO DUQUE e PAULO ROBERTO COSTA, um compromisso com
promessas mtuas ilcitas. Prometia-se o pagamento de propinas como contrapartida por
atos favorveis existncia e funcionamento do Cartel.
Assim, nesse perodo, por volta de 2004, o cenrio estava bastante propcio para
o desenvolvimento de um grande esquema de corrupo. Se de um lado interessava aos
grandes empreiteiros conluiados cooptar agentes pblicos do alto escalo da PETROBRAS
para otimizar o funcionamento do cartel, os recm-nomeados Diretores PAULO ROBERTO
COSTA, RENATO DUQUE, PEDRO BARUSCO e NESTOR CERVER estavam plenamente
motivados em arrecadar recursos ilcitos para os agentes pblicos do PT e do PP que os
tinham alado ao poder, dentre os quais LULA, JOS DIRCEU, PEDRO CORRA e JOS
JANENE.
_MSRVNiRnCDiLCVWZwRgjoxjqTYk7rZKFYH2Xii8AbVDjSFs-cy0mq7GuxbtZ9aeqAk0EWi2AA0w,,>,
acesso
em
13/06/16), no processo administrativo n 08700.002086/2015-14, conforme depoimentos de executivos da
SOG/SETAL (como o prprio AUGUSTO RIBEIRO MENDONA) e da CAMARGO CORREA (ANEXOS 98 a 101).
146 Autos n. 5083351-89.2014.404.7000, Evento 606 e Evento 654, TERMO1 ANEXOS 102 e 103.
147 Disponvel em: <http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,indicado-pelo-pp-de-maluf-assumira-diretoriada-petrobras,20040506p35904> ANEXO 104.
148 Autos n. 5083351-89.2014.404.7000, Evento 606, e Evento 654, TERMO1 ANEXOS 102 e 103.
149 Termo de Colaborao n 01 prestado por PAULO ROBERTO COSTA ANEXO 105.
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99. Iniciou-se, neste contexto, o sistemtico oferecimento, promessa e
pagamento de vantagens indevidas aos funcionrios das Diretorias de Servios,
Abastecimento e Internacional da PETROBRAS, RENATO DUQUE, PEDRO BARUSCO, PAULO
ROBERTO COSTA e NESTOR CERVER (substitudo, mais tarde, JORGE ZELADA), bem como
aos agentes polticos que os apoiavam, os quais aceitavam e recebiam tais valores em troca
de garantir que os intentos do grupo criminoso fossem atingidos na Estatal 150. Nessa fase,
por vezes, agentes pblicos e polticos (como, PAULO ROBERTO COSTA e, no mbito do PP,
JOS JANENE), reuniam-se com as empresas contratadas para alinhar e cobrar os percentuais
de propina que seria paga em razo dos contratos da PETROBRAS 151.
100. Outro obstculo superado pelo CLUBE relacionava-se ao fato de que nele
no estavam contempladas algumas das grandes empreiteiras brasileiras. Por isso, mesmo
com os ajustes entre si e mediante auxlio dos funcionrios corrompidos da PETROBRAS,
persistia ainda certa concorrncia em alguns certames para grandes obras da Estatal. Tal
cenrio tornou-se mais crtico no momento em que houve significativo incremento na
demanda de grandes obras da petrolfera.
Por conta disso, a partir do ano de 2006, admitiu-se o ingresso de outras
companhias no denominado CLUBE, o qual passou a ser composto por 16 (dezesseis)
empresas. Diante disso, mais sete grupos empresariais passaram a integrar o CLUBE: 10)
OAS; 11) SKANSKA, 12) QUEIROZ GALVO, 13) IESA, 14) ENGEVIX, 15) GDK e 16) GALVO
ENGENHARIA. No que tange especificamente OAS, como referido por AUGUSTO
MENDONA152 e demonstrado nos autos 5083376-05.2014.4.04.7000 153, as aes criminosas,
incluindo a participao no Cartel, eram comandadas pelo presidente LO PINHEIRO e pelo
Diretor AGENOR MEDEIROS.
101. Alm dessas empresas componentes do que se pode denominar de ncleo
duro do Cartel154, havia construtoras que, apesar de no participarem de todas as reunies
do CLUBE, com ele mantinham permanente canal de comunicao, negociando, nas obras
de sua preferncia, ajuste fraudatrio concorrncia, bem como pagamento de propina aos
funcionrios corrompidos da PETROBRAS e correspondentes agremiaes polticas. Assim
agindo, essas empresas tanto venceram licitaes mediante prvio acerto cartelizado como
ofereceram propostas coberturas em outros casos. Nessa situao, foram identificadas as
empresas ALUSA, FIDENS, JARAGUA EQUIPAMENTOS, TOM ENGENHARIA, CONSTRUCAP,
CARIOCA ENGENHARIA, SCHAHIN e SERVENG155.

150 Conforme consignado no Termo de Declaraes n 1 de AUGUSTO MENDONA [] QUE um pouco antes da
participao direta do declarante no CLUBE, durante o ano de 2004, esclarecendo que antes disso, a SETAL
CONSTRUES j participava, mas por intermdio do scio GABRIEL ABOUCHAR, o CLUBE estabeleceu uma
relao com o Diretor de Engenharia da PETROBRS, RENATO DUQUE (Fase 3), para que as empresas convidadas
para cada certame fossem as indicadas pelo CLUBE, de maneira que o resultado pudesse ser mais efetivo []
(Autos n. 5073441-38.2014.404.7000, evento 1, TERMOTRANSCDEP4 ANEXO 97).
151 Autos n. 50833518920144047000, Evento 606, e Evento 654, TERMO1 ANEXOS 102 e 103.
152 Termo de colaborao n 01 de AUGUSTO RIBEIRO DE MENDONA NETO (ANEXO 97).
153 Sentena juntada como ANEXO 106.
154 O chamado CLUBE, que poca passou a ser referido como CLUBE DOS 16.
155 Tais empresas foram identificadas na j referida nota tcnica n 38/2015/ASSTEC/SG/SGA2/SG/CADE,
conforme depoimentos de executivos da SOG/SETAL (como AUGUSTO RIBEIRO MENDONA) e da CAMARGO
CORREA (ANEXOS 98 a 101).
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102. Assim organizadas, tais empresas, em geral sob a coordenao do Diretor da
UTC ENGENHARIA, RICARDO PESSOA156, realizavam reunies presenciais, em sua maioria nas
sedes da UTC, em So Paulo e Rio de Janeiro, sendo que tambm ocorreram algumas na sede
da QUEIROZ GALVO157. Tais reunies eram realizadas com a finalidade de promover
verdadeiro loteamento das licitaes lanadas pela PETROBRAS, com as empresas
cartelizadas dividindo entre si quais seriam as vencedoras de cada certame e quais delas
apresentariam propostas coberturas, em valores superiores aos apresentados pela empresa
escolhida pelo Cartel, com a nica finalidade de conferir aparncia de regularidade ao
procedimento concorrencial.
Embora no fosse lavrada uma ata formal de cada encontro, por vezes, os
prprios participantes realizavam anotaes sobre as decises tomadas na reunio,
consoante demonstram os manuscritos entregues espontaneamente por AUGUSTO
MENDONA em decorrncia do acordo de colaborao que celebrou com o MINISTRIO
PBLICO FEDERAL158. A ttulo de exemplo, vejam-se as anotaes manuscritas de reunio
realizada no dia 29/08/2008, feitas por MARCUS BERTI da empresa SOG LEO E GS 159.
Nesse documento foram anotadas reclamaes, pretenses e ajustes de vrias das empresas
cartelizadas com relao a grandes obras da PETROBRAS. Deste material tambm se
depreende a informao de que o prximo encontro ocorreria no dia 25/09, o que retrata a
periodicidade mensal com que tais reunies ocorriam.
103. O desenvolvimento das atividades do cartel alcanou, em 2011, tamanho
grau de sofisticao que seus integrantes estabeleceram entre si um verdadeiro roteiro ou
regulamento para o seu funcionamento, intitulado dissimuladamente de Campeonato
Esportivo. Esse documento, ora anexado160, foi entregue pelo colaborador e j denunciado
AUGUSTO MENDONA161, representante de uma das empresas cartelizadas, a SETAL (SOG
OLEO E GS), e prev, de forma analgica a uma competio esportiva, as regras do jogo,
estabelecendo o modo pelo qual selecionariam entre si a empresa, ou as empresas em caso
de Consrcio, que venceria(m) os certames da PETROBRAS no perodo.
104. Ademais, vrios documentos, apreendidos na sede da empresa ENGEVIX,
confirmam essa organizao e dissimulao no cartel. Em papel intitulado reunio de bingo,
por exemplo, so indicadas as empresas que deveriam participar de licitaes dos diferentes
contratos do COMPERJ, enquanto no papel intitulado proposta de fechamento do bingo
fluminense, so listados os prmios (diferentes contratos do COMPERJ) e os jogadores
(diferentes empreiteiras). Em outro documento, uma lista de novos negcios (mapo)
28.09.2007 (...), so indicadas obras das diferentes refinarias, em uma tabela, e uma proposta
de quem seriam as construtoras do cartel responsveis, as quais so indicadas por siglas em
vrios casos dissimuladas. H vrias outras tabelas representativas da diviso de mercado 162,
como, por exemplo, aquela chamada avaliao da lista de compromissos 163.
156 Denunciado nos autos n 5083258-29.2014.404.7000.
157 Sobre este aspecto, assim como maiores detalhes acerca do funcionamento do CARTEL oportuno citar o
termo de depoimento prestado por MARCOS PEREIRA BERTI (ANEXO 107).
158 ANEXOS 108, 109 e 110.
159 ANEXO 108.
160 ANEXO 111.
161 Denunciado nos autos n 5012331-04.2015.4.04.7000 e n 5019501-27.2015.404.7000.
162 Todas no ANEXO 112: Itens n 02 a 09 do Auto de Apreenso da Engevix.
163 Autos 5053845-68.2014.404.7000, evento 38, APREENSAO9, fls. 04/30. - ANEXO 112.
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105. O cartel atuou de forma plena e consistente, ao menos entre os anos de
2004 e 2013, interferindo nos processos licitatrios de grandes obras da PETROBRAS a
exemplo da REPAR Refinaria Presidente Vargas, localizada em Araucria/PR, Refinaria Abreu
Lima RNEST, COMPERJ, Refinaria Alberto Pasqualini REVAP, Refinaria Presidente Bernardes
RPBC (Cubato), Refinaria Gabriel Passos REGAP, Refinaria Duque de Caxias REDUC,
Refinaria de Paulnea REPLAN, Terminal Barra do Riacho TRBR, Terminal da Bahia TRBA,
todas de responsabilidade das Diretorias de Abastecimento e Servios, ocupadas em grande
parte deste perodo por PAULO ROBERTO COSTA e RENATO DUQUE, respectivamente164.
106. A participao no cartel permitia, assim, que fosse fraudado o carter
competitivo das licitaes da PETROBRAS, com a obteno de benefcios econmicos
indevidos pelas empresas cartelizadas. O crime em questo conferia s empresas
participantes do CLUBE e s participantes com elas acordadas ao menos as seguintes
vantagens:
a) os contratos eram firmados por valores superiores aos que seriam obtidos em
ambiente de efetiva concorrncia, ou seja, permitia a ocorrncia de sobrepreo no custo da
obra;
b) podiam escolher as obras que fossem de sua convenincia realizar, conforme a
regio ou aptido tcnica, afastando-se a competitividade nas licitaes dessas obras;
c) ficavam desoneradas total ou parcialmente das despesas significativas
inerentes confeco de propostas comerciais efetivas nas licitaes que de antemo j
sabiam que no iriam vencer165; e
d) eliminavam a concorrncia por meio de restries e obstculos participao
de empresas alheias ao CLUBE e aos acordos por ele formados.
107. No que se refere ao sobrepreo das obras em relao ao valor que seria
obtido em ambiente de efetiva concorrncia, deve-se observar que, a fim de balizar a
conduo de seus processos licitatrios, a PETROBRAS estima, interna e sigilosamente, o
valor total da obra. Alm disso, a Estatal estabelece, para fins de aceitabilidade das propostas
dos licitantes interessados, uma faixa de valores que varia entre -15% (mnimo) at +20%
(mximo) em relao a tal estimativa.

164 Conforme denncias que deram origem aos autos 5019727-95.2016.404.7000, 5083258-29.2014.404.7000,
5083376-05.2014.4.04.7000, 5083360-51.2014.404.7000, 5012331-04.2015.404.7000, 5036528-23.2015.404.7000,
5012331-04.2015.404.7000, 5036518-76.2015.4.04.7000, 5001580-21.2016.4.04.7000, 5083401-18.2014.404.7000,
5020227-98.2015.404.7000, 5023135-31.2015.404.7000, 5039475-50.2015.404.7000, 5022179-78.2016.404.7000,
5083351-89.2014.404.7000, 5007326-98.2015.404.7000, 5019501-27.2015.404.7000, 5023162-14.2015.404.7000,
5023121-47.2015.404.7000 e 5029737-38.2015.404.7000.
165 Destaca-se que as empresas tambm lucravam com o funcionamento do cartel porque poderiam ter custos
menores de elaborao de proposta, nos certames em que sabiam que no iriam sair vencedoras. Com efeito,
para vencer uma licitao, a empresa necessitava investir na formulao de uma proposta sria, a qual chegava a
custar de R$ 2 milhes a R$ 5 milhes, conforme a complexidade da obra. J as concorrentes que entravam na
licitao apenas para dar uma aparncia de falsa competio no investiam nas propostas e, propositadamente,
elevavam os custos de seu oramento para ser derrotada no simulacro de licitao. Com isso, despendiam valor
substancialmente menor por certame disputado. Bem na verdade, as empresas perdedoras tomavam
conhecimento do valor a ser praticado pela vencedora e apresentavam sempre um preo superior quele.
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108. Conforme j apurado pelo TCU166 e tambm pela PETROBRAS, a partir de
Comisses Internas de Apurao constitudas para analisar os procedimentos de contratao
adotados na implantao da Refinaria Abreu e Lima RNEST 167, em Ipojuca/PE, e no
Complexo Petroqumico do Rio de Janeiro (COMPERJ) 168, em Itabora/RJ, a atuao em cartel
possibilitou que os valores das propostas das empresas vencedoras do certame via de regra
tenham se aproximado do valor mximo (teto) das estimativas elaboradas pela Estatal, em
alguns casos at mesmo o superando.
109. Mais recentemente, em acrdo lavrado pelo TCU, estimou-se que a atuao
cartelizada perante a PETROBRAS implicou prejuzos Estatal que podem chegar aos R$ 29
bilhes169. Do mesmo modo, os prejuzos decorrentes do cartel que se instalou contra a
PETROBRAS foram estimados, em laudo emitido pelo Departamento Tcnico da Polcia
Federal170, na ordem de R$ 42 bilhes de reais.
110. Todas as vantagens mencionadas, de carter nitidamente econmico,
constituam o proveito obtido pelas empresas com a prtica criminosa da formao de cartel
e fraude licitao. O produto desse crime, alm de ser contabilizado para o lucro das
empresas, tambm servia em parte para os pagamentos (propina) feitos aos empregados
pblicos da PETROBRAS e a terceiros (operadores, agentes polticos e partidos polticos), por
via dissimulada, conforme adiante ser descrito.
2.2. IMPUTAES DE CORRUPO ATIVA E PASSIVA
111. Em datas ainda no estabelecidas, mas certo que compreendidas entre
11/10/2006 e 23/01/2012171, LULA, de modo consciente e voluntrio, em razo de sua funo
166 ANEXOS 113 e 114: Planilha do TCU com dados de contratos objeto de fiscalizao e ofcio 0475/2014TCU/SecobEnerg, que a encaminhou.
167 ANEXO 115: Relatrio Final da Comisso Interna de Apurao instituda pelo DIP DABAST 71/2014,
constituda especificamente para analisar procedimentos de contratao adotados na implantao da Refinaria
Abreu e Lima RNEST, em Ipojuca, no Estado de Pernambuco.
168 ANEXO 116: Relatrio Final da Comisso Interna de Apurao instituda pelo DIP DABAST 70/2014,
constituda especificamente para analisar procedimentos de contratao adotados na implantao do Complexo
Petroqumico do Rio de Janeiro COMPERJ.
169 ANEXO 117, do qual se destaca: 9.1.4. o overcharge em 17 pontos percentuais ento estudado, considerando
a massa de contratos no valor total da amostra de R$ 52,1 bilhes (valor corrigido pelo IPCA), apontam uma
reduo do desconto nas contrataes de, pelo menos, R$ 8,8 bilhes, em valor reajustado pelo IPCA at a data da
concluso do estudo que ora se apresenta; 9.1.5. se ampliado o escopo dos estudos para alm da diretoria de
abastecimento (em exata sincronia de critrios utilizados pela Petrobras em seu balano contbil RMF-3T-4T14, pea
13), o prejuzo total pode chegar a R$ 29 bilhes; 9.1.6. os prejuzos provveis ento estimados referem-se somente
reduo do desconto na fase de oferta de preos (sem contar aditivos, que no foram crivados por concorrncia e
no enfrentam, em tese, os efeitos diretos da negociao de preos entre as concorrentes); (...). Ressalte-se,
novamente, que os crimes de cartel e fraude licitao so aqui narrados como delitos antecedentes da lavagem
de ativos, no havendo, aqui, imputao dessas condutas, que sero denunciadas oportunamente.
170 ANEXO 118 Laudo n 2311/2015-SETEC/SR/DPF/PR.
171 Quanto ao perodo em que praticados os delitos: (a) os fatos relativos s obras de ISBL da Carteira de
Gasolina e UGHE HDT de instveis da Carteira de Coque da Refinaria Getlio Vargas REPAR remete m a
11/10/2006 e 23/01/2012, respectivamente, data do incio do procedimento licitatrio (DIP ENGENHARIA 507/06
ANEXOS 119 e 120), e data da assinatura do ltimo aditivo celebrado enquanto RENATO DUQUE e PAULO
ROBERTO COSTA ocupavam a Diretoria da PETROBRAS (ANEXO 121); (b) os fatos relativos implantao das
UHDTs e UGHs da Refinaria Abreu e Lima RNEST remetem a 09/07/2008 e 12/01/2012, respectivamente, data
de incio do processo de contratao (ANEXO 122) e data da assinatura do ltimo aditivo celebrado enquanto
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e como responsvel pela nomeao e manuteno de RENATO DUQUE e PAULO ROBERTO
COSTA nas Diretorias de Servios e Abastecimento da PETROBRAS, solicitou, aceitou
promessa e recebeu, direta e indiretamente, para si e para outrem, inclusive por intermdio
de tais funcionrios pblicos, vantagens indevidas, as quais foram de outro lado e de modo
convergente oferecidas e prometidas por LO PINHEIRO e AGENOR MEDEIROS, executivos
do Grupo OAS, para que estes obtivessem benefcios para o CONSRCIO CONPAR,
contratado pela PETROBRAS para a execuo das obras de ISBL da Carteira de Gasolina e
UGHE HDT de instveis da Carteira de Coque da Refinaria Getlio Vargas REPAR (FATO
01); e para o CONSRCIO RNEST/CONEST, contratado pela PETROBRAS para a implantao
das UHDTs e UGHs da Refinaria Abreu e Lima RNEST (FATO 02), e para a implantao das
UDAs da Refinaria Abreu e Lima RNEST (FATO 03). As vantagens indevidas consistiram em
recursos pblicos desviados no valor de, pelo menos, R$ 87.624.971,26172, os quais foram
usados, dentro do mega esquema comandado por LULA, no s para enriquecimento ilcito
dos envolvidos, mas especialmente para alcanar governabilidade e financiar com recursos
pblicos desviados a permanncia no poder. Em decorrncia de tais vantagens indevidas,
houve, com a infrao de deveres legais, a prtica e a omisso de atos de ofcio pelos
mencionados Diretores da PETROBRAS. Assim, LULA incorreu na prtica, por 3 vezes (FATOS
01 a 03), em concurso material, do delito de corrupo passiva qualificada, em sua forma
majorada, previsto no art. 317, caput e 1, c/c art. 327, 2, todos do Cdigo Penal.
112. Ainda neste mesmo perodo, entre 11/10/2006 e 23/01/2012, LO
PINHEIRO e AGENOR MEDEIROS, executivos do Grupo OAS, em unidade de desgnios e de
modo consciente e voluntrio, ofereceram e prometeram vantagens indevidas a LULA,
RENATO DUQUE173 e PEDRO BARUSCO174-175, para determin-los a, infringindo deveres legais,
praticar e omitir atos de ofcio no interesse do CONSRCIO CONPAR, contratado pela
PETROBRAS para a execuo das obras de ISBL da Carteira de Gasolina e UGHE HDT de
instveis da Carteira de Coque da Refinaria Getlio Vargas REPAR (FATOS 04, 05 e 06176); e
RENATO DUQUE e PAULO ROBERTO COSTA ocupavam a Diretoria da PETROBRAS (ANEXO 121)l; (c) os fatos
relativos implantao das UDA's da Refinaria Abreu e Lima RNEST remetem a 09/07/2008 e 28/12/2011,
respectivamente, data do incio do processo de contratao (ANEXO 123) e data da assinatura do ltimo aditivo
celebrado enquanto RENATO DUQUE e PAULO ROBERTO COSTA ocupavam a Diretoria da PETROBRAS (ANEXO
121).
172 O montante de vantagens econmicas indevidas auferidas com o envolvimento de RENATO DUQUE e PAULO
ROBERTO COSTA alcanou o percentual de pelo menos 3% do valor original de cada contrato e aditivos
celebrados. Assim, para os fatos relativos a (a) obras de ISBL da Carteira de Gasolina e UGHE HDT de instveis da
Carteira de Coque da Refinaria Getlio Vargas REPAR, as vantagens indevidas alcanaram R$ 69.957.518,28; (b)
implantao das UHDTs e UGHs da Refinaria Abreu e Lima RNEST, as vantagens indevidas alcanaram R$
96.876.256,04; (c) implantao das UDAs da Refinaria Abreu e Lima RNEST, as vantagens indevidas alcanaram
R$ 44.794.077,71. Nessa toada, considerando que a presente denncia envolve apenas as vantagens indevidas
pagas pelo GRUPO OAS, detentor, respectivamente, de uma participao de 24% no CONSRCIO CONPAR, e de
50% no CONSRCIO RNEST/CONEST, o montante de propina imputada em relao a cada um dos contratos
perfaz (a) R$ 16.789.804,38; (b) R$ 48.438.128,02; (c) R$ 22.397.038,84, que somados chegam a R$ 87.624.971,24.
173 Deixa-se de imputar as condutas de corrupo passiva de RENATO DUQUE quanto aos contratos em
comento, uma vez que j denunciadas em sede da Ao Penal n 5036528-23.2015.4.04.7000.
174 Deixa-se de imputar as condutas de corrupo passiva de PEDRO BARUSCO quanto aos contratos em
comento, uma vez que j denunciadas em sede da Ao Penal n 5036528-23.2015.4.04.7000.
175 Deixa-se de imputar as condutas de corrupo ativa de JOSE ADELMRIO PINHEIRO FILHO e AGENOR
MEDEIROS em relao a PAULO ROBERTO COSTA quanto aos contratos em comento, uma vez que j denunciadas
em sede da Ao Penal n 5083378-05.2014.404.7000.
176 A oferta/promessa de vantagem indevida a cada agente pblico distinto constitui conduta criminosa
autnoma. No mbito dessas obras do CONSRCIO CONPAR, h um fato delitivo especfico para um dos agentes
a que direcionada a oferta/promessa: LULA (FATO 04); RENATO DUQUE (FATO 05), e PEDRO BARUSCO (FATO 06).
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do CONSRCIO RNEST/CONEST, contratado pela PETROBRAS para a implantao das UHDT's
e UGH's da Refinaria Abreu e Lima RNEST (FATOS 07, 08 e 09177), e para a implantao das
UDA's da Refinaria Abreu e Lima RNEST (FATOS 10, 11 e 12178). Tais vantagens indevidas
consistiram em recursos pblicos desviados no valor de, pelo menos, R$ 87.624.971,26179,
oferecidos e prometidos para LULA e que seriam usados no s para enriquecimento ilcito
dos envolvidos, mas especialmente para alcanar governabilidade e financiar com recursos
pblicos desviados a permanncia no poder, parte dos quais (R$ 58.416.647,51180) foi
oferecida e prometida tambm para RENATO DUQUE e PEDRO BARUSCO, que integravam
com o primeiro o polo da corrupo passiva. Em razo de tais vantagens indevidas,
mencionados agentes pblicos, de fato, praticaram e omitiram atos de ofcio. Assim, LO
PINHEIRO e AGENOR MEDEIROS incorreram na prtica, por 9 vezes (FATOS 04 a 12), em
concurso material, do delito de corrupo ativa, em sua forma majorada, previsto no art.
333, caput e pargrafo nico, do Cdigo Penal.
A estrutura montada para os atos de corrupo
113. Como explicitado acima, esse esquema criminoso, por meio do qual foram
desviados recursos da PETROBRAS, envolveu, primordialmente, a atuao de LULA. Pelo
menos entre 2003 e 2010, na condio de Presidente da Repblica, e depois na condio de
lder partidrio com influncia no governo vinculado ao seu partido e de ex-Presidente em
cujo mandato haviam sido assinados contratos e aditivos que tiveram sua execuo e
pagamento prolongados no tempo, ele agiu para que RENATO DUQUE e PAULO ROBERTO
COSTA fossem nomeados e mantidos em altos cargos da Estatal. Isso foi feito com o intuito
de que tais funcionrios permanecessem comprometidos com a arrecadao de vantagens
indevidas decorrentes de contratos entre a PETROBRAS e empreiteiras, como a do Grupo
OAS, as quais lhe seriam direcionadas, direta e indiretamente, quer na forma de dinheiro,
quer na forma de benefcios decorrentes do emprego do dinheiro (em funo da
governabilidade ou de um projeto de poder partidrio).
Nesse contexto, a expanso de novos e grandiosos projetos de infraestrutura,
incluindo a reforma e a construo de refinarias, criou um cenrio propcio para o
desenvolvimento de prticas corruptas.
114. Para o funcionamento dessa engrenagem delituosa, executivos das empresas
cartelizadas participantes do CLUBE181 mantinham com funcionrios da PETROBRAS, como
177 A oferta/promessa de vantagem indevida a cada agente pblico distinto constitui conduta criminosa
autnoma. No mbito dessas obras do CONSRCIO RNEST/CONEST, h um fato delitivo especfico para um dos
agentes a que direcionada a oferta/promessa: LULA (FATO 07); RENATO DUQUE (FATO 08), e PEDRO BARUSCO
(FATO 09).
178 A oferta/promessa de vantagem indevida a cada agente pblico distinto constitui conduta criminosa
autnoma. No mbito dessas obras do CONSRCIO RNEST/CONEST, h um fato delitivo especfico para um dos
agentes a que direcionada a oferta/promessa: LULA (FATO 10); RENATO DUQUE (FATO 11), e PEDRO BARUSCO
(FATO 12).
179 Correspondente parcela da OAS e relacionada a 3% das propinas dos contratos e aditivos, nos termos j
explicados em notas de rodap anteriores.
180 Correspondente parcela da OAS e relacionada a 2% das propinas dos contratos e aditivos, nos termos j
explicados em notas de rodap anteriores. A corrupo desses executivos da OAS em relao a PAULO ROBERTO
COSTA e Diretoria de Abastecimento j foi objeto de denncia, como mencionado tambm acima.
181 Conforme indicado nos itens 96 a 110, e amplamente demonstrado nas aes penais 508325829.2014.404.7000, 5083351-89.2014.404.7000, 5083360-51.2014.404.7000, 5083376-05.2014.404.7000, 508340151/149

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RENATO DUQUE, PEDRO BARUSCO e PAULO ROBERTO COSTA, um compromisso
previamente estabelecido, com promessas mtuas, reiteradas e confirmadas ao longo do
tempo, de, respectivamente, oferecerem e aceitarem vantagens indevidas que variavam entre
1% e 3% do valor integral de todos os contratos por elas celebrados com a PETROBRAS,
podendo inclusive ser superior a esse percentual em caso de aditivos contratuais.
Como contrapartida, RENATO DUQUE, PEDRO BARUSCO e PAULO ROBERTO
COSTA assumiam o compromisso de manterem-se inertes e anurem quanto existncia e ao
efetivo funcionamento do Cartel no seio e em desfavor da Estatal. Alm de se omitirem nos
deveres que decorriam de seus ofcios, sobretudo no dever de imediatamente informar
irregularidades e adotar as providncias cabveis nos seus mbitos de atuao, esses
empregados corrompidos, por si prprios ou influenciando os seus subordinados, praticaram
atos de ofcio, regulares e irregulares, no interesse da otimizao do funcionamento do
Cartel182.
Ainda que a prtica de atos de ofcio em favor das empresas cartelizadas tenha
ocorrido em alguns casos especficos, diante de todos os contratos firmados pelas empresas
cartelizadas com a PETROBRAS, RENATO DUQUE, PEDRO BARUSCO e PAULO ROBERTO
COSTA efetivamente se omitiram de praticar os atos de ofcio a que estavam obrigados,
como a revelao da existncia do Cartel e a adoo de providncias necessrias para fazer
cessar suas atividades. LULA no s orquestrou todo o esquema de arrecadao de propinas
por diversos partidos, mas atuou para que seus efeitos se perpetuassem, justamente porque
nomeou e manteve em cargos de direo da PETROBRAS pessoas comprometidas com atos
de corrupo e que efetivamente se corromperam e se omitiram em seu dever de ofcio de
impedir o resultado criminoso.
115. Impende destacar que PEDRO BARUSCO183, JULIO CAMARGO184, PAULO
ROBERTO COSTA185 e ALBERTO YOUSSEF186 esclareceram havia um sistema simbitico entre
empresrios e agentes pblicos para a prtica dos crimes, fato este que corrobora as
imputaes da prtica dos delitos de corrupo. Tratava-se de um ambiente em que o
pagamento de propinas era algo endmico, institucionalizado187-188.
18.2014.404.7000, 5027422-37.2015.404.7000, 5012331-04.2015.404.7000, 5036528-23.2015.404.7000, 504524184.2015.404.7000.
182 A ttulo de exemplificao possvel apontar que RENATO DUQUE, PEDRO BARUSCO e PAULO ROBERTO
COSTA tomavam as providncias necessrias, por si prprios ou influenciando os seus subordinados, para
promover: i) a acelerao dos procedimentos licitatrios e de contratao de grandes obras, sobretudo refinarias,
dispensando etapas necessrias correta avaliao da obra, inclusive o projeto bsico; ii) a aprovao de
comisses de licitaes com funcionrios inexperientes; iii) o compartilhamento de informaes sigilosas ou
restritas com as empresas integrantes do Cartel; iv) a incluso ou excluso de empresas cartelizadas dos certames,
direcionando-os em favor da(s) empreiteira(s) ou consrcio de empreiteiras selecionado pelo CLUBE; v) a
inobservncia de normas internas de controle e avaliao das obras executadas pelas empreiteiras cartelizadas; vi)
a sonegao de determinados assuntos da avaliao que deveria ser feita por parte do Departamento Jurdico ou
Conselho Executivo; vii) contrataes diretas de forma injustificada; viii) a facilitao da aprovao de aditivos em
favor das empresas, muitas vezes desnecessariamente ou mediante preos excessivos. Tambm nesse sentido
colocam-se as alegaes de AUGUSTO MENDONA (Termo de Colaborao Complementar n 02 ANEXO 124).
183 ANEXOS 46 e 47.
184 ANEXO 125.
185 ANEXO 102.
186 ANEXO 44.
187 ANEXOS 45 e 46.
188 Tambm nesse sentido, confira-se o interrogatrio de ALBERTO YOUSSEF nas aes penais 508340118.2014.4.04.7000, 5083376-05.2014.4.04.7000, 5083351-89.2014.4.04.7000, 5083258-29.2014.4.04.7000 e
5083360-51.2014.4.04.7000, do qual se destaca o seguinte trecho: (...) Juiz Federal:- E toda reunio havia essa
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116. Por volta de 2006, quando a PETROBRAS iniciou projetos para obras de
grande porte em refinarias, incluindo a REPAR e RNEST, os procedimentos licitatrios e a
execuo dos contratos foram conduzidos no mbito da Diretoria de Abastecimento, sob
responsabilidade de PAULO ROBERTO COSTA, e da Diretoria de Servios, sob
responsabilidade de RENATO DUQUE189. Assim, materializando os compromissos assumidos,
imediatamente antes e durante o incio de tais certames, os executivos das empresas
integrantes do Cartel se reuniam e, de acordo com os seus exclusivos interesses, definiam
qual(is) dela(s) iria(m) vencer determinado certame 190. Em seguida, contatavam,
diretamente191 ou por intermdio de operadores como JULIO CAMARGO, JOS JANENE e
ALBERTO YOUSSEF192, os funcionrios RENATO DUQUE, PEDRO BARUSCO e PAULO ROBERTO
negociao, vamos dizer, da propina ser paga, em toda essa reunio, ou tinha mais ou menos j geral, estabelecida,
que sempre ia ter que pagar propina, como que isso funcionava? Interrogado:- Na verdade isso era uma coisa
sistmica; a partir do momento que a empresa ganhava o pacote pra fazer a obra ela j sabia que teria que
participar da propina. Logo em seguida, de ganho a licitao s vezes ela era procurada pelo deputado ou pelo
prprio Paulo Roberto pra que pudesse sentar e negociar. () (ANEXO 44).
189 Cite-se, nesse sentido, o seguinte trecho do interrogatrio judicial de PAULO ROBERTO COSTA no processo
criminal 5026212-82.2014.404.7000 (Eventos 1025 e 1101): Juiz Federal: - Mas e quem, como chegou, como foi
definido esse 3%, esse 1 repasse, foi algo que precedeu a sua ida para l ou surgiu no decorrer? Interrogado:
-Possivelmente j acontecia antes de eu ir pra l. Possivelmente j acontecia antes, porque essas empresas j
trabalham para Petrobras h muito tempo. E como eu mencionei anteriormente, as indicaes de diretoria da
Petrobras, desde que me conheo como Petrobras, sempre foram indicaes polticas. Na minha rea, os dois
primeiros anos, 2004 e 2005, praticamente a gente no teve obra. Obras muito pe..., de pouco valor porque a gente
no tinha oramento, no tinha projeto. Quando comeou a ter os projetos pra obras de realmente maior porte,
principalmente, inicialmente, na rea de qualidade de derivados, qualidade da gasolina, qualidade do diesel, foi feito
em praticamente todas as refinarias grandes obras para esse, com esse intuito, me foi colocado l pelas, pelas
empresas, e tambm pelo partido, que dessa mdia de 3%, o que fosse de Diretoria de Abastecimento, 1% seria
repassado para o PP. E os 2% restantes ficariam para o PT dentro da diretoria que prestava esse tipo de servio que
era a Diretoria de Servio. [] Juiz Federal: - Mas isso em cima de todo o contrato que... Interrogado: -No. Juiz
Federal: - Celebrado pela Petrobras? Interrogado: -No. Em cima desses contratos dessas empresas do cartel. Juiz
Federal: - Do cartel. No mesmo sentido, o interrogatrio de ALBERTO YOUSSEF: Interrogado: -Sim senhor, Vossa
Excelncia. Mas toda empresa que... desse porte maior, ela j sabia que qualquer obra que ela fosse fazer, na rea de
Abastecimento da Petrobrs, ela tinha que pagar o pedgio de 1%. [...] ANEXO 43.
190 Conforme interrogatrio de judicial de ALBERTO YOUSSEF na Ao Penal n. 5026212-82.2014.404.7000
(Eventos 1025 e 1101) ANEXO 43 , e depoimentos prestados por PEDRO BARUSCO ANEXOS 46 e 47 ,
AUGUSTO MENDONA ANEXO 97 , MARCOS BERTI ANEXO 107. Nesta seara, impende mencionar, ainda, a
documentao fornecida por MARCOS BERTI (ANEXO 108) e a documentao encontrada na ENGEVIX (ANEXO
112).
191 Neste sentido, colocam-se as alegaes de AUGUSTO MENDONA (Termo de Colaborao Complementar n
02 ANEXO 124): [...] QUE questionado acerca da entrega de listas ou sobre o modo como as empresas do CLUBE
faziam para que apenas elas fossem convidadas pela PETROBRAS, o depoente informou que a interlocuo do
CLUBE com PEDRO BARUSCO, RENATO DUQUE e PAULO ROBERTO COSTA se dava sobretudo por intermdio de
RICARDO PESSOA, representante da UTC que ocupava a presidncia da ABEMI, e por isso tinha justificativa para ter
acesso frequente aos dirigentes da estatal; QUE ao que tem conhecimento, RICARDO PESSOA intercedia junto aos
diretores da estatal para que apenas as empresas do CLUBE fossem convidadas, tendo conhecimento que antes de os
convites fossem formalizados pela PETROBRAS era necessrio obter a aprovao dos diretores diretamente
envolvidos, no caso das refinarias, os Diretores RENATO DUQUE e PAULO ROBERTO COSTA, os quais ficavam com o
encargo de submeter o procedimento ao colegiado da diretoria; QUE no interregno entre o recebimento do
procedimento licitatrio e sua submisso ao colegiado da diretoria, os Diretores obtinham o conhecimento das
empresas que seriam convidadas e tinham o poder de alterar a lista das convidadas para atender os interesses do
CLUBE; QUE para contemplar os interesses do CLUBE chegavam a incluir ou at, com base em argumentos tcnicos,
excluir empresas que seriam convidadas, todavia com a real finalidade de favorecer as empresas do CLUBE; QUE, por
vezes, a influncia dos referidos DIRETORES ocorria em etapas anteriores ao recebimento formal do recebimento do
processo licitatrio para encaminhamento aprovao do colegiado de diretores, que era concretizada meio do DIP
[].
192 Conforme exposto nas denncias que deram incio aos autos de ao penal n 5083258-29.2014.404.7000,
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COSTA193, no intuito de lhes repassar a relao das empresas que deveriam ser convidadas
para o certame, dentre as quais sempre se encontrava a empresa ou consrcio de empresas
escolhida(o) pelo Cartel para vencer a licitao, bem como aquelas que forneceriam
propostas coberturas194.
Referidos funcionrios pblicos, ajustados entre si e com o cartel, concretizando
o acordo previamente estabelecido, omitiam-se em relao ao funcionamento do cartel e,
quando necessrio, passavam a tomar ou determinar as providncias necessrias para que a
escolha se concretizasse195.
117. Em um momento posterior, confirmada a seleo da empreiteira cartelizada,
e com o incio das obras e comeo dos pagamentos pela PETROBRAS, entravam em cena
operadores que realizavam o pagamento das vantagens indevidas. No mbito da Diretoria de
Abastecimento, ALBERTO YOUSSEF era responsvel por entrar em contato com os
representantes da empreiteira selecionada para com eles iniciar as tratativas sobre aspectos
especficos do repasse das vantagens indevidas aos empregados corrompidos e demais
agentes por eles indicados, em decorrncia da obra que seria executada 196. No interesse da
Diretoria de Servios, por seu turno, os ajustes finais com RENATO DUQUE e PEDRO
5083351-89.2014.404.7000, 5083360-51.2014.404.7000, 5083376-05.2014.404.7000, 5083401-18.2014.404.7000,
50833838-59.2014.404.7000, 5012331-04.2015.404.7000, 5036518-76.2015.404.7000, 5036528-23.2015.404.7000,
5039475-50.2015.404.7000, 5045241-84.2015.404.7000, 5051379-67.2015.404.7000, 5013405-59.2016.404.7000,
5019727-95.2016.404.7000, 5022179-78.2016.404.7000, 5030424-78.2016.404.7000, 5030883-80.2016.404.7000,
5037800-18.2016.404.7000.
193 Conforme explicou PAULO ROBERTO COSTA em seu interrogatrio nas aes penais 508340118.2014.4.04.7000, 5083376-05.2014.4.04.7000, 5083351-89.2014.4.04.7000, 5083258-29.2014.4.04.7000 e
5083360-51.2014.4.04.7000 (ANEXO 103): () Juiz Federal:- E como que o senhor poderia ajudar esse cartel?
Interrogado:-Trabalhando junto com a rea de engenharia, rea de servio, que era quem executava as licitaes. As
licitaes na Petrobras, de refinarias, de unidades de refino, de plataformas, etc, eram todas conduzidas pela rea de
servios, obviamente que eu era, vamos dizer assim, a rea de servio era uma prestadora dessa atividade pra minha
rea de abastecimento, como era tambm pra extrao e produo, gs e energia e etc, mas como diretor se tinha
tambm um peso, junto ao diretor da rea de servio, em relao relao de empresa participar e etc, embora no
fosse conduzida pela minha rea, obviamente que se tinha um peso nesse processo. Juiz Federal:- Certo, mas a
questo, por exemplo, dos convites da licitao, o senhor de alguma forma, ento, vamos dizer, ajudava esse cartel?
Pra que fossem convidadas somente empresas do grupo? Interrogado:-Indiretamente, sim. Conversando com o
diretor da rea de servios, quando adentrasse uma conversa preliminar com ele, sim. Juiz Federal:- Esse grupo, eles
tiveram a mesma conversa, o senhor tem conhecimento, com a diretoria de servios? Interrogado:-Possivelmente
sim, no tem dvida porque, como lhe falei, Excelncia, o processo todo era conduzido pela rea de servio, ento
obviamente que tinha que ter essa conversa com a rea de servio. Ela que conduzia todo o processo licitatrio, ela
que acompanhava, vamos dizer, toda a licitao, ela que fazia parte do oramento bsico da Petrobras, todo, todo
esse processo era conduzido pela rea de servio. (...).
194 Neste sentido, colocam-se as alegaes de AUGUSTO MENDONA (Termo de Colaborao Complementar n
02 ANEXO 124).
195 Tais ajustes e acertos entre as partes envolvidas, reconhecidos, dentre outros, pelo operador e rucolaborador ALBERTO YOUSSEF nos autos da ao penal 5026212-82.2014.404.7000 (Eventos 1025 e 1101 anexo
27), no s consumavam a promessa de vantagem por parte da empreiteira corruptora, como tambm a sua
aceitao pelos empregados corrompidos. - ANEXO 43.
196 Sobre o papel de ALBERTO YOUSSEF enquanto operador do esquema criminoso no seio da PETROBRAS,
oportuno citar o seguinte trecho do interrogatrio judicial de PAULO ROBERTO COSTA na ao penal 502621282.2014.404.7000 (Eventos 1025 e 1101): [] Defesa de Alberto Youssef: - Pelo Jos Janene. O Alberto Youssef tinha
a funo exclusivamente de operacionalizar a entrega de valores? Interrogado: - . Defesa de Alberto Youssef: Queria que o senhor detalhasse qual a funo dele. Interrogado: - T, muito bem. Fechava-se um contrato, n?
Numa empresa de cartel, tinha essa relao de 1% para o PP, a empresa era a empresa X, ento o Alberto Youssef ia
l conversar com algumas pessoas dessa empresa, no posso te precisar se a nvel de diretor ou de presidente, ou um
gerente financeiro, isso eu no tenho como te precisar, ele conversava com essa pessoa e fazia ento essa
operacionalizao para o repasse para os agentes polticos. [] ANEXO 43.
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BARUSCO acerca dos detalhes sobre a operacionalizao dos pagamentos das vantagens
indevidas prometidas eram realizados pelos prprios empreiteiros, a exemplo do que foi
mencionado pelo colaborador AUGUSTO MENDONA197, empresrio do Grupo SOG/SETAL, e
tambm por intermdio de diversos operadores, como MARIO GOES, JULIO CAMARGO, ADIR
ASSAD e JOO VACCARI NETO198.
118. Conforme narrado por PAULO ROBERTO COSTA e por ALBERTO YOUSSEF 199,
a partir do ano de 2005, em todos os contratos firmados pelas empresas cartelizadas com a
PETROBRAS no interesse da Diretoria de Abastecimento, houve o pagamento de vantagens
indevidas aos empregados corrompidos da Estatal e a pessoas por eles indicadas no
montante de ao menos 3% do valor total do contrato. Na diviso das vantagens indevidas, o
valor da propina repassada a PAULO ROBERTO COSTA e s pessoas por ele indicadas,
sobretudo operadores da lavagem de dinheiro e integrantes do PARTIDO PROGRESSISTA
[PP], era de ao menos 1% do valor total do contrato, no mbito da Diretoria de
Abastecimento. Por sua vez, o valor da propina repassada a empregados corrompidos da
Diretoria de Servios, em especial RENATO DUQUE e PEDRO BARUSCO, era de ao menos 2%
tambm do valor total do contrato, sendo que parte substancial desses valores era destinada
a integrantes do PARTIDO DOS TRABALHADORES [PT]200.
119. Assim, aps o surgimento e consolidao do referido Cartel, nos contratos
de interesse das Diretorias de Abastecimento e de Servios da PETROBRAS firmados pelas
empresas cartelizadas, houve o pagamento de vantagens indevidas. Nesse esquema
criminoso, inseriram-se os contratos firmados pela OAS para obras relacionadas REPAR e
RNEST.
Para a materializao dos atos de corrupo a eles relacionados, foi fundamental
o funcionamento engrenagem criminosa a seguir descrita, no que tange s Diretorias de
Abastecimento e de Servios da PETROBRAS.

197 ANEXO 124.


198 MARIO GOES e ADIR ASSAD foram condenados no mbito da Operao Lava Jato em sede da ao penal n
5012331-04.2015.404.7000; MARIO GOES foi, ainda, denunciado em sede dos autos n 5036518-76.2015.404.7000,
enquanto ADIR ASSAD foi denunciado no mbito da ao penal n 5037800-18.2016.404.7000; JOO VACCARI
NETO foi condenado no mbito das aes penais n 5012331-04.2015.404.7000 e 5045241-84.2015.404.7000,
alm de ter sido denunciado em sede dos autos n 5061578-51.2015.404.7000, 5013405-59.2016.404.7000 e
5019727-95.2016.404.7000; JULIO CAMARGO foi condenado no mbito das aes penais 508383859.2014.404.7000 e 5012331-04.2015.404.7000, alm de ter sido denunciado em sede dos autos n 503709384.2015.404.7000.
199 Cite-se, nesse sentido, os interrogatrios judiciais de PAULO ROBERTO COSTA e ALBERTO YOUSSEF no
processo criminal 5026212-82.2014.404.7000 (Eventos 1025 e 1101) ANEXO 43.
200 Cite-se, nesse sentido, o seguinte trecho do interrogatrio judicial de PAULO ROBERTO COSTA na ao penal
5026212-82.2014.404.7000 (Eventos 1025 e 1101) ANEXO 43: [] Juiz Federal: - Mas esses 3% ento, em cima
desse preo iam para distribuio para agentes pblicos, isso? Interrogado: -Perfeito. Interrogado: - (). Quando
comeou a ter os projetos pra obras de realmente maior porte, principalmente, inicialmente, na rea de qualidade
de derivados, qualidade da gasolina, qualidade do diesel, foi feito em praticamente todas as refinarias grandes obras
para esse, com esse intuito, me foi colocado l pelas, pelas empresas, e tambm pelo partido, que dessa mdia de
3%, o que fosse de Diretoria de Abastecimento, 1% seria repassado para o PP. E os 2% restantes ficariam para o PT
dentro da diretoria que prestava esse tipo de servio que era a Diretoria de Servio. (). Juiz Federal: - Mas isso em
cima de todo o contrato que... Interrogado: -No. Juiz Federal: - Celebrado pela PETROBRAS? Interrogado: -No. Em
cima desses contratos dessas empresas do cartel. Juiz Federal: - Do cartel.
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A estrutura montada para os atos de corrupo na Diretoria de Abastecimento
120. Conforme acima descrito, ao menos 1% do valor consolidado de todos os
grandes contratos firmados com a PETROBRAS, no interesse da Diretoria de Abastecimento,
por empreiteiras integrantes do Cartel, sozinhas ou como integrantes de consrcios,
correspondeu a vantagens indevidas prometidas e, ao menos em sua maioria, efetivamente
pagas a PAULO ROBERTO COSTA e s pessoas por ele indicadas, sendo que a
operacionalizao de tais repasses incumbia a JOS JANENE e ALBERTO YOUSSEF at o ano
de 2008, e somente a ALBERTO YOUSSEF a partir de ento 201.
121. O recebimento das vantagens indevidas por PAULO ROBERTO COSTA, para si
e para outrem, comprova-se no s a partir de sua prpria confisso em juzo, das
declaraes prestadas por ALBERTO YOUSSEF, como tambm de seu vultoso patrimnio,
verificado poca da deflagrao da Operao Lava Jato, o qual era incompatvel com seu
patrimnio original e ganhos lcitos202-203-204. Alm disso, PAULO ROBERTO COSTA admitiu ter
201 Cite-se, nesse sentido, o seguinte trecho do interrogatrio judicial ANEXO 43: [...] Juiz Federal: - E como
que esse dinheiro era distribudo? Como que se operacionalizava isso? Interrogado: -Muito bem. O que era para
direcionamento do PP, praticamente at 2008, incio de 2008, quem conduzia isso, diretamente esse processo, era o
deputado Jos Janene. Ele era o responsvel por essa atividade. Em 2008 ele comeou a ficar doente e tal e veio a
falecer em 2010. De 2008, a partir do momento que ele ficou, vamos dizer, com a sade mais prejudicada, esse
trabalho passou a ser executado pelo Alberto Youssef. Juiz Federal: - E... Interrogado: -Em relao, em relao ao PP.
Juiz Federal: - Certo. E o senhor tem conhecimento, vamos dizer, exat..., como funcionava, como esse dinheiro
chegava ao senhor Alberto Youssef, os caminhos exat..., exatos que esse dinheiro tomava? Interrogado: -O meu
contato, Excelncia, sempre foi a nvel de Presidente e diretor das empresas, eu no tinha contato com pessoal,
vamos dizer, de operao, de execuo. Ento, assinava o contrato, passava-se algum tempo, que, depois de
assinado o contrato, a primeira medio que a PETROBRAS faz de servio trinta dias; executa o servio, a
PETROBRAS mede e paga trinta dias depois. Ento, normalmente, entre o prazo de execuo e o prazo final de
pagamento, tem um gap a de sessenta dias. Ento, normalmente, aps esse, esses sessenta dias, que era possvel
ento executar esses pagamentos. Ento, o deputado Jos Janene, na poca, ex-deputado porque em 2008 ele j no
era mais deputado, ele mantinha o contato com essas empresas, no ? Com o pessoal tambm no s a nvel de
diretoria e presidncia, mas tambm mais pessoal operacional, e esses valores ento eram repassados para ele, e
depois, mais na frente, para o Alberto Youssef. Agora, dentro das empresas tinha o pessoal que operacionalizava isso.
Esse pessoal eu no tinha contato. No fazia contato, no tinha conhecimento desse pessoal. Ento o que que
acontecia? , vamos dizer, ou o Alberto ou o Janene faziam esse contato, e esse dinheiro ento ia para essa
distribuio poltica, atravs deles, agora... (). Juiz Federal: - Certo, mas a pergunta que eu fiz especificamente se
os diretores, por exemplo, o senhor recebia parte desses valores? Interrogado: -Sim. Ento o que, normalmente, em
valores mdios, acontecia? Do 1%, que era para o PP, em mdia, obviamente que dependendo do contrato podia ser
um pouco mais, um pouco menos, 60% ia para o partido 20% era para despesas, s vezes nota fiscal, despesa para
envio, etc, etc. So todos valores mdios, pode ter alterao nesses valores. E 20% restante era repassado 70% pra
mim e 30% para o Janene ou o Alberto Youssef. Juiz Federal: - E como que o senhor recebia sua parcela?
Interrogado: -Eu recebia em espcie, normalmente na minha casa ou num shopping ou no escritrio, depois que eu
abri a companhia minha l de consultoria. Juiz Federal: - Como que o senhor, quem entregava esses valores para o
senhor? Interrogado: - Normalmente o Alberto Youssef ou o Janene. [].
202 ANEXO 126: autos 5014901-94.2014.404.7000, evento 42, ANEXO 1.
203 O prprio PAULO ROBERTO COSTA admitiu, em sede de interrogatrio judicial, que parte destes valores
constitua propina recebida em decorrncia de contrataes das empresas do Clube pela PETROBRAS (autos n
5026212-82.2014.404.7000, evento 1025 e 1101 ANEXO 43).
[] Juiz Federal: - E esses valores que foram
apreendidos na sua residncia, que era setecentos e sessenta e dois mil reais, cerca de cento e oitenta mil reais e
mais dez mil euros, qual que era a origem desses valores? Interrogado: -, a parte de euros e de dlar eram valores
meus. De dlar que eu tinha durante a vida toda guardado, e euros tinha dez mil euros l de uma viagem que eu fiz
Europa, tinha feito h pouco tempo. Os valores, os outros, era setecentos e poucos mil reais, eram valores no
corretos. [...]
204 Saliente-se, nesse sentido, que, no dia em que foi cumprido mandado de busca e apreenso em sua
residncia, PAULO ROBERTO COSTA possua guardados R$ 762.250,00 (setecentos e sessenta e dois mil, duzentos
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recebido valores esprios decorrentes de contratos firmados por empreiteiras com a
PETROBRAS em contas bancrias titularizadas por offshores em instituies financeiras suas,
das quais constava como proprietrio-beneficirio.
122. Oportuno rememorar, nesse ponto, que PAULO ROBERTO COSTA, mesmo
depois de deixar a Diretoria de Abastecimento da PETROBRAS, continuou a receber propinas
em decorrncia de contratos firmados poca em que foi Diretor da Estatal, especialmente
nos casos em que a execuo dos contratos se estendeu no tempo aps a sua sada. As
tratativas para o recebimento de tais vantagens indevidas pendentes foram efetuadas
diretamente entre PAULO ROBERTO COSTA e os executivos das empreiteiras corruptoras,
sendo que para operacionalizar tais recebimentos ele se serviu, sobretudo, da celebrao de
contratos fraudulentos de consultoria entre a sua empresa COSTA GLOBAL e as
empreiteiras205.
123. Especificamente quanto aos contratos da PETROBRAS a partir dos quais
foram desviados os recursos em virtude dos atos de corrupo ora denunciados, nos autos
n 5083376-05.2014.404.7000, houve a condenao pela corrupo e lavagem de ativos
relacionados parte do esquema que envolveu a Diretoria de Abastecimento. Naqueles
autos, apontou-se que ALBERTO YOUSSEF, que se encarregava da distribuio de recursos
para agentes e partidos polticos, valeu-se de negcios simulados entre as empresas do
Grupo OAS e as empresas EMPREITEIRA RIGIDEZ LTDA., RCI SOFTWARE E HARDWARE LTDA.
e M.O. CONSULTORIA COMERCIAL E LAUDOS ESTATSTICOS LTDA. para dissimular a entrega
da propina:

Data do contrato

Objeto

Valor lquido pago

Data do
pagamento

04/05/2009

Prestao de servios de consultoria tcnica visando


recompor financeiramente contrato junto TKCSA em
relao obra TKCSA BOP 1

R$ 1.632.122,54206-207

30/06/2010

03/05/2010

Servios de consultoria tcnica nas reas empresarial, fiscal,


trabalhista e de auditoria

R$ 337.860,00

08/09/2010

R$ 225.240,00208

20/09/2010

e cinquenta reais), US$ 181.495,00 (cento e oitenta e um mil, quatrocentos e noventa e cinco mil dlares) e EUR
10.850 (dez mil e oitocentos e cinquenta euros) em espcie, o que, tendo em vista a incompatibilidade manifesta
com a sua renda declarada poca, comprova o fato de que efetivamente recebia sua parte da propina em
dinheiro vivo.
205 Nesse sentido, destaca-se que no Curso da Operao Lava Jato foi apreendida uma planilha na residncia de
PAULO ROBERTO COSTA, apontando contratos assinados e em andamento com a COSTA GLOBAL, empresa de
consultoria do acusado. Nestas planilhas esto relacionados contratos com algumas das construtoras cartelizadas,
com seus contatos, constando, ainda, o valor dos pagamentos (% de sucess fee). Com efeito, constaram nessa
planilha a meno a contratos com as empreiteiras: i) CAMARGO CORRA, empresa lder do Consrcio CNCC, no
valor de R$ 3.000.000,00; ii) QUEIROZ GALVO, no valor de R$ 600.000,00; iii) IESA OLEO & GS, no valor de R$
1.200.000,00; e iv) ENGEVIX, no valor de R$ 665.000,00, todas integrantes do Cartel (ANEXOS 56 a 59).
206 Extrato detalhado com dados obtidos via SIMBA no Caso 001-MPF-001035, em cumprimento da quebra de
sigilo de dados bancrios deferida nos autos 5027775-48.2013.404.7000 (eventos 61 e 63), especificamente em
relao as empresas GFD, M.O., RIGIDEZ e RCI (ANEXO 127).
207 Como evidente, a diferena entre o valor lquido da referida nota fiscal e o valor depositado na conta da
RIGIDEZ de R$ 91.847,08. Em que pese no se tenha identificado o depsito de tal valor nas contas da RIGIDEZ,
possvel infirmar que seu pagamento se deu por outras vias, mediante compensao ou em espcie, por
exemplo. Contudo, a presente imputao no abarca essa diferena.
208 Documentos apresentados pela prpria OAS nos autos 5044849-81.2014.404.7000, evento 30, COMP2. Como
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R$ 140.775,00

08/09/2010

R$70.387,50

20/09/2010

01/07/2010

Prestao de servios descritos como consultoria em


informtica para desenvolvimento ou criao de programas

04/10/2010

Prestao de servios de consultoria tcnica visando


recompor financeiramente contrato junto GAS
BRASILIANO GBD

R$ 1.079.275,00210

03/12/2010

04/11/2010

Prestao de servios de auditora fiscal e trabalhista nas


Obras da Diretoria SP.

R$619.410,00211

03/01/2011

R$ 1.749.409,71212

18/03/2011

R$ 938.500,00213

29/05/2012

01/02/2011

Prestao de servios de consultoria tcnica para recompor


financeiramente o contrato n0802.0000126.09.2 junto
Transportadora Associada de Gs S.A. - TAG para a obra

209

Gasoduto Pilar Ipojuca.

01/08/2011

Prestao de servios de levantamentos quantitativos e


elaborao de proposta tcnica e comercial para
participao da concorrncia de construo do Projeto
Parque Shopping Macei

03/05/2010

Prestao de servios de consultoria tcnica para obras setor


civil e elaborar dentro das possibilidades dos projetos a
estruturao financeira que possa viabilizar a implantao
dos projeto, para o interior paulista

20/12/2010

10
11

R$366.015,00

08/09/2010

R$244.010,00214

20/09/2010

Consultoria financeira e tributria

R$ 435.509,70215

03/01/2011

23/05/2011

Prestao de servios de consultoria fiscal e trabalhista para


o encerramento do consrcio Virio So Bernardo

R$ 732.030,00216

20/12/2011

14/02/2011

Prestao de servios para elaborao de atestado de Obra


cf. Contrato 111/2009

R$ 1.004.195,00217

27/12/2011

124. Na poca de celebrao dos aludidos instrumentos, estavam vigentes os


contratos da PETROBRAS a partir dos quais foram desviados os recursos em virtude dos atos
de corrupo ora denunciados. Como reconhecido na referida ao penal, os negcios com
as empresas de ALBERTO YOUSSEF foram firmados com o intuito de dar aparncia de
legalidade ao repasse de valores ilcitos obtidos a partir dessas contrataes pblicas. O
prprio ALBERTO YOUSSEF reconheceu a falsidade dos contratos e que tais empresas no
prestavam servios, constituindo empresas de fachada para lavar o dinheiro desviado da
PETROBRAS.
Nesse contexto, PAULO ROBERTO COSTA, alm de atribuir sua indicao para a
Diretoria de Abastecimento ao apoio dado pelo PARTIDO PROGRESSISTA, asseverou que a
atuao de ALBERTO YOUSSEF nesses contratos ocorreu em favor da arrecadao de recursos
l se observa, o valor lquido da nota fiscal no 152 de R$ 337.860,00, enquanto para a nota 158 o valor pago,
descontados os tributos, de exatos R$ 225.240,00 (ANEXO 128).
209 ANEXO 127.
210 ANEXOS 127 e 129.
211 Autos 5044988-33.2014.404.7000, evento 20, PET1 (ANEXO 129).
212 ANEXOS 127 e 129.
213 ANEXO 127.
214 Conforme bem esclareceu a autoridade policial na representao acostada ao evento 1 dos autos
50734751320144047000: a primeira (transferncia eletrnica) referente ao valor de trs parcelas e a segunda
referente as duas ltimas parcelas, descontando-se os valores referente aos tributos, cujo percentual de 6,15%
(IRRF 1,50%, PIS 0,65% e COFINS 3,00%, CSLL 1,00% - ANEXO 130). (ANEXO 127).
215 ANEXO 127.
216 ANEXO 127.
217 ANEXO 127.
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para a referida agremiao partidria e a seus integrantes.
A estrutura montada para os atos de corrupo na Diretoria de Servios
125. No que tange Diretoria de Servios, os pagamentos de propina ocorriam,
normalmente, em favor do caixa geral do PARTIDO DOS TRABALHADORES e de RENATO
DUQUE, poca Diretor de Servios, e PEDRO BARUSCO, Gerente Executivo de Engenharia.
126. Consoante anteriormente narrado, ao menos 2% do valor total do valor do
contrato e dos aditivos celebrados pelas empresas cartelizadas com a PETROBRAS, a partir de
procedimentos licitatrios conduzidos pela Diretoria de Servios, eram destinados a RENATO
DUQUE e PEDRO BARUSCO, bem como a pessoas por eles indicadas, notadamente ligadas ao
PARTIDO DOS TRABALHADORES, mormente JOS DIRCEU, JOO VACCARI NETO e LULA.
127. Nesse contexto, em regra, conforme reconhecido por esse Juzo em sede dos
Autos
n.
5036528-23.2015.4.04.7000,
5012331-04.2015.4.04.7000
e
5045241218
84.2015.4.04.7000 , incumbia a PEDRO BARUSCO o papel de tratar com os empreiteiros e
com os diversos operadores financeiros que atuavam no mbito da Diretoria de Servios,
acordando as formas de operacionalizao da lavagem e repasses das propinas prometidas,
perodos de pagamento, dentre outros detalhes.
Dentro desta sistemtica, PEDRO BARUSCO, em grande parte dos casos, no s
recebia a sua parte das vantagens ilcitas, mas tambm a parte de RENATO DUQUE, cabendo
quele, pessoalmente, repassar a RENATO DUQUE, semanal ou quinzenalmente, a propina
que lhe cabia, na maioria das vezes entregando-lhe envelopes com grandes quantias em
dinheiro na prpria sala do ento Diretor de Servios na PETROBRAS ou em contas mantidas
no exterior219-220.
De forma a se ter uma ideia dos altssimos valores de propinas pagos aos
referidos agentes, cumpre salientar que PEDRO BARUSCO, depois de firmar acordo de
colaborao com o MINISTRIO PBLICO FEDERAL, admitiu que a parte da propina que
recebeu em decorrncia do cargo que ocupava na Diretoria de Servios da empresa e dos
contratos que foram celebrados pelas empresas cartelizadas com a PETROBRAS foi de
aproximadamente US$ 97.000.000,00221.
218 ANEXOS 131, 88 e 89, respectivamente.
219 Cite-se, nesse sentido, o seguinte trecho do Termo de Colaborao n 02 prestado p or PEDRO BARUSCO
(ANEXOS 46 e 47): QUE durante o perodo em que trabalhou com RENATO DUQUE, principalmente as empresas
do chamado cartel pagavam propina e o declarante gerenciava o pagamento de tais propinas tambm em favor
de RENATO DUQUE; QUE dentre as empresas do cartel o declarante cita a ttulo exemplificativo a CAMARGO
CORREA, a ANDRADE GUTIERREZ, a ODEBRECHT, a OAS, a QUEIROZ GALVO, a ENGEVIX, a IESA, a MENDES
JUNIOR, a MPE, a SETAL, a SKANSKA, a UTC, a PROMON e a GALVO ENGENHARIA [].
220 Consoante declinado pelo colaborador em sede do Termo Complementar n 1 (ANEXO 132).
221 De acordo com as declaraes de PEDRO BARUSCO (Termo de Colaborao n 2 - ANEXOS 46 e 47): [...]
QUE o declarante afirma que quase tudo o que recebeu indevidamente a ttulo de propina est devolvendo, em
torno de US$ 97 milhes de dlares, sendo que gastou para si US$ 1 milho de dlares em viagens e tratamentos
mdicos; QUE essa quantia foi recebida durante o perodo em que ocupou os cargos na PETROBRS de Gerente de
Tecnologia, abaixo do Gerente Geral, na Diretoria de Explorao e Produo, em seguida, quando veio a ocupar o
cargo de Gerente Executivo de Engenharia e, por final, quando ocupou o cargo de Diretor de Operaes na empresa
SETEBRASIL; QUE a quantia maior foi recebida durante o perodo em que era Gerente Executivo de Engenharia da
Petrobrs, subordinado ao Diretor de Servios RENATO DUQUE [] QUE RENATO DUQUE recebia parte de sua
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128. As informaes prestadas por PEDRO BARUSCO encontram-se amplamente
corroboradas pelos documentos por ele apresentados, como as duas tabelas concernentes
ao controle dos recebimentos indevidos, as quais se encontram anexas 222. Em uma delas,
consta a sigla dos recebedores, dentre elas MW, em referncia a My Way, codinome
utilizado para identificar RENATO DUQUE, bem como SAB, em referncia ao nome
SABRINA utilizado por PEDRO BARUSCO. Em outra, so detalhadas as porcentagens,
contratos e operadores responsveis pelo repasse dos valores 223.
129. Nessa senda, o pagamento de vantagens indevidas a RENATO DUQUE e a
PEDRO BARUSCO restou reconhecida por diversas ocasies por esse Juzo 224-225, inclusive,
consoante mencionado, no que respeita aos contratos firmados pelos CONSRCIOS CONPAR
e RNEST-CONEST, compostos por empresas do Grupo OAS, abarcados pela presente
denncia. Em sede dos Autos n. 5036528-23.2015.4.04.7000, esse Juzo condenou o exDiretor de Servios e o ex-Gerente de Engenharia da PETROBRAS pela prtica do delito de
corrupo passiva, apontando que a propina era acertada em pelo menos 2% do valor dos
contratos e aditivos celebrados com a Estatal, sendo metade destinada Diretoria de
Abastecimento e metade para a Diretoria de Servios226.
130. Destaque-se que RENATO DUQUE, por indicao de LULA, ocupou o cargo
de Diretor de Servios da PETROBRAS entre 31/01/2003 e 27/04/2012 227. Assim que assumiu
o cargo, convidou PEDRO BARUSCO para o cargo de Gerente Executivo de Engenharia,
permanecendo este na funo at 2011228.
propina por intermdio do declarante ou outras pessoas que no sabe declinar os nomes [].
222 ANEXOS 133 e 134.
223 Neste sentido, destaque-se o quanto dito pelo colaborador (Termo de Colaborao n 1 ANEXOS 46 e 47):
[] QUE a letra P se refere ao montante do faturamento, a letra MW era sigla referente musica My Way,
utilizada pelo declarante para lembrar e identificar RENATO DUQUE, a sigla MARS refere-se a marshal (marechal
em ingls) e era usada para identificar JOO FERRAZ, a sigla SAB refere-se a abreviao do nome Sabrina para
identificar o declarante, pois era uma ex-namorada sua, e, por final, a sigla MZB refere-se a muzamba e era
utilizada pelo declarante para lembrar-se e identificar EDUARDO MUSA [...].
224 5036528-23.2015.4.04.7000, 5012331-04.2015.4.04.7000 e 5045241-84.2015.4.04.7000 (ANEXOS 131, 88 e
89).
225 A corrupo de RENATO DUQUE em contratos firmados por empreiteiras integrantes do CLUBE com a
PETROBRAS restou denunciada, igualmente, em sede dos Autos n. 5036518-76.2015.4.04.7000, 503709384.2015.4.04.7000, 5051379-67.2015.4.04.7000, 5013405-59.2016.404.7000, 5030883-80.2016.4.04.7000 e
5037800-18.2016.4.04.7000.
226 Nesse sentido, confira-se o seguinte trecho da referida sentena: 915. O contrato obtido pelo Consrcio
CONPAR para obras na Refinaria Presidente Getlio Vargas teve o valor de R$ 1.821.012.130,93 e sofreu, enquanto
Paulo Roberto Costa permaneceu no cargo de Diretor de Abastecimento (at abril de 2012), aditivos de R$
518.933.732,63, gerando acertos de propina, portanto, de cerca de R$ 46.798.917,00, A Odebrecht, com 51% de
participao no contrato, responsvel por cerca de R$ 23.867.447,00 em propinas neste contrato. 916. Os contratos
obtidos pelo Consrcio RNEST/CONEST para obras na Refinaria do Nordeste Abreu e Lima - RNEST, tiveram o valor,
somados, de R$ 4.675.750.084,00, gerando acertos de propina, portanto, de cerca de R$ 93.515.001,00, A Odebrecht,
com 50% de participao nos contratos, responsvel por cerca de R$ 46.757.500,00 em propinas neste contrato.
() 913. Considerando o declarado pelos prprios acusados colaboradores, a regra era a de que a propina era
acertada em pelo menos 2% do valor dos valor dos contratos e aditivos celebrados com a Petrobrs, sendo metade
destinada Diretoria de Abastecimento e metade para a Diretoria de Engenharia e Servios. () 1.037. Como
beneficirio de propinas, no presente feito, Paulo Roberto Costa, Renato de Souza Duque e Pedro Jos Barusco Filho.
227 Conforme ANEXOS 135 e 136.
228 Conforme PEDRO BARUSCO informou em seu Termo de Declaraes n 1 (autos n 507591664.2014.404.7000, evento 9, OUT3): [] e, no final de 2002 ou incio de 2003, RENATO DUQUE, que havia sido
nomeado Diretor de Servios da PETROBRS, convidou o declarante para ser Gerente Executivo de Engenharia,
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Esses funcionrios de alto escalo da PETROBRAS, mantidos no cargo por LULA,
sob o comando deste num esquema estabelecido para que utilizassem dos cargos para
levantar propinas, omitiram-se no cumprimento dos deveres inerentes aos seus cargos,
notadamente a comunicao de irregularidades em virtude do funcionamento do CLUBE
(por exemplo, permitiram que os CONSRCIOS CONPAR e RNEST-CONEST fossem os
vencedores dos certames fraudados, permeados com as irregularidades acima apontadas), e
praticaram atos comissivos no interesse do funcionamento do cartel (por exemplo,
submeteram aprovao da Diretoria Executiva o resultado das negociaes).
131. Rememore-se que, depois de separada metade da propina para o PARTIDO
DOS TRABALHADORES, a diviso da propina remanescente entre o ex-Gerente Executivo de
Engenharia e o ex-Diretor de Servios ocorria na proporo de 40% para PEDRO BARUSCO e
os 60% restantes para RENATO DUQUE. Entretanto, quando da utilizao de servios
oferecidos por operadores para o recebimento dos valores indevidos, a distribuio era
alterada: 40% era destinado a RENATO DUQUE, 30% para PEDRO BARUSCO e 30% para o
respectivo operador229.
Assim, metade do montante de vantagens indevidas foi destinada Casa
(RENATO DUQUE e PEDRO BARUSCO) e a outra metade ao caixa geral do Partido dos
Trabalhadores, geralmente via JOO VACCARI NETO, mediante doaes feitas apenas
formalmente de acordo com as leis, ou mediante outras operaes de lavagem de dinheiro.
Neste contexto, incumbia a PEDRO BARUSCO, no mbito da Diretoria de Servios,
o papel de tratar com os empreiteiros, como LO PINHEIRO e AGENOR MEDEIROS, e com
operadores financeiros que os representavam, as formas de operacionalizao da lavagem e
repasses das propinas prometidas, perodos de pagamento, dentre outros detalhes. Tudo isso
era feito de forma a viabilizar a ocultao e dissimulao da origem, disposio,
movimentao e propriedade destes ativos ilcitos 230.
132. Essa dinmica, envolvendo pagamentos de vantagens indevidas a esses
integrantes da Diretoria de Servios da Estatal, foi revelada por AUGUSTO MENDONA,
JULIO CAMARGO231, PAULO ROBERTO COSTA, ALBERTO YOUSSEF 232 e pelo prprio PEDRO
BARUSCO233. Ela restou comprovada em diversas investigaes e processos, como verificado
nas sentenas dos autos n 5012331-04.2015.4.04.7000 e n 5045241-84.2015.4.04.7000, que
tramitaram perante esse Juzo234.
133. Em termo complementar, PEDRO BARUSCO detalhou o caminho trilhado
pelos valores recebidos a ttulo de vantagens indevidas no que concerne Diretoria de
cargo ocupou at maro de 2011 [] - ANEXOS 46, 47 e 76.
229 Neste sentido, declaraes de PEDRO BARUSCO (Termos de Colaborao n 02 ANEXOS 46 e 47): [] QUE
na diviso de propina entre o declarante e RENATO DUQUE, no entanto, em regra DUQUE ficava com a maior parte,
isto , 60%, e o declarante com 40%, no entanto, quando havia a participao de um operador, RENATO DUQUE
ficava com 40%, o declarante com 30% e o operador com 30% []
230 Termo de Colaborao n 03 (ANEXOS 46 e 47): [] QUE a parte da Casa era operacionalizada pelo
declarante, o qual fazia contato com o operador de cada uma das empresas contratadas pela PETROBRS, haja vista
que cada empresa possua um operador especfico, que s vezes operava mais de uma empresa [].
231 Autos n 5073441-38.2014.404.7000 ANEXOS 124, 125, 137 e 138.
232 Autos n 5026212-82.2014.404.7000, evento 1101, TERMOTRANSCDEP1 ANEXO 43.
233 Autos n 5075916-64.2014.404.7000 ANEXOS 46 e 47.
234 ANEXOS 88 e 89.
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Servios. Nessa senda, declinou que, a partir de 2004 e at pelo menos o ano de 2012,
representantes de diversas empreiteiras como os da OAS235 passaram a se utilizar de
MARIO GOES para oferecer e efetuar o pagamento de propina a ele e a RENATO DUQUE para
que obtivessem vantagens em contratos e aditivos de centenas de milhes de reais que
pretendiam celebrar com a PETROBRAS. Neste contexto, por intermdio da empresa
RIOMARINE OIL E GAS ENGENHARIA E EMPREENDIMENTOS LTDA., bem como de contas
abertas em nome de offshores no exterior, MARIO GOES efetuou o branqueamento dos
vultuosos valores prometidos pelas empreiteiras, dentre elas a OAS, aos funcionrios
corrompidos, fazendo com que os recursos chegassem a eles mediante mltiplas
formas236-237.
Outro operador com o qual PEDRO BARUSCO manteve relacionamento foi JULIO
CAMARGO. Tendo firmado acordo de colaborao com o MINISTRIO PBLICO FEDERAL,
JULIO CAMARGO mencionou e documentalmente comprovou238 a forma como
operacionalizou a lavagem e o pagamento de tais vantagens indevidas a PEDRO BARUSCO e
a RENATO DUQUE. Segundo declinado por JULIO CAMARGO, ele dimensionava os valores
das propinas com RENATO DUQUE239, sendo que depois cabia a PEDRO BARUSCO receber as
vantagens indevidas para DUQUE e tambm para si prprio 240-241, mediante pagamentos em
espcie e, principalmente, a partir de depsitos em contas no exterior 242.
Assim, se, por um lado, quanto aos valores destinados Casa, PEDRO BARUSCO
se valia de diversos operadores, como MARIO GOES e JULIO CAMARGO, para receber as
vantagens indevidas, de outro lado, incumbia a JOO VACCARI NETO 243 tratar com os
empreiteiros sobre os pagamentos prometidos ao Partido dos Trabalhadores (pelo menos
0,5% a 1% do valor do contrato e aditivos, isto , metade da propina paga que estava
relacionada Diretoria de Servios).

235 Termo complementar n 1, ANEXO 132.


236 Nesse liame, vejam-se as provas e a sentena (ANEXO 88) dos autos n 5012331-04.2015.4.04.7000.
237 MARIO GOES e PEDRO BARUSCO se encontravam periodicamente, no s para que aquele pudesse entregar
a este mochilas com grandes valores de propina em espcie, que variavam entre R$ 300.000,00 e R$ 400.000,00,
como tambm para que pudesse ser realizado o que o ex-Gerente Executivo de Engenharia designou como
encontro de contas, ou seja, a conferncia, contrato a contrato, dos pagamentos de propinas feitos e
pendentes. Neste sentido, as declaraes de PEDRO BARUSCO (Termo de Colaborao n 3 ANEXO 46 e 47):
QUE MARIO GOES entregava umas mochilas com alguns valores e normalmente o declarante pegava na casa
dele na Estrada das Canoas, no So Conrado, cujos valores variavam de R$ 300 a 400 mil reais; [] QUE indagado
sobre como era o controle que o declarante mantinha acerca das propinas pagas pelo operador MARIO GOES,
afirma que costumava se encontrar com ele na casa dele numa travessa da Estrada das Canoas, em So Conrado,
Rio de Janeiro/RJ, ou ele ia na casa do declarante tambm no Rio de Janeiro/RJ, onde faziam um encontro de
contas, verificando contrato a contrato..
238 ANEXO 125.
239 Termo complementar n 2, ANEXO 139.
240 Termo complementar n 1, ANEXO 125.
241 Cite-se, nesse sentido, o seguinte trecho do Termo de Colaborao n 02 prestado por PEDRO BARUSCO
(autos n 5075916-64.2014.404.7000, evento 9, OUT4 ANEXO 125): QUE durante o perodo em que trabalhou
com RENATO DUQUE, principalmente as empresas do chamado cartel pagavam propina e o declarante gerenciava
o pagamento de tais propinas tambm em favor de RENATO DUQUE; QUE dentre as empresas do cartel o
declarante cita a ttulo exemplificativo a CAMARGO CORREA, a ANDRADE GUTIERREZ, a ODEBRECHT, a OAS, a
QUEIROZ GALVO, a ENGEVIX, a IESA, a MENDES JUNIOR, a MPE, a SETAL, a SKANSKA, a UTC, a PROMON e a
GALVO ENGENHARIA [].
242 Nesse liame, vejam-se as provas e a sentena (ANEXO 88) dos autos n 5012331-04.2015.4.04.7000.
243 As condutas delituosas praticadas por JOO VACCARI NETO a esse respeito j foram objeto de ao penal
prpria.
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134. JOO VACCARI NETO era muito prximo de RENATO DUQUE, mantendo
com este encontros frequentes para saber do andamento dos contratos na PETROBRAS e
tratar de contratos novos. Em algumas dessas reunies, JOO VACCARI NETO chegava
inclusive a apresentar reivindicaes das empresas referentes a licitaes, aditivos, cadastros
e problemas tcnicos, colaborando com a contraprestao do pagamento das propinas 244.
Tambm, por vezes, tratava diretamente com representantes das empresas acerca da
propina245.
JOO VACCARI NETO, portanto, no s reforava a solicitao de valores esprios
efetuada por RENATO DUQUE e PEDRO BARUSCO a empreiteiros, como tambm aceitava e
recebia, para si e para o caixa geral do Partido dos Trabalhadores tais vantagens indevidas.
135. O que a evoluo da investigao revelou, conforme descrito anteriormente,
que, por trs de todo esse esquema partidrio distribudo entre diferentes Diretorias e,
mesmo, rgos pblicos federais, existia um comando comum, LULA, que era
simultaneamente chefe do governo beneficiado e lder de uma das principais legendas
envolvidas. Assim, RENATO DUQUE e PEDRO BARUSCO agiram na execuo de um comando
central que orquestrou a macrocorrupo que objetivava, ilicitamente, enriquecer os
envolvidos, alcanar governabilidade criminosa e perpetuar-se no poder.
Os contratos que originaram as vantagens indevidas
136. Como exposto, as ofertas, promessas e recebimentos de vantagens indevidas
foram efetuados dentro de um amplo esquema criminoso que se desenvolveu no seio e em
desfavor da Administrao Pblica Federal, envolvendo a prtica de crimes contra a ordem
econmica, corrupo, fraude a licitaes e lavagem de dinheiro246.
Nesse contexto, no que tange aos contratos de obras da PETROBRAS, a
corrupo era bilateral e envolvia no s a corrupo ativa, por parte dos executivos das
empreiteiras cartelizadas, como tambm, e de forma concomitante, a corrupo passiva de
agentes pblicos, a fim de que estes zelassem, ilegalmente, no mbito da estatal e do prprio
governo federal, pelos interesses das empresas cartelizadas e dos partidos polticos que
representavam.
Para a presente denncia, interessam especificamente os atos de corrupo
praticados em detrimento da Administrao Pblica Federal, no mbito de contratos relativos
a trs empreendimentos da PETROBRAS: (a) obras de ISBL da Carteira de Gasolina e UGHE
HDT de instveis da Carteira de Coque da Refinaria Getlio Vargas REPAR; (b) implantao
das UHDTs e UGHs da Refinaria Abreu e Lima RNEST; (c) implantao das UDAs da
Refinaria Abreu e Lima RNEST. Nessas condutas delitivas, de um lado figuram LO
PINHEIRO e AGENOR MEDEIROS, executivos do Grupo OAS, participante do conjunto de
empreiteiras cartelizadas e, de outro, LULA, RENATO DUQUE, PEDRO BARUSCO e PAULO
ROBERTO COSTA.

244 ANEXOS 46 e 140.


245 ANEXO 132.
246 Conforme se depreende do relato constante tambm nas j ajuizadas aes penais de n 502621282.2014.404.7000, 5083258-29.2014.404.7000, 5083351-89.2014.404.7000, 5083360-51.2014.404.7000, 508337605.2014.404.7000, 5083401-18.2014.404.7000, 5083838-59.2014.404.7000, 5012331-04.2015.404.7000.
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137. Em 11/10/2006, a Gerncia Executiva de Engenharia, vinculada Diretoria de
Servios da PETROBRAS, respectivamente comandadas por PEDRO BARUSCO e por RENATO
DUQUE, em conjunto com a Diretoria de Abastecimento, chefiada por PAULO ROBERTO
COSTA, deu incio a um procedimento licitatrio visando execuo das obras de ISBL da
Carteira de Gasolina e UGHE HDT de instveis da Carteira de Coque da Refinaria
Getlio Vargas REPAR247. O valor da estimativa sigilosa da empresa petrolfera foi
inicialmente calculado em R$ 1.372.799.201,00248 e posteriormente majorado, por aspectos
tcnicos, para R$ 1.475.523.355,84249-250.
A licitao foi direcionada em favor do cartel antes mencionado. Das 22 empresas
convidadas para o certame, 15 eram participantes fixas do cartel e 3 participantes
espordicas251. Corroboram a concluso de que houve atuao do CLUBE as declaraes de
PEDRO BARUSCO, segundo o qual houve atuao do cartel para direcionar as obras da
REPAR para um grupo ou outro de empresas252.
Em um primeiro momento, na data de 22/03/2007, foram apresentadas propostas
pelo CONSRCIO CONPAR (integrado pela CONSTRUTORA OAS LTDA., CONSTRUTORA
NORBERTO ODEBRECHT S.A., e UTC ENGENHARIA S.A. 253) e pelo CONSRCIO CCPR
(integrado pela CONSTRUES E COMRCIO CAMARGO CORREA S.A. e PROMON
ENGENHARIA LTDA.). A menor proposta apresentada foi a do CONSRCIO CONPAR, no
montante de R$ 2.079.593.082,66, 42,9% acima da estimativa da PETROBRAS 254. Houve,
assim, a desclassificao das propostas.
A Diretoria Executiva autorizou, ento, a negociao da contratao direta do
CONSRCIO CONPAR255. Nesta etapa, conduzida pelas Diretorias de Servios e de
Abastecimento, verificaram-se alteraes sensveis nas condies contratuais, circunstncia
esta que, por si s, impediria que a contrao fosse feita de forma direta, e diversas revises
da estimativa256. Assim, em mais de uma oportunidade, o Departamento Jurdico da

247 DIP ENGENHARIA 507/06 ANEXOS 119 e 120.


248 ANEXOS 141 e 142 ver item 5.4.1.1.
249 Tudo conforme a mencionada planilha Informaes do processo de licitao (ANEXO 143). Consoante
informaes prestadas pela estatal, a coluna data incio se refere ao dia em o procedimento licitatrio foi
autorizado pela autoridade competente.
250 Ata DE 4.659, item 16, de 24-08-2007 Pauta n 877 ANEXO 144.
251 Conforme anteriormente descrito e demonstrado no Relatrio da Comisso de Licitao REPAR ANEXO 119
e 120.
252 Termo de Colaborao n 05 de PEDRO BARUSCO QUE indagado sobre as obras da REPAR, da REVAP e da
REPLAN, entende que tambm houve atuao do cartel no sentido de direcionar as obras para um grupo e para
outro. - ANEXOS 46 e 47.
253 O CONSRCIO CONPAR foi formado em 12/07/07 com as tambm cartelizadas UTC e ODEBRECHT (ANEXO
145: Informao n 130/2014 da Secretaria de Pesquisa e Anlise da Procuradoria-Geral da Repblica
SPEA/PGR). A margem de participao da OAS no referido consrcio era de 24% (ANEXO 143: Planilha intitulada
Informaes do processo de licitao).
254 ANEXOS 141 e 142 ver item 5.4.1.
255 Com a desclassificao das propostas, a Comisso de Licitao recomendou o encerramento do
procedimento licitatrio e solicitou autorizao para a realizao de contratao do CONSRCIO CONPAR, atravs
do DIP ENGENHARIA 289/2007, datado de 03/05/2007 (ANEXOS 119 e 120 p. 71/75). A Diretoria Executiva
autorizou, ento, a Gerncia Executiva de Engenharia a negociar a contratao direta do CONSRCIO CONPAR,
fundamentando-se no item 2.1, e, do Decreto n 2745/98, em 10/05/2007 (ANEXO 119 e 120 Ata D.E 4643, item
16, Pauta 495).
256 A estimativa passou a ser de R$ 1.527.535.486,93 ANEXOS 141 e 142 item 5.4.1.3, b.
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PETROBRAS indicou bices contratao em face dessas modificaes 257-258.
No obstante isso, por meio do DIP ENGENHARIA n 571/2007, remetido por
PEDRO BARUSCO, ALAN KARDEC e VENINA VELOSA DA FONSECA aos Diretores de
Abastecimento, PAULO ROBERTO COSTA, e Servios da PETROBRAS, RENATO DUQUE, foi
encaminhado o resultado da negociao direta e solicitada a autorizao para a assinatura
do contrato com o CONSRCIO CONPAR no valor de R$ 1.821.012.130,93259. Ato contnuo,
nessas condies260, foi celebrado, em 31/08/2007, o contrato de nmero 0800.0035013.07.2,
figurando como subscritor pela OAS o denunciado AGENOR MEDEIROS.
Importante consignar que CIA da PETROBRAS 261 atribuiu uma srie de
irregularidades, constatadas nos processos de contratao de bens e de servios para o
Programa de Modernizao da REPAR, a RENATO DUQUE, PAULO ROBERTO COSTA e PEDRO
BARUSCO. Dentre essas desconformidades, destaca-se que foram responsabilizados por: (a)
contratao direta do Consrcio CONPAR, que continha alteraes substanciais nas
condies contratuais das unidades on-site da carteira de gasolina em relao licitao
anteriormente cancelada; (b) enquadramento indevido de proposta no limite superior da
faixa de admissibilidade (-15% a +20%) no processo de negociao com o Consrcio
CONPAR; (c) desatendimento da recomendao do Departamento Jurdico da PETROBRAS
sobre a necessidade de avaliao da rea financeira para contratao do Consrcio CONPAR,
em junho de 2007.
Dentro do esquema criminoso j descrito nesta denncia, a assinatura desse
contrato, e de seus aditivos, com valores majorados e em detrimento da concorrncia na
licitao, era possvel devido ao ajuste entre executivos das empresas integrantes do cartel e
agentes pblicos, que, respectivamente, ofereceram e aceitaram vantagens indevidas, as
quais variavam entre, pelo menos, 1% e 3% do valor total dos contratos e aditivos celebrados
por elas com a referida Estatal.
Nessa senda, LO PINHEIRO e AGENOR MEDEIROS, executivos do Grupo OAS,
integrante do CONSRCIO CONPAR, ofereceram e prometeram vantagens indevidas a
RENATO DUQUE, PEDRO BARUSCO, e PAULO ROBERTO COSTA262, funcionrios de alto escalo
da PETROBRAS, bem como a LULA, que se beneficiava e agia para a manuteno do
esquema e a permanncia desses diretores nos respectivos cargos. As ofertas e promessas
objetivavam tambm que os funcionrios pblicos se omitissem nos deveres que decorriam
257 Frente a tais modificaes o Departamento Jurdico, por ocasio da anlise do procedimento de negociao e
da minuta contratual, emitiu novo parecer, em 14/08/07, e novamente destacou os seguintes pontos: (i) que,
frente a negociao direta, no poderiam ocorrer modificaes substanciais no objeto do contrato; (ii) que
modificaes da estimativa somente poderiam ocorrer, de forma excepcional, e desde que comprovadas
alteraes na situao mercadolgica que reflitam uma variao de preo do servio a ser contratado.
258 Em 28/06/2007, o Jurdico exara o parecer 4874/07, aduzindo, dentre outros aspectos, que em uma
negociao direta decorrente de licitao frustrada por preos excessivos encontra limites no objeto daquela
licitao, sob pena de incorrer-se em invalidade jurdica do contrato que dai advir.
259 ANEXOS 119 e 120.
260 O contrato foi assinado entre a PETROBRAS e o CONSRCIO CONPAR com o valor de R$ 1.821.012.130,93.
No obstante o valor tenha sido considerado, poca, compreendido na faixa de +20% da estimativa da
PETROBRAS, tal concluso foi atingida aps a terceira alterao da estimativa da empresa, a qual agregou o valor
de R$ 52.012.130,93 estimativa. Porm, o Relatrio Final da CIA da REPAR indica onerao indevida de referida
estimativa em R$ 49.452.124,01, pelo que seu valor correto seria de R$ 1.478.083.356,76. Assim sendo, o valor final
ofertado pelo CONSRCIO CONPAR e aceito pela companhia encontrava-se 23,2% acima da estimativa da
PETROBRAS, portanto, 3,2% acima do limite de +20% (ANEXOS 141, 142 e 146).
261 ANEXOS 141 e 142.
262 Deixa-se de imputar a conduta de corrupo passiva a PAULO ROBERTO COSTA quanto ao contrato em
comento, uma vez que j denunciada na Ao Penal n 5083378-05.2014.404.7000.
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de seu ofcio e permitissem que a escolha interna do cartel para a execuo da obra se
concretizasse.
Todo o procedimento de negociao para a contratao direta do CONSRCIO
CONPAR foi comandado pelo ento Gerente Executivo de Engenharia, PEDRO BARUSCO 263,
ento subordinado de RENATO DUQUE264, em procedimento tambm submetido ao Diretor
de Abastecimento, PAULO ROBERTO COSTA. A Comisso Interna de Apurao da PETROBRAS
relativa ao empreendimento REPAR265 apurou que RENATO DUQUE, PEDRO BARUSCO e
PAULO ROBERTO COSTA pressionaram para que a contratao do CONSRCIO CONPAR
acontecesse, e se omitiram em relao a uma vivel nova licitao.
No sentido da atuao e omisso em praticar atos de ofcio de PAULO ROBERTO
COSTA, PEDRO BARUSCO e RENATO DUQUE, de se mencionar o quanto apurado pela
Comisso Interna de Apurao relativa ao empreendimento REPAR. Primeiramente, o
funcionrio da PETROBRAS LUIS SCAVAZZA confirmou que havia uma presso da Sede, ou
seja, das Diretorias de Abastecimento e de Servio, para que a contratao do CONSRCIO
CONPAR acontecesse. Ademais, SRGIO COSTA, outro funcionrio da PETROBRAS poca,
informou, ainda, que era vivel a realizao de nova licitao. Tendo a companhia optado
pela contratao direta do CONSRCIO CONPAR, ao final elaborou relatrio acerca da
contratao, posicionando-se de modo contrrio, tendo em vista que a proposta encontravase acima do limite de +20% da companhia, mas que seu superior determinou que fosse a
informao suprimida.
Confirmada a contratao do CONSRCIO CONPAR e realizados aditivos
contratuais, entre 31/08/2007 e 23/01/2012 266, LO PINHEIRO e AGENOR MEDEIROS
providenciaram o repasse das vantagens ilcitas no interesse de LULA, RENATO DUQUE,
PEDRO BARUSCO e PAULO ROBERTO COSTA. Adotando por base o valor do contrato e dos
aditivos firmados (R$2.331.917.276,02), os executivos do Grupo OAS tomaram as medidas
necessrias para viabilizar o pagamento de propina correspondente a, pelo menos, 3% para
os integrantes do esquema comandado por LULA, sendo 2% do total para o ncleo de
sustentao da Diretoria de Servios, e 1% do total para o ncleo de sustentao da
Diretoria de Abastecimento267.
PEDRO BARUSCO confirmou que houve, efetivamente, pagamentos de vantagens
indevidas em decorrncia do contrato firmado pelo CONSRCIO CONPAR com a
PETROBRAS268. No mesmo sentido, PAULO ROBERTO COSTA e ALBERTO YOUSSEF admitiram
que esses pagamentos indevidos, no montante de ao menos 1% dos valores contratados em
263 Neste sentido, vejam-se ANEXOS 119 e 120, e 141 e 142.
264 O encaminhamento dos requerimentos, desde a instalao da licitao at a autorizao para negociao
direta, e a prpria contratao do CONSRCIO CONPAR no seriam possveis sem a participao de RENATO
DUQUE e de PEDRO BARUSCO.
265 ANEXO 141 e 142.
266 O procedimento licitatrio teve incio em 11/10/2006, tendo o contrato sido assinado em 31/08/2007. A
celebrao do ltimo aditivo firmado durante a diretoria de RENATO DUQUE ocorreu em 23/01/2012 ANEXOS
119, 120, 147 a 157.
267 Adotando por base o valor do contrato e dos aditivos firmados (R$2.331.917.276,02), e considerando o
percentual de 24% que o Grupo OAS detinha no CONSRCIO CONPAR, o referido percentual de 2% alcana
R$11.193.202,92, e o de 1% alcana R$5.596.601,46, totalizando R$16.789.804,38 (3%) de propina.
268 PEDRO BARUSCO confirmou esse recebimento na planilha apresentada ao MPF (ANEXO 134), assim como
em diversos depoimentos, como no Termo de Colaborao n 03: QUE indagado pelo Delegado de Polcia Federal
sobre quais foram os principais contratos no mbito da Diretoria de Abastecimento que geraram os valores pagos a
ttulo de propina, afirma que foram os contratos de grandes pacotes de obras da REFINARIA ABREU E LIMA RNEST
e do COMPLEXO PETROQUMICO DO RIO DE JANEIRO COMPERJ, alm de pacotes de grande porte em algumas
refinarias como a REPLAN, a REVAP, a REDUC, a RELAN e a REPAR. (ANEXO 46 e 47).
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favor do ncleo vinculado ao Abastecimento, ocorriam em todos os contratos e aditivos
celebrados pelas empresas integrantes do Cartel com a PETROBRAS sob o comando dessa
Diretoria de Abastecimento269, incluindo esse contrato do CONSRCIO CONPAR. Ainda,
comprovam o aceite e recebimento das vantagens indevidas as declaraes de AUGUSTO
MENDONA270.
Considerando o contrato sob comento, constata-se que 13 (treze) aditivos
majoradores do valor do contrato original foram firmados no perodo em que RENATO
DUQUE e PEDRO BARUSCO ocupavam os respectivos cargos executivos na PETROBRAS. A
tabela abaixo bem sintetiza os valores envolvidos e acontecimentos relativos corrupo
envolvendo o referido contrato celebrado pelo consrcio CONPAR, integrado pela OAS, e a
PETROBRAS271:
Ttulo

Celebrado com CONSRCIO integrado pela OAS

Instrumento contratual jurdico

0800.0035013.07.2

Valor final estimado da obra

R$ 1.475.523.355,84

Processo de contratao

Incio: 11/10/2006

Resultado: Licitao cancelada em razo do


valor excessivo das propostas, sendo autorizada a
contratao direta do Consrcio CONPAR, composto
por ODEBRECHT, UTC e OAS.

Signatrio do contrato pela OAS: AGENOR


FRANKLIN MAGALHES MEDEIROS

Data de assinatura do contrato

31/08/2007

Valor do ICJ
(considerando o valor inicial somado aos aditivos
majoradores firmados durante a gesto de
PAULO ROBERTO COSTA e RENATO DUQUE)

Valor inicial: R$1.821.012.130,93


Valor do ltimo aditivo (data): R$47.360.664,16
(23/01/2012)
Valor total: R$2.331.917.276,02

Valor da vantagem indevida recebida pelo ncleo de


sustentao da Diretoria de Abastecimento
(1% do valor total)

R$23.319.172,76

Valor da vantagem indevida paga pela OAS ao ncleo de


sustentao da Diretoria de Abastecimento
(24% do 1% do valor total)

R$5.596.601,46

Valor da vantagem indevida recebida pelo ncleo de


sustentao da Diretoria de Servios
(2% do valor total)

R$46.638.345,52

Valor da vantagem indevida paga pela OAS ao ncleo de


sustentao da Diretoria de Servios
(24% do 2% do valor total)

R$11.193.202,92

269 Nesse sentido, vejam-se as linhas 03/14 das fls. 05 e linhas 03/20 das fls. 14 do termo de interrogatrio de
PAULO ROBERTO COSTA juntado ao evento 1.101 dos autos 5026212-82.2014.404.7000, bem como linhas 19 a 21
a fls. 34 do mesmo evento em relao a ALBERTO YOUSSEF ANEXO 43.
270 Termo de Colaborao n 02: QUE a exigncia j era prvia, pois j existia um entendimento entre o Diretor de
Engenharia RENATO DUQUE e RICARDO PESSOA, de modo que todos os contratos que fossem resultantes do
CLUBE, deveriam ter contribuies a quele - ANEXO 78.
271 Informaes adicionais podero ser encontradas nos ANEXOS 141 e 142 que correspondem ao Relatrio
Final da Comisso de Apurao instaurada pela PETROBRAS para a verificao de irregularidades em contrataes
relativas s obras da Refinaria Presidente Getlio Vargas REPAR.
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138. Em 09/07/2008272, a Gerncia Executiva de Engenharia, vinculada Diretoria
de Servios da PETROBRAS, respectivamente comandadas por PEDRO BARUSCO e por
RENATO DUQUE, em conjunto com a Diretoria de Abastecimento, chefiada por PAULO
ROBERTO COSTA, deu incio a um procedimento licitatrio visando implantao das
UHDT's e UGH's da Refinaria Abreu e Lima RNEST. O valor da estimativa sigilosa da
empresa petrolfera foi inicialmente calculado em R$ 2.718.885.116,37.
A licitao foi direcionada em favor do cartel antes mencionado. Absolutamente
todas as 15 empresas convidadas eram integrantes do CLUBE 273. Em um primeiro momento,
trs consrcios e a MENDES JNIOR apresentaram propostas. A menor delas, pelo
CONSRCIO RNEST-CONEST (integrado por CONSTRUTORA OAS LTDA. e por ODEBRECHT
PLANTAS INDUSTRIAIS E PARTICIPAES S.A.274), foi no montante de R$ 4.226.187.431,48,
muito superior, portanto, ao valor mximo de contratao da PETROBRAS 275 (49,7%).
Frustrado o certame, porquanto no foram apresentadas propostas vlidas, uma
vez que estavam bastante acima da estimativa, foi, ento, realizada uma segunda
apresentao de propostas, no mbito de outro procedimento licitatrio (iniciado em
11/03/2009)276. O valor da estimativa sigilosa da PETROBRAS restou minorado, por aspectos
tcnicos, para R$ 2.692.667.038,77277. A proposta apresentada pelo CONSRCIO RNESTCONEST foi, novamente, a menor (R$ 3.260.394.026,95), ficando muito prxima ao valor
mximo de contratao permitido pela PETROBRAS (19,9%), enquanto as demais o
ultrapassaram278.
Aps as tratativas de praxe, foi celebrado, em 10/12/2009, o contrato de nmero
0800.0055148.09.2279 (8500.0000056.09.2280) entre a PETROBRAS e o referido consrcio, no
valor de R$ 3.190.646.503,15. Assim como j havia ocorrido em relao s obras da REPAR,
quem subscreveu os contratos pela OAS foi o denunciado AGENOR MEDEIROS281.
Importante consignar que CIA da PETROBRAS 282 atribuiu uma srie de
irregularidades, constatadas nos processos de contratao de servios e aquisio de bens
relacionados implantao da RNEST, a RENATO DUQUE, PAULO ROBERTO COSTA e PEDRO
BARUSCO. Dentre essas inconformidades, destacam-se: (a) encaminhamento Diretoria
Executiva, entre julho/2007 a maio/2011, de solicitaes de antecipao de aquisies de
272 ANEXO 122.
273 ANEXO 122.
274 O CONSRCIO RNEST/CONEST foi integrado pela OAS e ODEBRECHT em 12/08/2009, sendo de 50% a taxa
de participao de cada uma delas (Rastreamento societrio na informao n 130/2014 da Secretaria de Pesquisa
e Anlise da Procuradoria-Geral da Repblica SPEA/PGR ANEXO 145.
275 Como j referido, o valor mximo de contratao pela PETROBRAS fixado em 20% sobre o valor da
estimativa, o que, no caso concreto, corresponderia a R$ R$ 3.262.662.139,64. Entretanto, neste caso, todas as
propostas ultrapassaram em muito o referido valor mximo de contratao: 1) CAMARGO CORRA: R$
4.451.388.145,30; 2) MENDES JUNIOR: R$ 4.583.555.912,18; 3) CONSRCIO TECHINT AG (TECHINT E ANDRADE
GUTIERREZ); R$ 4.764.094.707,65; 4) CONSRCIO RNEST-CONEST: R$ 4.226.187.431,48 ANEXO 122.
276 ANEXOS 122 e 158.
277 ANEXO 158.
278 A saber, de acordo com documento fornecido pela PETROBRAS, quando do REBID, as outras proponentes e
respectivas propostas foram: 1) Mendes Jnior: R$ 3.658.112.809,23, 2) Camargo Corra: R$ 3.786.234.817,85, 3)
Consrcio Techint AG (Techint e Andrade Gutierrez): R$ 2.537.121.100,32 ANEXO 122.
279ANEXO 159.
280Os nmeros de contratos diversos, segundo informaes prestadas pela PETROBRAS, decorrem da migrao
dos contratos que eram da RNEST (originalmente) e que passaram para a ENG-AB (Engenharia de
Abastecimento) - ANEXO 160.
281 Conforme a planilha Aditivos de Contratos - ANEXO 159.
282 DIPDABAST 71/2014 Relatrio Final da CIA RNEST ANEXO 115.
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bens e contrataes de servios da RNEST, sem a finalizao do detalhamento do projeto; (b)
falta de incluso de empresa em novo processo licitatrio, nos processos de contratao da
UHDT/UGH, em descumprimento do Decreto n 2.745/1998, uma vez que aps o
cancelamento do 1 processo licitatrio e homologao para um novo, no foi identificada a
incluso de novas empresas para participar do certame. A RENATO DUQUE foi ainda
atribuda a autorizao para incio do processo licitatrio do UHDT em data anterior
aprovao da Diretoria Executiva. PAULO ROBERTO COSTA foi tambm responsabilizado pela
reviso de estimativas, em funo de processos licitatrios, com preos excessivos em vrios
consrcios, incluindo o Consrcio ODEBRECHT/OAS.
Dentro do esquema criminoso j descrito nesta denncia, a assinatura desse
contrato, e de seus aditivos, com valores majorados e em detrimento da concorrncia na
licitao, era possvel devido ao ajuste entre executivos das empresas integrantes do cartel e
agentes pblicos, que, respectivamente, ofereceram e aceitaram vantagens indevidas, as
quais variavam entre, pelo menos, 1% e 3% do valor total dos contratos e aditivos celebrados
por elas com a referida Estatal.
Nessa senda, LO PINHEIRO e AGENOR MEDEIROS, executivos do Grupo OAS,
integrante do CONSRCIO RNEST-CONEST, ofereceram e prometeram vantagens indevidas a
RENATO DUQUE, PEDRO BARUSCO, e PAULO ROBERTO COSTA283, funcionrios de alto escalo
da PETROBRAS, bem como a LULA, que se beneficiava e agia para a manuteno do
esquema e a permanncia desses diretores nos respectivos cargos. As ofertas e promessas
objetivavam tambm que os funcionrios pblicos se omitissem nos deveres que decorriam
de seu ofcio e permitissem que a escolha interna do cartel para a execuo da obra se
concretizasse.
Todo o procedimento de negociao para a contratao direta do CONSRCIO
RNEST-CONEST foi comandado pelo ento Gerente Executivo de Engenharia, PEDRO
BARUSCO284, ento subordinado de RENATO DUQUE285, em procedimento tambm
submetido ao Diretor de Abastecimento, PAULO ROBERTO COSTA. Alm das irregularidades
j apontadas, como a no-incluso de novos concorrentes aps o cancelamento de um
procedimento licitatrio por preos excessivos, a Comisso Interna de Apurao da
PETROBRAS, instaurada para verificar a existncia de no-conformidades nos procedimentos
licitatrios para obras da RNEST, identificou outras irregularidades no certame sob anlise,
como a alterao de percentuais da frmula de reajuste de preos ao acolher sugestes de
empresas licitantes286.
Confirmada a contratao do CONSRCIO RNEST-CONEST e realizado o aditivo
contratual, entre 10/12/2009 e 12/01/2012 287, LO PINHEIRO e AGENOR MEDEIROS
providenciaram o repasse das vantagens ilcitas no interesse de LULA, RENATO DUQUE,
PEDRO BARUSCO, e PAULO ROBERTO COSTA. Adotando por base o valor do contrato e do
aditivo firmado (R$3.229.208.534,57), os executivos do Grupo OAS tomaram as medidas
283 Deixa-se de imputar a conduta de corrupo passiva a PAULO ROBERTO COSTA quanto ao contrato em
comento, uma vez que j denunciada na Ao Penal n 5083378-05.2014.404.7000.
284 ANEXO 158.
285 O encaminhamento dos requerimentos, desde a instalao da licitao at a prpria contratao do
CONSRCIO RNEST-CONEST no seriam possveis sem a participao de RENATO DUQUE e de PEDRO BARUSCO.
286 Alm disso, importante referir que atos foram realizados anteriormente aprovao da Diretoria Executiva,
notadamente o incio do certame e a alterao do modelo contratual ANEXO 115.
287 O segundo procedimento licitatrio teve incio em 11/03/2009, a assinatura do contrato ocorreu em
10/12/2009. A celebrao do aditivo majorante de valor firmado durante as diretorias de RENATO DUQUE e
PAULO ROBERTO COSTA ocorreu em 12/01/2012 ANEXOS 115, 158, 159 e 157.
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necessrias para viabilizar o pagamento de propina correspondente a, pelo menos, 3% para
os integrantes do esquema comandado por LULA, sendo, 2% do total para o ncleo de
sustentao da Diretoria de Servios, e 1% do total para o ncleo de sustentao da
Diretoria de Abastecimento288.
PEDRO BARUSCO confirmou que houve, alm da atuao do cartel 289,
pagamentos de vantagens indevidas em decorrncia do contrato firmado pelo CONSRCIO
RNEST-CONEST com a PETROBRAS290. No mesmo sentido, PAULO ROBERTO COSTA e
ALBERTO YOUSSEF admitiram que esses pagamentos indevidos, no montante de ao menos
1% dos valores contratados em favor do ncleo vinculado ao Abastecimento, ocorriam em
todos os contratos e aditivos celebrados pelas empresas integrantes do Cartel com a
PETROBRAS sob o comando da Diretoria de Abastecimento 291, incluindo esse contrato do
CONSRCIO RNEST-CONEST. Especificamente em relao aos contratos em comento,
ALBERTO YOUSSEF, quando de seu interrogatrio em aes penais conexas 292, em que restou
denunciado por esse fato, reconheceu o acerto e o pagamento de propina pelo Consrcio
RNEST/CONEST Diretoria de Abastecimento da PETROBRAS293. Do mesmo modo, PAULO
288 Adotando por base o valor do contrato e do aditivo (R$3.229.208.534,57), e considerando o percentual de
50% que o Grupo OAS detinha no CONSRCIO CONEST, o referido percentual de 2% alcana R$32.292.085,35, e o
de 1% alcana R$16.146.042,67, totalizando R$48.438.128,02 (3%) de propina.
289 Nesse sentido so as declaraes de PEDRO BARUSCO atinentes aos processos licitatrios referentes s obras
da Refinaria Abreu e Lima RNEST, notadamente aquelas sob responsabilidade do Consrcio RNEST CONEST:
QUE indagado se possui provas relacionadas ao cartel na PETROBRS, o declarante apresenta um documento
oficial contemporneo a julho de 2008, que se refere ao encaminhamento do pedido para instaurar doze pacotes
para obras na REFINARIA ABREU E LIMA RNEST; QUE nestes processos que envolveram a contratao dos
consrcios para obras na RNEST, o declarante entende que houve a atuao do cartel de empresas, pois os pacotes
de obras foram divididos entre vrios consrcios compostos pelas empresas do cartel e os contratos foram firmados
com preos perto do mximo do oramento interno da PETROBRS; QUE por exemplo, o pacote de obras para o
UHDT UNIDADE DE HIDROTRATAMENTO, foi fechado a R$ 3,19 bilhes, cuja proposta foi o do consrcio CONEST,
composto pela ODEBRECHT e a OAS; QUE os quatro grandes pacotes da RNEST foram efetivamente licitados, mas os
contratos foram fechados no topo do limite;. (Termo de colaborao n 02 ANEXO 46.
290 PEDRO BARUSCO confirmou esse recebimento na planilha apresentada ao MPF (ANEXO 134), assim como
em diversos depoimentos, como no Termo de Colaborao n 03: QUE indagado pelo Delegado de Polcia Federal
sobre quais foram os principais contratos no mbito da Diretoria de Abastecimento que geraram os valores pagos a
ttulo de propina, afirma que foram os contratos de grandes pacotes de obras da REFINARIA ABREU E LIMA RNEST
e do COMPLEXO PETROQUMICO DO RIO DE JANEIRO COMPERJ, alm de pacotes de grande porte em algumas
refinarias como a REPLAN, a REVAP, a REDUC, a RELAN e a REPAR. (ANEXO 134).
291 Nesse sentido, vejam-se as linhas 03/14 das fls. 05 e linhas 03/20 das fls. 14 do termo de interrogatrio de
PAULO ROBERTO COSTA juntado ao evento 1.101 dos autos 5026212-82.2014.404.7000, bem como linhas 19 a 21
a fls. 34 do mesmo evento em relao a ALBERTO YOUSSEF (ANEXO 43).
292 Interrogatrio de ALBERTO YOUSSEF conjunto s aes penais 5083401-18.2014.4.04.7000, 508337605.2014.4.04.7000, 5083351-89.2014.4.04.7000, 5083258-29.2014.4.04.7000 e 5083360-51.2014.4.04.7000 (ANEXO
44).
293 Juiz Federal:- Depois consta aqui contrato na Rnest, Refinaria Abreu e Lima, Rnest, Conest, integrado pela
empreiteira OAS. Interrogado:- Este contrato sim, eu tratei. Juiz Federal:- Com quem o senhor negociou esse
contrato? Interrogado:- Mrcio Faria da Odebrecht e Agenor Ribeiro da OAS. Juiz Federal:- O senhor participou de
reunies que eles estavam juntos? Interrogado:- Os dois juntos. Juiz Federal:- E quanto que foi o combinado nesse
contrato? Interrogado:- Na verdade esse contrato, se eu no me engano, contrato dos pacotes da Rnest que era
1%, mas que parte disso foi destinado campanha do Eduardo Campos, ao governo do Estado, isso dito pelo Mrcio
Faria, e para o Paulo Roberto Costa; e eu at menciono no meu depoimento essa discusso que teve na casa do
doutor Jos Janene a respeito dos valores. E o restante dos valores foi tratado com o Agenor e com Mrcio Faria, e o
recebimento, parte foi feito pela Odebrecht o pagamento, em contas l fora e dinheiro aqui no Brasil, entregues no
meu escritrio, e parte foi feito diretamente com emisses de notas das empresas do Waldomiro diretamente ao
consrcio Conest. Juiz Federal:- A Odebrecht pagou l fora e o consrcio pagou aqui, a OAS tambm pagou
Interrogado:- A OAS pagou atravs do consrcio. Juiz Federal:- Do consrcio? Interrogado:- Foi emisso de notas. A
Odebrecht pagou l fora e pagou aqui em dinheiro efetivo. Juiz Federal:- Aqui na verdade so dois contratos do
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ROBERTO COSTA, quando de seu interrogatrio, reconheceu, igualmente, a promessa e o
pagamento de propina por parte da OAS em decorrncia dos contratos firmados 294. Ainda,
comprovam o aceite e recebimento das vantagens indevidas as declaraes de AUGUSTO
MENDONA295.
Considerando o contrato sob comento, constata-se que 1 (um) aditivo majorador
do valor do contrato original foi firmado no perodo em que RENATO DUQUE e PEDRO
BARUSCO ocupavam os respectivos cargos executivos na PETROBRAS. A tabela abaixo bem
sintetiza os valores envolvidos e acontecimentos relativos corrupo envolvendo o referido
contrato celebrado pelo consrcio RNEST-CONEST, integrado pela OAS, e a PETROBRAS296:
Ttulo

Celebrado com CONSRCIO integrado pela OAS

Instrumento contratual jurdico

0800.0055148.09.2 e 8500.0000056.09.2

Valor final estimado da obra

R$ 2.692.667.038,77

Processo de contratao

Incio: 09/07/2008

Resultado: O Consrcio RNEST-CONEST,


composto por ODEBRECHT e OAS, foi vencedor do
certame.

Signatrio do contrato pela OAS: AGENOR


FRANKLIN MAGALHES MEDEIROS

Data de assinatura do contrato

10/12/2009

Valor do ICJ
(considerando o valor inicial somado aos aditivos
majoradores firmados durante a gesto de
PAULO ROBERTO COSTA e RENATO DUQUE)

Valor inicial: R$3.190.646.503,15


Valor do ltimo aditivo (data): R$38.562.031,42
(12/01/2012)
Valor total: R$3.229.208.534,57

Valor da vantagem indevida recebida pelo ncleo de


sustentao da Diretoria de Abastecimento
(1% do valor total)

R$32.292.085,35

Valor da vantagem indevida paga pela OAS ao ncleo de


sustentao da Diretoria de Abastecimento
(50% do 1% do valor total)

R$16.146.042,67

Valor da vantagem indevida recebida pelo ncleo de


sustentao da Diretoria de Servios
(2% do valor total)

R$64.584.170,69

Interrogado:- Somando os dois contratos seria 40 e poucos milhes e acabou virando, se eu no me engano, 20
milhes ou 25 milhes, alguma coisa nesse sentido. Juiz Federal:- Contrato para implantao da UHDT, UGH e
depois um outro contrato da UDA. Interrogado:- que somando os dois contratos d 4 bi e pouco. (ANEXO 44).
294 Juiz Federal:- Pois tem aqui a referncia na obra da RNEST, obras de implantao da UHDT e UGH, que o
Consrcio RNEST CONEST, integrado pela OAS tambm. O senhor sabe me dizer se nesse caso houve pagamento de
propina ou comissionamento? Interrogado:-Provavelmente sim. Juiz Federal:- Provavelmente ou teve? Interrogado:Todas as empresas que participavam do cartel tinham esse pagamento, agora interessante o senhor, se o senhor
pudesse me falar quem mais integrava esse consrcio. Juiz Federal:- Seria aqui ODEBRECHT e OAS. Interrogado:Sim. A resposta sim. Juiz Federal:- O senhor sabe quem pagou aqui a vantagem indevida, se foi a OAS, se foi a
ODEBRECHT ou o prprio Consrcio? Interrogado:-Essa informao eu no tenho. (Interrogatrio de PAULO
ROBERTO COSTA s aes penais 5083401-18.2014.4.04.7000, 5083376-05.2014.4.04.7000, 508335189.2014.4.04.7000, 5083258-29.2014.4.04.7000 e 5083360-51.2014.4.04.7000 ANEXO 161.
295 Termo de Colaborao n 02: QUE a exigncia j era prvia, pois j existia um entendimento entre o Diretor de
Engenharia RENATO DUQUE e RICARDO PESSOA, de modo que todos os contratos que fossem resultantes do
CLUBE, deveriam ter contribuies a quele. ANEXO 78.
296 Informaes adicionais podero ser encontradas no ANEXO 115 que corresponde ao Relatrio Final da
Comisso de Apurao instaurada pela PETROBRAS para a verificao de irregularidades em contrataes relativas
s obras da Refinaria Abreu e Lima RNEST.
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Valor da vantagem indevida paga pela OAS ao ncleo de
sustentao da Diretoria de Servios
(50% do 2% do valor total)

R$32.292.085,35

139. Em 09/07/2008297, a Gerncia Executiva de Engenharia, vinculada Diretoria


de Servios da PETROBRAS, respectivamente comandadas por PEDRO BARUSCO e por
RENATO DUQUE, em conjunto com a Diretoria de Abastecimento, chefiada por PAULO
ROBERTO COSTA, deu incio a um procedimento licitatrio visando implantao das UDAs
da Refinaria Abreu e Lima RNEST. O valor da estimativa sigilosa da empresa petrolfera foi
inicialmente calculado em R$ 1.118.720.220,06298.
A licitao foi direcionada em favor do cartel antes mencionado. Absolutamente
todas as empresas convidadas eram integrantes do CLUBE 299. Em um primeiro momento, o
certame restou frustrado em decorrncia de preos excessivos apresentados, j que a menor
proposta, entabulada pelo CONSRCIO RNEST CONEST (integrado por CONSTRUTORA
OAS LTDA. e por ODEBRECHT PLANTAS INDUSTRIAIS E PARTICIPAES S.A.), foi de R$
1.899.536.167,04, ou seja, 69,8% superior estimativa inicial da PETROBRAS300.
Foi, ento, realizada uma segunda apresentao de propostas 301, eis que as
anteriores estavam bastante acima da estimativa. Por oportuno, a PETROBRAS alterou a
estimativa inicial, majorando-a para R$ 1.270.508.070,67302. A proposta apresentada pelo
CONSRCIO RNEST-CONEST foi, novamente, a menor (R$ 1.478.789.122,90), ficando muito
prxima ao valor mximo de contratao permitido pela PETROBRAS 303, enquanto as demais
o ultrapassaram304.
Aps as tratativas de praxe, foi celebrado, em 10/12/2009, o contrato de nmero
8500.0000057.09.2 (0800.0053456.09.2 ou 0800.0087625.13.2 305)306 entre a PETROBRAS e o
referido consrcio, no valor de R$ 1.485.103.583,21 (ainda 16,89% superior ao limite).
Novamente, quem subscreveu os contratos pela OAS foi o denunciado AGENOR MEDEIROS.
Dentro do esquema criminoso j descrito nesta denncia, a assinatura desse
contrato, e de seus aditivos, com valores majorados e em detrimento da concorrncia na
licitao, era possvel devido ao ajuste entre executivos das empresas integrantes do cartel e
agentes pblicos, que, respectivamente, ofereceram e aceitaram vantagens indevidas, as
quais variavam entre, pelo menos, 1% e 3% do valor total dos contratos e aditivos celebrados
por elas com a referida Estatal.
297 ANEXO 123.
298 ANEXO 162.
299 ANEXO 163.
300 ANEXO 115.
301 O segundo procedimento licitatrio teve incio em 11/03/2009 ANEXO 162.
302 ANEXO 163.
303 Como j referido, o valor mximo de contratao pela PETROBRAS fixado em 20% sobre o valor da
estimativa.
304 A saber, de acordo com documento fornecido pela PETROBRAS: 1) Consrcio UDA - RNEST (Construtora
Queiroz Galvo S.A. e IESA leo e Gs S.A.): R$ 1.642.411.515,64; 2) Consrcio Conest (UTC Engenharia S.A. e
Engevix Engenharia S.A.): R$ 1.754.960.954,00 ANEXO 163.
305 Segundo informaes prestadas pela PETROBRAS, os nmeros 0800.0053456.09.2 / 8500.0000057.09.2 /
0800.0087625.13.2 referem-se a um mesmo contrato: Os ICJs distintos referem-se ao perodo da RNEST como
unidade autnoma, at a incorporao pela Petrobras (Dez/2013). Neste caso, tivemos um primeiro ICJ Petrobras
(0800.0053456.09.2), um ICJ RNEST (8500.0000057.09.2) e um segundo ICJ Petrobras vigente (0800.0087625.13.2).
306 ANEXOS 164 e 165.
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Nessa senda, LO PINHEIRO e AGENOR MEDEIROS, executivos do Grupo OAS,
integrante do CONSRCIO RNEST-CONEST, ofereceram e prometeram vantagens indevidas a
RENATO DUQUE, PEDRO BARUSCO, e PAULO ROBERTO COSTA307, funcionrios de alto escalo
da PETROBRAS, bem como a LULA, que se beneficiava e agia para a manuteno do
esquema e a permanncia desses diretores nos respectivos cargos. As ofertas e promessas
objetivavam tambm que os funcionrios pblicos se omitissem nos deveres que decorriam
de seu ofcio e permitissem que a escolha interna do cartel para a execuo da obra se
concretizasse.
Todo o procedimento de negociao para a contratao direta do CONSRCIO
RNEST-CONEST foi comandado pelo ento Gerente Executivo de Engenharia, PEDRO
BARUSCO308, ento subordinado de RENATO DUQUE309, em procedimento tambm
submetido ao Diretor de Abastecimento, PAULO ROBERTO COSTA. A Comisso Interna de
Apurao da PETROBRAS instaurada para verificar a existncia de no-conformidades nos
procedimentos licitatrios para obras da RNEST identificou diversas irregularidades no
certame sob anlise, como: (a) a alterao de percentuais da frmula de reajuste de preos
ao acolher sugestes de empresas licitantes; (b) a no-incluso de novos concorrentes aps o
cancelamento de um procedimento licitatrio por preos excessivos 310.
Confirmada a contratao do CONSRCIO RNEST-CONEST e realizado o aditivo
contratual, entre 10/12/2009 e 28/12/2011 311, LO PINHEIRO e AGENOR MEDEIROS
providenciaram o repasse das vantagens ilcitas no interesse de LULA, RENATO DUQUE,
PEDRO BARUSCO, e PAULO ROBERTO COSTA. Adotando por base o valor do contrato e do
aditivo firmado (R$1.493.135.923,59), os executivos do Grupo OAS tomaram as medidas
necessrias para viabilizar o pagamento de propina correspondente a, pelo menos, 3% para
os integrantes do esquema comandado por LULA, sendo, 2% do total para o ncleo de
sustentao da Diretoria de Servios, e 1% do total para o ncleo de sustentao da
Diretoria de Abastecimento312.
PEDRO BARUSCO confirmou que houve, alm da atuao do cartel 313,
307 Deixa-se de imputar a conduta de corrupo passiva a PAULO ROBERTO COSTA quanto ao contrato em
comento, uma vez que j denunciada na Ao Penal n 5083378-05.2014.404.7000.
308 ANEXO 134.
309 O encaminhamento dos requerimentos, desde a instalao da licitao at a prpria contratao do
CONSRCIO RNEST-CONEST no seriam possveis sem a participao de RENATO DUQUE e de PEDRO BARUSCO.
310 Alm disso, importante referir que atos foram realizados anteriormente aprovao da Diretoria Executiva,
notadamente o incio do certame e a alterao do modelo contratual ANEXO 115.
311 O procedimento licitatrio teve incio em 09/07/2008, tendo o contrato sido firmado em 10/12/2009, aps a
realizao de nova licitao iniciada em 11/03/2009, durante as diretorias de RENATO DUQUE e de PAULO
ROBERTO COSTA e a gerncia de PEDRO BARUSCO. A celebrao do aditivo majorante de valor firmado durante
as diretorias de RENATO DUQUE e a gerncia de PEDRO BARUSCO ocorreu em 28/12/2011 ANEXOS 162, 163 a
165 e 157.
312 Adotando por base o valor do contrato e do aditivo firmados (R$1.493.135.923,59), e considerando o
percentual de 50% que o Grupo OAS detinha no CONSRCIO CONEST, o referido percentual de 2% alcana
R$14.931.359,23, e o de 1% alcana R$7.465.679,61, totalizando R$22.397.038,84 (3%) de propina.
313 Nesse sentido so as declaraes de PEDRO BARUSCO atinentes aos processos licitatrios referentes s obras
da Refinaria Abreu e Lima RNEST, notadamente aquelas sob responsabilidade do Consrcio RNEST CONEST:
QUE indagado se possui provas relacionadas ao cartel na PETROBRS, o declarante apresenta um documento
oficial contemporneo a julho de 2008, que se refere ao encaminhamento do pedido para instaurar doze pacotes
para obras na REFINARIA ABREU E LIMA RNEST; QUE nestes processos que envolveram a contratao dos
consrcios para obras na RNEST, o declarante entende que houve a atuao do cartel de empresas, pois os pacotes
de obras foram divididos entre vrios consrcios compostos pelas empresas do cartel e os contratos foram firmados
com preos perto do mximo do oramento interno da PETROBRS; QUE por exemplo, o pacote de obras para o
UHDT UNIDADE DE HIDROTRATAMENTO, foi fechado a R$ 3,19 bilhes, cuja proposta foi o do consrcio CONEST,
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pagamentos de vantagens indevidas em decorrncia do contrato firmado pelo CONSRCIO
RNEST-CONEST com a PETROBRAS314. No mesmo sentido, PAULO ROBERTO COSTA e
ALBERTO YOUSSEF admitiram que esses pagamentos indevidos, no montante de ao menos
1% dos valores contratados em favor do ncleo vinculado ao Abastecimento, ocorriam em
todos os contratos e aditivos celebrados pelas empresas integrantes do Cartel com a
PETROBRAS sob o comando da Diretoria de Abastecimento 315, incluindo esse contrato do
CONSRCIO RNEST-CONEST. Especificamente em relao aos contratos em comento, PAULO
ROBERTO COSTA, quando de seu interrogatrio nas aes penais conexas, em que restou
denunciado pelo presente fato, reconheceu a promessa e o pagamento de propina por parte
da OAS como consequncia dos compromissos firmados entre o Consrcio e a
PETROBRAS316. Ainda, comprovam o aceite e recebimento das vantagens indevidas as
declaraes de AUGUSTO MENDONA317.
Considerando o contrato sob comento, constata-se que 1 (um) aditivo majorador
do valor do contrato original foi firmado no perodo em que RENATO DUQUE e PEDRO
BARUSCO ocupavam os respectivos cargos executivos na PETROBRAS. A tabela abaixo bem
sintetiza os valores envolvidos e acontecimentos relativos corrupo envolvendo o referido
contrato celebrado pelo consrcio RNEST-CONEST, integrado pela OAS, e a PETROBRAS318:
Ttulo

Celebrado com CONSRCIO integrado pela OAS

Instrumento contratual jurdico

8500.0000057.09.2, 0800.0053456.09.2 e
0800.0087625.13.2

Valor final estimado da obra

R$ 1.297.508.070,67

Processo de contratao

Incio: 09/07/2008

Resultado: O Consrcio RNEST-CONEST,


composto por ODEBRECHT e OAS, foi vencedor do
certame.

Signatrio do contrato pela OAS: AGENOR


FRANKLIN MAGALHES MEDEIROS

Data de assinatura do contrato

10/12/2009

composto pela ODEBRECHT e a OAS; QUE os quatro grandes pacotes da RNEST foram efetivamente licitados, mas os
contratos foram fechados no topo do limite;. (Termo de colaborao n 02 ANEXOS 46 e 47.
314 PEDRO BARUSCO confirmou esse recebimento na planilha apresentada ao MPF (ANEXO 134), assim como
em diversos depoimentos, como no Termo de Colaborao n 03: QUE indagado pelo Delegado de Polcia Federal
sobre quais foram os principais contratos no mbito da Diretoria de Abastecimento que geraram os valores pagos a
ttulo de propina, afirma que foram os contratos de grandes pacotes de obras da REFINARIA ABREU E LIMA RNEST
e do COMPLEXO PETROQUMICO DO RIO DE JANEIRO COMPERJ, alm de pacotes de grande porte em algumas
refinarias como a REPLAN, a REVAP, a REDUC, a RELAN e a REPAR. (ANEXOS 46 e 47).
315 Nesse sentido, vejam-se as linhas 03/14 das fls. 05 e linhas 03/20 das fls. 14 do termo de interrogatrio de
PAULO ROBERTO COSTA juntado ao evento 1.101 dos autos 5026212-82.2014.404.7000, bem como linhas 19 a 21
a fls. 34 do mesmo evento em relao a ALBERTO YOUSSEF (ANEXO 43).
316 Juiz Federal: - Tambm aqui h referncia do contrato, tambm RNEST CONEST pra implantao das UDAs da
refinaria Abreu Lima. As mesmas empresas n, ODEBRECHT e OAS. Interrogado:-Sim. Juiz Federal:- O senhor sabe
me dizer se houve aqui pagamento tambm de propina? Interrogado:-Sim, sim. (Interrogatrio de PAULO ROBERTO
COSTA s aes penais 5083401-18.2014.4.04.7000, 5083376-05.2014.4.04.7000, 5083351-89.2014.4.04.7000,
5083258-29.2014.4.04.7000 e 5083360-51.2014.4.04.7000 ANEXOS 102 e 103)
317 Termo de Colaborao n 02: QUE a exigncia j era prvia, pois j existia um entendimento entre o Diretor de
Engenharia RENATO DUQUE e RICARDO PESSOA, de modo que todos os contratos que fossem resultantes do
CLUBE, deveriam ter contribuies a quele - ANEXO 78.
318 Informaes adicionais podero ser encontradas no ANEXO 115 que corresponde ao Relatrio Final da
Comisso de Apurao instaurada pela PETROBRAS para a verificao de irregularidades em contrataes relativas
s obras da Refinaria Abreu e Lima RNEST.
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M INISTRIO P BLICO F EDERAL


Valor do ICJ
(considerando o valor inicial somado aos aditivos
majoradores firmados durante a gesto de
PAULO ROBERTO COSTA e RENATO DUQUE)

Valor inicial: R$1.485.103.583,21


Valor do ltimo aditivo (data): R$8.032.340,38
(28/12/2011)
Valor total: R$1.493.135.923,59

Valor da vantagem indevida recebida pelo ncleo de


sustentao da Diretoria de Abastecimento
(1% do valor total)

R$14.931.359,23

Valor da vantagem indevida paga pela OAS ao ncleo de


sustentao da Diretoria de Abastecimento
(50% do 1% do valor total)

R$7.465.679,61

Valor da vantagem indevida recebida pelo ncleo de


sustentao da Diretoria de Servios
(2% do valor total)

R$29.862.718,47

Valor da vantagem indevida paga pela OAS ao ncleo de


sustentao da Diretoria de Servios
(50% do 2% do valor total)

R$14.931.359,23

A ao criminosa de LULA
140. Nesse contexto de atividades delituosas praticadas na PETROBRAS, LULA
dominava toda a empreitada criminosa, com plenos poderes para decidir sobre sua prtica,
interrupo e circunstncias. Nos ajustes entre diversos agentes pblicos e polticos, marcado
pelo poder hierarquizado, LULA ocupava o cargo pblico mais elevado e, no contexto de
ajustes partidrios, era o maior lder do Partido dos Trabalhadores. Nessa engrenagem
criminosa, marcada pela fungibilidade dos membros que cumpriam funes, a preocupao
primordial dos agentes pblicos corrompidos no era atender ao interesse pblico, mas sim
atingir, por meio da corrupo, o triplo objetivo de enriquecer ilicitamente, obter recursos
para um projeto de poder e garantir a governabilidade. Os atos de LULA, quando analisados
em conjunto e em seu contexto, revelam uma ao coordenada por ele, desde o incio, com a
nomeao de agentes pblicos comprometidos com o desvio de recursos pblicos para
agentes e agremiaes polticas (como os Diretores da PETROBRAS), at a produo do
resultado, isto , a efetiva corrupo para atingir aquelas trs finalidades.
LULA decidiu em ltima instncia e em definitivo acerca da montagem do
esquema e se beneficiou de seus frutos: (a) governabilidade assentada em bases esprias; (b)
fortalecimento de seu partido PT , pela formao de uma reserva monetria ilcita para
abastecer futuras campanhas, consolidando um projeto, tambm ilcito, de perpetuao no
poder; (c) enriquecimento com valores oriundos de crimes. Todas essas vantagens indevidas
estiveram ligadas ao desvio de recursos pblicos e ao pagamento de propina a agentes
pblicos e polticos, agremiaes partidrias, e operadores financeiros. Aquelas trs
finalidades foram contaminadas pelo mtodo esprio empregado para atingi-las, a
corrupo.
141. A posio central de LULA nessa ao criminosa evidenciada por diversos
fatos. Cumpre, agora, repis-los:
a) conforme indicado no item 17, no perodo em que estruturados os crimes em
detrimento da PETROBRAS, cabia a LULA prover os altos cargos da Administrao Pblica
Federal. Por meio do Decreto n 4.734/2003, o ex-Presidente da Repblica delegou parte
desses poderes a JOS DIRCEU, seu brao direito;
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M INISTRIO P BLICO F EDERAL


b) conforme indicado no item 24, para angariar o apoio de partidos que no
compunham a base de seu Governo, LULA indicou nomes ligados ao PMDB e ao PP para
ocupar altos cargos da Administrao Pblica Federal;
c) conforme indicado nos itens 26 a 28, o Mensalo, esquema criminoso de
compra de apoio poltico por meio de recursos ilcitos, levou condenao de integrantes do
PT com os quais LULA manteve contato por anos dentro do partido e que ocuparam cargos
de relevncia na sua campanha presidencial e no seu Governo. Alm disso, foram
condenados por corrupo lderes dos partidos que o apoiavam;
d) conforme indicado nos itens 31 a 33, diversos casos de corrupo
semelhantes aos revelados no Mensalo e na Lava Jato, notadamente envolvendo a
ELETRONUCLEAR, a CAIXA ECONMICA FEDERAL, o MINISTRIO DA SADE e o MINISTRIO
DO PLANEJAMENTO, desenvolveram-se no mbito da alta cpula do Poder Executivo federal,
e seus benefcios convergiram, direta e indiretamente, ao vrtice comum de todos eles, no
qual se encontrava LULA;
e) conforme indicado nos itens 34 e 35, o vis partidrio dos esquemas
criminosos esteve assentado na formao e manuteno da base aliada do Governo LULA,
com a negociao do apoio do PMDB e PP, especialmente, envolvendo a distribuio de
cargos da alta Administrao Pblica Federal que visavam a arrecadar propinas destinadas a
agentes e partidos polticos;
f) conforme indicado no item 37, o quadro de corrupo sistmica aprofundouse mesmo aps a sada de JOS DIRCEU do cargo de Ministro-Chefe da Casa Civil,
perdurando durante todo Governo LULA e mesmo aps seu encerramento;
g) conforme indicado nos itens 38 a 47, LULA recebeu da OAS, direta e
indiretamente, mediante dedues do sistema de caixa geral de propinas do Partido dos
Trabalhadores, vantagens indevidas durante e aps o trmino de seu mandato presidencial;
h) conforme indicado nos itens 48 a 50, LULA agiu para a instituio e a
manuteno do esquema criminoso, alm de ter sido o agente que dele mais se beneficiou:
(i) fortaleceu-se politicamente, de forma ilcita, ampliando e mantendo a base aliada no
poder federal; (ii) ampliou indevidamente a sustentao econmica de seu grupo poltico,
garantindo vitria nas eleies seguintes, beneficiando, ainda, campanhas eleitorais de outros
candidatos de sua agremiao; (iii) auferiu para si vantagens financeiras, conforme ser visto
no captulo 3;
i) conforme indicado nos itens 52 a 75, LULA atuou diretamente na nomeao
e na manuteno de PAULO ROBERTO COSTA, RENATO DUQUE, NESTOR CERVER, e JORGE
ZELADA nas Diretorias de Abastecimento, Servios e Internacional da PETROBRAS, com
cincia acerca do uso dos cargos para a arrecadao, junto a empresrios com contratos
pblicos, de propinas para distribuio a agentes e partidos polticos;
j) conforme indicado nos itens 82 a 85, LULA atuou diretamente para que
NESTOR CERVER fosse nomeado Diretor Financeiro da BR DISTRIBUIDORA, aps este ser
substitudo por JORGE ZELADA na Diretoria Internacional da PETROBRAS, em
reconhecimento por ter angariado nessa Diretoria vantagens ilcitas de grande valia para o
Partido dos Trabalhadores.
142. Alm de desempenhar esse papel central na arquitetura criminosa
estruturada em desfavor da Administrao Pblica Federal, no perodo em que praticados os
atos de corrupo ligados aos contratos da PETROBRAS acima indicados (11/10/2006 e
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23/01/2012), LULA:
a) de modo consciente e voluntrio, manteve RENATO DUQUE e PAULO
ROBERTO COSTA nas Diretorias de Servios e Abastecimento da PETROBRAS, ciente do uso
dos cargos para a arrecadao, junto a empresrios com contratos pblicos, de propinas para
distribuio a agentes e partidos polticos (conforme j apontado nos itens 52 a 70 e
reforado nos itens 143 a 146);
b) solicitou, aceitou promessa e recebeu, direta e indiretamente, vantagens
indevidas oferecidas e prometidas por executivos do Grupo OAS. A solicitao, aceitao de
promessa e recebimento indireto j restaram esclarecidos quando foram evidenciadas, nos
tpicos anteriores, tais condutas por parte de PAULO ROBERTO COSTA, ALBERTO YOUSSEF,
RENATO DUQUE e PEDRO BARUSCO. A solicitao, aceitao e recebimento direto, em um
regime de caixa geral, restam comprovados pelo prprio pagamento de vantagens
indevidas por meio de expedientes de dissimulao, conforme especificado no captulo 3
desta denncia. Tudo isso em consonncia com o quanto disposto nos itens 147 e 148 a
seguir;
c) solicitou, aceitou promessa e recebeu vantagens indevidas em razo de sua
funo e como responsvel pela nomeao e manuteno dos Diretores da PETROBRAS.
Como demonstrado acima, enquanto Presidente da Repblica, LULA tinha poder para
orquestrar o esquema. Tanto foi assim que, aps deflagrada a Operao Lava Jato, temendo
pela revelao de seu envolvimento, LULA tentou impedir que um dos antigos Diretores
participante do esquema de propinas, NESTOR CERVER, firmasse acordo de colaborao
premiada com o MINISTRIO PBLICO FEDERAL (conforme destacado no item 149 a
seguir). Alm disso, diversas pessoas do crculo de confiana de LULA estiveram envolvidas
em casos de corrupo e, apesar de sarem do Governo, os escndalos de desvio de recursos
pblicos continuaram a acontecer, inclusive relacionado RNEST, cujas obras que
despertaram especial interesse no ex-Presidente da Repblica (conforme destacado nos itens
150 a 152 a seguir);
d) pelos benefcios obtidos pelo Grupo OAS junto PETROBRAS, recebeu
vantagens indevidas oferecidas e prometidas por LO PINHEIRO e AGENOR MEDEIROS. A
relao de proximidade com esses executivos, e de outras empreiteiras envolvidas na
Operao Lava Jato, refora a cincia de LULA acerca da origem espria dos recursos que
lhe eram destinados, inclusive por meio dos aportes milionrios nas instituies que levam o
seu nome (conforme destacado nos itens 153 e 154 a seguir).
143. Nessa arquitetura corrupta, LULA, enquanto ocupante do cargo de maior
expresso dentro do Poder Executivo federal e na condio de lder do PARTIDO DOS
TRABALHADORES, adotou atos materiais para que ela perdurasse por muitos anos e se
desenvolvesse em diferentes setores da Administrao Pblica Federal, como na PETROBRAS.
Nesse amplo contexto de prtica de atos de corrupo, foi decisiva e
fundamental a atuao de LULA que, como chefe do Poder Executivo, escolheu e manteve,
por longo perodo de tempo, Diretores da PETROBRAS comprometidos com a arrecadao
de vantagens indevidas decorrentes de contratos entre a PETROBRAS e empreiteiras.
Conforme afirmado por DELCDIO DO AMARAL GOMEZ, a nomeao de todos os Diretores
da PETROBRAS recebia o aval do Presidente da Repblica, porque se trata da maior empresa
estatal do Brasil, que possui um papel muito estratgico. Mais do que isso, o ex-Senador da
Repblica afirmou que LULA conversava e discutia com as bancadas da base do governo

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sobre os nomes dos Diretores da PETROBRAS que eram levados pelos partidos, tendo a ltima
palavra no tema. Aduziu ainda que as indicaes polticas de Diretores se refletiam inclusive
em doaes ilcitas e lcitas para partidos polticos e que LULA sabia como as coisas
funcionavam319.
O mesmo se diga quanto indicao de PAULO ROBERTO COSTA para o cargo de
Diretor de Abastecimento da Estatal, no propsito de arrecadar vantagens indevidas a partir
dos contratos da PETROBRAS. Como informado pelo colaborador PEDRO CORRA, LULA
determinou e decidiu acerca dessa nomeao, ocorrida em maio de 2004 320.
Inicialmente, JOSE DIRCEU, ento chefe da Casa Civil, sugeriu que ROGERIO
MANSO, ento ocupante do cargo, ficasse, no loteamento de cargos, na cota do Partido
Progressista, seguindo as orientaes que lhes seriam dadas para arrecadao de propina em
favor do partido. Como as conversas com ROGERIO MANSO no foram favorveis ao
acolhimento da pretenso do PP, foi indicado por PEDRO CORRA, que era um dos lderes do
PP, o nome de PAULO ROBERTO COSTA.
Contudo, mesmo com a indicao, a nomeao de PAULO ROBERTO COSTA no
ocorreu em seguida como o Partido aguardava, o que gerou enorme descontentamento de
seus integrantes que decidiram, em conjunto com outros Partidos igualmente preteridos em
suas pretenses de ocupao de cargos (PTB e PL), obstruir a pauta da Cmara dos
Deputados.
Por mais de trs meses, a pauta foi obstruda por espria manobra de presso
capitaneada pelos partidos descontentes, com intensa participao da cpula do PP,
notadamente de PEDRO CORREA e PEDRO HENRY321.
Passados alguns meses sem que a nomeao houvesse sido efetivada, em uma
reunio de cobrana junto ao ento Ministro JOS DIRCEU, esse afirmou que j tinha feito
tudo o que podia para cumprir a promessa de nomeao de PAULO ROBERTO COSTA. Ele
disse que, naquele momento, estaria fora da sua alada de poder a soluo daquela
nomeao, dizendo que s o Presidente LULA teria foras para resolver.
Assim, foi marcada uma reunio, em meados de maio de 2004, para resolver a
319 Termo de Declaraes de DELCDIO DO AMARAL GOMEZ, prestado em 28/03/2016, na sede da Procuradoria
da Repblica em So Paulo, cujos seguintes trechos se destacam: QUE por isto impossvel negar que o
Presidente da Repblica tinha conhecimento do que ocorria na PETROBRAS; QUE sempre houve esta ingerncia
direta do Governo na PETROBRAS; QUE, porm, no caso de LULA esta relao e proximidade era ainda maior, pois
LULA via a PETROBRAS como um agente de desenvolvimento do pas e acompanhava tudo muito mais de perto do
que os outros presidentes da Repblica; QUE a ingerncia de LULA passava pela nomeao de diretores e a discusso
de projetos; QUE LULA sabia muito bem os partidos que indicavam, quem eram os diretores, etc.; () QUE todos os
Presidentes da Repblica, uns mais outros menos, atuam e possuem uma atuao proativa na definio dos
Diretores da PETROBRAS; QUE todos os Diretores recebem o aval do Presidente da Repblica, ao contrrio de outras
empresas estatais, e isto se deve a aspectos histricos e porque se trata da maior empresa estatal do Brasil, que
possui um papel muito estratgico no pas; QUE LULA conversava e discutia com as bancadas da base do governo
sobre os nomes dos Diretores da PETROBRAS que eram levados pelos partidos; QUE LULA conhecia cada diretor e
sabia claramente a que partido o diretor tinha relao partidria; () QUE, portanto, o Presidente da Repblica tem
sempre a ltima palavra no tema de nomeao de Diretores da PETROBRAS; QUE estas indicaes polticas de
Diretores, quando existia, se refletia em diversos aspectos, inclusive em doaes ilcitas e lcitas para o Partido, pois o
Diretor trabalhava para o partido que lhe dava sustentao, atendendo aos interesses do respectivo partido; QUE
LULA sabia como as coisas funcionavam; QUE LULA sabia como a roda rodava, embora pudesse no ter
conhecimento das especificidades; () QUE tais decises, de diviso de Diretorias, eram definidas nas esferas de
poder mais altas; QUE quando se refere a esferas de poder mais altas est se referindo ao Presidente da Repblica
e s pessoas mais prximas ; (...) - ANEXO 65.
320 Termo de declaraes prestado por PEDRO CORRA, em 01/09/2016 ANEXO 14.
321 Ressalte-se que, nesse perodo, 17 medidas provisrias ficaram trancando a pauta.
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questo. No gabinete presidencial e na presena de PEDRO CORRA, do ex-Deputado
Federal e lder do PP PEDRO HENRY, do ex-Deputado Federal e ento tesoureiro do PP JOS
JANENE, do ex-Ministro das Relaes Institucionais ALDO REBELLO, do ex-Ministro da Casa
Civil JOS DIRCEU, e do ento Presidente da PETROBRAS, JOS EDUARDO DUTRA, LULA
determinou que a nomeao de PAULO ROBERTO COSTA para a Diretoria de Abastecimento
da PETROBRAS, no interesse do PP, ocorresse, sob pena de exonerao dos integrantes do
Conselho de Administrao da PETROBRAS. E assim foi feito, de forma que poucos dias
depois da referida reunio, houve a nomeao322.
O colaborador NESTOR CUAT CERVER tambm confirmou a ingerncia
decisiva do ex-presidente LULA, no apenas na sua nomeao para a Diretoria Internacional
da PETROBRAS323, mas igualmente na sua exonerao desse cargo e nomeao para a
Diretoria Financeira da BR DISTRIBUIDORA, j no ano de 2008 324. Alis, a recolocao de
322 Termo de declaraes prestado por PEDRO CORRA, em 01/09/2016, do qual se destaca o seguinte trecho:
Esta segunda reunio foi ainda pior do que a primeira, pois, desta vez, alm de levarem um ch de cadeira,
receberam do Dr. ROGRIO MANSO a seguinte resposta: entendi a ordem do Ministro JOS DIRCEU, s que no fui
nomeado para este cargo para cumpr-la. Aps esta segunda reunio, o relacionamento de aproximao do partido
PP com o governo que j estava tenso, ficou ainda pior e, diante da resposta de ROGRIO MANSO, finalmente o
governo abriu a oportunidade para que o PP indicasse um nome para assumir a Diretoria de Abastecimento. A o PP
indicou o nome de PAULO ROBERTO COSTA. Era o que o PP queria, indicar uma pessoa de confiana para viabilizar
a arrecadao de propina. O Governo realizava a nomeao exatamente para este fim, viabilizando a continuidade
da base aliada. Aps a indicao, durou aproximadamente de 06 meses para que PAULO fosse nomeado. O governo
ficou cozinhando. O governo tambm fez isso com outros partidos que pretendia cooptar para a base: PP, PTB e PL.
Em razo da demora, os partidos, juntos, resolveram obstruir a pauta da Cmara dos Deputados, que durou cerca de
3 meses. Nesse perodo, 17 Medidas Provisrias ficaram trancando a pauta. Em mais uma reunio de cobrana ao
Ministro JOS DIRCEU, com a presena PEDRO CORREA, PEDRO HENRY e JOSE JANENE, o ministro confessou que j
tinha feito tudo que podia, dentro do governo, para cumprir a promessa de nomeao de PAULO ROBERTO, como de
outros cargos, em compromisso com o PP. Naquele momento, estaria fora da sua alada de poder a soluo daquela
nomeao e que somente no 3 andar, com o Presidente LULA, seria resolvido isso. Somente LULA teria fora para
resolver essa nomeao. O Presidente LULA tinha conhecimento de que a manuteno do PP na base aliada
dependeria da nomeao da Diretoria, sabendo que o interesse era financeiro e arrecadatrio, pois esta era a base
inicial de negociao com o Governo. O Presidente LULA estava preocupado com a paralisao da pauta no
Congresso Nacional e com a base aliada; na poca, at o PT queria arrecadar na Diretoria de Abastecimento; o
presidente LULA tinha cincia inequvoca que o interesse do PP era arrecadar propinas na Diretoria de
Abastecimento; Foi marcada a reunio, no gabinete e na presena do Presidente LULA, estavam presentes o
COLABORADOR PEDRO CORREA, o ex-deputado e lder do PP PEDRO HENRY, o ex-deputado e tesoureiro do PP
JOS JANENE, o Ministro das Relaes Institucionais ALDO REBELLO, o Ministro da Casa Civil JOS DIRCEU e o ento
Presidente da Petrobrs JOS EDUARDO DUTRA. Nesta reunio, o principal dilogo que se deu entre o Presidente
LULA e o ento Presidente da Petrobrs JOS EDUARDO DUTRA foi relacionado a demora na nomeao de PAULO
ROBERTO COSTA. LULA questionou a demora para a nomeao de PAULO ROBERTO COSTA por JOS EDUARDO
DUTRA, o qual disse que essa cabia ao Conselho de Administrao da PETROBRAS. Na ocasio, LULA disse a DUTRA
para mandar um recado aos conselheiros que se PAULO ROBERTO COSTA no estivesse nomeado em uma semana,
ele iria demitir e trocar os conselheiros da PETROBRAS. Na ocasio, DUTRA informou que entendia a posio do
Conselho, e que no era da tradio da Petrobrs, assim sem mais nem menos, trocar um diretor. De imediato, LULA
rebateu e disse que se fosse pensar em tradio, nem DUTRA era Presidente da PETROBRAS, nem ele era Presidente
da Repblica. LULA reafirmou que se no fosse feita a nomeao de PAULO ROBERTO COSTA iria demitir o Conselho
da PETROBRAS. Pouco tempo depois da reunio, foi nomeado PAULO ROBERTO COSTA diretor da Diretoria de
Abastecimento e o PP abandonou a obstruo da pauta do Congresso. A nomeao de PAULO ROBERTO COSTA foi
determinao direta de LULA para beneficiar os interesses especficos do PP.. ANEXO 14.
323 Interrogatrio prestado nos autos do processo 5007326-98.2015.404.7000 ANEXO 166.
324 Termo de Colaborao n 03, prestado por NESTOR CUAT CERVER, em 07/12/2015, na sede da
Superintendncia Regional da Polcia Federal no Estado do Paran desmembramento autorizado pelo Supremo
Tribunal Federal autos 5019903-74.2016.404.7000 , de que se destacam os seguintes trechos: QUE foi
nomeado Diretor Internacional da PETROBRAS pelo Conselho de Administrao da PETROBRAS em 31/01/2003;
QUE antes de sua nomeao como Diretor, o declarante era funcionrio de carreira da estatal, e ocupava o cargo de
Gerente-Executivo de Energia da Diretoria de Gs e Energia da PETROBRAS; QUE sua nomeao como Diretor
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CERVER na BR foi um agradecimento por ele ter favorecido o Partido dos Trabalhadores no
exerccio do cargo, direcionando uma contratao para a SCHAHIN a fim de quitar dvida do
PT, o que objeto de ao penal prpria 325-326. Nesse contexto, destaque-se que, na Ao
Penal n 5061578-51.2015.4.04.7000, foi ouvido FERNANDO SCHAHIN, que afirmou que
ouviu de JOSE CARLOS BUMLAI que o negcio envolvendo o pagamento do emprstimo
adquirido por BUMLAI no Banco SCHAHIN, por intermdio da contratao da SCHAHIN para
operao da sonda VITORIA 10.000, estava abenoado pelo ex-presidente LULA"327.
Conforme j referido acima, no mbito da Diretoria de Servios, cuja direo
cabia a RENATO DUQUE, parcela substancial dos valores esprios foi destinada ao Partido
dos Trabalhadores, agremiao pela qual LULA se elegeu e da qual cofundador 328, bem
como aos integrantes do mencionado partido. Essa destinao para membros da legenda
tambm foi confirmada por PAULO ROBERTO COSTA329 e por PEDRO BARUSCO330.
Internacional surgiu por conta de seu envolvimento na rea de gs e energia da estatal, e por indicao direta do
recm eleito Senador DELCDIO DO AMARAL, com apoio do ento Governador ZECA DO PT; () QUE muito embora
o Presidente LULA tenha cedido ao pedido do PMDB para substituio do cargo de Diretor Internacional, houve uma
preocupao em recolocar o declarante em um novo cargo; QUE ento o declarante foi nomeado Diretor Financeiro
da BR DISTRIBUIDORA; QUE teria sido JOS EDUARDO DUTRA quem avisou ao Presidente que havia vagado a
Diretoria Financeira da BR DISTRIBUIDORA e que o declarante poderia ser colocado l; QUE no dia 3/3/2008 foi
retirado da Diretoria Internacional e, no mesmo dia, assumiu a Diretoria Financeira da BR DISTRIBUIDORA;ANEXO 167.
325 Termo de declaraes prestado por NESTOR CUAT CERVER, em 31/08/2016, do qual se destaca o seguinte
trecho: [] QUE naquela tarde foi comunicado por DUTRA que seria o novo Diretor Financeiro da BR
DISTRIVUIDORA; QUE na reunio LULA teria questionado sobre o destino de CERVER; QUE DUTRA informou desse
cargo vago, sendo que LULA informou que o cargo estaria disponvel para o depoente, caso tivesse interesse; QUE foi
informado que essa nomeao seria em retribuio ao fato de ter liquidado a dvida da SCHAIN atravs do contrato
de operao da VITORIA 10.000;[...] ANEXO 90.
326 No mesmo sentido o depoimento de FERNANDO SOARES, prestado em 01/09/2016 ANEXO 45.
327 ANEXO 168.
328 Consoante informaes constantes em <http://www.institutolula.org/biografia> - ANEXO 169.
329 Termo de Colaborao n 14, prestado por PAULO ROBERTO COSTA, no dia 01/09/2014, na Superintendncia
Regional da Polcia Federal no Estado do Paran, de que se destaca o seguinte trecho: QUE, esclarece, como dito
anteriormente acerca da sistemtica de repasse de propinas na PETROBRAS para polticos, que todos os grandes
contratos desta entidade participavam empresas (empreiteiras) cartelizadas; QUE tais empresas fixavam em suas
propostas uma margem de sobrepreo de cerca de 3% em mdia, a fim de gerarem um excedente de recursos a
serem repassados aos polticos, sendo que desse percentual competia ao declarante fazer o controle dos valores
dentro do montante de 1% (um por cento), enquanto Diretor de Abastecimento direcionando os recursos na miro
parte ao PP; QUE, em relao aos outros dois por cento (2%) relativos aos contratos e destinados a finalidade s
polticas, o controle ficava a cargo de RENATO DE SOUZA DUQUE, Diretor de Servios, encarregado da licitao e
execuo de todos os contratos de grandes investimento da empresa (superiores a vinte milhes de reais); QUE,
esclarece ainda que as Diretorias de Explorao e Produo (maior oramento da PETROBRAS) e de Gs e Energia
eram chefiadas por pessoas indicadas pelo PT, sendo que todos os valores a ttulo de sobrepreo eram destinados ao
Partido dos trabalhadores, competindo a RENATO DUQUE, Diretor de Servios, a alocao desse montante conforme
as orientaes e pedidos que recebesse do referido partido; (...). - ANEXO 170.
330 Interrogatrio prestado nos autos da Ao Penal n 5012331-04.2015.404.7000, de que se destaca o seguinte
trecho: () Interrogado:- Sim, tinham, era uma diviso onde participava, , assim, no comeo tinha um percentual
pra casa, n? Que participava eu, o Renato Duque, , eu lembro do Zelada, participou de um, que na poca no era
diretor, ele era gerente dentro da engenharia, , isso foi progredindo, progredindo, depois eu fiquei, comecei a ter
mais informao, fiquei sabendo que tinha um percentual, n? Que era dividido entre o partido dos trabalhadores e
a casa. E a fui. Juiz Federal: Casa era o pessoal interno da Petrobras. Interrogado:- Interno, . Juiz Federal: O
senhor, o senhor mencionou o Zelada, algumas vezes. Interrogado:- Sim, basicamente era eu e o Renato Duque,
basicamente, n? O Zelada, pouqussimas vezes e mais no final, no final assim, j 2011, o Roberto Gonalves. Juiz
Federal: E como que era calculado esses pagamentos dessas vantagens? Interrogado:- Assim, a regra bsica era
assim, era 1%, , se fosse contrato, que a diretoria de servios tivesse fazendo relacionado as obras do EP, , do Gs
Energia, normalmente era um total de 2%, 1% ia pro partido dos trabalhadores, e 1% vinha pra casa. E a tinha a
diviso interna na casa, que poderia ser uma parte pro Duque e uma parte pra mim, ou ento se tivesse alguma
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144. Outro colaborador, DELCDIO DO AMARAL GOMEZ no apenas confirmou a
existncia do esquema de corrupo nas Diretorias da PETROBRAS, como tambm ressaltou
a vinculao da Diretoria de Servios ao Partido dos Trabalhadores. Ainda, destacou que o
ento Presidente da Repblica LULA, alm de ter plena conscincia do esquema de repasse
de propinas, sabia que havia arrecadao de um percentual do valor das obras, destinado
pelas empreiteiras aos partidos polticos que indicaram os Diretores da estatal 331.
145. Nesse mbito de repasses vultosos de propina ao PARTIDO DOS
TRABALHADORES, e considerando que uma das formas de repasse de propina dentro do
arranjo montado no seio da PETROBRAS era a realizao de doaes eleitorais que
acobertavam corrupo, impende destacar que, ainda em 2005, LULA admitiu ter
conhecimento sobre a prtica de caixa dois no financiamento de campanhas polticas 332.
Alm disso, conforme depoimento prestado Polcia Federal, o ex-Presidente da Repblica
reconheceu que, quanto indicao de Diretores para a PETROBRAS, recebia os nomes dos
diretores a partir de acordos polticos firmados333. Ou seja, LULA sabia que empresas
realizavam doaes eleitorais por fora e que havia um vido loteamento de cargos pblicos.
LULA conhecia a motivao dos pagamentos de caixa 2 nas campanhas eleitorais, o porqu
da voracidade em assumir elevados postos na PETROBRAS e a existncia de vinculao entre
um fato e outro, consistente no recebimento de propinas.
146. Nessa toada, LULA, mantendo contato prximo com diversos executivos das
empreiteiras que fraudaram as licitaes da PETROBRAS e tendo papel decisivo na nomeao
de Diretores responsveis por garantir o sucesso das escolhas do cartel, era pea central do
esquema, recebendo, direta e indiretamente, as vantagens indevidas dele decorrentes. A
engrenagem montada, que envolvia a cartelizao e o pagamento de propinas fixadas em
percentuais sobre contratos bilionrios, produzia um grande volume de recursos de origem
espria. Parte desses valores foi entregue diretamente aos agentes pblicos corrompidos e
parcela desse dinheiro sujo foi entregue a operadores financeiros e lavada, no raro com
pessoa que fosse operador, tivesse custo pra gerenciar, vamos dizer, esse valor, ento o operador tinha uma parte,
Renato Duque e eu, ou ento, Operador, eu, Renato Duque, , Zelada, entendeu? Cada contrato tinha uma diviso. ANEXO 171.
331 Termo de Declaraes de DELCDIO DO AMARAL GOMEZ, prestado em 28/03/2016, na sede da Procuradoria
da Repblica em So Paulo, de que se destaca o seguinte trecho: QUE LULA podia at no saber quais eram os
valores destinados e de que forma, mas sabia como as coisas funcionavam e no h como negar que ele sabia que
os Diretores indicados politicamente angariavam recursos, inclusive ilcitos, para os partidos polticos que lhes
davam sustentao; QUE LULA tinha conscincia deste esquema ilcito na Diretoria de Abastecimento e na Diretoria
Internacional; QUE LULA tambm sabia que a Diretoria de Servios era do Partido dos Trabalhadores; QUE o nome
de RENATO DUQUE era indicao do PT; QUE acredita que o modelo da Diretoria de Servios replicava o modelo
das outras Diretorias em que havia indicao poltica; QUE ao se referir a modelo se refere a doaes para partidos
polticos, inclusive sem declarao oficial, ou seja, caixa dois; QUE embora o governo talvez no soubesse dos
percentuais exatos de cada obra, at mesmo porque eram variveis, o governo sabia que havia repasse de um
percentual da obra, que deveria ser destinado pelas empresas aos partidos polticos que indicavam os Diretores; QUE
a existncia de um percentual era sabida pelo Governo, mas estes percentuais variavam em cada obra, a depender
do seu tamanho e outras variveis; (...) ANEXO 65.
332
Conforme
se
depreende
de
diversas
matrias
publicadas
naquela
poca,
como:
<http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u73772.shtml>
e
<http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDR72208-5856,00.html> ANEXOS 172 e 173.
333 Conforme depoimento prestado no Inqurito Policial n 3989 ANEXO 174 (obtido em fonte aberta na
internet:
<http://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/wpcontent/uploads/sites/41/2015/12/DEPOIMENTO-LULA1.pdf>).
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uso de empresas de fachada334, para disponibilizao limpa aos beneficirios.
147. Evidentemente, dada a envergadura do cargo que ocupava na poca, no
cabia a LULA requerer diretamente as vantagens em decorrncia de cada contrato firmado
pela PETROBRAS. Para tanto, contava com funcionrios pblicos, RENATO DUQUE e PAULO
ROBERTO COSTA, em posies fulcrais para influenciar, com o oferecimento de benefcios, a
aceitao da solicitao. No caso especfico dos contratos relacionados REPAR e RNEST,
ficou evidente a ao dentro da Diretoria de Servios e dentro da Diretoria de
Abastecimento, que redundou em benefcio do Grupo OAS, vencedor, em consrcio, dos
certames fraudados. Essas solicitaes s foram possveis e faziam sentido dentro de todo o
esquema criminoso, que visava ao cabo gerar benefcios pecunirios aos agentes e partidos
polticos de sustentao do Governo LULA.
Como demonstrado, a prpria solicitao de vantagens indevidas feitas pelos
funcionrios pblicos RENATO DUQUE, PEDRO BARUSCO e PAULO ROBERTO COSTA
aconteceu direta e indiretamente. Eles tanto solicitaram propina diretamente aos executivos
do Grupo OAS, como o fizeram por meio de operadores financeiros, como ALBERTO
YOUSSEF.
Tambm, a solicitao, que redundou no recebimento, ocorreu para RENATO
DUQUE, PEDRO BARUSCO e PAULO ROBERTO COSTA, e para terceiros: alm de recursos
desviados terem aportado nas contas pessoais desses empregados da PETROBRAS, valores
esprios foram direcionados a agentes polticos, como LULA, JOS JANENE, PEDRO CORRA
e a agremiaes partidrias, como o Partido Progressista e o Partido dos Trabalhadores, seja
diretamente ou por meio de intermedirios como ALBERTO YOUSSEF e JOO VACCARI NETO.
Dessa forma, considerando o papel essencial desempenhado por LULA no
esquema, sobretudo pela nomeao e manuteno nos cargos de Diretores de RENATO
DUQUE e PAULO ROBERTO COSTA, para que estes atendessem aos interesses esprios de
arrecadao de vantagens indevidas para agentes e partidos polticos, verificou-se que, em
relao aos contratos referidos nos itens 137 a 139, LULA solicitou indiretamente e
recebeu, direta e indiretamente, as vantagens indevidas pagas pela OAS.
148. Especificamente quanto aos benefcios recebidos diretamente pelas
empresas do Grupo OAS, observou-se a criao em favor de LULA de um tipo de caixa
geral, que continuou a ser abastecido, inclusive, aps o trmino de seu mandato
presidencial. Como o ex-Presidente da Repblica garantiu a existncia do esquema que
permitiu a conquista de vrios contratos por licitaes fraudadas, incluindo aquelas
referentes s obras da REPAR e da RNEST, as vantagens indevidas foram pagas pelo Grupo
OAS de forma contnua ao longo do perodo de execuo de tais contratos. Ou, nas palavras
do ex-Senador da Repblica DELCDIO DO AMARAL GOMEZ, houve uma contraprestao
pelo conjunto da obra335, isso , uma contraprestao ampla e genrica pelas obras pblicas
334 Cite-se, como exemplo, que ALBERTO YOUSSEF, na condio de operador financeiro do esquema e do
mercado negro, lanou mo a quatro empresas para tal finalidade: MO Consultoria, Empreiteira Rigidez, RCI
Software e GFD Investimentos (conforme reconhecido em diversas aes penal, como nos autos n 502621282.2014.404.7000).
335 Termo de Declaraes de DELCDIO DO AMARAL GOMEZ, prestado em 28/03/2016, na sede da Procuradoria
da Repblica em So Paulo, de que se destaca o seguinte trecho: QUE a OAS sempre teve grande participao no
Governo de LULA; QUE entende que a reforma do stio de Atibaia foi uma contraprestao de LEO PINHEIRO e da
OAS para LULA, em decorrncia do conjunto da obra, ou seja, o conjunto de benefcios que a empresa OAS recebeu
em funo do Governo LULA, em contraprestao s obras pblicas que ganhou, inclusive relacionadas
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privilegiadas que foram realizadas pelas empresas do Grupo OAS.
Assim, alm de solicitar por meio de terceiros as vantagens indevidas, LULA
tambm as recebeu, direta e indiretamente, num sistema de conta-corrente em que a
empreiteira acumulava dvidas, em funo de diversos contratos, e as quitava por meio de
diversos repasses, feitos por meio de variadas formas. Uma dessas formas, como ser
demonstrado no captulo referente lavagem de capitais, foi o direcionamento de valores em
benefcio pessoal do prprio LULA. De fato, o ex-Presidente da Repblica foi um dos
beneficirios diretos dos recursos desviados dos contratos celebrados entre o Grupo OAS e a
PETROBRAS. Alm disso, LULA recebeu por meio de agentes pblicos e agremiaes
partidrias as vantagens decorrentes dos pactos firmados pela CONSTRUTORA OAS LTDA.
com a Estatal petrolfera, em prol de uma governabilidade e de um projeto de poder que o
beneficiavam.
Nesse contexto, importante destacar que diversos ex-agentes pblicos foram
denunciados na Operao Lava Jato por terem recebido vantagens indevidas decorrentes
das fraudes na PETROBRAS mesmo aps terem deixado seus cargos, como foi o caso do exDeputado Federal PEDRO CORRA e do ex-Ministro da Casa Civil JOS DIRCEU. Aquele,
Presidente nacional do PARTIDO PROGRESSISTA (PP), e este, figura proeminente do PARTIDO
DOS TRABALHADORES (PT). Como adiante ser visto, mesmo aps o trmino de seu
mandato presidencial, LULA foi beneficiado direta e indiretamente por repasses financeiros
de empreiteiras envolvidas na Operao Lava Jato.
149. A tentativa de LULA de impedir que NESTOR CERVER firmasse acordo de
colaborao premiada com o MINISTRIO PBLICO FEDERAL, o que j objeto de ao
penal hoje em trmite perante a 10 Vara da Justia Federal de Braslia, refora o seu
envolvimento na indicao de Diretores da PETROBRAS para que atendessem aos interesses
arrecadatrios de agentes e partidos polticos.
150. Repise-se que a estrutura criminosa perdurou por, pelo menos, uma dcada.
Nesse arranjo, os partidos e as pessoas que estavam no Governo Federal, dentre elas LULA,
ocuparam posio central em relao a entidades e indivduos que diretamente se
beneficiaram do esquema, exemplificativamente:
(a) JOS DIRCEU, primeiro Ministro-Chefe da Casa Civil do Governo de LULA,
pessoa de sua confiana, foi um dos beneficiados com o esquema, tendo auferido vantagens
ilcitas decorrentes de contratos firmados por empreiteira com a PETROBRAS 336;
(b) ANDR VARGAS, vice-lder do PARTIDO DOS TRABALHADORES na Cmara
dos Deputados durante o mandato de LULA, foi um dos beneficiados com o esquema, tendo
auferido vantagens ilcitas decorrentes de contrato de publicidade da CAIXA ECONMICA
FEDERAL337;
(c) JOO VACCARI NETO, tesoureiro do PARTIDO DOS TRABALHADORES, legenda
pela qual LULA se elegeu, foi um dos beneficiados com o esquema, tendo auferido
vantagens ilcitas decorrentes de contratos firmados por empreiteira com a PETROBRAS 338;
PETROBRAS; QUE a OAS tinha muitas obras importantes no Governo LULA e no possvel estabelecer uma
contraprestao especfica; QUE, assim, afirma que se trata de uma contraprestao pelo conjunto da obra e no
uma vantagem especfica decorrente de uma obra determinada; (...). ANEXO 65.
336 Conforme reconhecido por esse Juzo em sede dos Autos n. 5045241-84.2015.4.04.7000 (ANEXO 89).
337 Conforme reconhecido por esse Juzo em sede dos Autos n. 5023121-47.2015.404.7000 (ANEXO 39).
338 Conforme reconhecido por esse Juzo em sede dos Autos n. 5012331-04.2015.404.7000 e 504524183/149

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(d) JOS DE FILIPPI JUNIOR, tesoureiro de campanha presidencial de LULA em
2006, recebeu dinheiro de empreiteira que mantinha contratos com a PETROBRAS 339;
(e) JOO SANTANA, publicitrio responsvel pela campanha presidencial de
LULA em 2006, recebeu dinheiro oriundo do esquema, tendo auferido vantagens ilcitas
decorrentes de contratos firmados por empreiteira com a PETROBRAS 340;
(f) executivos das maiores empreiteiras do Pas, que se reuniam e viajavam com
LULA, participaram do esquema criminoso, fraudando as licitaes da PETROBRAS, e
pagando propina;
(g) conforme descrito nos autos n 5048967-66.2015.404.7000, para evitar
prejuzo ao PARTIDO DOS TRABALHADORES, engendrou-se um emprstimo simulado entre o
Banco SCHAHIN e JOS CARLOS BUMLAI, amigo pessoal de LULA, e, depois, para quitar a
dvida, articulou-se para que, de forma fraudulenta, a SCHAHIN ENGENHARIA fosse
contratada como operadora do navio-sonda VITORIA 10.000 da PETROBRAS.
O envolvimento de pessoas estritamente ligadas a LULA em tantos episdios de
desvios de recursos pblicos para, dentre outros fins, financiar determinado partido poltico,
denota uma forma constante e prpria de se obter dinheiro para a legenda e seus
representantes. Revela-se, em verdade, uma estrutura hierarquizada, de que, ao longo de
muitos anos, pelo menos durante seu mandato presidencial, LULA se valeu para obter
vantagens diretas e indiretas, na qualidade de seu principal comandante e beneficirio.
151. Para LULA, dentro do projeto ilcito de poder que comandava, era relevante
que quem fosse o Ministro-Chefe da Casa Civil, o tesoureiro do PARTIDO DOS
TRABALHADORES ou o Diretor da PETROBRAS estivesse alinhado com o esquema criminoso,
ainda que ao longo do tempo houvesse alterao do ocupante do cargo; o importante era
garantir que o esquema criminoso, que redundava em recursos desviados para agentes e
partidos polticos, e lhe dava tambm a governabilidade, continuasse funcionando. Essa
fungibilidade entre os integrantes da engrenagem criminosa bem demonstrada quando se
observa que, a despeito da sada de JOS DIRCEU da Casa Civil, da troca de diretores dentro
PETROBRAS (como entre NESTOR CERVER e JORGE ZELADA na Diretoria Internacional), e da
sucesso de tesoureiros no PARTIDO DOS TRABALHADORES (entre DELBIO SOARES, PAULO
FERREIRA e JOO VACCARI NETO), o esquema criminoso continuou funcionando pelo menos
at 2014.
152. Nesse contexto, evidente o controle supremo de LULA nos atos de
corrupo que levaram s fraudes nos procedimentos licitatrios para a execuo das obras
de ISBL da Carteira de Gasolina e UGHE HDT de instveis da Carteira de Coque da REPAR;
para a implantao das UHDTs e UGHs da RNEST; e para a implantao das UDAs da
RNEST.
Especificamente quanto ao certame licitatrio relativo Refinaria Abreu e Lima,
impende destacar que o ento Presidente da Repblica LULA demonstrou especial interesse
pelo projeto, tanto que realizou reunies especficas com os Diretores da PETROBRAS para

84.2015.4.04.7000 (ANEXOS 88 e 89).


339 Conforme narrado em sede dos Autos n. 5006617-29.2016.4.04.7000 (ANEXO 175).
340 Conforme narrado em sede dos Autos n. 5013405-59.2016.404.7000 e 5019727-95.2016.404.7000 ANEXOS
176 e 177.
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discutir e definir as questes relacionadas ao empreendimento, considerado estratgico 341. O
interesse do ex-Presidente pelo projeto em questo, assim como no referente REPAR, no
se resumia a uma poltica de Governo; relacionava-se, principalmente, com as vantagens
financeiras ilcitas decorrentes da licitao e posterior contratao de projetos bilionrios, que
seriam direcionados a consrcios de empreiteiras interessadas em contribuir
economicamente com a perpetuao, no poder, do Partido dos Trabalhadores e demais
partidos que integravam a base governista.
153. Nesse contexto em que empresas do Grupo OAS foram beneficiadas pelo
esquema de corrupo que fraudou essas licitaes da PETROBRAS, importante registar o
ntimo relacionamento existente entre LULA e o tambm denunciado LO PINHEIRO, ento
presidente da CONSTRUTORA OAS. De fato, com o avano das investigaes no mbito da
Operao Lava Jato, surgiram elementos de prova de que LULA tem relao prxima com
os executivos das empreiteiras envolvidas nas condutas delitivas perpetradas no seio e em
desfavor da PETROBRAS, dentre eles LO PINHEIRO e MARCELO ODEBRECHT, que eram os
principais lderes da OAS e da ODEBRECHT (empresas integrantes do CONSRCIO RNESTCONEST). No se tratava de pura amizade, com convites para festas e comemoraes
pessoais, mas de uma relao prxima construda na troca de interesses, demonstrada pelos
assuntos tratados nos encontros, envolvendo, em mais de uma oportunidade, obras pblicas
ligadas a essas empreiteiras.
Diversos documentos apreendidos, assim, indicam que LULA se fez presente em
uma gama de eventos, viagens, jantares e reunies em que grandes empresrios das maiores
empreiteiras do pas discutiam e negociavam importantes empreendimentos pblicos, seja
entre si, seja com outros funcionrios pblicos, demonstrando-se, assim, a proximidade do
ex-Presidente com esses executivos por vrios anos. Em um dos celulares apreendidos com
LO PINHEIRO342, por exemplo, havia, conforme observado pela Polcia Federal no Relatrio
n 196343, anotaes de assuntos a serem tratados com BRAHMA, alcunha pela qual LULA
respondia em meio a alguns envolvidos. Tais notas, somadas aos demais elementos,
demonstram a influncia poltica e os acertos exercidos por ele em ramos diversos em favor
da empreiteira344.
Nesse sentido, mensagens trocadas pelo celular entre LO PINHEIRO e AUGUSTO
CESAR FERREIRA E UZEDA [UZEDA], poca Diretor Superintendente da OAS
INTERNACIONAL, assim como com CESAR MATA PIRES FILHO, Vice-Presidente da
341 Termo de Declaraes de DELCDIO DO AMARAL GOMEZ, prestado em 28/03/2016, na sede da Procuradoria
da Repblica em So Paulo, do qual se destacam os seguintes trechos: QUE LULA se reunia com diretores da
PETROBRAS tambm; QUE no sabe ao certo a assiduidade, mas tem certeza que LULA se reunia com tais diretores,
com o objetivo de convencer os diretores de quais eram os projetos de relevo para o Governo; QUE isto era
importante para que no houvesse discordncia e LULA fazia este processo de convencimento dos Diretores, o que
era essencial para que os projetos fossem aprovados; QUE LULA teve contato direto com os diretores, por exemplo,
no caso da RNEST; QUE se recorda que houve uma reunio especfica de LULA com alguns diretores e com o
presidente da PETROBRAS sobre a RNEST; () QUE LULA participava diretamente das grandes discusses da
companhia e dos grandes projetos; QUE mais do que outros presidentes, LULA tinha noo clara dos projetos que
eram mais estratgicos e que eram polticas de governo; QUE LULA participou da definio dos projetos das grandes
refinarias, como Abreu e Lima; QUE a deciso de Abreu e Lima foi uma deciso e um projeto de governo; QUE LULA
usou a PETROBRAS como um instrumento e uma poltica de governo clara; (...) ANEXO 65.
342 O celular de LO PINHEIRO foi apreendido pela Polcia Federal na 7 fase da Operao Lava Jato, em
cumprimento a ordem deste Juzo Relatrio de Anlise de Polcia Judiciria n 32, juntado aos autos n 500597811.2016.4.04.7000 ANEXO 178.
343 Relatrio de Anlise de Polcia Judiciria n 196 ANEXO 179.
344 ANEXO 179.
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CONSTRUTORA OAS, e com ANTNIO CARLOS MATA PIRES, Vice-Presidente da OAS
INVESTIMENTOS, corroboram que esses empresrios possuam uma ligao muito prxima
com LULA, que, por sua vez, estava bastante a par das negociaes e das obras realizadas
pela empresa em diversos setores e em vrios pases.
Conforme muito j se noticiou e restou colacionado no Relatrio n 196
confeccionado pelas autoridades policiais 345, LULA realizou viagens ao exterior acompanhado
de comitiva formada por empreiteiros. Esses eventos so referidos e acordados pelos
executivos nas mensagens trocadas (mensagens de 06/11/2013 e 12/11/2013, por exemplo),
at mesmo no que concerne utilizao de aeronave da OAS para viagem de LULA a
Santiago em 2013 (mensagem de 25/11/2013). Importante ressaltar que, em uma das
mensagens (em 07/10/2012), LO PINHEIRO informa a UZEDA que conversou com LULA, o
qual estaria indo com empresrios da CAMARGO CORREA para Moambique, restando claro
que o ex-Presidente possua relacionamento com os executivos de diversas empreiteiras
membros do CLUBE.
Do mesmo modo, a relao de LULA com executivos do Grupo ODEBRECHT
prxima. No celular pertencente a MARCELO ODEBRECHT foram angariados diversas
evidncias que corroboram o relacionamento de LULA com os empreiteiros em seus
negcios346. Nele, h referncias constantes a LULA em anotaes elaboradas a fim de traar
estratgias e medidas a serem tomadas, encontrando-se, por exemplo, diversas vezes, a
expresso Lula? ao lado de outras figuras polticas. Alm disso, h meno em um email ao
fato de que MARCELO ODEBRECHT se encontraria com JOHN MAHAMA, Presidente de Gana,
o qual, posteriormente, teria uma reunio com a LILS (acrnimo do nome de LULA), com
apoio de ALEXANDRINO ALENCAR, Diretor da ODEBRECHT e da BRASKEM, empresas estas
comprovadamente envolvidas nos esquemas de corrupo revelados pela Lava Jato.
J na casa de MARCELO ODEBRECHT, restou apreendido um HD externo em que
constava documento apontando a realizao de um jantar em sua residncia em 28/05/2012.
De acordo com o Relatrio n 409 elaborado pela Polcia Federal, em que analisado o
material coletado347, o evento restou realizado a pedido de LULA e foram convidados
empresrios brasileiros de diversos setores. Da lista de convidados para o encontro, ressaltase o nome de JUVANDIA MOREIRA LEITE348, administradora da EDITORA GRFICA ATITUDE.
Esta editora, conforme circunstanciadamente detalhado na ao penal n 501950127.2015.404.7000, foi utilizada por JOO VACCARI NETO, RENATO DUQUE e AUGUSTO
MENDONA, para lavar, em benefcio do PARTIDOS DOS TRABALHADORES, parte do
dinheiro sujo auferido pela empresa SETAL/SOG em contratos da PETROBRAS.
Assim, resta clara a relao prxima de LULA com os principais executivos das
empreiteiras que fraudaram os procedimentos licitatrios de obras da REPAR e da RNEST.
Nesse sentido, tambm foi o depoimento de DELCDIO DO AMARAL GOMEZ 349, uma das
345 Relatrio de Anlise de Polcia Judiciria n 196 ANEXO 179.
346 Relatrio de Anlise de Polcia Judiciria n 417 ANEXO 180.
347 Relatrio de Anlise de Polcia Judiciria n 409 ANEXO 181.
348 No tocante ligao da EDITORA GRFICA ATITUDE com o denunciado JOO VACCARI NETO e com o
PARTIDO DOS TRABALHADORES PT, deve-se salientar que, a partir de pesquisas em bancos de dados, verificouse que os scios da EDITORA GRFICA ATITUDE so o Sindicato dos Empregados de Estabelecimentos Bancrios
de So Paulo/SP e o Sindicato dos Metalrgicos do ABC, de notria vinculao ao PARTIDO DOS
TRABALHADORES, sendo que JUVANDIA MOREIRA LEITE, presidente do primeiro Sindicato, figura como
administradora da EDITORA GRFICA ATITUDE.
349 Termo de Declaraes de DELCDIO DO AMARAL GOMEZ, prestado em 28/03/2016, na sede da Procuradoria
da Repblica em So Paulo, de que se destaca o seguinte trecho: QUE alguns empresrios possuam uma relao
de proximidade com o ex-presidente LULA, j na poca em que ele era presidente; QUE, no entanto, certamente LEO
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principais figuras do Partido dos Trabalhadores durante o Governo LULA. Tal relacionamento
entre o ento Presidente da Repblica e LO PINHEIRO, executivo do Grupo OAS, a toda a
evidncia, acarretou intensa participao da empreiteira no Governo Federal, o que se
materializou em diversos benefcios recebidos pela empresa no decorrer do Governo, como
fica patente nos referidos contratos bilionrios celebrados com a PETROBRAS.
154. Rememore-se que, alm da proximidade entre o ex-Presidente da Repblica
e pessoas e empresas envolvidas nas investigaes empreendidas no mbito da Operao
Lava Jato, identificou-se que o INSTITUTO LUIZ INACIO LULA DA SILVA e a L.I.L.S. PALESTRAS,
EVENTOS E PUBLICAES LTDA., entidades em que LULA a figura mxima, receberam
aportes milionrios das empreiteiras envolvidas na LAVA JATO.
Com o afastamento do sigilo fiscal, revelou-se que, entre 2011 e 2014: (a) o
INSTITUTO LUIZ INACIO LULA DA SILVA recebeu R$ 34.940.522,15, sendo que R$
20.740.000,00, ou seja, cerca de 60%, foram oriundos das construtoras CAMARGO CORREA,
ODEBRECHT, QUEIROZ GALVO, OAS e ANDRADE GUTIERREZ350; (b) a L.I.L.S. PALESTRAS,
EVENTOS E PUBLICAES LTDA. recebeu R$ 21.080.216,67, sendo que R$ 9.920.898,56, ou
seja, cerca de 47%, foram oriundos das construtoras CAMARGO CORREA, ODEBRECHT,
QUEIROZ GALVO, OAS, UTC e ANDRADE GUTIERREZ 351; (c) a L.I.L.S. PALESTRAS, EVENTOS E
PUBLICAES LTDA. distribuiu a LULA, a ttulo de lucro, R$ 7.589.936,14, ou seja, 36% do
total auferido pela entidade no perodo (destacando-se que a maior retirada, de R$
5.670.270,72 aconteceu em 2014, ano da deflagrao da fase ostensiva da Operao Lava
Jato).
Assim, entre 2011 e 2014, juntos, o INSTITUTO LUIZ INACIO LULA DA SILVA e a
L.I.L.S. PALESTRAS, EVENTOS E PUBLICAES LTDA. receberam mais de R$ 55.000.000,00,
sendo mais de R$ 30.000.000,00 de empreiteiras investigadas na Operao Lava Jato, e se
destacando que mais de R$ 7.500.000,00 foram transferidos a LULA352.
155. Todas essas vantagens indevidas direcionadas para agentes e partidos
polticos redundaram em benefcio direto de LULA. Ao nomear para a PETROBRAS Diretores
comprometidos com a arrecadao de propina, o ex-Presidente da Repblica tinha plena
cincia de que os valores angariados por meio de contratos da Estatal, como os referidos nos
itens 137 a 139, seriam destinados aos partidos polticos que lhe davam apoio no
Congresso Nacional. Assim, a governabilidade, que deveria ser alcanada pelo alinhamento
ideolgico, foi conquistada por meio da compra de apoio; ou seja, por meio do desvio de
recursos pblicos para agentes e partidos polticos que compunham a base aliada do
Governo, consistindo em uma das vantagens indevidas recebidas diretamente por LULA.
Alm disso, parte dos valores esprios foi destinada a campanhas eleitorais, visando ao
projeto ilcito de manuteno do PT no poder, e tambm ao prprio ex-Presidente.
PINHEIRO era o empreiteiro mais prximo de LULA, no tendo dvida nenhuma em relao a isto; QUE o depoente
sentia que LEO PINHEIRO era muito presente no dia a dia do Presidente LULA e tinham uma relao bastante
estreita; QUE extrai isto da forma como LULA comentava com o depoente, assim como terceiros; QUE LEO PINHEIRO
era um empresrio muito assduo e conversava com o presidente LULA praticamente toda semana; QUE em geral
tais encontros eram fora do Planalto, em princpio encontros privados, fora da agenda oficial; QUE depois de LULA
sair do Governo, estes encontros ocorriam no INSTITUTO LULA; ( ...). ANEXO 65.
350 Informao de Pesquisa de Investigao (IPEI) n PR20150049 ANEXO 182.
351 Pedido de quebra do sigilo fiscal da LILS nos autos n 5035882-13.2015.404. 7000 (ANEXO 183) e deciso que
determinou o afastamento do sigilo (ANEXO 184).
352 Fatos narrados para efeitos de contextualizao, portanto no imputados na presente denncia.
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Portanto, o valor de propina pago pela OAS no mbito dos contratos firmados
pelos CONSRCIOS CONPAR e RNEST-CONEST, de responsabilidade de LULA, um dos
principais articuladores do esquema de corrupo que defraudou contratos da PETROBRAS,
corresponde a aproximadamente R$ 87.624.971,26353. certo que parte desses valores foi
direcionada, como doao oficial, para o PARTIDO DOS TRABALHADORES, mas coube a
LULA receber diretamente, como ser demonstrado no prximo captulo, e indiretamente,
por meio dos funcionrios da PETROBRAS e dos agentes e partidos polticos, as vantagens
indevidas decorrentes do esquema, como a prpria governabilidade durante o seu mandato
presidencial, bem como para um projeto de poder de longo prazo do seu partido, que
repercutiu, tambm, na sucesso presidencial de LULA.
A ao criminosa de LO PINHEIRO e AGENOR MEDEIROS
156. LO PINHEIRO e AGENOR MEDEIROS, na condio de administradores da
OAS, atuaram na corrupo de LULA, RENATO DUQUE, PEDRO BARUSCO e PAULO ROBERTO
COSTA, no interesse do Grupo OAS nas obras da REPAR, em Araucria/PR, e da RNEST, em
Ipojuca/PE, executadas em consrcio com outras empresas cartelizadas 354. LO PINHEIRO,
enquanto Presidente da OAS, e AGENOR MEDEIROS, enquanto alto executivo da
CONSTRUTORA OAS LTDA., eram responsveis por comandar a atuao do Grupo OAS no
cartel de empreiteiras que funcionava perante a PETROBRAS, assim como pelo oferecimento
e promessa de vantagens indevidas aos agentes corrompidos.
157. Nesse sentido, AUGUSTO MENDONA apontou serem LO PINHEIRO e
AGENOR MEDEIROS os responsveis por representar o Grupo OAS nas reunies do cartel e
nas negociaes com funcionrios corrompidos do alto escalo da PETROBRAS. PEDRO
BARUSCO declinou que LO PINHEIRO era o contato com JOO VACCARI NETO, um
preposto de LULA, no mbito do Grupo OAS, que negociava diretamente com ele o
pagamento de vantagens indevidas destinadas ao Partido dos Trabalhadores. Mencione-se,
ainda, que, em planilha apreendida na residncia de PAULO ROBERTO COSTA, na qual so
relacionadas as colunas empresa, executivo e soluo indicando os representantes de
empresas com os quais o ex-diretor da PETROBRAS efetuou contato a fim de obter recursos
para campanhas polticas, a OAS vinculada ao executivo Lo355.

353 O montante de vantagens econmicas indevidas auferidas com o envolvimento de RENATO DUQUE e PAULO
ROBERTO COSTA alcanou o percentual de pelo menos 3% do valor original de cada contrato e aditivos
celebrados. Assim, para os fatos relativos a (a) obras de ISBL da Carteira de Gasolina e UGHE HDT de instveis da
Carteira de Coque da Refinaria Getlio Vargas REPAR, as vantagens indevidas alcanaram R$ 69.957.518,28; (b)
implantao das UHDTs e UGHs da Refinaria Abreu e Lima RNEST, as vantagens indevidas alcanaram R$
96.876.256,04; (c) implantao das UDAs da Refinaria Abreu e Lima RNEST, as vantagens indevidas alcanaram
R$ 44.794.077,71. Nessa toada, considerando que a presente denncia envolve apenas as vantagens indevidas
pagas pelo GRUPO OAS, detentor, respectivamente, de uma participao de 24% no CONSRCIO CONPAR, e de
50% no CONSRCIO RNEST/CONEST, o montante de propina imputada em relao a cada um dos contratos
perfaz (a) R$ 16.789.804,39; (b) R$ 48.438.128,02; (c) R$ 22.397.038,85, que somados chegam a R$ 87.624.971,26.
354 Deixa-se de imputar as condutas de corrupo ativa de JOSE ADELMRIO PINHEIRO FILHO e AGENOR
MEDEIROS em relao a PAULO ROBERTO COSTA quanto aos contratos em comento, uma vez que j denunciadas
em sede da Ao Penal n 5083376-05.2014.404.7000.
355 Autos 5049557-14.2013.404.7000, evento 201, AP-INQPOL1 ANEXO 185.
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158. LO PINHEIRO e AGENOR MEDEIROS eram responsveis, ainda, por
coordenar as operaes de lavagem dos valores auferidos com a prtica desses e de outros
crimes. Nessa atividade, e para tais assuntos, no mbito da Diretoria de Abastecimento,
comunicavam-se diretamente com os executivos da PETROBRAS, como PAULO ROBERTO
COSTA, e com operadores financeiros, como ALBERTO YOUSSEF 356. ALBERTO YOUSSEF, na
condio de operador da organizao criminosa, no s viabilizou a interlocuo entre as
partes, como tambm participou das tratativas acerca das propinas envolvidas 357.
159. Quanto aos pagamentos efetuados pela OAS no mbito da Diretoria de
Servios em decorrncia de contratos firmados com a PETROBRAS, era AGENOR MEDEIROS
o responsvel por contatar diretamente MARIO GOES 358 e com ele ajustar a forma como as
propinas seriam pagas, conforme demonstrado na ao penal n 5012331-04.2015.4.04.7000.
Naqueles autos, tambm restou clara a participao de executivos vinculados a LO
PINHEIRO e AGENOR MEDEIROS em conversas, por exemplo, com ALBERTO YOUSSEF
sobre a liberao e operacionalizao de pagamentos de vantagens indevidas pelo Grupo
OAS359 para agentes corrompidos.
160. Da mesma forma, em decorrncia dos contratos especificados nos itens
137 a 139, houve a promessa e o pagamento de vantagens indevidas correspondentes a,
ao menos, 3% do valor do contrato original e respectivos aditivos celebrados no perodo em
que RENATO DUQUE e PAULO ROBERTO COSTA ocuparam, respectivamente, a Diretoria de
Servios e a Diretoria de Abastecimento da PETROBRAS. Do montante referente aludida
vantagem indevida, coube a LO PINHEIRO e AGENOR MEDEIROS oferecer e prometer
vantagens indevidas pelo menos proporcionais participao do Grupo OAS nos consrcios,
ou seja, 24% em relao ao CONSRCIO CONPAR, e 50% em relao ao CONSRCIO
CONEST-RNEST, assim como viabilizar os seus pagamentos.
Diante de tal quadro, no perodo entre o incio dos procedimentos licitatrios e a
data da efetiva contratao pela PETROBRAS, LO PINHEIRO e AGENOR MEDEIROS, aps
se reunirem com os representantes das demais empreiteiras cartelizadas e definirem o
vencedor do certame, comunicaram a RENATO DUQUE, PEDRO BARUSCO, PAULO ROBERTO
COSTA e ALBERTO YOUSSEF tal circunstncia, oferecendo e prometendo queles, ou a
pessoas por eles indicadas, vantagens indevidas que adviriam imediatamente aps a
celebrao do contrato360.
Aceita tal promessa de vantagem por RENATO DUQUE, PEDRO BARUSCO, PAULO
ROBERTO COSTA e ALBERTO YOUSSEF361, diretamente e agindo dentro de um esquema
356 Conforme admitido por ambos os rus, por exemplo, em relao Diretoria de Abastecimento nos autos de
processo criminal n 5026212-84.2013.404.7000, evento 1101 ANEXO 43.
357 Conforme reconhecido na Ao Penal n 5083376-05.2014.404.7000.
358 MARIO GOES era operador, que atuava por meio da empresa RIO MARINE.
359 Nesse sentido, destaca-se em especial conversa ocorrida no dia 12/03/14 em que YOUSSEF (nick PRIMO) fala
a LA: Falei com matheus vai liberar semana que vem Uma parte dos 400. ANEXO 186.
360 No que se refere OAS, consoante termos de transcrio de interrogatrios juntados ao evento 1.101 dos
autos 5026212-82.2014.404.7000 (ANEXO 43), PAULO ROBERTO afirmou que tratava com o denunciado LO
PINHEIRO, enquanto YOUSSEF referiu expressamente que efetuava as tratativas com o denunciado AGENOR.
Vale ressaltar que nesse mesmo interrogatrio YOUSSEF afirmou expressamente que participava inclusive das
negociaes referentes ao acerto financeiro do repasse.
361 Conforme descrito nesta denncia, PEDRO BARUSCO reconheceu o recebimento de vantagens indevidas
oriundas da OAS em virtude de contratos celebrados com PETROBRAS. No mesmo sentido, ALBERTO YOUSSEF
tambm reconheceu o recebimento e j foi condenado nos autos n 5083376-05.2014.404.700 0 (ANEXO 106).
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comandado pelo Partido dos Trabalhadores, pelo Partido Progressista e, acima desses todos,
por LULA, porque fazia parte da estratgia criminosa por ele controlada, os referidos
Diretores da Estatal, no lapso temporal de execuo desse contratos, mantiveram sua
anuncia quanto existncia e efetivo funcionamento do Cartel em desfavor da PETROBRAS,
omitindo-se nos deveres que decorriam de seu ofcio para assim permitir que a escolha
interna do CLUBE para a execuo das obras se concretizasse.
161. Uma vez confirmada a contratao de empresa do Grupo OAS nos
respectivos consrcios para a execuo das obras, LO PINHEIRO e AGENOR MEDEIROS
ajustaram a forma de pagamento das vantagens indevidas prometidas a, e aceitas por, LULA,
RENATO DUQUE, PAULO ROBERTO COSTA, PEDRO BARUSCO, ALBERTO YOUSSEF, Partido dos
Trabalhadores, e Partido Progressista, correspondentes a pelo menos 24% sobre o 3% do
valor do contrato original e dos aditivos em relao REPAR, e 50% sobre 3% do valor dos
contratos originais e dos aditivos referentes RNEST.
3. DA LAVAGEM DE DINHEIRO
3.1. CRIMES ANTECEDENTES
162. Conforme narrado ao longo desta denncia, a que se faz remisso, os bens,
direitos e valores cuja natureza, origem, localizao, movimentao e propriedade foram
ocultadas e dissimuladas, por meio das operaes de lavagens de capitais que ora sero
descritas, so provenientes da prtica dos seguintes crimes antecedentes: a) organizao
criminosa, formada por empresrios da OAS e de diversas outras empreiteiras, funcionrios
pblicos da PETROBRAS, agentes polticos e operadores financeiros; b) cartel, praticado pela
associao de empreiteiras para fraudar o carter competitivo de licitaes pblicas da
PETROBRAS e lucrar ilicitamente; c) fraude licitao, feita por meio de ajustes escusos
realizados entre concorrentes, com o auxlio de funcionrios pblicos; d) corrupo ativa e
passiva, sendo alguns atos dessa natureza objeto desta denncia; e) crimes contra a ordem
tributria, pois as empreiteiras envolvidas no esquema criminoso se utilizaram de
documentos falsos, notadamente notas fiscais e contratos fraudulentos, para justificar
pagamentos sem causa, reduzindo ilicitamente o recolhimento dos tributos que incidiram em
operaes dessa natureza; e f) crimes contra o sistema financeiro nacional, especialmente
a operao de instituio financeira sem autorizao, a realizao de contratos de cmbio
com informaes falsas e a evaso de divisas.
163. A atividade criminosa desenvolvida ao longo do tempo gerou lucros ilcitos
estimados em at 29 bilhes pelo TCU e at 42 bilhes pela Polcia Federal 362, embora a
presente denncia trate apenas de parte dos fatos.
O funcionamento de um cartel e a promessa de vantagens indevidas (propinas),
aceitas por empregados do alto escalo da PETROBRAS, impediram a real concorrncia entre
as empreiteiras, permitindo pagamentos sobrevalorados pela PETROBRAS a elas, a execuo
de projetos falhos e a gerao de valores para uso em fins escusos. A operao do cartel e a
Quanto a LULA, o recebimento de vantagens indevidas oriundas da PETROBRAS ser abordado tambm no tpico
referente aos crimes de lavagem de dinheiro.
362 ANEXOS 117 e 118.
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aquiescncia e o auxlio concedido por tais funcionrios pblicos corrompidos para
otimizao do cartel e fraudes licitatrias produziram um grande volume de recursos sujos.
Assim, tais empresrios pagaram propinas para agentes pblicos e polticos para auferir
lucros recordes, significativamente superiores queles que obteriam em um contexto de
efetiva competio e fiscalizao pelos agentes pblicos.
Uma parcela significativa de todo esse dinheiro sujo, produto e proveito das
atividades criminosas anteriores descritas, no ficou com as prprias empreiteiras, mas foi
lavada para ser disponibilizada como dinheiro limpo aos partidos e agentes pblicos
beneficirios das propinas. Para tanto, foram empregados vrios mtodos. Dentre eles,
estiveram: a utilizao de empresas do prprio grupo empresarial das empreiteiras, inclusive
usando contas e companhias no exterior (offshores); o emprego de operadores financeiros,
como os j mencionados ALBERTO YOUSSEF, MARIO GOES, JULIO CAMARGO e FERNANDO
SOARES, que se valiam de empresas de fachada, operaes de dlar-cabo ou outros mtodos
para quebrar o rastro financeiro do dinheiro e, com isso, dificultar a ligao dos ativos ilcitos
com sua origem criminosa; ou ainda a compra e reforma de imveis em benefcio dos
corruptos, como aconteceu nos casos, por exemplo, de JOS DIRCEU 363 e do prprio LULA,
como adiante ser descrito.
164. Neste caso, importante registrar que os atos de corrupo descritos no
captulo anterior envolveram especialmente as licitaes da PETROBRAS vencidas pela
CONSTRUTORA OAS, empresa integrante do Grupo OAS. Esta no a primeira acusao
envolvendo corrupo praticada por tal empresa.
De fato, conforme sentena prolatada nos autos n 5083376-05.2014.404.7000 364,
empresas do GRUPO OAS, como a CONSTRUTORA OAS, a OAS ENGENHARIA E
PARTICIPAES, a COESA ENGENHARIA e o CONSRCIO VIRIO SO BERNARDO, simularam
contratos de prestao de servios com empresas controladas por ALBERTO YOUSSEF,
repassando a ele os recursos criminosos. No perodo compreendido entre 2007 e 2012,
valores originrios de crimes antecedentes de cartel e ajuste fraudulento de licitao em
desfavor da PETROBRAS, relacionados a contratos vinculados Diretoria de Abastecimento
da PETROBRAS transitaram por diversas empresas de fachada comandadas por ALBERTO
YOUSSEF. De fato, como se observa naquele processo criminal, houve o uso de diferentes
sociedades empresariais do mesmo grupo econmico para, dissimulando a origem dos
recursos, pagar propinas a agentes pblicos. Embora os contratos com a PETROBRAS
estivessem concentrados em determinadas empresas do grupo empresarial contratante, no
raro as propinas eram pagas por outras empresas do mesmo grupo, com intuito nitidamente
de dissimular os pagamentos ilegais. LO PINHEIRO era, ao tempo dos fatos, Presidente da
CONSTRUTORA OAS e da COESA ENGENHARIA, e detinha poder de gesto sobre todas as
empresas do GRUPO OAS.
Nesse mbito, da mesma forma que LO PINHEIRO, tendo em vista a
participao da CONSTRUTORA OAS no estratagema delituoso em curso dentro da estatal
petroleira, se valeu das subsidirias COESA ENGENHARIA e CONSRCIO VIRIO SO
BERNARDO para, de forma dissimulada repassar propina a PAULO ROBERTO COSTA.
Utilizando metodologia similar, ele fez uso de outra empresa do grupo, a OAS
EMPREENDIMENTOS, para entregar vantagens indevidas a LULA.
363 Destaque-se que, nos autos n 5045241-84.2015.4.04.7000, JOS DIRCEU foi condenado uma vez que o
recebimento de valores de propina foi ocultado em reformas de imveis realizadas em seu interesse.
364 ANEXO 106.
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165. Registre-se que o Grupo OAS, no perodo entre 2003 e 2015, por meio de
suas diferentes empresas e consrcios, firmou contratos, somando cerca de R$
6.786.672.444,55365, com a Administrao Pblica Federal, dentre os quais esto os
contratos celebrados com a PETROBRAS. No arranjo criminoso descrito nesta pea, LULA era
o elemento comum, comandante e principal beneficirio do esquema de corrupo que
tambm favorecia as empreiteiras cartelizadas, incluindo a CONSTRUTORA OAS. Dessa forma,
as vantagens recebidas pelo Grupo OAS, sob a influncia e o comando de LULA, criaram em
favor deste uma espcie de subconta dentro do caixa geral que continuou a ser abastecido,
inclusive, aps o trmino de seu mandato presidencial, por meio de diversos contratos
pblicos de longa durao e aditivos ajustados ainda antes de 2011. Esse caixa geral foi
tambm alimentado por crditos recebidos a partir dos contratos fraudados firmados com a
PETROBRAS, incluindo os referentes s obras da REPAR e da RNEST.
A existncia de um caixa geral em benefcio de agentes pblicos no
novidade. J foi objeto de acusao, comprovao e condenao criminal em outros
processos criminais na Operao Lava Jato. Foi em razo da existncia de um sistema de
caixa geral que PAULO ROBERTO COSTA continuou recebendo propinas das empreiteiras
muito depois da sua data de sada da PETROBRAS, por meio de contratos de consultoria
falsos. Tambm em funo desse sistema que propinas foram direcionadas a JOS DIRCEU,
muito depois de ele deixar o governo e em razo de sua influncia como lder poltico
associado a LULA e vinculado ao Partido dos Trabalhadores.
Os benefcios econmicos indevidos recebidos da Administrao Pblica Federal
pela OAS, de que so parte aqueles que so objeto desta denncia, ingressaram no caixa das
diferentes empresas do Grupo OAS em virtude do grande esquema de corrupo, que
permitiu, dentre outros ganhos, a majorao dos lucros no ambiente de no concorrncia.
Dentro dos cofres das empresas, havia a mistura dos recursos ilcitos com aqueles auferidos
de forma lcita para, em seguida, por meio da empresa diretamente beneficiada pelo contrato
fraudado ou por outra do grupo, sarem para os destinatrios da propina.
Considerando que o ex-Presidente da Repblica comandou e garantiu a
existncia do esquema que permitiu a conquista de vrios contratos por licitaes fraudadas,
incluindo aquelas referentes s obras da REPAR e da RNEST, as vantagens indevidas, em
contrapartida, foram pagas pelo Grupo OAS de forma contnua ao longo do tempo, valendose desse caixa geral abastecido pelas vantagens indevidas decorrentes da corrupo. Da
mesma forma, sem uma vinculao explcita com cada contrato fraudado, mas decorrente de
todo o esquema que o viabilizava, o Grupo OAS direcionava recursos para LULA, os quais
eram oriundos de lucros criminosos obtidos com os crimes de cartel, fraude licitao,
corrupo, organizao criminosa e contra os sistemas financeiro e tributrio j descritos e
praticados em detrimento da Administrao Pblica Federal, notadamente da PETROBRAS.
166. Como ser demonstrado a seguir, parte dos valores recebidos pela
CONSTRUTORA OAS a partir de licitaes fraudadas na PETROBRAS foi usada para pagar
propinas a LULA, as quais foram transferidas para ele por outra empresa do Grupo OAS (a
OAS EMPREENDIMENTOS), por meio da aquisio, personalizao e decorao de um
apartamento triplex no Guaruj/SP, e por meio do pagamento de valores referentes a
contrato de armazenagem de bens ideologicamente falso firmado pela prpria

365 ANEXO 187.


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CONSTRUTORA OAS366, sendo que a origem ilcita de tais valores foi dissimulada nesse
mesmo processo.
Assim, LULA recebeu de forma direta, em benefcio pessoal, valores oriundos do
caixa geral de propinas da OAS com o PT, totalizando R$ 3.738.738,07:
(a) a importncia de R$ 1.147.770,96, correspondente diferena entre o valor
que diz ter pago originalmente BANCOOP por um apartamento tipo no Edifcio Mar
Cantbrico, e o apartamento efetivamente entregue pela OAS Empreendimentos a ttulo de
propina, qual seja o apartamento 164-A, Edifcio Navia, no mesmo empreendimento, cujo
nome foi alterado para Condomnio Solaris;
(b) o valor de R$ 926.228,82, correspondente s benfeitorias pagas Construtora
Talento, executados no apartamento antes referido;
(c) o montante de R$ 342.037,30, referente execuo de um projeto de cozinha
e outros mveis personalizados no mesmo apartamento, pagos KITCHENS COZINHAS E
DECORACOES LTDA.;
(d) o valor de R$ 8.953,75, pagos pela OAS FAST SHOP S.A., em relao
aquisio de um fogo (marca BRASTEMP), um forno micro-ondas (marca BRASTEMP) e uma
geladeira side by side marca (marca ELECTROLUX);
(e) o valor de R$ 1.313.747,24, pagos pela OAS GRANERO TRANSPORTES
LTDA., em decorrncia de contrato de armazenamento de bens pessoais de LULA.
Embora o caixa geral de propinas da OAS com o PT tenha gerado vantagens
indevidas em montante superior a R$ 87 milhes, LULA recebeu em benefcio prprio os
valores acima descriminados alneas (a) a (e).
Cabe salientar que esta sistemtica, do recebimento de propina diretamente na
forma de bens ou servios, tambm restou constatada nos autos n 504524184.2015.4.04.7000, em que JOS DIRCEU foi condenado. Naquela ao, JOS DIRCEU
recebeu valores de propina que foram ocultados mediante reformas de imveis realizadas
em seu interesse.
Ainda demonstra a existncia desse sistema de caixa geral de propinas os
pagamentos feitos no interesse de LULA para a realizao de obras em um stio em
Atibaia/SP, para o INSTITUTO LUIZ INACIO LULA DA SILVA, e para a L.I.L.S. PALESTRAS,
EVENTOS E PUBLICAES LTDA., que ainda so objeto de apurao em andamento367.
Em razo da prpria natureza e objetivo da lavagem, que de esconder a origem
ilcita dos valores, nem todas as operaes de lavagem de capitais que beneficiaram LULA e
pessoas prximas a ele j foram descobertas e comprovadas, havendo vrios atos que esto,
ainda, sob investigao. Assim, os atos de lavagem objeto desta denncia no exaurem todos
os valores branqueados, assim como todos os valores recebidos.
366 Alm de todos os documentos referenciados ao longo desta pea, destaquem-se as investigaes
empreendidas no bojo dos Procedimentos Investigatrios Criminais de n 1.25.000.003350/2015-98 e
1.25.000.000589-2016-97, cuja cpia em mdia ser encaminha Secretaria desse Juzo.
367 Nessa toada, ganha sentido e consistncia o quanto afirmado pelo ex-Senador da Repblica DELCDIO DO
AMARAL GOMEZ: QUE a OAS sempre teve grande participao no Governo de LULA; QUE entende que a reforma
do stio de Atibaia foi uma contraprestao de LEO PINHEIRO e da OAS para LULA, em decorrncia do conjunto da
obra, ou seja, o conjunto de benefcios que a empresa OAS recebeu em funo do Governo LULA, em
contraprestao s obras pblicas que ganhou, inclusive relacionadas PETROBRAS; QUE a OAS tinha muitas
obras importantes no Governo LULA e no possvel estabelecer uma contraprestao especfica; QUE, assim, afirma
que se trata de uma contraprestao pelo conjunto da obra e no uma vantagem especfica decorrente de uma
obra determinada; (...). (conforme Termo de Declaraes de DELCDIO DO AMARAL, prestado em 28/03/2016, na
sede da Procuradoria da Repblica em So Paulo, do qual se destacou o trecho transcrito ANEXO 65.
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3.2. DA CORRUPO E DA LAVAGEM DE DINHEIRO POR INTERMDIO DA
AQUISIO, PERSONALIZAO E DECORAO DE TRIPLEX NO CONDOMNIO
SOLARIS NO GUARUJ/SP
167. LULA, de modo consciente e voluntrio, no contexto das atividades da
organizao criminosa acima exposta, em concurso e unidade de desgnios com MARISA
LETCIA, LO PINHEIRO, PAULO GORDILHO, FBIO YONAMIME e ROBERTO MOREIRA,
pelo menos desde data prxima a 08/10/2009368 at a presente data, receberam vantagem
indevida e dissimularam e ocultaram a origem, a movimentao, a disposio e a
propriedade de R$ 2.424.990,83369 provenientes dos crimes de cartel, fraude a licitao e
corrupo praticados pelos executivos da CONSTRUTORA OAS em detrimento da
Administrao Pblica Federal, notadamente da PETROBRAS, conforme descrito nesta pea,
por meio: (i) da ocultao, em favor de LULA e MARISA LETCIA, por intermdio da OAS
EMPREENDIMENTOS, da propriedade do apartamento 164-A do Condomnio Solaris,
localizado na Av. Gal. Monteiro de Barros, n 638, em Guaruj/SP, no valor de R$
1.147.770,96370, assim como, no referido perodo, pela manuteno em nome da OAS
EMPREENDIMENTOS do apartamento que pertencia a LULA e MARISA LETCIA (conforme
descrito no item 3.2.1 a seguir); (ii) da transferncia de R$ 926.228,82371, entre 08/07/2014
e 18/11/2014, da OAS EMPREENDIMENTOS TALLENTO CONSTRUTORA LTDA., para fazer
frente s reformas estruturais e de acabamento realizadas no imvel para adequ-lo aos
desejos da famlia do ex-Presidente da Repblica (conforme descrito no item 3.2.2 a seguir);
(iii) da transferncia de R$ 350.991,05372, entre 26/09/2014 e 11/11/2014, da OAS
EMPREENDIMENTOS KITCHENS COZINHAS E DECORACOES LTDA. e FAST SHOP S.A., para
custear a aquisio de mveis de decorao e de eletrodomsticos para o referido
apartamento, adequando-o aos desejos da famlia do ex-Presidente da Repblica (conforme
descrito no item 3.2.3 a seguir). Por esse motivo, os acusados incorreram, por 03 (trs)
vezes, na forma do art. 69 do CP, nos delitos tipificados no art. 317, 1, c/c art. 327, 2,
todos do CP, e no art. 1 c/c o art. 1 4, da Lei n 9.613/98.
3.2.1. DA CORRUPO E DA LAVAGEM DE DINHEIRO POR INTERMDIO DA
AQUISIO DE COBERTURA TRIPLEX NO CONDOMNIO SOLARIS NO GUARUJ/SP
168. LULA, de modo consciente e voluntrio, no contexto das atividades da
organizao criminosa acima exposta, em maro de 2009, solicitou a LO PINHEIRO e dele
recebeu vantagem indevida, em razo do cargo de Presidente da Repblica, no valor de
R$1.147.770,96, correspondente diferena entre o valor que diz ter pago originalmente
BANCOOP por um apartamento tipo no Edifcio Mar Cantbrico, e o apartamento
efetivamente entregue pela OAS Empreendimentos a ttulo de propina, qual seja o
apartamento 164-A, Edifcio Navia, no mesmo empreendimento, cujo nome foi alterado para
Condomnio Solaris.

368 Data em que a OAS EMPREENDIMENTOS assumiu da BANCOOP o empreendimento Residencial Mar
Cantbrico.
369 Valor atualizado at JUL/2016, conforme adiante ser exposto.
370 Valor atualizado at JUL/2016, conforme adiante ser exposto.
371 Valor atualizado at JUL/2016, conforme adiante ser exposto.
372 Valor atualizado at JUL/2016, conforme adiante ser exposto.
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Posteriormente, em concurso e unidade de desgnios com MARISA LETCIA, LO
PINHEIRO, PAULO GORDILHO, FBIO YONAMIME e ROBERTO MOREIRA, pelo menos
desde data prxima a 08/10/2009373 at a presente data, dissimularam e ocultaram a origem,
a movimentao, a disposio e a propriedade de R$ 1.147.770,96374 provenientes dos
crimes de cartel, fraude a licitao e corrupo praticados pelos executivos da
CONSTRUTORA OAS em detrimento da Administrao Pblica Federal, notadamente da
PETROBRAS, conforme descrito nesta pea, por meio da aquisio em favor de LULA e
MARISA LETCIA, por intermdio da OAS EMPREENDIMENTOS, do apartamento 164-A do
Condomnio Solaris, localizado na Av. Gal. Monteiro de Barros, n 638, em Guaruj/SP, assim
como, no referido perodo, pela manuteno em nome da OAS EMPREENDIMENTOS do
apartamento que pertencia a LULA e MARISA LETCIA.
Aquisio do apartamento 141-A e recebimento da cobertura triplex 174-A
169. Em 01/05/2003, a Cooperativa Habitacional dos Bancrios de So Paulo
[BANCOOP] lanou um empreendimento de alto padro no Guaruj/SP: o Residencial Mar
Cantbrico375. O Empreendimento compreendia a construo de duas torres residenciais
(Edifcios Nvia indicado como bloco A; e Gijon indicado como bloco B) contendo 112
apartamentos e com trmino previsto para 2006 376. Nessa poca, JOO VACCARI NETO era o
Diretor Administrativo-Financeiro da BANCOOP377.
170. LULA e MARISA LETCIA se interessaram em adquirir unidade no
empreendimento, assim que dele tomaram conhecimento. Em que pese o casal desejasse
desde ento se tornar proprietrio de uma das melhores unidades do empreendimento, a
cobertura triplex 174-A do Edifcio Nvia do empreendimento Mar Cantbrico, que mais
tarde foi rebatizada como o triplex 164-A do Condomnio Solaris, optaram por ocultar esse
propsito. De fato, o casal ajustou com JOO VACCARI NETO a reserva do apartamento 174A e assinou com a BANCOOP378, em 01/04/2005, o TERMO DE ADESO E COMPROMISSO
DE PARTICIPAO, a PROPOSTA DE ADESO SUJEITA A APROVAO N 3907 e o
Memorial Descritivo da unidade 141-A do Edifcio Nvia, de valor consideravelmente
inferior379.
Tanto a real inteno de LULA e MARISA LETCIA de adquirirem a cobertura
triplex 174-A do Edifcio Nvia, quanto a dissimulao dessa inteno e, ainda, a reserva de
tal unidade pela BANCOOP restaram documentalmente comprovadas a partir das
investigaes encetadas no mbito da Operao Lava Jato.

373 Data em que a OAS EMPREENDIMENTOS assumiu da BANCOOP o empreendimento Residencial Mar
Cantbrico.
374 Valor atualizado at JUL/2016, conforme adiante ser exposto.
375 ANEXO 188 (f. 19) e ANEXO 189 (Autos n. 50034969020164047000, evento 33, AP_INQPOL13, f. 06-07).
376 ANEXO 190 (Autos n. 50034969020164047000, evento 33, AP_INQPOL13, f. 12).
377 ANEXO 191 Documento que registra o lanamento do empreendimento Mar Cantbrico como de alto
padro, e ainda mostra que, naquela poca, JOO VACCARI NETO era Diretor Administrativo-Financeiro da
Cooperativa.
378 Importante destacar que pela BANCOOP, quem assinou o referido termo foi JOO VACCARI NETO e ANA
MARIA RNICA.
379 ANEXO 192 (Autos n. 5006597-38.2016.4.04.7000, evento 05) Documento apreendido na residncia de
LULA e MARISA LETCIA.
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Com efeito, em 01/04/2005 MARISA LETCIA assinou dois documentos: o
TERMO DE ADESO E COMPROMISSO DE PARTICIPAO e a PROPOSTA DE ADESO
SUJEITA A APROVAO N 3907, ambos referentes a um Plano de Pagamento, com valor
total estimado, naquela poca, de R$ 195.000,00 (entrada de R$ 20.000,00, em 02/05/2005;
setenta parcelas mensais de R$ 2.000,00; e seis parcelas intermedirias de R$ 5.833,34).
Ocorre, contudo, que, no obstante a preciso de tais informaes, houve nas trs vias da
PROPOSTA DE ADESO SUJEITA A APROVAO N 3907 uma adulterao no campo
referente ao nmero do apartamento transacionado:
PRIMEIRA VIA APREENDIDA NA BANCOOP380

SEGUNDA VIA APREENDIDA NA BANCOOP381

TERCEIRA VIA APREENDIDA NA CASA DE LULA E MARISA382

A anlise conjunta das trs imagens indica existir o nmero 174 sob o reforado
nmero 141. Nesse sentido tambm foi a concluso a que chegou o Perito Criminal Federal
que examinou o ltimo documento e emitiu o Laudo n 1576/2016 SETEC/SR/PF/PR 383,
conforme abaixo retratado:

380 ANEXO 193 (Autos n. 50034969020164047000, evento 33, AP_INQPOL17, f. 10).


381 ANEXO 195 (Autos n. 50034969020164047000, evento 33, AP_INQPOL17, f. 13).
382 ANEXO 195 (Autos n. 5006597-38.2016.4.04.7000, evento 05) Documento apreendido na residncia de
LULA e MARISA LETCIA.
383 ANEXO 196 (Autos n. 5035204-61.2016.4.04.7000/PR, Evento 2, LAUDO8).
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Aduziu-se no referido Laudo Criminal, ainda, que (i) durante os exames com o
comparador espectral de vdeo no foi possvel diferenciar as tintas do manuscrito original
daquele inserido e (ii) que a definio do traado do lanamento '174' compatvel com, por
exemplo, o do lanamento 195000,00, ou seja, h indcios de que tal rasura tenha sido
realizada contemporaneamente ao preenchimento do restante da ficha. Infere-se, portanto,
que ainda ao tempo em que o empreendimento estava na planta, a cobertura 174 j era
almejada por LULA e MARISA LETCIA.
171. Outra significativa evidncia nesse sentido pode ser encontrada a partir da
anlise de documentos eletrnicos apreendidos na sede da BANCOOP por ocasio da 22
fase da Operao Lava Jato e espelhados por intermdio do Laudo de Percia Criminal
Federal n 368/2016-SETEC/SR/DPF/PR. Dentre os documentos apreendidos foram
encontradas duas planilhas que consolidam a situao em que se encontravam os
cooperados responsveis pelas unidades dos Edifcios Nvia 384 e Gijon385 do empreendimento
Mar Cantbrico, em 09/12/2008. Depreende-se dessas planilhas que, para cada apartamento,
constava anotao apontando que ou o apartamento j tinha um cooperado como seu titular
ou era classificado como em estoque. A nica exceo a tais qualificaes est justamente
na unidade 174 do Edifcio Nvia do empreendimento Mar Cantbrico, a qual constava o
status de Vaga Reservada:

384 ANEXO 197.


385 ANEXO 198.
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172. No obstante o interesse e a efetiva reserva do apartamento triplex 174 em


favor de LULA e MARISA, os nicos pagamentos efetuados pelo casal entre 02/05/2005 e a
data em que as referidas tabelas foram consolidadas (09/12/2008) se referiam s parcelas
mensais do apartamento 141. No foi encontrado nenhum pagamento que tenha sido
realizado por LULA ou MARISA BANCOOP para a aquisio da cobertura triplex 174. Em
verdade constata-se que as transferncias de valores pelo casal BANCOOP, tanto a partir da

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conta bancria de MARISA LETCIA, como a partir da conta de LULA, inciaram-se em
02/05/2005 e cessaram em 15/09/2009, totalizando o montante de R$ 209.119,73 386.
173. Esse momento, em que os pagamentos que vinham sendo mensalmente
realizados por LULA e MARISA LETCIA BANCOOP so cessados, especialmente
relevante presente denncia, pois foi nesse perodo que foi praticada a primeira conduta de
lavagem de dinheiro que objeto de imputao na presente pea acusatria. Antes de
detalh-la, entretanto, oportuno remontar a crise financeira pela qual passou a BANCOOP
nos anos que antecederam tal crime.
Crise financeira da BANCOOP, assuno do Condomnio Mar Cantbrico pelo Grupo
OAS e entrega da cobertura triplex 174-A para LULA e MARISA LETCIA
174. No obstante a previso inicial apresentada pela BANCOOP fosse a de
concluir o Residencial Mar Cantbrico em 2006, o empreendimento no evoluiu com o ritmo
esperado e se apresentava nesse ano com problemas financeiros e longe de ser concludo 387.
Para buscar reequilibrar o fluxo de caixa e concluir a obra, a BANCOOP se viu compelida, j
sob a presidncia de JOO VACCARI NETO, a aprovar em uma Assembleia Geral, realizada em
23/10/2006388, o pagamento de reforo de caixa para a continuidade das obras 389.
175. Contudo, o aporte financeiro suplementar dado pela BANCOOP no foi
suficiente para a concluso das obras do empreendimento Residencial Mar Cantbrico, vez
que, passados dois anos, j em 2009, ainda estavam longe de serem finalizadas 390. Foi nesse
contexto que a BANCOOP, sob a presidncia de JOO VACCARI NETO, procurou o Grupo OAS
para entabular um acordo de mercado. LO PINHEIRO, Presidente da CONSTRUTORA OAS e
acionista do Grupo OAS, determinou que CARMINE DE SIEVI NETO, ento presidente da OAS
EMPREENDIMENTOS, negociasse com JOO VACCARI NETO a assuno de determinadas
obras da cooperativa pela incorporadora 391.
176. As negociaes foram bem-sucedidas e, em 08/10/2009, a BANCOOP,
representada, dentre outros, por JOO VACCARI NETO, firmou com a OAS
EMPREENDIMENTOS o TERMO DE ACORDO PARA FINALIZAO DA CONSTRUO DO
RESIDENCIAL MAR CANTBRICO COM EXTINO DA SECCIONAL RESIDENCIAL MAR
CANTBRICO E TRANSFERNCIA DE DIREITOS E OBRIGAES PARA OAS
EMPREENDIMENTOS S.A.392 que, conforme os termos de sua Clusula 12.1, s teria validade
se cumpridas algumas exigncias. Estas condies eram as seguintes: (i) aprovao do
Acordo em Assembleia Seccional dos cooperados da BANCOOP, com extino da Seccional,
j que o empreendimento no seria mais financiado pelo sistema cooperado; (ii)
386 ANEXO 199 (Autos n. 50034969020164047000, evento 33, AP_INQPOL16, f. 07-12) valores atualizados at
19/10/2009.
387 ANEXO 200 (Autos n. 50034969020164047000, evento 33, AP_INQPOL13, f. 01-04).
388 ANEXO 202 (Autos n. 94.002.007273.2015-6/SP, volume 8, f. 41).
389 ANEXO 202 (Autos n. 94.002.007273.2015-6/SP, volume 8, f. 42-47).
390 ANEXOS 203 a 212.
391 Conforme testemunhou CARMINE DE SIEVI NETO ao MINISTRIO PBLICO FEDERAL. O vdeo da oitiva ser
encaminhado mediante ofcio, em mdia eletrnica, para a Secretaria deste Juzo.
392 ANEXO 213.
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desligamento dos cooperados da BANCOOP para adeso ao termo proposto pela OAS
EMPREENDIMENTOS em que teriam a opo entre adquirir o apartamento da OAS
EMPREENDIMENTOS ou receber os valores pagos at ento para a BANCOOP; e (iii)
homologao judicial do Acordo.
177. Em 27/10/2009, os cooperados participaram da Assembleia Seccional,
presidida por JOO VACCARI NETO, e aprovaram o Acordo 393, nos termos dos artigos 33,
pargrafo nico, e 34 do Estatuto Social da BANCOOP 394. Em 11/11/2009, o Acordo foi
homologado pelo MM. Juzo do Setor de Conciliao do Foro Central da Comarca de So
Paulo395.
178. Assim, aps a assinatura, aprovao em assembleia 396 e homologao
judicial, os cooperados contavam com as possibilidades 397 de: (i) desistir da aquisio do
apartamento, recebendo da OAS EMPREENDIMENTOS os valores parcialmente pagos
BANCOOP; ou (ii) adquirir o apartamento da OAS EMPREENDIMENTOS, aceitando a alterao
do total a ser pago para quitao do apartamento, que correspondia ao custo para retomada
e concluso das obras, no prazo de 30 (trinta) dias da ratificao do Acordo 398. Aqueles que
no atendessem deliberao da Assembleia (de realizar a demisso do quadro e optar
entre desistir da aquisio ou aceitar as novas condies de compra junto incorporadora),
seriam penalizados com a eliminao do grupo. Eliminados, caberia a restituio dos valores
pagos.
Alm disso, com a assuno das obras pela OAS EMPREENDIMENTOS, o
empreendimento passou a ser chamado de Condomnio Solaris, e os nomes dos edifcios
que o integravam foram trocados: o Edifcio Nvia passou a ser chamado de Bloco A
Salinas, e o Edifcio Gijon passou a ser chamado de Bloco B Mlaga 399. Houve, ainda,
uma renumerao dos andares: o pavimento no solo, passou a ser indicado como TRREO,
e o segundo pavimento passou a ser o andar 1. Assim, o 3 andar do Mar Cantbrico
(BANCOOP), passou a ser o 2 andar do Solaris (OAS EMPREENDIMENTOS), o 4 andar do
Mar Cantbrico (BANCOOP), passou a ser o 3 andar do Solaris (OAS EMPREENDIMENTOS),
e assim sucessivamente400.
179. Foram amplas as modificaes pelas quais passou o empreendimento Mar
Cantbrico no ano de 2009, com a transferncia da responsabilidade por sua concluso da
BANCOOP para o Grupo OAS. No entanto, foram ainda maiores e criminosas as repercusses
da assuno desse empreendimento pela OAS EMPREENDIMENTOS no que se refere aos
393 ANEXO 214.
394 ANEXO 215.
395 ANEXO 216.
396 A ratificao do Acordo na Assembleia Seccional vinculou todos os cooperados, ainda que ausentes ou
discordantes, nos termos do art. 48 do Estatuto Social da BANCOOP: Art. 48 As deliberaes tomadas em
Assembleia Seccional vinculam a todos os associados da respectiva Seo, ainda que ausentes ou discordantes.
Assim, todos os cooperados deveriam realizar a opo entre desistir da unidade ou realizar a compra do
apartamento, com o pagamento de custos adicionais, com a OAS EMPREENDIMENTOS (ANEXO 217).
397 ANEXO 213.
398 Essas opes e o prazo para realiz-las foram reconhecidos pela prpria OAS EMPREENDIMENTOS em
contestao apresentada em 18/09/2013, nos autos do processo n 1031914-08.2013.8.26.0100, movido por excooperado perante a 31 Vara Cvel do Foro Central da Comarca de So Paulo/SP. (ANEXO 218).
399 ANEXO 219.
400 ANEXO 220 (IC n. 1.25.000.0033502015-90/PR, f. 193).
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interesses de LULA e MARISA LETCIA em relao cobertura triplex n 174-A, que passou
a ser 164-A, e unidade 141-A, que passou a ser 131-A.
Conforme mencionado acima, MARISA LETCIA assinou em nome prprio, mas
tambm representando LULA, o TERMO DE ADESO E COMPROMISSO DE PARTICIPAO
do apartamento n 141, do Edifcio Nvia. Tanto LULA quanto MARISA LETCIA almejavam,
contudo, a cobertura triplex 174 do Edifcio Nvia, mais tarde rebatizada como a cobertura
triplex 164-A do Condomnio Solaris.
Foi nesse momento de assuno do empreendimento Mar Cantbrico
(Condomnio Solaris) pela OAS EMPREENDIMENTOS que LULA e MARISA LETCIA
atingiram seu objetivo original e foram agraciados pela OAS, por intermdio de LO
PINHEIRO, PAULO GORDILHO, FBIO YONAMIME e ROBERTO MOREIRA, com a
cobertura triplex 164-A do Condomnio Solaris.
Os ajustes para que tal operao, que envolveu o pagamento de propina e sua
dissimulao mediante lavagem de capitais, contaram com a participao ativa de LULA e
LO PINHEIRO. Conforme apontado acima, em 2009, LULA j era bastante prximo do
principal executivo da CONSTRUTORA OAS, LO PINHEIRO, tendo sido apreendidas no
celular desse, inclusive, diversas anotaes demonstrando extensas pautas de interesses a
serem tratados com o ex-Presidente da Repblica, incluindo obras pblicas. Assim, LO
PINHEIRO, possuindo poder de gesto sobre o Grupo OAS, comandou a gerao de
recursos esprios na celebrao de contratos entre a CONSTRUTORA OAS e Administrao
Pblica Federal, notadamente a PETROBRAS, e, contando com a participao de PAULO
GORDILHO, FBIO YONAMIME e ROBERTO MOREIRA, utilizou a OAS EMPREENDIMENTOS
para fazer chegar vantagens indevidas, decorrentes do esquema de corrupo engendrado
no seio da administrao pblica, a LULA e MARISA LETCIA.
180. Os valores pagos como propina e utilizados pela OAS EMPREENDIMENTOS
para transferir a propriedade da cobertura triplex 164-A do Condomnio Solaris para LULA e
MARISA LETCIA advieram, portanto, de recursos auferidos ilicitamente pela CONSTRUTORA
OAS em contratos firmados com a Administrao Pblica Federal, incluindo a PETROBRAS.
Esses recursos vieram, mas especificamente de uma parte do total das propinas devidas pela
CONSTRUTORA OAS ao PARTIDO DOS TRABALHADORES. Essa parte usada para conceder o
apartamento para LULA foi deduzida do montante geral dentro de um sistema de caixa
geral, conforme j explicitado acima.
Assim, se a cobertura triplex n 174 do Edifcio Nvia havia sido reservada para
LULA e MARISA LETCIA at 15/09/2009, foi nos dias seguintes a essa data que o casal a
recebeu da CONSTRUTORA OAS, por intermdio da OAS EMPREENDIMENTOS,
caracterizando-se, ento, a consumao do recebimento da vantagem indevida. Todavia, o
apartamento no foi formalmente transferido para LULA e MARISA LETCIA porque tal
estratagema foi arquitetado com a finalidade de ocultar e dissimular a origem, a
movimentao, a disposio e a propriedade dos recursos utilizados para a aquisio da
cobertura em favor de LULA e MARISA LETCIA, haja vista serem valores ilcitos oriundos de
crimes de cartel, fraude a licitao e corrupo praticados pelos executivos da
CONSTRUTORA OAS contra a Administrao Pblica Federal, notadamente a PETROBRAS.
Tal estratagema tambm decorreu do fato de que LULA ainda estava por demais
exposto como Presidente da Repblica e, na medida em que o empreendimento ainda no
estava concludo, no poderia ocorrer a transferncia formal da propriedade da cobertura

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164-A do Condomnio Solaris para o casal. Materialmente, contudo, a cobertura passou a ser
de propriedade de LULA e MARISA LETCIA.
Quando da transferncia do empreendimento Mar Cantbrico da BANCOOP
para a OAS EMPREENDIMENTOS, aps 15/09/2009, LO PINHEIRO j sabia que a cobertura
triplex n 174-A do Edifcio Nvia (identificada posteriormente como triplex 164-A do
Condomnio Solaris) era desejada pelo casal. Assim, possuindo a CONSTRUTORA OAS uma
dvida de propinas a adimplir com o PARTIDO DOS TRABALHADORES e seus integrantes,
decorrente de contratos pblicos obtidos ilicitamente, sobretudo junto PETROBRAS, e
considerando que a OAS EMPREENDIMENTOS assumira o projeto Mar Cantbrico da
BANCOOP, em 08/10/2009, LO PINHEIRO ajustou-se com LULA e MARISA LETCIA e, com
o auxlio de PAULO GORDILHO, FBIO YONAMIME e ROBERTO MOREIRA, destinou-lhes a
referida cobertura.
Em razo da concesso do apartamento nessa poca, diferentemente de todos os
demais cooperados que desejaram manter suas unidades nos empreendimentos originrios
da BANCOOP, LULA e MARISA LETCIA deixaram de efetuar os pagamentos remanescentes,
ainda que houvesse saldo a pagar mesmo em relao ao valor devido pela unidade 131-A.
Incremento ou upgrade da unidade de LULA e MARISA LETCIA no Condomnio
Solaris s custas da OAS
181. Com tal ajuste criminoso, houve um incremento ou upgrade da unidade
titularizada por LULA e MARISA LETCIA no empreendimento Mar Cantbrico, traduzindose em propina paga ao ex-Presidente. No lugar de pagarem e receberem a unidade n 141,
do Edifcio Nvia, pagaram apenas uma parte do valor devido pela unidade n 141, do
Edifcio Nvia (R$ 209.119,73401), e receberam a cobertura triplex n 174 do mesmo edifcio,
com valor substancialmente superior. A diferena de valor entre as unidades, cerca de R$
1.147.770,96, correspondeu a parte do montante auferido ilicitamente pela CONSTRUTORA
OAS em contratos fraudados com a Administrao Pblica Federal, notadamente com a
PETROBRAS, e que foi lavado, por intermdio da OAS EMPREENDIMENTOS, em favor de
LULA e MARISA LETCIA na dao do triplex.
182. Assim, em data no estabelecida, mas por volta de 08/10/2009, quando a
BANCOOP firmou com a OAS EMPREENDIMENTOS o TERMO DE ACORDO PARA
FINALIZAO DA CONSTRUO DO RESIDENCIAL MAR CANTBRICO, LULA e MARISA
LETCIA tornaram-se proprietrios de fato da cobertura triplex n 174 do Edifcio Nvia e
interromperam os pagamentos referentes unidade n 141 do mesmo edifcio. Justamente
porque houve a mudana de unidade e incorporao de valores correspondentes ao saldo
devido pelo apartamento 141, somados diferena entre os apartamentos 174 e 141 ao
patrimnio do casal LULA e MARISA LETCIA, a unidade 141 foi, no ano de 2014,
comercializada pela OAS EMPREENDIMENTOS (vendida para EDUARDO BARDAVIRA),
enquanto a unidade 174 passou a ser adaptada para moradia daquele casal, conforme se
descrever adiante.

401 ANEXO 199 (Autos n. 50034969020164047000, evento 33, AP_INQPOL16, f. 07-12) valores atualizados at
19/10/2009.
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183. Insta destacar, nesse ponto, que, com o afastamento do sigilo bancrio
deferido nos autos n 500589677.2016.4.04.7000, foi possvel constatar que, aps
15/09/2009, LULA e MARISA LETCIA no efetuaram pagamento algum pela unidade
(embora existisse saldo a pagar mesmo se eles tivessem permanecido com a unidade 141).
Alm disso, tambm aps a referida data, no se constatou recebimento de qualquer
restituio dos valores pagos por LULA e MARISA LETCIA, seja por intermdio do
BANCOOP ou da OAS EMPREENDIMENTOS.
184. Todos os demais cooperados tiveram 30 dias aps aprovao em Assembleia
do TERMO DE ACORDO PARA FINALIZAO DA CONSTRUO DO RESIDENCIAL MAR
CANTBRICO COM EXTINO DA SECCIONAL RESIDENCIAL MAR CANTBRICO E
TRANSFERNCIA DE DIREITOS E OBRIGAES PARA OAS EMPREENDIMENTOS S.A., em
27/10/2009, para optar pela (i) desistncia da unidade, com direito restituio de valores
pela OAS EMPREENDIMENTOS; (ii) manuteno da opo de compra, sob novas condies,
com obrigao de pagar novos valores OAS EMPREENDIMENTOS (Clusula 8.1. do TERMO).
Entretanto, LULA e MARISA LETCIA, ao contrrio dos demais, no realizaram
ostensivamente quaisquer dessas opes, seja em relao unidade 141 do Edifcio Nvia,
cujos pagamentos efetuavam at ento, seja em relao cobertura triplex n 174 do Edifcio
Nvia.
No obstante a consequncia da omisso dos ex-cooperados em realizar a opo
acima fosse a eliminao do ex-cooperado do empreendimento, com direito restituio de
valores pela OAS EMPREENDIMENTOS, LULA e MARISA LETCIA j estavam plenamente
seguros de que isso, em relao a eles, no aconteceria, como de fato no ocorreu. Em
verdade LULA e MARISA LETCIA no optaram por quaisquer das alternativas anteriores, em
relao ao apartamento 141 cujas parcelas recolhiam mensalmente at ento, pois j lhes
havia sido dada pela OAS a cobertura triplex n 174402, sem a necessidade de quaisquer
pagamentos adicionais, restando-lhes a partir daquele momento simplesmente aguardar que
o empreendimento fosse concludo.
185. Documento apreendido na sede OAS EMPREENDIMENTOS atesta
materialmente a situao privilegiada em que se encontravam LULA e MARISA LETCIA por
ocasio da transferncia do empreendimento Residencial Mar Cantbrico. Tal documento
revela que, aps esse evento, os ex-cooperados do empreendimento Residencial Mar
Cantbrico poderiam se enquadrar em trs situaes: (i) TAC 403 Assinada Aceitante; (ii)
TAC Assinada No aceitante; e (iii) VIP. Esta ltima sigla, indicando very important
person (pessoa muito importante), estava associada a apenas quatro nomes e apartamentos:
JOO VACCARI NETO (43-Nvia), MARICE CORREA DE LIMA 404, cunhada de JOO VACCARI
402 Alis, na Ao de Reparao de Danos Morais movida em face de jornalistas do jornal O Globo em
12/08/2015, LULA, em sua petio inicial, argumentou que no executou NENHUMA dessas opes esperando
a soluo da totalidade dos casos dos cooperados do empreendimento para, ento, tomar alguma deciso. A par da
dificuldade para aferir quando e como ocorreria a soluo da totalidade dos casos dos cooperados, seria
imperioso tratar com a nova gestora do empreendimento, a OAS EMPREENDIMENTOS, pois a ausncia de opo
implicava a eliminao do grupo da Seccional. Mas, no h registro de que isso tenha acontecido. ( ANEXO 221
Autos do processo n 0353381-17.2015.8.19.0001/RJ).
403 Significa Termo de Aceitao da Proposta Comercial, conforme previsto na Clusula 8.2.c do TERMO DE
ACORDO PARA FINALIZAO DA CONSTRUO DO RESIDENCIAL MAR CANTBRICO COM EXTINO DA
SECCIONAL RESIDENCIAL MAR CANTBRICO E TRANSFERNCIA DE DIREITOS E OBRIGAES PARA OAS
Empreendimentos S.A.
404 Corroborando a suspeita de relao espria entre essas pessoas e o GRUPO OAS, importante rememorar que,
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NETO (44?-Nvia), ANA MARIA RNICA, ex-Diretora da BANCOOP e tambm signatria de
diversos documentos relacionados ao empreendimento (73-Nvia), e M.L.L.S, iniciais do
nome MARISA LETCIA (141-Nvia)405-406.

186. Alm disso, importante consignar que no existe qualquer registro de que
LULA e MARISA LETCIA tenham sido cobrados pela OAS EMPREENDIMENTOS para que
optassem por ficar com a unidade 141 do Edifcio Nvia ou entreg-la para a incorporadora,
ou que tenham, entre outubro de 2009 e a fase ostensiva da Operao Lava Jato, requerido
ou recebido restituio dos valores que j tinham sido pagos por tal unidade, ou ainda que
tenham sido cobrados pelos pagamentos faltantes. A par disso tudo, em 29/08/2011, a OAS
EMPREENDIMENTOS apresentou petio ao CONSELHO SUPERIOR DO MINISTRIO PBLICO
DO ESTADO DE SO PAULO, em que consignou que, aps assumir os empreendimentos da
BANCOOP, os ex-cooperados passaram a ter unidades habitacionais determinadas 407:
Os respectivos cooperados passaram assim de detentores de um termo de adeso a
empreendimento, sem prazo certo para entrega de obra, sem definio clara de valor a
ser pago e muitas vezes sem identificao da unidade autnoma adquirida, para a
condio de titulares de direitos aquisitivos, com contrato firmado, memorial de
nos autos n 5003559-52.2015.404.7000, empreendeu-se o afastamento do sigilo bancrio e fiscal de MARICE
CORREA DE LIMA, cunhada de JOO VACCARI NETO, e pessoa de sua confiana para a intermediao do
recebimento de propinas oriundas da CONSTRUTORA OAS. Naqueles autos, observou-se que MARICE havia
declarado a aquisio do apartamento no Condomnio Solaris. No entanto, alm de MARICE apresentar diferentes
verses sobre a origem dos recursos para adquirir o imvel, chamou a ateno tambm o fato de que ela, aps
adquirir referido bem, em 2011, por R$ 150.000,00, o revendeu, em 2013, para a prpria OAS EMPREENDIMENTOS
por R$ 432.710,00 (autos n 5003559-52.2015.4.04.7000, Evento 33, OUT8 ANEXO 222). Corroborando as
suspeitas de superfaturamento nessa ltima transao e provvel recebimento de vantagens indevidas por
MARICE pagas pelo GRUPO OAS, verificou-se que a empresa vendeu o mesmo apartamento, em 2014, por R$
337.000,00 (conforme registro R.06 da matrcula de n 104.757, que diz respeito ao apartamento n 44-A do
Edifcio Salinas ANEXO 223), e que MARICE realizou emprstimo, em 2013, em favor de NAYARA DE LIMA
VACCARI, filha de JOO VACCARI NETO, no valor de R$ 345.000,00 (autos n 5003559-52.2015.4.04.7000 Evento
33 OUT8 ANEXO 222).
405 ANEXO 224 (Autos n. 50034969020164047000, evento 40, AP_INQPOL2, f. 08-09).
406 Observa-se que o documento foi elaborado pelo escritrio JOS CARLOS DE MELLO DIAS que, pelo menos
desde 14/06/2010 (ANEXO 225), participava da gesto das unidades do Condomnio Solaris no interesse da OAS
EMPREENDIMENTOS.
407 ANEXO 226.
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incorporao registrado, unidade devidamente identificada, valor definido a ser pago e
prazo certo para entrega das obras.

187. Como forma de aperfeioar a lavagem de capitais ora narrada, dando-lhe


aparncia de legitimidade, LULA e MARISA LETCIA no informaram Receita Federal do
Brasil no ano de 2009 a aquisio da cobertura triplex n 174 do Edifcio Nvia, assim como
no registraram a aquisio perante o Registro de Imveis. Ao contrrio, haja vista que esse
patrimnio estava, e ainda est, ocultado sob o nome da OAS EMPREENDIMENTOS, LULA e
MARISA LETCIA ardilosamente continuaram a registrar perante a Receita Federal do Brasil,
nos exerccios de 2009 a 2015, em sua DECLARAO DE AJUSTE ANUAL IMPOSTO DE
RENDA PESSOA FSICA (DIRPF), que figurava dentre seus bens e direitos a COTA PARTE DO
TERMO DE ADESO E COMPROMISSO DE PARTICIPAO PARA IMPLANTAO E
CONSTRUO ATRAVS DA COOPERATIVA HABITACIONAL DOS BANCRIOS DE S.PAULO DE
APTO. DENOMINADO: RESIDENCIAL MAR CANTBRICO, EDIF. NAVIA N 141408.
Cumpre salientar, nesse ponto, que a manuteno de patrimnio prprio em
nome de terceiro um artifcio frequentemente utilizado em operaes de lavagem de
capitais. A opo por manter a cobertura triplex n 174-A, que se tornou 164-A, registrada no
nome da prpria OAS EMPREENDIMENTOS (conforme Matrcula 104801, Ficha 01, Livro n 2
Registro Geral do Cartrio de Registro de Imveis de Guaruj 409), serviu, ao mesmo tempo,
para ocultar e dissimular perante terceiros que o apartamento verdadeiramente pertence a
LULA e MARISA LETCIA e para facilitar o repasse de vantagens indevidas pela
CONSTRUTORA OAS para o casal, por intermdio da OAS EMPREENDIMENTOS, sendo
suficiente, para tanto, a realizao de uma operao de compensao interna.
Alias, o uso de uma pessoa jurdica para participar das licitaes fraudadas, e de
outra empresa para entregar propina constitui expediente tambm utilizado por LO
PINHEIRO para beneficiar outros agentes pblicos, como ele o fez ao se valer da COESA
ENGENHARIA para entregar valores a PAULO ROBERTO COSTA 410. Trata-se de tpica
dissimulao da origem, da movimentao, da disposio e da propriedade de recursos,
exatamente para dificultar a descoberta dos crimes e sua persecuo pelas autoridades.
188. Os artifcios ardilosos utilizados por LULA e MARISA LETCIA para ocultar e
dissimular a propriedade da cobertura triplex n 174 do Edifcio Nvia ficaram ainda mais
evidentes por ocasio da apresentao da Declarao de Ajusta Anual do Imposto de Renda
referente ao ano exerccio 2015 (ano-calendrio 2014) 411. Nessa declarao, apresentada pelo
casal em 23/04/2015, s 13:05:48, novamente eles fizeram constar na declarao de seus
bens e direitos a cota parte do apartamento n 141 do Edifcio Nvia, conforme extrato
abaixo:

408 ANEXO 227 Declarao de Ajuste Anual de LULA.


409 ANEXO 228.
410 Conforme sentena prolatada nos autos n 5083376-05.2014.404.7000.
411 ANEXO 227 Declarao de Ajuste Anual de LULA.
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189. Ocorre, contudo, que, depois de LULA e MARISA LETCIA receberem da


OAS a propriedade de fato da cobertura triplex n 174-A (164-A), eles entregaram OAS
EMPREENDIMENTOS o apartamento n 141-A (131-A) do mesmo edifcio. Tanto isso
verdade que, em 26/04/2014, a OAS EMPREENDIMENTOS efetuou a venda do apartamento
131-A (antigo 141-A) para uma terceira pessoa: EDUARDO BARDAVIRA412.
190. Em suma, no obstante, em 2014, LULA e MARISA LETCIA no fossem
mais proprietrios do apartamento 131-A, mas da cobertura triplex n 164-A, e em que pese
tal apartamento ter sido vendido no incio de 2014 para uma terceira pessoa, LULA e
MARISA LETCIA insistiram em prestar informaes falsas para a Receita Federal do Brasil
por ocasio da entrega da DIRPF Ano Exerccio 2015.
191. Corrobora a consumao dessa operao de lavagem de capitais, em 2009, o
fato de que, alguns meses aps a assuno do empreendimento Mar Cantbrico pelo Grupo
OAS, em 10 maro de 2010 muito antes, portanto, de LULA se tornar investigado no mbito
da Operao Lava Jato , foi publicada matria pelo Jornal O Globo intitulada Caso
Bancoop: triplex do casal Lula est atrasado413. Essa matria dava conta de que o ento
Presidente LULA e MARISA LETCIA seriam contemplados com uma cobertura triplex, com
vista para o mar, no referido empreendimento, muito embora naquela poca a matria no
contemplasse o conhecimento das ilegalidades que mais tarde foram descobertas.
192. Tambm corroboram o fato de que a cobertura triplex n 174 do Edifcio
Nvia foi, em um primeiro momento, reservada pela BANCOOP a LULA e MARISA LETCIA,
e, num segundo momento, adquirida e dada pelo Grupo OAS ao casal, diversos documentos
apreendidos no curso da Operao Lava Jato. Esses documentos, prvios e posteriores ao
412 ANEXO 229 (Autos n. 94.002.007273.2015-6/SP, volume 4, f. 214-218, volume 5, f. 03-25, e Autos n. 035338117.2015.8.19.0001/RJ, f. 173-181).
413
Disponvel
em:
<http://oglobo.globo.com/politica/caso-bancoop-triplex-do-casal-lula-esta-atrasado3041591>. (ANEXO 230).
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dia em que o negcio foi assumido pela OAS EMPREENDIMENTOS, atestam que em
momento nenhum a unidade n 174-A do Edifcio Nvia esteve disponvel para venda. Nesse
sentido cite-se o folder de venda de unidades do Condomnio Solaris, datado de fevereiro de
2012, em se indica que o apartamento 141-A estava disponvel para a venda, enquanto o
164-A no estava414.
193. Ao encontro de tais informaes tambm vo, conforme ser detalhado
adiante, as declaraes prestadas por ROBERTO MOREIRA, da OAS EMPREENDIMENTOS,
segundo o qual a incorporadora em momento nenhum apresentou a cobertura triplex n 174
do Edifcio Nvia para venda, no obstante o alto valor nela imobilizado.
Concluso do Condomnio Solaris pelas OAS EMPREENDIMENTOS
194. Se as provas de lavagem de capitais por intermdio da compra,
disponibilizao e ocultao de propriedade, pelo Grupo OAS, da cobertura triplex n 174-A
(ou 164-A) do Edifcio Nvia para LULA e MARISA LETCIA j eram bastante robustas antes
da concluso do empreendimento Condomnio Solaris, elas se tornaram ainda mais
evidentes aps esse evento, o que ocorreu em 31/08/2013 415. A partir desse momento,
conforme ser abaixo exposto, no s LULA, MARISA LETCIA, seus familiares e amigos
passaram a frequentar a unidade, como tambm passaram a ser realizadas custosas
operaes de reforma, adaptao e decorao da cobertura, os quais materializaram o
recebimento de mais vantagens indevidas e ainda outras operaes de lavagens de capitais.
195. Com feito, apesar de o apartamento ter sido disponibilizado para LULA e
MARISA LETCIA, em 31/08/2013, apenas a construo pesada havia sido finalizada. Cientes
da disponibilizao do imvel ao casal e da necessidade de lhe conferir acabamento que
atendesse em maior medida aos anseios dos proprietrios, LO PINHEIRO, PAULO
GORDILHO, FBIO YONAMIME e ROBERTO MOREIRA agiram para que no s a
propriedade de fato do triplex continuasse oculta (dissimulando o registro da propriedade,
mantendo-o no nome da incorporadora), como tambm para que reformas e decorao
fossem realizadas e custeadas pela OAS EMPREENDIMENTOS, permitindo que LULA e
MARISA LETCIA recebessem tais vantagens de forma encoberta.
196. Assim, a despeito de ostensivamente a OAS EMPREENDIMENTOS figurar
como proprietria do apartamento 164-A do Condomnio Solaris, diversas provas mostram
que os reais proprietrios da unidade, a partir de data prxima a 08/10/2009, assim como
beneficirios dos valores empregados na reforma e decorao do imvel, foram LULA e
MARISA LETCIA:
(a) somente LULA, MARISA LETCIA, seus familiares e amigos visitaram o imvel,
no havendo notcia de visita de outros eventuais interessados, caso o apartamento
realmente estivesse venda;
414 ANEXO 231.
415 Conforme atestam os documentos obtidos pelo MINISTRIO PBLICO FEDERAL, o empreendimento
Condomnio Solaris foi entregue pela OAS EMPREENDIMENTOS aos condminos em 31/08/2013, uma vez que
nesta data ocorreu a Assembleia Geral Extraordinria de Instalao do Condomnio Solaris (ANEXO 232 Autos n.
50034969020164047000, evento 40, AP_INQPOL3, f. 04-09).
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(b) MARISA LETCIA e seu filho estiveram no apartamento, acompanhados de
executivos da OAS EMPREENDIMENTOS, para acompanhar a fase final das obras de
personalizao do imvel;
(c) as declaraes pblicas de LULA sobre a propriedade do triplex no Guaruj
no guardam pertinncia lgica com o modo como os fatos aconteceram e com a estrutura
negocial construda pela OAS EMPREENDIMENTOS no Condomnio Solaris;
(d) a OAS EMPREENDIMENTOS arcou com elevadas despesas para reformar o
imvel (mais de R$ 750.000,00), realizando a reforma no interesse de LULA e MARISA
LETCIA;
(e) a OAS EMPREENDIMENTOS arcou com elevadas despesas de instalao de
mveis na cozinha e dormitrios do apartamento (cerca de R$ 320.000,00), realizando a
decorao no interesse de LULA e MARISA LETCIA.
197. Apesar de o apartamento 164-A do Condomnio Solaris j estar disponvel
para LULA e MARISA LETCIA desde o final de 2013, consoante depoimentos prestados ao
MINISTRIO PBLICO FEDERAL por FBIO YONAMIME, ROBERTO MOREIRA, IGOR RAMOS
PONTES e MARIUZA APARECIDA MARQUES 416, somente a partir do incio de 2014 foi possvel
executar a parte final de adequao da unidade s necessidades dos beneficirios,
destacando-se, como ponto inicial, uma visita conjunta entre representantes da OAS
EMPREENDIMENTOS e os proprietrios de fato do imvel.
A visita para definir a personalizao do imvel para LULA e MARISA
198. Em fevereiro de 2014, LO PINHEIRO, com poder de gesto dentro do
GRUPO OAS, entrou em contato com FBIO YONAMINE, ento presidente da OAS
EMPREENDIMENTOS, e solicitou que o apartamento 164-A do Condomnio Solaris fosse
preparado (com sua limpeza e retoques na pintura) para a visita de LULA. A visita foi
organizada e realizada ainda naquele ms. No dia da visita, FBIO YONAMINE encontrou
com LO PINHEIRO na casa deste, de onde partiram no mesmo carro para So Bernardo do
Campo/SP, localidade em que encontraram com LULA e MARISA LETCIA. De l, seguiram
todos para o Condomnio Solaris, em Guaruj/SP.
Ao chegar ao prdio, os carros entraram pela garagem, onde o Diretor ROBERTO
MOREIRA e o engenheiro IGOR RAMOS PONTES, integrantes da equipe da OAS
EMPREENDIMENTOS, aguardavam aqueles. Em seguida, todos subiram ao apartamento 164A, onde coube a LO PINHEIRO percorrer todos os cmodos da unidade na companhia de
LULA e MARISA LETCIA. Em seguida, todos desceram e percorreram os espaos comuns do
prdio, como o salo de festas e a rea da piscina. Encerrada esta visita, que durou mais de
uma hora, LO PINHEIRO iniciou o retorno no mesmo carro em que LULA e MARISA
LETCIA. Na metade do caminho, LO PINHEIRO desceu do carro e mudou para o veculo
em que estava FBIO YONAMINE.
O projeto de personalizao do imvel para LULA e MARISA
199. Logo aps essa visita, LO PINHEIRO solicitou a FBIO YONAMINE que
416 Os vdeos das oitivas sero encaminhados mediante ofcio, em mdia eletrnica, para a Secretaria desse Juzo.
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fosse feito um projeto de decorao do apartamento 164-A. Essa demanda foi passada a
ROBERTO MOREIRA, ento Diretor de Incorporao da Regional So Paulo da OAS
EMPREENDIMENTOS. Foi elaborado um projeto de decorao da unidade, incluindo reformas
estruturais, que foi enviado por FBIO YONAMINE a LO PINHEIRO para aprovao.
Conforme depoimentos prestados por ROBERTO MOREIRA e IGOR RAMOS PONTES ao
MPF417, o projeto visava a colocar piso, resolver problemas de infiltrao, modificar a escada,
criar mais um quarto, colocar uma churrasqueira, aumentar o deck da piscina e colocar
armrios, camas e eletrodomsticos (geladeira, microondas e fogo).
Ainda conforme depoimentos prestados por FBIO YONAMINE, ROBERTO
MOREIRA,
RICARDO
MARQUES
IMBASSAHY
(Diretor
Financeiro
da
OAS
418
EMPREENDIMENTOS at maro de 2014) , IGOR RAMOS PONTES e MARIUZA APARECIDA
MARQUES (funcionria da OAS EMPREENDIMENTOS responsvel por administrar o
Condomnio Solaris), tratou-se de um procedimento nico, sem precedentes, da OAS
EMPREENDIMENTOS. O tipo de personalizao feito na unidade (uma cobertura), com a
transformao do projeto em relao ao memorial descritivo e a instalao de mveis
KITCHENS e eletrodomsticos, era absolutamente inusual.
Esse projeto, envolvendo a reforma e decorao do apartamento 164-A, foi de
fato executado. Como a OAS EMPREENDIMENTOS tambm custeou essa personalizao em
benefcio de LUIZ INCIO e MARISA LETCIA, ela ser objeto de anlise adiante, em tpicos
separados. Por ora, cumpre destacar que, aps a visita em fevereiro de 2014, houve a
elaborao do projeto, e sua subsequente execuo.
A visita para verificar a execuo do projeto de personalizao do imvel de LULA e
MARISA
200. Para acompanhar a execuo desse projeto, houve uma segunda visita ao
apartamento 164-A do Condomnio Solaris, em agosto de 2014. Nesta ocasio, estiveram
presentes LO PINHEIRO, ROBERTO MOREIRA, PAULO GORDILHO, IGOR RAMOS PONTES
e MARIUZA APARECIDA MARQUES, todos vinculados OAS EMPREENDIMENTOS,
ARMANDO DAGRE MAGRI e ROSIVANE SOARES CNDIDO da TALLENTO CONSTRUTORA
LTDA [TALLENTO], bem como MARISA LETCIA e seu filho FBIO LUIS LULA DA SILVA.
Conforme depoimento prestado por ROBERTO MOREIRA ao MINISTRIO
PBLICO FEDERAL419, ele recebeu um novo pedido de FBIO YONAMINE para acompanhar a
visita ao apartamento com algum da famlia de LULA, para ver o apartamento na fase final
de acabamento. Acompanhado de PAULO GORDILHO, ROBERTO MOREIRA passou no
aeroporto de Congonhas em So Paulo para pegar LO PINHEIRO e, em seguida, foram em
direo a Guaruj/SP. No caminho, j na estrada, encontraram com outro carro em que
estavam MARISA LETCIA e FBIO LUIS LULA DA SILVA. Chegando ao apartamento,
novamente, coube a LO PINHEIRO mostrar todos os cmodos, j com as obras de
personalizao bem adiantadas, aos familiares de LULA.

417 O vdeo da oitiva ser encaminhado mediante ofcio, em mdia eletrnica, para a Secretaria desse Juzo.
418 O vdeo da oitiva ser encaminhado mediante ofcio, em mdia eletrnica, para a Secretaria desse Juzo.
419 O vdeo da oitiva ser encaminhado mediante ofcio, em mdia eletrnica, para a Secretaria desse Juzo.
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O apartamento nunca foi anunciado para venda ou visitado por qualquer outro
interessado
201. Importante registrar tambm que ROBERTO MOREIRA, Diretor de
Incorporao da Regional So Paulo da OAS EMPREENDIMENTOS, afirmou, ainda, que o
apartamento 164-A do Condomnio Solaris no foi anunciado em jornal, que ele no fez
qualquer outra visita para apresentar o apartamento a um outro eventual interessado, que
no se recordava de algum corretor ter solicitado a chave desse imvel para visitar e que no
recebeu qualquer consulta sobre a venda dessa unidade.
No mesmo sentido, MARIUZA APARECIDA MARQUES disse que apenas ela e a
empresa TALLENTO, que realizou a reforma, tinham as chaves de acesso ao apartamento.
Alm disso, informou que tinha a funo de apresentar o apartamento 164-A a interessados,
mas, no perodo em que trabalhou para a OAS EMPREENDIMENTOS, no o apresentou para
pessoa alguma, no fez anncio e no foi contatada para apresentar o imvel a qualquer
cliente em potencial.
Tambm na mesma direo, JOS AFONSO PINHEIRO, zelador no Condomnio
Solaris, declarou420 que nenhuma outra pessoa, diversa de integrantes da famlia de LULA,
frequenta ou frequentou a unidade 164-A. Relatou, tambm, que, embora no saiba dizer se
essa unidade esteve venda, sabe que essa unidade, diferentemente de outras, nunca foi
visitada por qualquer pessoa acompanhada de corretor ou corretora de imveis.
Ainda conforme ROBERTO MOREIRA, pouco tempo depois da segunda visita,
em novembro de 2014, LO PINHEIRO foi preso, e nada mais aconteceu com o
apartamento, permanecendo fechado desde ento.
202. Fatos posteriores a 2014, denotam, ainda, que o apartamento, de fato,
pertence a LULA e MARISA LETCIA. Em 2016, foram encontradas provas da ligao de
LULA com o triplex 164-A do Condomnio Solaris. Em 04/03/2016, no cumprimento de
mandado de busca e apreenso durante a 24 fase da Operao Lava Jato, no endereo
para onde foi levada parte do acervo pessoal de LULA (Rua Joo Lotto, n 16, So Bernardo
do Campo/SP), foi identificada grande quantidade de material acondicionado em caixas.
Nelas, alm de inscries indicando terem sido retiradas do Palcio do Alvorada (alguns com
a indicao inclusive de Presidncia da Repblica), havia a indicao PRAIA e STIO, as
quais, no contexto ora narrado, permitem concluir pelo destino, no interesse do exPresidente da Repblica, para o triplex no Guaruj/SP e para o stio em Atibaia/SP 421:

420 ANEXO 233.


421 ANEXO 234.
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Da propina paga e ocultada mediante a aquisio da cobertura triplex 164-A


203. Em 2009, no momento da transferncia do empreendimento Residencial Mar
Cantbrico pela BANCOOP, esta entregou OAS EMPREENDIMENTOS todos os recursos
disponveis na conta bancria da Seccional422. Ou seja, as prestaes que LULA e MARISA
LETCIA haviam pago referida Seccional at 15/09/2009 foram transferidos para a OAS
EMPREENDIMENTOS. Assim, considerando que as propinas pagas a LULA, as quais eram
fruto de crimes de cartel, corrupo e fraude licitao, saram do caixa da OAS
EMPREENDIMENTOS, na aferio do montante de recursos escusos recebidos, por meio da
aquisio do apartamento triplex, deve ser deduzido aquele valor que havia sido pago e se
encontrava nos cofres da incorporadora.
Depreende-se da planilha anexa 423, apreendida na sede da BANCOOP por ocasio
do cumprimento da 22 Fase da Operao Lava Jato, que as coberturas 171 e 172, contguas
cobertura 174 dada pela OAS a LULA e MARISA LETCIA, valiam, no ms de abril de 2009,

422 ANEXO 235.


423 ANEXO 236.
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R$ 922.603,26 e R$ 929.956,28, respectivamente. Tomando por base a mdia desses valores
(R$ 926.279,76) e o atualizando para julho de 2016, chega-se a R$ 1.487.302,86424.
Considerando que a cobertura triplex 174 do Edifcio Nvia foi dada pela OAS a
LULA e MARISA LETCIA, por volta de 08/10/2009, como um upgrade unidade 141-A
por eles parcialmente paga at ento, para se chegar ao valor lavado necessrio deduzir do
montante total do tripex o valor atualizado que j havia sido destinado por LULA e MARISA
LETCIA BANCOOP. Nisso, constata-se que as transferncias de valores por LULA e
MARISA LETCIA BANCOOP iniciaram em 02/05/2005, cessaram em 15/09/2009, e
totalizaram o montante de R$ 209.119,73. Esse valor, atualizado at julho de 2016,
corresponde a R$ 339.531,90425.
Assim, deduzindo R$ 339.531,90 de R$ 1.487.302,86, apura-se que a vantagem
indevida recebida por LULA e MARISA LETCIA, pela aquisio do apartamento 164-A do
Condomnio Solaris pela OAS, chega a R$ 1.147.770,96.
3.2.2. DA CORRUPO E DA LAVAGEM DE DINHEIRO POR INTERMDIO DO CUSTEIO
DE OBRAS DE PERSONALIZAO DA COBERTURA TRIPLEX DO CONDOMNIO
SOLARIS
204. Assim como ocorrido em relao aquisio do apartamento 164-A do
Condomnio Solaris, localizado na Av. Gal. Monteiro de Barros, n 638, em Guaruj/SP, LULA,
MARISA LETCIA, LO PINHEIRO, PAULO GORDILHO, FBIO YONAMIME e ROBERTO
MOREIRA, de modo consciente e voluntrio, no contexto das atividades da organizao
criminosa acima exposta, em concurso e unidade de desgnios, no perodo compreendido
entre fevereiro de 2014 e a presente data, dissimularam e ocultaram a origem, a
movimentao, a disposio e a propriedade de R$ 926.228,82, provenientes dos crimes de
cartel, fraude a licitao e corrupo praticados pelos executivos da CONSTRUTORA OAS em
detrimento da Administrao Pblica Federal, notadamente da PETROBRAS, conforme
descrito nessa pea, por meio transferncia desses valores, entre 08/07/2014 e 18/11/2014,
da OAS EMPREENDIMENTOS TALLENTO CONSTRUTORA LTDA. [TALLENTO], para fazer
frente s reformas estruturais e de acabamento realizadas no imvel para adequ-lo aos
desejos da famlia do ex-Presidente da Repblica, assim como por meio da colocao dos
ativos em nome de um titular nominal, a OAS, quando na verdade pertenciam a LULA e
MARISA LETCIA. Tal valor R$ 926.228,82 foi objeto de solicitao e foi recebido de LO
PINHEIRO, constituindo-se de vantagem indevida, recebida por LULA em razo do cargo de
Presidente da Repblica.
205. Em fevereiro de 2014, aps LULA e MARISA LETCIA visitarem o
apartamento 164-A do Condomnio Solaris na companhia de LO PINHEIRO, esse
determinou a FBIO YONAMINE que fosse feito um projeto de decorao da unidade. Essa
demanda foi passada a ROBERTO MOREIRA, que, aps a aprovao por FBIO YONAMINE
e LO PINHEIRO, colocou em execuo o projeto, que compreendia uma reforma estrutural
(descrita nessa seo) e tambm a compra de mveis e eletrodomsticos (descrita na
prxima seo).

424 Valor atualizado utilizando como ndice de correo o IGP-M (FGV) ANEXO 237.
425 Valor atualizado utilizando como ndice de correo o IGP-M (FGV) ANEXO 238.
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206. Para a realizao da reforma estrutural e acabamentos, ROBERTO MOREIRA
recebeu, como indicao de seu subordinado IGOR RAMOS PONTES, a empresa TALLENTO,
que j prestava servio para a incorporadora na montagem de stands de venda e
apartamentos decorados.
207. Ouvido pelo MINISTRIO PBLICO FEDERAL426, ARMANDO DAGRE MAGRI
[ARMANDO], scio da TALLENTO, informou que: (a) a OAS EMPREENDIMENTOS, por meio de
IGOR RAMOS PONTES, procurou a TALLENTO em maro/abril de 2014 para prestar servios
de engenharia no apartamento 164-A do Condomnio Solaris; (b) a TALLENTO recebeu da
OAS EMPREENDIMENTOS um projeto de obras no apartamento, que consistiam em uma
personalizao do imvel; (c) as obras incluam mudana de layout, execuo de paredes,
troca de impermeabilizao, pintura, troca de acabamento, refazimento de piscina, troca de
escadas e colocao de elevador privativo; (d) a TALLENTO, at ento, nunca tinha prestado
esse tipo de servio para a OAS EMPREENDIMENTOS; (e) o valor global da contratao girou
em torno de R$ 770.000,00; (f) por volta do incio de setembro de 2014, compareceu ao
apartamento 164-A, pois havia sido marcada uma reunio por ROBERTO MOREIRA e por
IGOR RAMOS PONTES, para dar uma checada geral (discutir o cronograma e a finalizao
das obras, e verificar o andamento destas), pois estava j no final das obras, faltando finalizar
a montagem do elevador privativo. Nesta ocasio, compareceram tambm LO PINHEIRO,
ROBERTO MOREIRA, PAULO GORDILHO, IGOR RAMOS PONTES e MARIUZA APARECIDA
MARQUES, todos vinculados OAS EMPREENDIMENTOS, ROSIVANE SOARES CNDIDO da
TALLENTO, e MARISA LETCIA e FBIO LUIS LULA DA SILVA; (g) durante a visita, PAULO
GORDILHO parecia no comando tcnico da obra; (h) a reforma aconteceu entre abril e
setembro de 2014.
208. Ouvido pelo MINISTRIO PBLICO FEDERAL 427, HERNANI MORA VARELLA
GUIMARES JUNIOR, scio da TALLENTO, informou que: (a) recorda-se que a TALLENTO foi
contratada pela OAS EMPREENDIMENTOS; (b) sobre a obra prestada no triplex do
Condomnio Solaris, recorda-se que os servios envolviam reconfigurao do deck da piscina,
reforma do piso e instalao de um elevador privativo; (c) recorda-se que ARMANDO, em
visita ao apartamento, encontrou a ex-primeira dama, MARISA LETCIA e LO PINHEIRO;
(d) tratou-se de uma reforma personalizada, j que modificou o projeto original do imvel.
209. Ouvido pelo MINISTRIO PBLICO FEDERAL428, CARLOS AUGUSTO CURIATI
BUENO, scio da TALLENTO, informou que: (a) tem conhecimento da obra prestada em
apartamento no Condomnio Solaris, em Guaruj/SP para a empresa OAS
EMPREENDIMENTOS; (b) o responsvel pela obra dentro da TALLENTO foi ARMANDO; (c)
recorda-se de ARMANDO ter dito que em uma reunio no apartamento, no final da obra,
encontrou a ex-primeira dama MARISA LETCIA, seu filho e LO PINHEIRO; (d) acredita ter
sido uma obra personalizada.
210. Na mesma direo, ROSIVANE SOARES CNDIDO, ex-funcionria da
TALLENTO, confirmou que presenciou o incio de uma reunio, ocorrida por volta de agosto
426 O vdeo da oitiva ser encaminhado mediante ofcio, em mdia eletrnica, para a Secretaria desse Juzo.
427 O vdeo da oitiva ser encaminhado mediante ofcio, em mdia eletrnica, para a Secretaria desse Juzo.
428 ANEXO 239.
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de 2014, no apartamento 164-A do Condomnio Solaris, em que estiverem presentes
executivos da OAS EMPREENDIMENTOS, MARISA LETCIA, um filho dela e ARMANDO, para
apresentar as modificaes executadas e em execuo do apartamento 429.
211. Ouvidos pelo MINISTRIO PBLICO FEDERAL430, ALBERTO RATOLA DE
AZEVEDO e SRGIO ANTNIO DOS SANTOS SANTIAGO confirmaram que foram contratados
pela empresa TALLENTO para desenvolver projetos no triplex 164-A do Condomnio Solaris,
reforando as narrativas dos prepostos da TALLENTO.
212. Os scios da TALLENTO apresentaram, ainda, diversos documentos
comprovando a prestao do servio431: (a) Notas Fiscais n 00000423, 00000448 e 00000508,
respectivamente nos valores de R$ 400.000,00, R$ 54.000,00 e R$ 323.189,13, emitidas
entre 08/07/2014 e 18/11/2014, em face da OAS EMPREENDIMENTOS para a execuo de
servios de construo civil no apartamento 164-A do Condomnio Solaris, bem como os
comprovantes dos pagamentos; (b) Nota Fiscal n 000.0008.545, emitida em 16/09/2014 pela
empresa GMV LATINO AMERICA ELEVADORES LTDA., em face da TALLENTO, pela compra de
elevador, bem assim Nota Fiscal n 00000103, emitida em 20/10/2014, pela empresa TNG
ELEVADORES LTDA., em face da TALLENTO, para instalao e montagem de elevador, alm
dos respectivos comprovantes de pagamento; (c) propostas de material e mo de obra feitas
pela TALLENTO e encaminhadas OAS EMPREENDIMENTOS; (d) contrato e aditivo
celebrados entre TALLENTO e OAS EMPREENDIMENTOS para prestao dos servios,
assinados por ROBERTO MOREIRA.
213. Comprovando ainda a prestao de servios pela TALLENTO (e seus
subcontratados), o MINISTRIO PBLICO FEDERAL localizou trs Anotaes de
Responsabilidade Tcnica (ARTs) de Obra ou Servio no apartamento 164-A do Condomnio
Solaris no nome da OAS EMPREENDIMENTOS432. Elas indicam a realizao de extensa e
personalizada reforma.
214. De acordo com os documentos fornecidos pela TALLENTO, foram executadas
obras que incluram, dentre outros servios, os seguintes: (i) demolio; (ii) fornecimento e
instalao de escada de acesso cobertura; (iii) execuo de paredes em dry wall; (iv)
fornecimento e instalao de novo deck para piscina; (v) revestimento para escadas em
Limestone; (vi) fornecimento e instalao de soleira para terrao; (vii) execuo de cobertura
em estrutura metlica; (viii) execuo de adequaes hidrulicas para a piscina; (ix) instalao,
sem fornecimento de cubas de inox e torneiras para cozinha; (x) retirada e reinstalao de
bacia sanitria e chuveiro do banheiro de servio; (xi) instalao sem fornecimento de
chuveiro para cobertura; (xii) fornecimento e instalao de bancada em L em granito para a
cozinha; (xiii) fornecimento e instalao de balco em granito para a cozinha; (xiv)
429 ANEXO 240.
430 O vdeo da oitiva ser encaminhado mediante ofcio, em mdia eletrnica, para a Secretaria desse Juzo.
431 ANEXO 241.
432 As trs ARTs de Obra ou Servio so: (a) n 92221220141272463, no valor de R$ 4.000,00, para realizao de
projeto de estrutura metlica de reforo para suporte de 4tf na viga V1 (ANEXO 242); (b) n 92221220140922791,
no valor de R$ 687.000,00, para execuo de reforma de 229,49 m2 (ANEXO 243); (c) n 92221220141280564,
para fornecimento e instalao de um elevador de acesso exclusivo, privativo e unifamilar, fabricante GMV,
Modelo HLPLUS, 03 paradas com percurso de 7 metros, acesso unilateral e pintado (ANEXO 244).
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reinstalao de bancada de churrasqueira; (xv) adequaes eltricas; (xvi) fornecimento e
instalao de forro de gesso acartonado com tabica metlica branca para dormitrio extra e
para nova cobertura da churrasqueira; (xvii) fornecimento e colocao de filme nos vidros
fixos do dormitrio extra; (xviii) pintura; (xix) fornecimento e instalao de churrasqueira em
tijolinho para cobertura; (xx) elevador; (xxi) limpeza final da obra; (xxii) impermeabilizao.
Alm desses servios, com carter de personalizao do imvel, outros itens,
relacionados aos cmodos do apartamento, revelam com ainda mais intensidade a
pessoalizao que se buscou com as obras prestadas pela TALLENTO:

1. COZINHA
1. Retirada de azulejo existente
2. Fornecimento e instalao de revestimento Eliane (24 x 40) cm
3. Fornecimento e instalao de bancada em granito Arabesco conforme projeto
4. Fornecimento e instalao de cuba dupla em ao inox Tramontina
5. Fornecimento e instalao de torneira Docol Trio de mesa
6. Fornecimento e instalao de balco em granito Arabesco conforme projeto
7. Realocao de pontos eltricos
8. Execuo de base em alvenaria para elevao de mveis
9. Realocao de pontos de gua fria
10. Fornecimento e instalao de caixilho para fechamento externo de rea de servio
2. SALA DE ESTAR
1. Execuo de nova escada de acesso ao mezanino
2. Execuo de revestimento em Limestone Mont Dor para escadas
3. Fornecimento e instalao de piso em Limestone Mont Dor para o elevador
3. DORMITRIO 01
1. Demolio de alvenaria
2. Fechamento de vos em alvenaria
3. masseamento de paredes de alvenaria
4. Retirada e instalao de portabilidade
4. WC SUPERIOR
1. Retirada de portas
2. Demolio de alvenaria
3. Fornecimento e instalao de revestimento Eliane (24 x 40) cm
4. Instalao e fornecimento de piso cermico Element
5. Execuo de contrapiso
5. SAUNA
1. Retirada de portas
2. Retirada de kit sauna
3. Adequao hidrulica para execuo de sauna
4. Fornecimento e instalao de azulejo cermico
5. Fornecimento e instalao de piso cermico
6. Fornecimento e instalao de acabamento para registros

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7. Fornecimento e instalao de porta de alumnio
6. TERRAO
1. Alterao de kit churrasqueira de pr-moldada para ao inox
2. Fornecimento e instalao de bancada em granito Arabesco conforme projeto
3. Fornecimento e instalao de cuba em ao Inox Maxi Tramontina
4. Fornecimento e instalao de torneira Docol Trio de mesa
5. Retirada de caixilho da sala ntima
6. Fornecimento e instalao de porta de alumnio na medida (0.80 x 2,10)m com vidro
7. Fornecimento e instalao de pastilha Arquiteto Portobello (0,10 x 0,10),
8. Fornecimento e instalao de acabamento para registros
9. Fornecimento de chuveiro
7. PISCINA
1. Troca de pea danificada da bomba
2. Manuteno da piscina depois de pronta
3. Kit limpeza piscina
4. Fornecimento e instalao de infraestrutura e cabeamento para atender novos pontos de
iluminao
5. Fornecimento e instalao de luminria tartaruga
6. Fornecimento e instalao de portinhola em alumnio para baixo do deck
8. .SALA NTIMA
1. Aumento da sala ntima at o elevador
9. ADICIONAIS
1. Execuo de parede dry wall
2. Fornecimento e instalao de forro de gesso acartonado
3. Pintura
1. Paredes internas, masseamento nas paredes novas, forro: ltex Pva com
masseamento.
4. Soleiras e Baguetes com Granito Arabesco
5. Execuo de contra-piso para depsitos
6. Baguetes e soleiras
7. Aplicao de zarco nas peas do elevador
8. Retirada e fornecimento e instalao de torneira para tanque
9. Retirada e fornecimento e instalao de torneira para lavatrio do dorm. extra
10. Hidrulica
1.
Alterao de pontos hidrulicos dos pavimentos intermedirio e superior para instalao
de elevador e adequao do WC superior.

215. O projeto, portanto, desde o incio j contemplava a escolha de marcas de


materiais, a colocao de granito, a realocao de pontos eltricos, a execuo de base em
alvenaria para elevao de mveis, novos pontos de iluminao, dentre outros itens de
personalizao do ambiente, estranhos ao memorial descritivo do imvel. Assim, dado esse
carter pessoalizado e fora do ordinrio que a OAS EMPREENDIMENTOS conferiu ao
apartamento 164-A do Condomnio Solaris, indubitavelmente eram tais mudanas
direcionadas aos reais proprietrios do imvel: LULA e MARISA LETCIA.
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216. Em nota publicada em 30/01/2016, o INSTITUTO LULA, apesar de reconhecer
as visitas de LULA e MARISA LETCIA ao apartamento 164-A do Condomnio Solaris, aduziu
que, as reformas e modificaes no imvel naturalmente seriam incorporadas ao valor final
da compra. De fato, a construtora, at porque seu objetivo social a obteno de lucro, no
faria um investimento de quase R$ 1.000.000,00 em reformas e decorao em um
apartamento que seria vendido a terceiro, conferindo toques de personalizao, sem a
certeza de que o pretenso comprador pagaria de fato pela unidade. No entanto, no foi
apresentado qualquer documento formal que registrasse o acerto final entre as partes,
contemplando as diversas reformas e melhorias introduzidas. Alm disso, no h qualquer
evidncia que ateste que a OAS EMPREENDIMENTOS, ao fazer o elevado aporte de recursos
para custear a reforma e decorao para um suposto potencial cliente, tenha feito isso de
modo vinculado, isto , com documentos que amparassem a aceitao das reformas ou o
compromisso de ressarcimento pelo potencial cliente. Isso tudo confirma que a OAS no
estava preparando o imvel para venda a terceiro, mas sim investindo, em reforma de
apartamento que era de propriedade de LULA e MARISA, recursos que jamais seriam
ressarcidos. Tal ressarcimento jamais ocorreria justamente porque a empreiteira estava, na
verdade, destinando recursos para LULA e MARISA, que eram fruto de crimes prvios e
eram devidos para LULA a ttulo de propina decorrente das obras com o Governo,
notadamente na PETROBRAS.
217. Nesse mbito de declaraes prestadas, importante consignar, ainda, o
quanto informado por LULA no dia 04/03/2016433. Apesar de fazer remisso ao documento
entregue no momento da oitiva (que reproduzia a sobredita nota publicada pelo INSTITUTO
LULA em 30/01/2016), impende colacionar o seguinte trecho do depoimento:
Delegado da Polcia Federal: Qual era a inteno da segunda visita?
Declarante: Quando eu fui a primeira vez, eu disse ao Lo que o prdio era inadequado porque
alm de ser pequeno, um triplex de 215 metros um triplex Minha Casa, Minha Vida, era pequeno.
Delegado da Polcia Federal: Isso bom ou ruim?
Declarante: Hein?
Delegado da Polcia Federal: Isso bom ou ruim?
Declarante: Era muito pequeno, os quartos, era a escada muito, muito Eu falei Lo,
inadequado, para um velho como eu, inadequado. O Lo falou Eu vou tentar pensar um projeto
pra c. Quando a Marisa voltou l no tinha sido feito nada ainda. A eu falei pra Marisa:
Olhe, vou tomar a deciso de no fazer, eu no quero Uma das razes porque eu cheguei
concluso que seria intil pra mim um apartamento na praia, eu s poderia frequentar a
praia dia de finados, se tivesse chovendo. Ento eu tomei a deciso de no ficar com o
apartamento. (destacamos)

Contudo, a declarao acima no se coaduna com os fatos e provas colhidas por


duas razes. Primeiro, de acordo com os vrios depoimentos colhidos pelo MINISTRIO
PBLICO FEDERAL, a segunda visita ao apartamento ocorreu quando as obras de
personalizao estavam bem avanadas, de modo que no corresponde realidade a
assertiva de que no tinha sido feito nada ainda. Alm disso, considerando que a visita
referida ocorreu em agosto de 2014, que depois desta o imvel continuou fora das vendas
da OAS EMPREENDIMENTOS e que as reformas, as quais visavam a atender aos interesses de
LULA e MARISA LETCIA, continuaram normalmente at pelo menos o final do ano de 2014
(o elevador feito a pedido do casal foi instalado, por exemplo, em outubro de 2014), no
parece que a deciso de no ficar com o apartamento tenha sido de fato concretizada.
433 ANEXO 75.
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Valor recebido indevidamente de LO PINHEIRO e lavado mediante a reforma da
cobertura triplex 164-A do Condomnio Solaris
218. Conforme documentos apresentados pelos scios da TALLENTO, para a
execuo das obras de personalizao do apartamento 164-A do Condomnio Solaris, a OAS
EMPREENDIMENTOS arcou com os valores descritos nas Notas Fiscais n 00000423,
00000448 e 00000508, respectivamente, R$ 400.000,00, R$ 54.000,00 e R$ 323.189,13. No
s as reformas foram usadas para transferir recursos de origem criminosa, mas tambm para
que o dinheiro que passou a pertencer de fato a LULA e MARISA LETCIA permanecesse
oculto sob o manto de uma propriedade meramente nominal, em nome da OAS.
Essas quantias perfaziam o total de R$ 777.189,13 em novembro de 2014, ms
do ltimo pagamento recebido pela TALLENTO. Atualizando esse valor para julho de 2016,
chega-se ao montante de R$ 926.228,82434, que corresponde ao valor das vantagens
indevidas recebidas por LULA e MARISA LETCIA, uma vez que destinatrios das obras de
personalizao do apartamento 164-A do Condomnio Solaris.
3.2.3. DA CORRUPO E DA LAVAGEM DE DINHEIRO POR INTERMDIO DO CUSTEIO
DA DECORAO DA COBERTURA TRIPLEX DO CONDOMNIO SOLARIS
219. Assim como ocorrido em relao aquisio do apartamento 164-A do
Condomnio Solaris, localizado na Av. Gal. Monteiro de Barros, n 638, em Guaruj/SP, e ao
custeio das obras para sua reforma, LULA, MARISA LETCIA, LO PINHEIRO, PAULO
GORDILHO, FBIO YONAMIME e ROBERTO MOREIRA, de modo consciente e voluntrio,
no contexto das atividades da organizao criminosa acima exposta, em concurso e unidade
de desgnios, no perodo compreendido entre fevereiro de 2014 e a presente data,
dissimularam e ocultaram a origem, a movimentao, a disposio e a propriedade de R$
350.991,05, provenientes dos crimes de cartel, fraude a licitao e corrupo praticados
pelos executivos da CONSTRUTORA OAS em detrimento da Administrao Pblica Federal,
notadamente da PETROBRAS, conforme descrito nesta pea, por meio transferncia desses
valores, entre 26/09/2014 e 11/11/2014, da OAS EMPREENDIMENTOS KITCHENS COZINHAS
E DECORACOES LTDA. [KITCHENS] e FAST SHOP S.A., para custear a aquisio de mveis de
decorao e de eletrodomsticos para o referido apartamento, assim como por meio da
colocao dos ativos em nome de um titular nominal, a OAS, quando na verdade pertenciam
a LULA e MARISA LETCIA. Tal valor R$ 350.991,05 foi objeto de solicitao a LO
PINHEIRO, constituindo-se de vantagem indevida, recebida por LULA em razo do cargo de
Presidente da Repblica.
220. Em fevereiro de 2014, aps LULA e MARISA LETCIA visitarem o
apartamento 164-A do Condomnio Solaris na companhia de LO PINHEIRO, esse
determinou a FBIO YONAMINE que fosse feito um projeto de decorao da unidade. Essa
demanda foi passada a ROBERTO MOREIRA, que, aps a aprovao do projeto por FBIO
YONAMINE a LO PINHEIRO, colocou em execuo a proposta. Esta, como acima indicado,
englobava uma reforma estrutural e tambm a compra de mveis e eletrodomsticos.

434 Valor atualizado utilizando como ndice de correo o IGP-M (FGV) ANEXO 245.
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221. Como descrito na seo anterior, as obras de personalizao (reforma
estrutural e de acabamento) do apartamento 164-A do Condomnio Solaris foram finalizadas
pela TALLENTO por volta de agosto de 2014. Dando continuidade ao processo de adequao
do imvel s necessidades de LULA e MARISA LETCIA, a OAS EMPREENDIMENTOS, por
meio do Diretor ROBERTO MOREIRA e com a aquiescncia de LO PINHEIRO e FBIO
YONAMINE, que aprovaram o projeto inicial, realizou a compra de mveis e
eletrodomsticos para o triplex.
222. No final de agosto de 2014, valendo-se dos contatos que foram feitos
anteriormente para a compra de mveis para cozinha para um stio em Atibaia/SP, que
tambm est ligado a LULA e MARISA LETCIA (o que ainda objeto de apurao),
ROBERTO MOREIRA determinou que sua subordinada, JSSICA MALZONE, entrasse em
contato com a empresa KITCHENS para executar o projeto de decorao do apartamento.
Dessa forma, JSSICA MALZONE entrou em contato com o funcionrio da KITCHENS,
RODRIGO GARCIA DA SILVA para orar a compra.
223. O oramento deu origem ao Pedido 214.299 da KITCHENS, gerado em
01/09/2014 e assinado em 03/09/2014 por ROBERTO MOREIRA. O montante total da
compra era R$ 320.000,00435. O projeto inclua armrios e eletrodomsticos para os
seguintes espaos do apartamento 164-A do Condomnio Solaris: (i) cozinha; (ii)
churrasqueira; (iii) rea de servio; (iv) banheiros; (v) quartos. Os desenhos dos projetos foram
finalizados entre 29/08/2014 e 04/09/2014 436, sendo aprovados, em seguida, por ROBERTO
MOREIRA.
224. O contrato foi celebrado entre a KITCHENS e a OAS EMPREENDIMENTOS,
sendo que foram realizados dois depsitos bancrios para pagamento parcial da contratao:
R$ 78.800,00, em 26/09/2014, e R$ 208.200,00, em 11/11/2014437. Apesar de os bens terem
sido entregues e montados no apartamento 164-A do Condomnio Solaris, no houve o
pagamento integral do pedido, de forma que a KITCHENS promoveu, em 08/07/2015, a sua
habilitao de crdito em face da OAS EMPREENDIMENTOS nos autos da sua recuperao
judicial (autos n 1030812-77.2015.8.26.01000, 1 Vara de Falncias e Recuperaes Judiciais
da Comarca da Capital do Estado de So Paulo)438.
225. Toda a narrativa corroborada por oitivas de testemunhas e documentos
colhidos pelo MINISTRIO PBLICO FEDERAL.
226. Ouvido pelo MINISTRIO PBLICO FEDERAL 439, RODRIGO GARCIA DA SILVA,
vendedor da KITCHENS na poca dos fatos, declarou que: (i) manteve contato com prepostos
da OAS EMPREENDIMENTOS para realizar a venda de mveis pela KITCHENS; (ii) os bens
foram de fato entregues no apartamento 164-A do Condomnio Solaris; e (iii) o projeto do
triplex foi personalizado.
435 ANEXO 246 (IC n. 1.25.000.0033502015-90/PR).
436 ANEXO 247 (IC n. 1.25.000.0033502015-90/PR).
437 ANEXO 248 (IC n. 1.25.000.0033502015-90/PR).
438 ANEXO 249 (IC n. 1.25.000.0033502015-90/PR).
439 O vdeo da oitiva ser encaminhado mediante ofcio, em mdia eletrnica, para a Secretaria desse Juzo.
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227. Ouvido pelo MINISTRIO PBLICO FEDERAL440, MRIO DA SILVA AMARO
JUNIOR, gerente da KITCHENS, informou que: (a) tem conhecimento sobre a venda de
mveis para um apartamento no Guaruj/SP e para um stio em Atibaia/SP; e (b) o projeto
para o apartamento no Guaruj/SP custou R$ 320.000,00 e envolvia o mobilirio de quartos,
banheiros e cozinha.
228. Ouvida pelo MINISTRIO PBLICO FEDERAL 441, ELAINE VITORELLI ABIB,
funcionria da KITCHENS (responsvel pelo caixa), informou que: (a) sobre a venda para o
triplex de Guaruj, recorda-se que o pedido total foi de R$ 320.000,00; e (b) em relao a
essa venda, houve duas transferncias bancrias feitas pela OAS EMPREENDIMENTOS para a
KITCHENS, tendo sido pagos inicialmente R$ 78.800,00, em setembro de 2014, e mais tarde
R$ 208.200,00, em novembro de 2014.
229. Os representantes da KITCHENS apresentaram ainda diversos documentos
comprovando a prestao de servios: (a) Pedido n 214.299, de 01/09/2014, do cliente OAS
EMPREENDIMENTOS, com a descrio dos servios a serem prestados no apartamento 164-A
do Condomnio Solaris e respectivo projeto, bem como comprovantes de pagamento; (b)
Notas Fiscais emitidas pela KITCHENS em face da OAS EMPREENDIMENTOS em funo dos
servios contratados para o apartamento 164-A do Condomnio Solaris; e (c) cpias do
processo n 1030812-77.2015.8.26.01000, em que a KITCHENS apresentou requerimento de
habilitao de crdito em face da OAS EMPREENDIMENTOS, dado que esta empresa estava
em recuperao judicial e no havia adimplido todo o valor do contrato 442.
230. Relevante pontuar que Diretores da OAS EMPREENDIMENTOS ouvidos pelo
MINISTRIO PBLICO FEDERAL, RICARDO MARQUES IMBASSAHY, CARMINE DE SIEVI NETO,
ROBERTO MOREIRA e FABIO YONAMINE443 relataram que: (a) a OAS EMPREENDIMENTOS
no comercializava imveis com armrios de cozinha e dormitrios personalizados,
tampouco eletrodomsticos; (b) a OAS EMPREENDIMENTOS, em 2014, no fazia a
personalizao de apartamento para clientes; (c) que servios de adaptao de plantas de
imveis foram feitos durante o ano de 2013444, prtica comercial abortada pela empresa, e
que consistiam apenas em simples servios de opo de layout, tais como aumento de rea
de sala com supresso de quarto; (d) que tais servios de adaptao de plantas somente
eram feitos aps a aquisio das unidades habitacionais por clientes, e no para que estes a
comprassem; (e) que tais servios de adaptao de plantas no abrangiam reformas
profundas e personalizadas, com troca de local de escadas e instalao de elevadores
privativos, tampouco instalao de armrios e eletrodomsticos. Todos esses servios de
personalizao de imvel, absolutamente incomuns no escopo negocial da OAS
EMPREENDIMENTOS, foram realizados no triplex 164-A do Condomnio Solaris.
440 O vdeo da oitiva ser encaminhado mediante ofcio, em mdia eletrnica, para a Secretaria desse Juzo.
441 ANEXO 250.
442 ANEXO 251.
443 O vdeo da oitiva ser encaminhado mediante ofcio, em mdia eletrnica, para a Secretaria deste Juzo.
444 O diretor CARMINE DE SIERVI NETO apresentou apenas uma exceo a esse fato referente a
empreendimentos no Distrito Federal tendo em conta a peculiaridade do mercado local, prtica comercial que
no era mais adotada em 2014. Os depoimentos foram colhidos no interesse do Procedimento Investigatrio
Criminal n 1.25.000.003350/2015-98, e os vdeos com as oitivas sero encaminhados mediante ofcio, em mdia
eletrnica, para a Secretaria deste Juzo.
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231. Nesse contexto, repise-se que, conforme acima transcrito, MARIUZA
MARQUES, engenheira encarregada da manuteno e comercializao de unidades do
Condomnio Solaris e de outros empreendimentos da OAS EMPREENDIMENTOS, foi enftica
em informar que445: (a) no houve, em nenhuma outra unidade, reformas estruturais e
instalaes de moblia e eletrodomsticos, tal como realizado no triplex 164-A do
Condomnio Solaris; e (b) no foram realizadas visitas de outros corretores e interessados na
aquisio da unidade habitacional.
232. Evidncia que corrobora todas as informaes colhidas na investigao o
dilogo, por mensagens de texto, entre LO PINHEIRO e PAULO GORDILHO, Diretor da OAS
EMPREENDIMENTOS, extrado do celular daquele 446. No referido dilogo, ocorrido em
12/02/2014, os interlocutores discutem sobre os projetos de reforma do apartamento triplex
164-A do Condomnio Solaris e do Stio de Atibaia, atribuindo-os ao chefe:

233. Ainda, em 26/02/2014, PAULO GORDILHO informa a LO PINHEIRO que a


visita supramencionada fora bem-sucedida447:

445 ANEXO 252.


446 O celular de LO PINHEIRO foi apreendido pela Polcia Federal na 7 fase da Operao Lava Jato, em
cumprimento a ordem deste Juzo Relatrio de Anlise de Polcia Judiciria n 32, juntado aos autos n 500597811.2016.4.04.7000 ANEXO 178.
447 Relatrio de Anlise de Polcia Judiciria n 32, juntado aos autos n 5005978-11.2016.4.04.7000 ANEXO
178.
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234. Dias depois, em 10/03/2014, LO PINHEIRO recebeu mensagem de


interlocutor no identificado, em que informado de que FERNANDO BITTAR comunicou a
aprovao, pela Dama, isto , MARISA LETCIA, dos projetos tanto do Guaruj quanto do
stio. No fim da mensagem, h informao acerca dos valores cobrados pela KITCHENS:

235. Impende observar que FERNANDO BITTAR o proprietrio formal do stio


Santa Brbara, em Atibaia/SP. Considerando que FERNANDO BITTAR no possui qualquer
relao com o apartamento 164-A do Condomnio Solaris, no haveria menor razo em ser
ele o responsvel por aprovar os projetos junto a MARISA LETCIA, a no ser que, conforme
apurao em curso, aja como interposta pessoa para ocultar benefcios patrimoniais
recebidos por LULA e sua esposa.
236. Destacam-se, ainda, mensagens trocadas, em 21/08/2014, entre LO
PINHEIRO e PAULO OKAMOTTO, Diretor do INSTITUTO LULA e pessoa muito prxima de
LULA:

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237. No mesmo sentido, colocam-se mensagens trocadas na mesma data entre


LO PINHEIRO e MARCELO RAMALHO, funcionrio do GRUPO OAS:

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238. As mensagens acima tratam acerca de encontro marcado naquela data entre,
ao menos, LO PINHEIRO, PAULO GORDILHO e pessoa referida como Esposa do Amigo.
Os responsveis pelo contato com o Amigo e a Esposa so a secretria de nome
CLAUDIA e o filho chamado FBIO. Atravs dos das provas colhidas, a autoridade policial
informou se tratar de CLUDIA TROIANO, funcionria do INSTITUTO LULA, e FBIO LULA DA
SILVA, filho de LULA e MARISA LETCIA. A vinculao do filho do ex-Presidente da Repblica
ao telefone indicado por MARCOS RAMALHO como sendo de propriedade do Dr. Fbio
feita pelo fato de que, quando tal nmero salvo em qualquer aparelho telefnico e
selecionado no aplicativo WhatsApp, aparece como imagem do contato uma foto de FBIO
LULA DA SILVA, conforme informado no Relatrio de Anlise de Polcia Judiciria n 32 448-449.
Em adio, em resposta a ofcio encaminhado por esta Fora-Tarefa, a operadora
Oi S.A. informou que referido terminal telefnico encontra-se cadastrado, desde a data de
13/07/2013, em nome da empresa GAMECORP S.A450, de propriedade de FBIO LULA DA
SILVA451.
239. Alm de todos esses elementos, conforme indicado no relatrio da
autoridade policial nos autos n 5035204-61.2016.4.04.7000, LO PINHEIRO e PAULO
GORDILHO trocaram mensagens sobre a criao de centro de custos dissimulado
(denominado zeca pagodinho) para arcar com as despesas referentes s despesas que a
OAS arcou com o triplex no Guaruj e com o stio em Atibaia/SP.
240. Por fim, em informao prestada ao MINISTRIO PBLICO FEDERAL, a FAST
SHOP S.A. aduziu e apresentou documentos comprobatrios, como notas fiscais, indicando
que: (a) em 03/11/2014, a OAS EMPREENDIMENTOS, a pedido de JSSICA (provavelmente
JSSICA MALZONE, funcionria da empresa), realizou a compra de um fogo (marca
BRASTEMP), um forno micro-ondas (marca BRASTEMP) e uma geladeira side by side marca
(marca ELECTROLUX); (b) a compra totalizou R$ 7.513,00; (c) o endereo de entrega das
mercadorias foi Av. General Monteiro de Barros, n 638, no Guaruj/SP (Condomnio Solaris);
(d) a destinatria das mercadorias era MARIUZA MARQUES (funcionria da OAS
EMPREENDIMENTOS, uma das responsveis por acompanhar as obras do triplex 164-A do
Condomnio Solaris)452.
Nesse contexto, e considerando, ainda, que, durante a deflagrao da 24 fase da
Operao Lava Jato foram encontrados um fogo, um forno microondas e uma geladeira
side by side no triplex 164-A do Condomnio Solaris 453, tendo o fogo nmero de srie
correspondente quele apontado pela FAST SHOP S.A., evidente que a compra desses
eletrodomsticos estava direcionada tambm a LULA e MARISA LETCIA, embora constasse
apenas o nome da OAS EMPREENDIMENTOS e de seus prepostos nos documentos de
aquisio.
241. Resta comprovado, ento, que a personalizao do apartamento 164-A do
448 ANEXO 178.
449 Para fins de proteo da imagem, alterou-se a imagem para que apenas FBIO LULA DA SILVA pudesse ser
identificado.
450 ANEXOS 253 e 254.
451 ANEXO 255.
452 ANEXO 256.
453 Conforme indicado nos autos n 5035204-61.2016.4.04.7000.
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Condomnio Solaris assim como a compra de mveis e eletrodomsticos foram dadas pela
OAS LULA e MARISA LETCIA, tendo sido arquitetadas e executadas por LO PINHEIRO,
controlador da OAS EMPREENDIMENTOS, e pelos executivos desta empresa: FBIO
YONAMINE, PAULO GORDILHO e ROBERTO MOREIRA. Insta destacar que no obstante os
beneficirios diretos dos servios prestados e produtos adquiridos para a cobertura triplex n
164-A do Condomnio Solaris fossem LULA e MARISA LETCIA, no foram eles que
efetuaram os pagamentos ou que figuraram nas respectivas notas fiscais, mas a OAS
EMPREENDIMENTOS. Alm disso, foi esta empresa que permaneceu como titular nominal
dos ativos, embora de fato pertencessem, a toda evidncia, a LULA e MARISA LETCIA. O
pagamento pela OAS e a titularidade nominal dos ativos por parte desta tinham o manifesto
propsito de dissimular e ocultar a origem, a movimentao, a disposio e a propriedade
dos valores empregados na decorao, provenientes dos crimes de cartel, fraude a licitao e
corrupo praticados pelos executivos da CONSTRUTORA OAS em detrimento da
Administrao Pblica Federal, notadamente da PETROBRAS.
Da propina recebida e dos valores lavados mediante a decorao da cobertura
triplex 164-A do Condomnio Solaris
242. Alm da reforma do imvel, com o elevado custo coberto pela OAS
EMPREENDIMENTOS (como apontado na seo anterior), a instalao de mveis na cozinha e
nos dormitrios do apartamento tambm envolveu grande soma de dinheiro e foi paga pela
OAS EMPREENDIMENTOS, caracterizando vantagem indevida paga ao ex-Presidente LULA.
Conforme extrato bancrio apresentado pela KITCHENS, os pagamentos foram realizados da
seguinte forma: R$ 78.800,00 em 26/09/2014 e R$ 208.200,00 em 11/11/2014.
Essas quantias perfaziam o total de R$ 287.000,00 em novembro de 2014, ms
do ltimo pagamento recebido pela KITCHENS. Atualizando esse valor para julho de 2016,
chega-se ao montante de R$ 342.037,30454, que corresponde ao valor das vantagens
indevidas recebidas por LULA e MARISA LETCIA, uma vez que destinatrios e reais donos
dos mveis colocados no apartamento 164-A do Condomnio Solaris.
243. Da mesma forma, a compra de eletrodomsticos foi paga pela OAS
EMPREENDIMENTOS. Conforme documentos apresentados pela FAST SHOP S.A., foram
gastos R$ 7.513,00, em novembro de 2014, ms da aquisio. Atualizando esse valor para
julho de 2016, chega-se ao montante de R$ 8.953,75455.
244. Nessa toada, o valor das vantagens indevidas recebidas por LULA e MARISA
LETCIA e que tiveram sua origem ilcita dissimulada, no que tange aquisio de mveis e
eletrodomsticos, alcana, neste caso, R$ 350.991,05 (R$ 342.037,30 + R$ 8.953,75).
Totalizao dos valores lavados mediante a aquisio, reforma e decorao da
cobertura triplex 164-A do Condomnio Solaris
245. Conforme indicado nas sees anteriores, LULA e MARISA LETCIA foram
454 Valor atualizado utilizando como ndice de correo o IGP-M (FGV) ANEXO 257.
455 Valor atualizado utilizando como ndice de correo o IGP-M (FGV) ANEXO 258.
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os beneficirios finais da lavagem dos valores referentes: (i) aquisio do apartamento 164A do Condomnio Solaris, em que foram recebidos os recursos esprios no valor de R$
1.147.770,96; (ii) ao custeio das obras de personalizao desse apartamento, no montante
de R$ 926.228,82; (iii) ao custeio da decorao efetuada nesse apartamento, no total de R$
350.991,05.
Nessa toada, o valor total atualizado da vantagem indevida recebida por LULA e
MARISA LETCIA, no contexto da lavagem de capitais empreendida por meio do
apartamento 164-A do Condomnio Solaris, perfaz R$ 2.424.990,83.
3.3. PROVA DE AUTORIA
246. A autoria de LULA e MARISA LETCIA est evidenciada nos pagamentos
que ambos fizeram BANCOOP e no fato de que, diante dos benefcios que receberam, no
cobraram restituio da OAS EMPREENDIMENTOS. Dessa forma, considerando que aps
setembro de 2009 no receberam da OAS EMPREENDIMENTOS ou a ela pagaram qualquer
valor, LULA e MARISA LETCIA, como artifcio para manter oculta sua real vinculao com o
empreendimento, continuaram a registrar, nos exerccios de 2009 a 2015, em sua DIRPFs,
dentre os seus bens e direitos, cota parte relativa ao apartamento 141-A do Condomnio
Solaris. Considerando que ainda em 2014 a unidade que declaravam foi vendida, no havia
mais fundamento para a registrarem em seu DIRPF.
No entanto, essa situao jurdica precria buscava manter na sombra o principal
e antigo interesse de LULA e MARISA LETCIA no empreendimento: o apartamento 164-A.
O TERMO DE ADESO E COMPROMISSO DE PARTICIPAO referente ao apartamento 164A apreendido na residncia em So Bernardo do Campo/SP, e as vias rasuradas da
PROPOSTA DE ADESO SUJEITA A APROVAO N 3907, indicam que ambos, h anos, j
almejavam ter tal imvel. Tanto foi assim que a unidade 164-A foi, em um primeiro momento,
a eles reservada pela BANCOOP e, em um segundo momento, com a assuno do
empreendimento pelo Grupo OAS, a eles dada. A unidade jamais foi oferecida a venda ou
aberta a visitao, porque seu destinatrio j estava definido desde a construo e, mais
tarde, foi de fato concedida a LULA e MARISA LETCIA.
Destaque-se que a OAS se beneficiou amplamente dos ilcitos praticados em
desfavor da Administrao Pblica Federal, notadamente da PETROBRAS, sendo que seu
principal executivo, LO PINHEIRO, era bastante prximo de LULA. Significativas nesse
cenrio foram as visitas ao triplex: na primeira oportunidade, LULA e MARISA LETCIA foram
acompanhados por LO PINHEIRO e outros executivos da OAS EMPREENDIMENTOS e, logo
depois, o projeto de personalizao foi concebido e executado. No fim da execuo das
obras, novamente acompanhados por LO PINHEIRO e outros executivos da empresa,
MARISA LETCIA e um de seus filhos com LULA foram ao apartamento para verificar o
processo de adequao do apartamento s suas necessidades. E, por fim, registrem-se as
mensagens de celular apreendidas no celular de LO PINHEIRO que denotam que o
apartamento e suas benfeitorias foram destinados a LULA e MARISA LETCIA.
Ademais, o envolvimento de MARISA no recebimento de vantagens indevidas
mediante ocultao e dissimulao de origem criminosa, se corrobora tambm por
evidncias colhidas em investigao envolvendo o mencionado stio de Atibaia 456. No caso,
456 Os fatos envolvendo atos de lavagem de dinheiro relacionados ao Stio de Atibaia ainda esto em
investigao, e, por isso, no so objeto de imputao nessa denncia.
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M INISTRIO P BLICO F EDERAL


JOS CARLOS COSTA MARQUES BUMLAI foi ouvido pela autoridade policial e salientou que
MARISA lhe solicitou a realizao de reformas no stio para passar os finais de semana e
acomodar alguns materiais que seriam trazidos457. Em relato, BUMLAI afirmou que se disps a
realizar a obra em benefcio de LULA e MARISA e que a operacionalizao foi tratada com
AURLIO. de se ver que AURLIO figura na agenda de telefones de LULA458 como sendo
assessor da denunciada MARISA.

No caso, AURLIO a pessoa de ROGRIO AURLIO PIMENTEL, o qual trabalhou


como assessor da Presidncia da Repblica entre janeiro de 2003 e fevereiro de 2011, tendo
exercido papel ativo na reforma estrutural do stio de Atibaia/SP, bem como foi o responsvel
por se deslocar at a propriedade para receber a entrega de bens do ex-Presidente LULA
entregas estas realizadas pelas empresas GRANERO e 5 ESTRELAS. Recebeu entregas de bens
pessoais de LULA tambm na residncia dele, em So Bernardo do Campo/SP.
Em depoimento, AURLIO, apontado na agenda de LULA com assessor de
MARISA, admitiu que, a mando dessa, acompanhou o andamento da obra no stio de Atibaia
e recebeu valores em espcie de FREDERICO, engenheiro da ODEBRECHT, para realizao de
pagamentos459.
Neste contexto, j nos idos de 2010 e 2011, fica claro o envolvimento de MARISA
no recebimento, mediante ocultao da origem e natureza criminosa, de vantagens indevidas
oriundas de empreiteiras em benefcio prprio e de LULA, o que se corrobora na indicao
de AURLIO para acompanhar obras de reforma do stio de Atibaia, inclusive com manuseio
por parte deste de valores em espcie oriundos da ODEBRECHT. O envolvimento de MARISA
nos fatos, como apontado, no foi diferente nos atos de lavagem envolvendo o apartamento
triplex no Guaruj.
Por fim, em conversas entre LO PINHEIRO e PAULO GORDILHO relacionadas
ao stio e ao apartamento triplex, h expressa meno de que MARISA, preocupada em
manter a ocultao das benesses que estavam sendo realizadas no stio, determinou que os
encarregados pelas obras dormissem no local. Eis o trecho de mensagem encaminhada por
PAULO GORDILHO a LO PINHEIRO: Conversando com Joilson ele criou 2 centros na
investimentos. 1. Stio. 2. Praia. A equipe vem de SSA so pessoas de confiana que fazem
reformas na aos. Ficou resolvido eles ficarem no stio morando. A dama me pediu isto para no
ficarem na cidade460.
247. A autoria de LO PINHEIRO irrefragvel. Possuindo poder de gesto sobre
o GRUPO OAS, comandou a gerao de recursos esprios na celebrao de contratos entre a
CONSTRUTORA OAS e a Administrao Pblica Federal, notadamente a PETROBRAS, e, por
meio da OAS EMPREENDIMENTOS, fez chegar vantagens indevidas, decorrentes do esquema
de corrupo a LULA. Em 2009, LO PINHEIRO determinou que CARMINE DE SIEVI NETO,
457 Autos 50065973820164047000, Evento 74, TERMOAUD3 (ANEXO 259).
458 A agenda de telefones de LULA foi obtida por meio da quebra telemtica dos e-mails de VALMIR MORAES,
segurana pessoal do ex-Presidente da Repblica, deferida por esse juzo nos autos 5005978-11.2016.4.04.7000
(ANEXO 260).
459 ANEXO 261.
460 LAUDO N 1475/2016-SETEC/SR/DPF/PR (ANEXOS 303 a 305) grifamos.
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ento presidente da OAS EMPREENDIMENTOS, procurasse JOO VACCARI NETO, presidente
da BANCOOP, para negociar a assuno de determinadas obras da cooperativa pela
incorporadora, dentre elas a do Residencial Mar Cantbrico. Estando o empreendimento sob
a gesto da OAS EMPREENDIMENTOS, LO PINHEIRO determinou que a cobertura triplex
164-A do Condomnio Solaris fosse destinada, de forma oculta, ao ex-presidente LULA e
MARISA LETCIA.
No obstante tal destinao, a cobertura triplex foi mantida sob o nome da OAS
EMPREENDIMENTOS como um artifcio para manter nas sombras a identidade dos seus reais
proprietrios, LULA e MARISA LETCIA. Ainda, em fevereiro de 2014, LO PINHEIRO foi o
responsvel por determinar a preparao do apartamento 164-A para a visita de LULA e
MARISA LETCIA, assim como determinou a execuo de projeto de personalizao e o
aprovou. Alm disso, acompanhou a execuo das obras de personalizao do imvel,
inclusive com a compra de mveis por meio de empresa do Grupo OAS, e visitou novamente,
acompanhado de familiares de LULA, o triplex para verificar a fase final de adequao do
bem s necessidades da famlia do ex-Presidente da Repblica. Destaque-se, ainda, que LO
PINHEIRO trocou mensagens de celular com diversos interlocutores a respeito do projeto de
reformas e decorao do referido imvel, que atestam sua participao e cincia sobre todo
o estratagema criminoso.
248. A autoria de PAULO GORDILHO evidenciada pelas diversas mensagens de
celular que trocou com LO PINHEIRO envolvendo o apartamento 164-A do Condomnio
Solaris. Estando o empreendimento sob a gesto da OAS EMPREENDIMENTOS, PAULO
GORDILHO, enquanto Diretor Tcnico da empresa, endossou a manuteno da situao
jurdica precria de LULA e MARISA LETCIA com a empresa, como artifcio para manter nas
sombras o fato de que o apartamento triplex 164-A, no Guaruj, pertencia a LULA e MARISA
LETCIA461:

461 LAUDO 1475/2016 SETEC/SR/DPF/PR (ANEXOS 303 a 305).


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Ademais, PAULO GORDILHO acompanhou familiares de LULA na visita ao triplex


para verificar a fase final de adequao do bem s necessidades da famlia do ex-Presidente
da Repblica. ARMANDO MAGRI, scio da TALLENTO, informou ainda que, durante essa
visita, PAULO GORDILHO parecia no comando tcnico da obra, o que demonstra a sua
vinculao com a personalizao do apartamento feito para LULA e MARISA LETCIA.
Alm disso, conforme indicado no relatrio da autoridade policial nos autos n
5035204-61.2016.4.04.7000, PAULO GORDILHO participou da compra de cozinha, com
pagamento pela OAS EMPREENDIMENTOS no interesse de LULA e MARISA LETCIA, tanto
para o triplex no Guaruj/SP, quanto para o stio em Atibaia/SP. Nessa sua participao,
PAULO GORDILHO demonstrou demasiada preocupao com o sigilo do encontro. Ainda
denotando a cincia acerca da ilicitude dos pagamentos, constam do relatrio trocas de
mensagens entre PAULO GORDILHO e LO PINHEIRO sobre a criao de centro de custos
dissimulado (denominado zeca pagodinho) para arcar com as despesas.
Registre-se ainda que, ao ser ouvido durante a deflagrao da 24 fase da
Operao Lava Jato, LULA negou conhecer PAULO GORDILHO. No entanto, nos
documentos pessoais deste foram encontradas fotos do ex-Presidente da Repblica com o
ex-Diretor da OAS EMPREENDIMENTOS, denotando proximidade entre ambos, consoante se
extrai do Relatrio de Anlise de Polcia Judiciria n. 329/2016 462.
249. A autoria de FBIO YONAMINE e ROBERTO MOREIRA tambm se mostra
indiscutvel. Como informou CARMINE DE SIEVI NETO 463, os Diretores da OAS
EMPREENDIMENTOS eram cobrados pelo Conselho de Administrao da empresa de acordo
com o VGV (valor geral de vendas corresponde soma dos valores decorrentes da
462 Autos n. 5035204-61.2016.4.04.7000, evento 2, OUT2 ANEXO 262.
463 Conforme testemunhou CARMINE DE SIEVI NETO ao MINISTRIO PBLICO FEDERAL. O vdeo da oitiva ser
encaminhado mediante ofcio, em mdia eletrnica, para a Secretaria deste Juzo.
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potencial venda de todas as unidades disponveis de um empreendimento). Alm disso, disse
que o fato de ter uma unidade disponvel ou no para venda nos empreendimentos da
BANCOOP impactava o VGV. Assim, afigura-se evidente que FBIO YONAMINE e
ROBERTO MOREIRA tinham conhecimento que a unidade 164-A nunca esteve venda e,
portanto, reservada a LULA e MARISA LETCIA, j que a sua indisponibilidade impactava no
indicador pelo qual tais ex-Diretores da OAS EMPREENDIMENTOS eram cobrados pelo
Conselho de Administrao da empresa.
250. Alm disso, estando o empreendimento sob a gesto da OAS
EMPREENDIMENTOS, FBIO YONAMINE, enquanto Diretor Financeiro e posteriormente
como Presidente da empresa, endossou a manuteno da situao jurdica precria de LULA
e MARISA LETCIA com a empresa, como artifcio para manter nas sombras o fato de que o
apartamento triplex 164-A, no Guaruj, pertencia a LULA e MARISA LETCIA. Ainda, em
fevereiro de 2014, FBIO YONAMINE foi um dos responsveis por organizar a preparao
do apartamento 164-A para a visita de LULA e MARISA LETCIA. Alm disso, foi ele quem
determinou a ROBERTO MOREIRA a execuo de projeto de personalizao do apartamento
e, junto a LO PINHEIRO, aprovou a proposta. Como Presidente da OAS
EMPREENDIMENTOS, anuiu tambm com a compra de mveis pela empresa e ainda
determinou que ROBERTO MOREIRA acompanhasse familiares de LULA em uma nova visita
ao triplex para verificar a fase final de adequao do bem s necessidades da famlia do exPresidente da Repblica. Registre-se, por fim, que, em depoimento prestado ao MINISTRIO
PBLICO FEDERAL, FBIO YONAMINE, embora tenha reconhecido que o tipo de
personalizao feito na unidade era absolutamente inusual, negou que o apartamento
estivesse destinado ao ex-Presidente da Repblica e sua esposa, afirmando que se tratava de
um ativo da empresa, o que denota a cincia e preocupao em manter dissimulada a
entrega da vantagem indevida.
251. A autoria de ROBERTO MOREIRA igualmente incontestvel. Estando o
empreendimento sob a gesto da OAS EMPREENDIMENTOS, a atuao de ROBERTO
MOREIRA, enquanto Diretor de Incorporao da Regional So Paulo da empresa, foi
determinante para a manuteno de situao jurdica precria de LULA e MARISA LETCIA
com a empresa, como artifcio para manter nas sombras o fato de que o apartamento triplex
164-A, no Guaruj, pertencia a LULA e MARISA LETCIA. Ainda, em fevereiro de 2014,
ROBERTO MOREIRA foi um dos responsveis por organizar a preparao do apartamento
164-A para a visita de LULA e MARISA LETCIA. Alm disso, foi ele quem determinou a
execuo do projeto de personalizao do apartamento e o submeteu aprovao de LO
PINHEIRO e FBIO YONAMINE. Suas aes foram decisivas tambm para a execuo das
obras de personalizao e para a compra de mveis e eletrodomsticos para o apartamento:
(i) foi ROBERTO MOREIRA quem determinou a seu subordinado IGOR RAMOS PONTES a
contratao da empresa TALLENTO CONSTRUTORA LTDA. para a realizao das obras de
personalizao do apartamento; e (ii) foi ROBERTO MOREIRA quem assinou o pedido junto
KITCHENS COZINHAS E DECORACOES LTDA e quem aprovou os projetos que visavam
decorao do apartamento. Nesse sentido, confiram-se:

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Assinatura no contrato celebrado com a TALLENTO464:

Assinatura no pedido feito KITCHENS465:

Assinatura na aprovao do projeto feito junto a KITCHENS466

Alm disso, ROBERTO MOREIRA acompanhou familiares de LULA na visita ao


triplex para verificar a fase final de adequao do bem s necessidades da famlia do exPresidente da Repblica. Registre-se, ainda, que, em depoimento prestado ao MINISTRIO
PBLICO FEDERAL, ROBERTO MOREIRA reconheceu que o tipo de personalizao feito na
unidade era absolutamente inusual.
Cumpre destacar tambm que ROBERTO MOREIRA era quem figurava, pela OAS
EMPREENDIMENTOS, nas escrituras pblicas de venda e compra relacionadas ao Condomnio
Solaris467, de forma que inegvel sua consciente participao no estratagema criminoso
narrado, em face da ausncia desse documento em relao unidade 164-A.
No mesmo mbito, nos autos n 0353381-17.2015.8.19.0001, referentes ao
movida por LULA em face de jornalistas do jornal O Globo em 12/08/2015 468, foi ROBERTO
MOREIRA quem subscreveu a Contra Notificao apresentada ao Juzo, em que restou
464 ANEXO 241.
465 ANEXO 263 (IC n. 1.25.000.0033502015-90/PR).
466 ANEXO 264 (IC n. 1.25.000.0033502015-90/PR).
467 ANEXO 265 (Autos n. 94.002.007273.2015-6/SP, volume 5, f. 89 a 93 e 99 a 103).
468 ANEXO 266 Autos do processo n 0353381-17.2015.8.19.0001, f. 114-115.
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consignado, em 16/09/2015 (portanto, aps as visitas e obras na unidade 164-A), que no
existe nenhuma transao direta envolvendo a OAS e a Sra. Marisa Letcia Lula da Silva:

Registre-se, por fim, que, em depoimento prestado ao MINISTRIO PBLICO


FEDERAL, ROBERTO MOREIRA negou que soubesse que o ex-Presidente da Repblica e sua
esposa tinham um apartamento no Condomnio Solaris, o que refora a preocupao em
manter dissimulada a entrega da vantagem indevida.
3.4. DOS PAGAMENTOS, COM O PROVEITO DOS CRIMES ANTECEDENTES, DO
CONTRATO DE ARMAZENAGEM DE BENS
252. LULA solicitou a LO PINHEIRO e dele recebeu vantagem indevida, em
razo do cargo de Presidente da Repblica. Da mesma forma, de modo consciente e
voluntrio, no contexto das atividades da organizao criminosa acima exposta, em concurso
e unidade de desgnios com LO PINHEIRO e PAULO OKAMOTTO, no perodo
compreendido entre 01/01/2011 e 16/01/2016, dissimularam a origem, a movimentao e a
disposio de R$ 1.313.747,24, provenientes dos crimes de cartel, fraude a licitao e
corrupo praticados pelos executivos da CONSTRUTORA OAS, em detrimento da
Administrao Pblica Federal, notadamente da PETROBRAS, conforme descrito nessa pea,
por meio de contrato ideologicamente falso de armazenagem, firmado pela OAS com a
empresa GRANERO TRANSPORTES LTDA. [GRANERO], o qual se destinava, na verdade, a
armazenar bens do acervo pessoal, e que redundou em 61 pagamentos mensais no valor de
R$ 21.536,84 cada; motivo pelo qual incorreram, por 61 (sessenta e uma) vezes, na forma do
art. 71 do CP, no delito tipificado no art. 1 c/c o art. 1 4, da Lei n 9.613/98, e ainda nas
sanes do delito previsto no art. 317, 1, C/C art. 327, 2, todos do CP.
253. Com efeito, a investigao empreendida no mbito da Operao Lava Jato
colheu evidncias de que a OAS tambm repassava vantagens indevidas a LULA por meio de
pagamento de contrato de armazenagem de bens junto GRANERO, com a adoo de
medidas de ocultao da origem e propriedade dos bens para fins de conferir aparncia lcita
ao repasse de valores provenientes de infraes penais praticadas no mbito da
Administrao Pblica Federal, especialmente da PETROBRAS 469. Isso aconteceu por meio da
atuao de PAULO OKAMOTTO, ento presidente do INSTITUTO LULA, de LO PINHEIRO,
que utilizou, de forma dissimulada, da CONSTRUTORA OAS, e do prprio LULA, que recebeu
as vantagens indevidas.

469 Conforme resposta da empresa ao Ofcio n 175/2016 PRPR (ANEXO 267).


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254. No ponto, cabe esclarecer a forma pela qual ocorreu a mudana do exPresidente da Repblica LULA do Palcio do Planalto para seus endereos particulares, ao fim
do seu segundo mandato de Presidente, na virada do ano de 2010 para 2011. Tais bens, que
compunham o acervo do ex-Presidente da Repblica, foram transportados pelas empresas
MUDANAS CINCO ESTRELAS LTDA [5 ESTRELAS] e TRS PODERES MUDANAS E
TRANSPORTES LTDA. (ligada ao Grupo GRANERO), as quais foram contratadas pela UNIO.
255. Nesse contexto, coube GRANERO a realizao do transporte:
(a) dos vesturios do ex-Presidente, os quais foram entregues na residncia
deste em So Bernardo do Campo/SP;
(b) de parte da adega de LULA, a qual, aps armazenada durante algum tempo
pela GRANERO, foi entregue em 13/06/2012 em um stio em Atibaia/SP; e
(c) do acervo audiovisual do ex-Presidente LULA, consistente em mdias de
udio e vdeo, que se encontrava armazenado na GRANERO at a resciso do contrato em
15/04/2016470.
256. O restante dos bens pessoais foi transportado pela 5 ESTRELAS:
(i) uma parte desses bens, foi levada para um stio de Atibaia/SP, e recebida no
destino em 08/01/2011, por ROGERIO AURELIO PIMENTEL, assessor da Presidncia da
Repblica at 19/02/2011471;
(ii) outra parte foi entregue e armazenada no depsito da GRANERO, com
custos de armazenagem, a partir da entrega, suportados pela CONSTRUTORA OAS 472.
a armazenagem desta ltima parte e suas repercusses na esfera criminal que so objeto
desta denncia.
257. Relativamente a essa ltima parcela dos bens (item ii, retro), em 22/12/2010,
aps solicitao efetuada por PAULO OKAMOTTO473, a GRANERO emitiu o Oramento N
DMR OV. 164895474, tendo por objeto servios de armazenagem. No dia 27/12/2010, PAULO
OKAMOTTO subscreveu termo de aceite para que a GRANERO prestasse os servios
referenciados no citado Oramento n 14895475.
258. Aproveitando o fato de que a CONSTRUTORA OAS tinha dvidas de propinas
com o esquema de governo e partidrio criminoso, comandado por LULA, dentro de um
sistema de caixa geral j descrito, PAULO OKAMOTTO, agindo no interesse do exPresidente da Repblica, recorreu quela empresa para pagar a armazenagem dos referidos
bens.
470 Aps a realizao do transporte dos bens pessoais de LULA oriundo do Palcio do Planalto, PAULO
OKAMOTTO celebrou com a G INTER TRANSPORTES, empresa do Grupo GRANERO, contrato de armazenagem do
acervo audiovisual do ex-Presidente LULA, rescindido em 15/04/2016. O pagamento deste contrato de
armazenagem vem sendo realizado pelo INSTITUTO LULA, conforme ser demonstrado a seguir. (ANEXO 268).
471 Vnculo profissional de ROGRIO AURLIO PIMENTEL (ANEXO 261).
472 ANEXOS 269 a 272.
473 Como dito ao norte, PAULO TARCISO OKAMOTTO presidente do INSTITUTO LUIZ INCIO LULA DA SILVA e
scio de LULA, na empresa L.I.L.S. PALESTRAS, EVENTOS E PUBLICAES LTDA.
474 ANEXO 273.
475 ANEXO 274.
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De fato, aps quatro dias do termo de aceite de armazenagem, vale dizer, em
01/01/2011, a CONSTRUTORA OAS celebrou contrato de armazenagem com a GRANERO 476,
no valor mensal de R$ 21.536,84, em benefcio do ex-Presidente LULA477:

259. Para ocultar a origem e a natureza da vantagem indevida repassada a LULA,


que era fruto dos crimes de cartel, fraude licitao e de corrupo, a CONSTRUTORA OAS
indicou que o contrato tinha por objeto a armazenagem de materiais de escritrio e
mobilirio corporativo de propriedade da CONSTRUTORA OAS Ltda. Referido contrato tinha,
na realidade, como objeto a armazenagem de bens tidos como pessoais de LULA (parte
integrante do Oramento n 14895 com a GRANERO).
476 ANEXO 269.
477 A GRANERO, quando apresentou ao MINISTRIO PBLICO FEDERAL o contrato firmado com a
CONSTRUTORA OAS LTDA., esclareceu que, por determinao de PAULO OKAMOTTO, os pagamentos referentes
armazenagem, em 10 containers, da parte do acervo do ex-presidente transportadas poca pela 5 ESTRELAS
seriam feitos pela OAS, na qualidade de apoiadora do INSTITUTO LULA.
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260. Tal contrato foi celebrado pela CONSTRUTORA OAS por solicitao de
PAULO OKAMOTTO, como alegadamente uma forma de apoio ao ex-Presidente da
Repblica, j que, conforme informou esse presidente do INSTITUTO LULA, o contrato no
foi celebrado com o INSTITUTO em funo do alto valor e da ausncia de verba para tal
finalidade478.
Curiosamente, contudo, no mesmo perodo o INSTITUTO LULA, tambm por
intermdio de PAULO OKAMOTTO, celebrou com a G INTER TRANSPORTES INT LTDA. um
contrato para armazenagem do acervo pessoal que necessitava de depsito climatizado
(acervo audiovisual mdias de udio e vdeo), cujo valor era de R$ 4.726,11 mensais479. Esse
contrato de armazenagem do acervo pessoal que necessitava de depsito climatizado,
conforme informado pela GRANERO e confirmado por PAULO OKAMOTTO, foi custeado
pelo prprio INSTITUTO LULA480-481.
261. Os bens apontados como pessoais de LULA ficaram, assim, a partir de
janeiro de 2011, armazenados na GRANERO, sendo o custo pago pela CONSTRUTORA OAS
de modo dissimulado. Passados mais de cinco anos do incio do armazenamento, a
CONSTRUTORA OAS no providenciou a retirada dos materiais do depsito da GRANERO, j
que os bens no lhe pertenciam. Em 14/12/2015, PAULO OKAMOTTO autorizou a retirada
dos bens armazenados na GRANERO, admitindo que o servio fora por ele contratado
anteriormente e referindo que a retirada dos bens seria assistida presencialmente por
ALEXANDRE ANTONIO DA SILVA, representante por ele indicado482-483.
262. Em janeiro de 2016, a CONSTRUTORA OAS, representada pelo diretor LUIS
GUSTAVO VIANA, e a GRANERO firmaram instrumento particular de resciso de contrato de
armazenagem. Assim, aps rescindido o contrato de armazenagem, entre 15 e 18 de janeiro
de 2016, a GRANERO fez a entrega dos bens para as pessoas indicadas por PAULO
OKAMOTO, notadamente ALEXANDRO ANTONIO DA SILVA, LUIZ ANTONIO PAZINE e PAULO
MARCELINO MELLO COELHO. A indicao final sobre a retirada do material do depsito da
GRANERO partiu do Sindicato dos Metalrgicos do ABC, firmada por ALEXANDRE ANTONIO
DA SILVA, e fazendo referncia ao material do Instituto Lula484.
263. O transporte dos bens retirados ficou a encargo de LUIZ ANTONIO PAZINE,
gerente de logstica da empresa DB TRANSNACIONAL LOGSTICA BRASIL TRANSPORTES
LTDA.. Ele, representando ALEXANDRE ANTONIO DA SILVA, efetuou, em janeiro de 2016 485, a
retirada dos bens pertencentes a LULA que se encontravam depositados no armazm da
GRANERO, transportando-os, em caminho de terceira empresa contratada (MM
478 ANEXO 275.
479 ANEXO 276.
480 ANEXO 277 e 278.
481 ANEXO 279 e-mails trocados pela G INTER com Marta Arajo (financeiro@institutolula.org), em janeiro de
2016 (Quebra de sigilo telemtico judicialmente autorizada nos autos do processo 5005978-11.2016.4.04.7000).
482 ANEXO 280 e-mail enviado em 11/12/2015 por Marta Arajo (financeiro@institutolula.org) para Alexandre
Antonio da Silva (ale@smabc.org.br) e PAULO OKAMOTTO (ptokamotto@gmail.com) (Quebra de sigilo telemtico
judicialmente autorizada nos autos do processo 5005978-11.2016.4.04.7000).
483 ANEXO 281.
484 ANEXO 281.
485 ANEXO 282 Termo de entrega de bens, datado de 18 de janeiro de 2016, assinado por LUIZ ANTONIO
PAZINE, representando ALEXANDRE ANTONIO DA SILVA.
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TRANSPORTES), at um depsito atrs da sede do Sindicato dos Metalrgicos, em So
Bernardo do Campo/SP., mais precisamente no endereo: Rua Joo Otto, 16 486.
264. Convm observar que o endereo do Sindicado dos Metalrgicos do ABC
em So Bernardo do Campo/SP, conforme consta do stio eletrnico www.smabc.org.br Rua
Joo Basso, 231. Contudo, o endereo indicado para entrega do material retirado da
GRANERO TRANSPORTES, em e-mail enviado em 11/12/2015 por MARTA ARAJO
(financeiro@institutolula.org) para ALEXANDRE ANTONIO DA SILVA (ale@smabc.org.br) quebra de sigilo telemtico judicialmente autorizada nos autos n 5005978-11.2016.4.04.7000
-, consta como sendo o da Travessa Monteiro Lobato, 52487, que est localizada exatamente
aos fundos do Sindicato dos Metalrgicos do ABC. A Rua Joo Lotto 488, por sua vez, est
localizada na lateral do Sindicato dos Metalrgicos do ABC, de maneira transversal rua Joo
Basso.
265. Os bens armazenados em benefcio de LULA foram, ento, transportados, a
partir do depsito da GRANERO, para o Sindicato dos Metalrgicos do ABC, em So Bernardo
do Campo/SP. PAULO MACELINO MELLO COELHO foi contratado pela DB TRANSPORTES para
efetuar o transporte da carga, tendo realizado o servio em trs viagens, diante do volume
de mercadorias (caixas, quadros e caixas de madeira) 489-490. O transporte dos bens para um
armazm do Sindicato dos Metalrgicos em So Bernardo do Campo/SP correu s expensas
do INSTITUTO LULA, conforme informado em depoimento por PAULO OKAMOTTO.
266. Posteriormente, em 16/02/2016, ALEXANDRE ANTONIO DA SILVA
(ale@smabc.org)
enviou
e-mail491
para
MARTA
CRISTINA
ARAJO
(financeiro@institutolula.org), com sugesto do sindicato dos Metalrgicos do ABC para que
fosse firmado, com o INSTITUTO LULA, Contrato de Comodato para fins de arquivo e
guarda de pertences pessoais e mimos, recepcionados em viagens diversas do ex-presidente
Lula e acervo geral.
267. Todos esses fatos e provas mostram que os bens armazenados no
pertenciam OAS, e sim estavam sendo armazenados a pedido de LULA, comprovando a
falsidade ideolgica do contrato de armazenagem firmado por aquela empreiteira, no
interesse do ex-Presidente da Repblica.
268. Assim, o servio de armazenagem entre a GRANERO e a CONSTRUTORA
OAS foi prestado entre 01/01/2011 e 16/01/2016, portanto por 5 (cinco) anos, englobando
61 (sessenta e um) pagamentos mensais no valor de R$ 21.536,84 cada, e totalizando R$
1.313.747,24, conforme documentao anexa492.
486 ANEXO 283.
487 Em consulta ao site <www.googlemaps.com>, verifica-se que a Travessa Monteiro Lobato est localizada aos
fundos do Sindicado dos Metalrgicos do ABC, paralelamente Rua Joo Basso.
488 Indicada equivocadamente no depoimento de LUIZ ANTONIO PAZINE como sendo Rua Joo Otto
489 ANEXO 234.
490 ANEXO 284.
491 ANEXO 285 Contrato de Comodato No Oneroso (Quebra de sigilo telemtico judicialmente autorizada
nos autos n 5005978-11.2016.4.04.7000).
492 ANEXOS 269 a 272.
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M INISTRIO P BLICO F EDERAL


Valor recebido indevidamente e lavado mediante a armazenagem de bens
269. Nesses termos, LULA, por meio dos mecanismos de lavagem de dinheiro
antes descritos, operacionalizados por PAULO OKAMOTTO e LO PINHEIRO, dissimulou a
natureza, origem, localizao, disposio e movimentao de R$ 1.313.747,24, bem como
ocultou o real beneficirio dessa quantia, que sabia ser oriunda, direta ou indiretamente, de
crimes contra a administrao pblica.
3.4.1. PROVA DE AUTORIA
270. A autoria de LULA est evidenciada nos pagamentos efetuados pela
CONSTRUTORA OAS em favor da GRANERO, para armazenagem de parte dos bens e
pertences pessoais apontados como sendo de propriedade do ex-Presidente da Repblica,
que reverteram, a toda evidncia, em favor de LULA. Soma-se a isso o fato de que os
pagamentos da armazenagem dos bens pessoais pertencentes a LULA foi assumida por
empresa que se beneficiou diretamente dos ilcitos praticados em desfavor da Administrao
Pblica Federal, notadamente da PETROBRAS, e tinha uma dvida de propinas com o
esquema de governo e partidrio (era uma das empreiteiras cartelizadas). Alm disso, tal
empreiteira era controlada por LO PINHEIRO, pessoa muito prxima de LULA.
271. A autoria de PAULO OKAMOTTO tambm indiscutvel. Foi ele que
solicitou GRANERO o oramento para armazenagem dos bens de LULA e, posteriormente,
firmou, na condio de presidente do INSTITUTO LULA, apenas contrato para armazenagem
do acervo pessoal que necessitava de depsito climatizado, pleiteando CONSTRUTORA
OAS, via LO PINHEIRO e no interesse de LULA, o pagamento dos valores referentes ao
armazenamento da parte do acervo pessoal cuja guarda no necessitava de ambiente
climatizado.
Foi tambm PAULO OKAMOTTO o responsvel pela retirada dos bens
armazenados na GRANERO TRANSPORTES quando, em janeiro de 2016, a CONSTRUTORA
OAS rescindiu o contrato de armazenagem firmado, em janeiro de 2011, com a GRANERO
TRANSPORTES.
Alm disso, quando prestou depoimento durante a deflagrao da 24 fase da
Operao Lava Jato, PAULO OKAMOTTO afirmou que: (a) em relao aos contatos com
empresas potencialmente doadoras de recursos para o INSTITUTO LULA, ele era responsvel
por 99% dos contatos. Ou seja, ele sabia que doaes entidade seguiam outro
procedimento (no se usavam contratos dissimulados, mas sim recibos correspondentes s
doaes); (b) em relao ao armazenamento do acervo pessoal que necessitava de armazm
climatizado, o INSTITULO LULA celebrou o contrato, com valor de pouco mais de R$
4.000,00 mensais. Em relao ao contrato de armazenagem de bens, no valor de R$
21.536,84 mensais, afirmou que foi ele quem entrou em contato com a OAS e verificou a
possibilidade de apoiarem com essa locao. Disse ainda que, apesar de corresponderem
armazenagem de bens do ex-Presidente da Repblica, quem firmou o contrato foi a OAS. Ou
seja, PAULO OKAMOTTO sabia o procedimento para firmar um contrato real de
armazenagem de bens do acervo pessoal, no entanto, solicitou e concorreu para que a OAS

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assinasse um contrato ideologicamente falso, e pagasse pelos servios correlatos, em repasse
de recursos que no configuravam as usuais doaes que o INSTITUTO recebia 493.
272. A autoria de LO PINHEIRO irrefragvel. Possuindo poder de gesto sobre
o GRUPO OAS, comandou a gerao de recursos esprios na celebrao de contratos entre a
CONSTRUTORA OAS e a Administrao Pblica Federal, notadamente a PETROBRAS e, por
meio da CONSTRUTORA OAS, fez chegar vantagens indevidas, decorrentes do esquema de
corrupo engendrado no seio da estatal petroleira, a LULA. No caso, valeu-se de contrato
ideologicamente falso firmado com a GRANERO. Atesta sua participao e cincia sobre todo
o estratagema criminoso o fato de ter sido informado empresa de transportes que o
contrato tinha por objeto a armazenagem de materiais de escritrio e mobilirio corporativo
de propriedade da CONSTRUTORA OAS Ltda., com claro escopo de ocultar a origem e
natureza da vantagem indevida repassada ao ex-presidente LULA.
4. CAPITULAO
273. Diante de todo o exposto, em virtude dos crimes praticados no seio e em
desfavor da PETROBRAS em todo o territrio nacional, inclusive no Estado do Paran, onde
est situada a Refinaria Getlio Vargas REPAR, o MINISTRIO PBLICO FEDERAL denuncia:
1) LUIZ INCIO LULA DA SILVA, pela prtica, no perodo compreendido entre
11/10/2006 e 23/01/2012, por 7 vezes, em concurso material, do delito de corrupo
passiva qualificada, em sua forma majorada, previsto no art. 317, caput e 1, c/c art. 327,
2, todos do Cdigo Penal;
2) JOS ADELMRIO PINHEIRO FILHO e AGENOR FRANKLIN MAGALHES
MEDEIROS, pela prtica, no perodo compreendido entre 11/10/2006 e 23/01/2012, por 9
vezes, em concurso material, do delito de corrupo ativa, em sua forma majorada,
previsto no art. 333, caput e pargrafo nico, do Cdigo Penal;
3) LUIZ INCIO LULA DA SILVA, MARISA LETCIA LULA DA SILVA, JOS
ADELMRIO PINHEIRO FILHO, PAULO ROBERTO VALENTE GORDILHO, FBIO HORI
YONAMIME e ROBERTO MOREIRA FERREIRA, pela prtica, no perodo compreendido entre
08/10/2009 e a presente data, por 3 vezes, em concurso material, do delito de lavagem de
capitais, previsto no art. 1 c/c o art. 1 4, da Lei n 9.613/98;
4) LUIZ INCIO LULA DA SILVA, PAULO TARCISO OKAMOTTO e JOS
ADELMRIO PINHEIRO FILHO, pela prtica, no perodo compreendido entre 01/01/2011 e
16/01/2016, por 61 vezes, em continuidade delitiva, do delito de lavagem de capitais,
previsto no art. 1 c/c o art. 1 4, da Lei n 9.613/98.

493 ANEXO 286.


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5. REQUERIMENTOS FINAIS
274. Desse modo, requer o MINISTRIO PBLICO FEDERAL:
a) o recebimento desta denncia, a citao dos denunciados para responderem
acusao e sua posterior intimao para audincia, de modo a serem processados no rito
comum ordinrio (art. 394, 1, I, do CPP), at final condenao, na hiptese de ser
confirmada a imputao, nas penas da capitulao;
b) a oitiva das testemunhas arroladas ao fim desta pea;
c) seja conferida prioridade a esta Ao Penal, no s por contar com ru preso,
mas tambm com base no art. 71 da Lei n 10.741/03 (Estatuto do Idoso) e no art. 11.2 da
Conveno de Palermo (Conveno da ONU contra o Crime Organizado Transnacional
Decreto Legislativo n 231/2003 e Decreto n 5.015/2004);
d) seja decretado o perdimento do produto e proveito dos crimes, ou do seu
equivalente, incluindo a os numerrios bloqueados em contas e investimentos bancrios e os
montantes em espcie apreendidos em cumprimento aos mandados de busca e apreenso,
no montante de, pelo menos, R$ 87.624.971,26, correspondente ao valor total da
porcentagem da propina paga pela OAS em razo das contrataes dos CONSRCIOS
CONPAR E CONEST PELA PETROBRAS494;
e) sem prejuzo do disposto nas alneas anteriores, tambm se requer, em relao
a LUIZ INCIO LULA DA SILVA, o arbitramento cumulativo do dano mnimo, a ser revertido
em favor da PETROBRAS, com base no art. 387, caput e IV, do CPP, no montante de R$
87.624.971,26, correspondente ao valor total da porcentagem da propina paga pela OAS em
razo das contrataes dos Consrcios CONPAR e CONEST pela PETROBRAS, considerandose a participao societria da OAS em cada um deles (respectivamente 24% e 50%);
f) em relao a JOS ADELMRIO PINHEIRO FILHO e AGENOR FRANKLIN
MAGALHES MEDEIROS, requer-se seja o dano mnimo, a ser revertido em favor da
PETROBRAS, com base no art. 387, caput e IV, do CPP, arbitrado no montante de R$
58.401.010,24, considerando-se que o pagamento de vantagens indevidas Diretoria de
Abastecimento da PETROBRAS em razo da contratao dos Consrcios CONPAR e CONEST
foi anteriormente julgado pelo Juzo da 13 Vara Federal de Curitiba em sede da ao penal
494 Observe-se, nesta seara, que o montante de vantagens econmicas indevidas auferidas com o envolvimento
de RENATO DUQUE, PEDRO BARUSCO e PAULO ROBERTO COSTA alcanou o percentual de pelo menos 3% do
valor original de cada contrato e aditivos celebrados. Assim, considerando-se a participao de 24% da OAS no
Consrcio CONPAR e de 50% no Consrcio CONEST, para os fatos relativos a (a) obras de ISBL da Carteira de
Gasolina e UGHE HDT de instveis da Carteira de Coque da Refinaria Getlio Vargas REPAR, as vantagens
indevidas alcanaram R$ 16.789.804,38; (b) implantao das UHDTs e UGHs da Refinaria Abreu e Lima RNEST,
as vantagens indevidas alcanaram R$ 48.438.128,02; (c) implantao das UDAs da Refinaria Abreu e Lima
RNEST, as vantagens indevidas alcanaram R$ 22.397.038,84. Nessa toada, somadas as vantagens indevidas
geradas apenas nesses trs contratos, tendo em vista a participao da OAS nos consrcios contratados, alcancese o montante de: R$ R$ 87.624.971,26.
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n 5083376-05.2014.404.7000, oportunidade em que condenados ao pagamento de
indenizao aos danos causados por referida conduta delituosa PETROBRAS no valor de R$
29.223.961,00495;
g) perda, em favor da Unio, de todos os bens, direitos e valores relacionados,
direta ou indiretamente, prtica dos crimes de lavagem de ativos, com sua destinao a
rgos como o Ministrio Pblico Federal, Polcia Federal e Receita Federal, que se
constituem de rgos encarregados da preveno, do combate, da ao penal e do
julgamento dessa espcie de delito, nos termos dos artigos 91 do Cdigo penal e 7, 1, da
Lei n. 9.613/98 sem prejuzo do arbitramento cumulativo do dano mnimo, a ser revertido
em favor da Petrobras (art. 387, caput e IV, do CPP).
Curitiba, 14 de setembro de 2016.

495 ANEXO 106.


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Ministrio Pblico Federal


P ROCURADORIA

DA

R EPBLICA

NO

PARAN

F O R A -TA R E FA L AVA J ATO


ROL DE TESTEMUNHAS:
1. AUGUSTO RIBEIRO DE MENDONA NETO496, brasileiro, nascido em 04/12/1952, filho de
Angelina Ribeiro Mendona, inscrito no CPF/MF sob o n 695.037.708-82, residente na Rua
Cardeal Arcoverde, 1749, unid. 68, Pinheiros, CEP 05.407-002, So Paulo/SP;
2. DALTON DOS SANTOS AVANCINI497, brasileiro, nascido em 07/11/1966, filho de Maria
Carmen Monzoni dos Santos Avancini, inscrito no CPF/MF sob o n 094.948.488-10, residente
na Rua Doutor Miranda de Azevedo, 752, ap. 117, Pompia, CEP 05.027-000, So Paulo/SP;
3. EDUARDO HERMELINO LEITE498, brasileiro, nascido em 04/05/1966, filho de Yvonne
Seripierro Leite, inscrito no CPF/MF sob o n 085.968.148-33, residente na Alameda
Tupiniquins, 750, ap. 81, Moema, CEP 04.077-001, So Paulo/SP;
4. DELCDIO DO AMARAL GOMEZ499, brasileiro, nascido em 08/02/1955, filho de Rosely do
Amaral Gomez, inscrito no CPF/MF sob o n 011.279.828-42, residente na Rua Rodolfo Jos
Pinho, 1330, Jardim Bela Vista, casa 04, Centro, CEP 79.004-690, Campo Grande/MS;
5. PEDRO DA SILVA CORRA DE OLIVEIRA ANDRADE NETO, brasileiro, nascido em
07/01/1948, filho de Clarice Roma de Oliveira Andrade, inscrito no CPF/MF sob o n
004.458.604-30, atualmente recolhido na carceragem da Superintendncia de Polcia Federal
em Curitiba/PR;
6. PAULO ROBERTO COSTA500, brasileiro, nascido em 01/01/1954, filho de Evolina Pereira da
Silva Costa, inscrito no CPF/MF sob o n 302.612.879-15, residente na Rua Ivaldo de
Azambuja, casa 30, Condomnio Rio Mar IX, Barra da Tijuca, CEP 22.793-316, Rio de
Janeiro/RJ;
7. NESTOR CUAT CERVER501, brasileiro, nascido em 15/08/1951, filho de Carmen Cerver
Torrejon, inscrito no CPF/MF sob o n 371.381.207-10, residente na Est. Neuza Goulart
Brizola, 800, casa 02, Itaipava, CEP 25.750-037, Petrpolis/RJ;

496 Colaborador, conforme Acordo de Colaborao Premiada por ele celebrado com o Ministrio Pblico Federal
e homologado por esse Juzo nos autos n. 5073441-38.2014.404.7000 ANEXO 287.
497 Colaborador, conforme Acordo de Colaborao Premiada por ele celebrado com o Ministrio Pblico Federal
e homologado por esse Juzo nos autos n. 5013949-81.2015.404.7000 ANEXO 288.
498 Colaborador, conforme Acordo de Colaborao Premiada por ele celebrado com o Ministrio Pblico Federal
e homologado por esse Juzo nos autos n. 5012994-50.2015.404.7000 ANEXO 289.
499 Colaborador, conforme Acordo de Colaborao Premiada por ele celebrado com o Ministrio Pblico Federal
e homologado pelo e. Supremo Tribunal Federal na Petio n. 5952/2016 ANEXO 290.
500 Colaborador, conforme Acordo de Colaborao Premiada por ele celebrado com o Ministrio Pblico Federal,
homologado pelo e. Supremo Tribunal Federal na Petio n. 5209/2014 e cuja execuo acompanhada por esse
Juzo nos autos n. 5065094-16.2014.404.7000 ANEXO 291.
501 Colaborador, conforme Acordo de Colaborao Premiada por ele celebrado com o Ministrio Pblico Federal,
homologado pelo e. Supremo Tribunal Federal na Petio n. 5886/2015 e cuja execuo acompanhada por esse
Juzo nos autos n. 5062153-59.2015.404.7000 ANEXO 292.

141/149

M INISTRIO P BLICO F EDERAL


8. PEDRO JOS BARUSCO FILHO502, brasileiro, nascido em 07/03/1956, filho de Anna
Gonsalez Barusco, inscrito no CPF/MF sob o n 987.145.708-15, residente na Avenida de
Marapendi, n 1315, Bloco 3, apartamento 303, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro/RJ;
9. ALBERTO YOUSSEF503, brasileiro, nascido em 06/10/1967, filho de Antoinette Selman,
inscrito no CPF/MF sob o n 532.050.659-72, atualmente recolhido na Superintendncia da
Polcia Federal em Curitiba/PR;
10. FERNANDO ANTNIO FALCO SOARES504, brasileiro, nascimento em 23/07/1967, filho
de Therezinha Falco Soares, inscrito no CPF/MF sob o n 490.187.015-72, residente na Rua
Kobe, 149, Condomnio Nova Ipanema, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro/RJ;
11. MILTON PASCOWITCH505, brasileiro, nascido em 21/08/1949, filho de Clara Pascowitch,
inscrito no CPF/MF sob o n 085.355.828-00, residente na Rua Armando Petrella, 431, bloco 2,
ap. 03, Cidade Jardim, CEP 05.679-010, So Paulo/SP;
12. JOS CARLOS COSTA MARQUES BUMLAI, brasileiro, nascido em 28/11/1944, filho de
Nelita Costa Marques Bumlai, inscrito no CPF/MF sob o n 219-220.128-15, atualmente
recolhido no Complexo Mdico Penal em Pinhais/PR;
13. CARMINE DE SIERVI NETO, Presidente da OAS EMPREENDIMENTOS poca dos fatos,
brasileiro, nascido em 04/09/1971, filha de Marinelda Aguiar de Siervi, inscrita no CPF/MF
sob o n 515.484.295-20, residente na Rua Waldemar Falco, 870, ap. 1801, Brotas, CEP
40.296-700, Salvador/BA;
14. RICARDO MARQUES IMBASSAHY, Diretor da OAS EMPREENDIMENTOS poca dos
fatos, brasileiro, nascido em 22/10/1975, filho de Maria de Nazar Marques Imbassahy,
inscrito no CPF/MF sob o n 697.610.195-00, residente na Rua Leonor Calmon, 355, ap. 1601,
Candeal, CEP 40.296-210, Salvador/BA;
15. IGOR RAMOS PONTES, engenheiro da OAS EMPREENDIMENTOS poca dos fatos,
brasileiro, nascido em 13/10/1974, filho de Elzita Santos Pontes, inscrito no CPF/MF sob o n
682.520.645-15, residente na R. Fabia, 138, ap. 172 C, Vila Romana, CEP 05.051-030, So
Paulo/SP;
16. MARIUZA APARECIDA DA SILVA MARQUES, engenheira da OAS EMPREENDIMENTOS
poca dos fatos, brasileira, nascida em 28/09/1977, filha de Maria Aparecida da Silva, inscrita
no CPF/MF sob o n 045.237.266-63, residente na Rua Quitanduba, 121, ap. 43, Caxingui, CEP
05.516-030, So Paulo/SP;
502 Colaborador, conforme Acordo de Colaborao Premiada por ele celebrado com o Ministrio Pblico Federal
e homologado por esse Juzo nos autos n. 5075916-64.2014.404.7000 ANEXO 293.
503 Colaborador, conforme Acordo de Colaborao Premiada por ele celebrado com o Ministrio Pblico Federal,
homologado pelo e. Supremo Tribunal Federal na Petio n. 5244/2014 e cuja execuo acompanhada por esse
Juzo nos autos n. 5002400-74.2015.404.7000 ANEXO 294.
504 Colaborador, conforme Acordo de Colaborao Premiada por ele celebrado com o Ministrio Pblico Federal,
homologado pelo e. Supremo Tribunal Federal na Petio n. 5789 e cuja execuo acompanhada por esse Juzo
nos autos n. 5056293-77.2015.404.7000 ANEXO 295.
505 Colaborador, conforme Acordo de Colaborao Premiada por ele celebrado com o Ministrio Pblico Federa l
e homologado por esse Juzo nos autos n. 5030136-67.2015.404.7000 ANEXO 296.
142/149

M INISTRIO P BLICO F EDERAL


17. MARIO DA SILVA AMARO JUNIOR, gerente da KITCHENS COZINHAS E DECORAES
LTDA poca dos fatos, brasileiro, nascido em 01/02/1965, filho de Elza Esperandio Amaro,
inscrito no CPF/MF sob o n 049.952.928-61, residente na Rua Francisco da Lira, 130, ap. 33 F,
Tucuruvi, CEP 02.346-010, So Paulo/SP;
18. RODRIGO GARCIA DA SILVA, vendedor da KITCHENS COZINHAS E DECORAES LTDA
poca dos fatos, brasileiro, nascido em 26/07/1981, filho de Sonia Helena da Silva, inscrito no
CPF/MF sob o n 296.062.808-02, residente na Rua Giacomo Marchione, 149, Baeta Neves,
CEP 09.760-260, So Bernardo do Campo/SP;
19. ARTHUR HERMOGENES SAMPAIO NETO, funcionrio da KITCHENS COZINHAS E
DECORAES LTDA poca dos fatos, brasileiro, nascido em 21/08/1984, filho de Eliana
Santos Vieira, inscrito no CPF/MF sob o n 331.867.558-08, residente na R. Iperoig, 871,
apartamento 24, Perdizes, So Paulo/SP, CEP 05.016-000 ou Avenida Mofarrej, 1130,
apartamento 84, Bloco F, Vila Leopoldina, So Paulo/SP;
20. HERNANI MORA VARELLA GUIMARES JUNIOR, scio da TALLENTO, brasileiro,
nascido em 12/10/1963, filho de Zuleide Soares Varella Guimares, inscrito no CPF/MF sob o
n 106.844.208-56, residente na Rua Professor Eduardo Monteiro, 218, Jardim Guedala, CEP
05.614-120, So Paulo/SP;
21. ARMANDO DAGRE MAGRI, scio da TALLENTO, brasileiro, nascido em 14/11/1972, filho
de Helene Dagre Magri, inscrito no CPF/MF sob o n 270.419.118-29, residente na Rua
Itapimirum, 11, ap. 201 C, Vila Andrade, CEP 05.716-090, So Paulo/SP;
22. ROSIVANE SOARES CNDIDO, funcionria da TALLENTO poca dos fatos, nascida em
02/08/1978, filha de Maria Zuila Soares Candido, inscrita no CPF/MF sob o n 262.772.028-71,
residente na Rua Paulo Augusto Bueno Wolf, 02, apartamento 35, Ponta da Praia, CEP 11.030375;
23. ALBERTO RATOLA DE AZEVEDO, contratado pela TALLENTO na poca dos fatos, nascido
em 03/05/1985, filho de Priscila Mesanelli Souto Ratola Azevedo, inscrito no CPF/MF sob o n
335.435.218-37, residente na Rua Pssaros e Flores, 223, apartamento 81, Brooklin, CEP
04.704-000, So Paulo/SP;
24. JOS AFONSO PINHEIRO, zelador do Condomnio Solaris poca dos fatos, nascido em
17/12/1969, filho de Maria Julia Pinheiro, inscrito no CPF/MF sob o n 564.132.620-87,
residente na Rua Sebastio Paiva de Lima, 28, Jardim Progresso, CEP 11.453-250, Guaruj/SP;
25. EDUARDO BARDAVIRA, comprador da unidade 131-A, antigo 141-A, do Condomnio
Solaris, nascido em 09/10/1978, filho de Maria Aparecida Bardavira, inscrito no CPF/MF sob o
n 262.572.508-70, residente na Rua Vilela, 750, apartamento 202, Tatuap, CEP 03.314-000,
So Paulo/SP;
26. LUIZ ANTONIO PAZINE, gerente de logstica da empresa DB TRANSNACIONAL
LOGSTICA BRASIL TRANSPORTES LTDA, nascido em 20/01/1958, filho de Luiza Loro Pazine,
inscrito no CPF/MF sob o n 008.950.028-84, residente na Rua Carijos, 1680, V Alzira, CEP
09.180-000, Santo Andr/SP;
143/149

M INISTRIO P BLICO F EDERAL


27. PAULO MARCELINO MELLO COELHO, contratado pela empresa DB TRANSNACIONAL
LOGSTICA BRASIL TRANSPORTES LTDA, nascido EM 19/01/1984, filho de Neusa de Mello
Coelho, inscrito no CPF/MF sob o N328.555.868-79, residente na Rua Malva Silvestre, 102,
Pq Savoy City, CEP 03.570-150, So Paulo/SP.

144/149

Ministrio Pblico Federal


P ROCURADORIA

DA

R EPBLICA

NO

PARAN

F O R A -TA R E FA L AVA J ATO

EXCELENTSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA 13 VARA FEDERAL CRIMINAL DE


CURITIBA/PR

Distribuio por dependncia aos autos n 500661729.2016.4.04.7000/PR e 503520461.2016.4.04.7000/PR


Classificao no e-Proc: Sem sigilo
Classificao no NICO: Normal

1 O MINISTRIO PBLICO FEDERAL oferece denncia em separado em desfavor


de LUIZ INCIO LULA DA SILVA, MARISA LETCIA LULA DA SILVA, PAULO TARCISO
OKAMOTTO, JOS ADELMRIO PINHEIRO FILHO, AGENOR FRANKLIN MAGALHES
MEDEIROS, PAULO ROBERTO VALENTE GORDILHO, FBIO HORI YONAMINE e ROBERTO
MOREIRA FERREIRA, com anexos que a integram para os devidos fins. Deixa-se de
denunciar LUIZ INCIO LULA DA SILVA pelo crime de organizao criminosa porque tal fato
est em apurao perante o Supremo Tribunal Federal (Inqurito 3989).
2 No que respeita atuao delituosa de PAULO ROBERTO COSTA, RENATO DE
SOUZA DUQUE e PEDRO JOS BARUSCO FILHO, deixa-se de oferecer denncia em relao
aos fatos ora narrados, uma vez que j foram por eles denunciados, respectivamente, nas
Aes Penais n 5083376-05.2014.4.04.7000 e n 5036528-23.2015.404.7000, j sentenciadas.
3 No que tange atuao delituosa de JOO VACCARI NETO, ser oferecida,
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em momento oportuno, denncia em apartado com fulcro no disposto pelo artigo 80 do


Cdigo de Processo Penal Brasileiro.
4 Por oportuno, observa-se que parte dos fatos delituosos ora denunciados,
especificamente aqueles que dizem respeito prtica do delito de lavagem de capitais
atinente ao apartamento 164-A do Condomnio Solaris, em Guaruj/SP, constituem objeto de
denncia oferecida pelo Ministrio Pblico do Estado de So Paulo (MP-SP) perante o Juzo
da 4 Vara Criminal da Comarca de So Paulo.
Na oportunidade, o MP-SP props ao penal contra JOS ADELMRIO
PINHEIRO FILHO, FBIO HORI YONAMINE, LUIGI PETTI, TELMO TONOLLI, ROBERTO
MOREIRA FERREIRA, VITOR LEVINDO PEDREIRA, CARLOS FREDERICO GUERRA ANDRADE,
JOO VACCARI NETO, ANA MARIA RNICA, VAGNER DE CASTRO e IVONE MARIA DA SILVA
pela prtica de diversos delitos de estelionato (artigo 171, caput, do Cdigo Penal), pois
teriam obtido vantagens ilcitas, mediante a utilizao de artifcios, quando da transmisso de
obrigaes imobilirias do BANCOOP para a OAS EMPREENDIMENTOS S.A., bem como pela
cobrana de taxas de eliminao e demisso alheias s hipteses legais e pela venda de
coisas alheias mveis como prprias. JOS ADELMRIO PINHEIRO FILHO, FBIO HORI
YONAMINE, LUIGI PETTI, TELMO TONOLLI, ROBERTO MOREIRA FERREIRA, JOO VACCARI
NETO, ANA MARIA RNICA, VAGNER DE CASTRO e IVONE MARIA DA SILVA foram
denunciados, ainda, pela prtica do delito de associao criminosa (artigo 288 do Cdigo
Penal).
JOS ADELMRIO PINHEIRO FILHO, FBIO HORI YONAMINE, LUIGI PETTI,
TELMO TONOLLI, VITOR LEVINDO PEDREIRA, CARLOS FREDERICO GUERRA ANDRADE, JOO
VACCARI NETO, VAGNER DE CASTRO, IVONE MARIA DA SILVA, LETCIA ACHUR ANTONIO e
ROBERTO MOREIRA FERREIRA, ademais, foram denunciados pela prtica do delito previsto
no artigo 299 do Cdigo Penal, por terem omitido de atas de assembleia declaraes que
deveriam nelas constar, bem como fizeram declaraes falsas ou diversas daquelas que
deveriam ter sido registradas.
Em adio, JOS ADELMRIO PINHEIRO FILHO, JOO VACCARI NETO, IGOR
RAMOS PONTES, FBIO HORI YONAMINE e ROBERTO MOREIRA FERREIRA foram
denunciados pela prtica do delito de lavagem de dinheiro.
LUIGI PETTI, ROBERTO MOREIRA FERREIRA, VITOR LEVINDO PEDREIRA, CARLOS
FREDERICO GUERRA ANDRADE e JOO VACCARI NETO foram acusados tambm pela prtica
do delito do artigo 65 da Lei n 4591/65, em razo de suposta afirmao falsa acerca da
construo do Condomnio A'bsoluto.
Especificamente quanto aos fatos atinentes propriedade do apartamento 164-A
do Condomnio Solaris, foram denunciados pela prtica do delito de lavagem de capitais
(artigo 1 da Lei n 12.683/12) JOS ADELMRIO PINHEIRO FILHO, LUIGI PETTI, TELMO
TONOLLI, JOO VACCARI NETO, ANA MARIA RNICA, VAGNER DE CASTRO, IGOR RAMOS
PONTES, FBIO HORI YONAMINE, ROBERTO MOREIRA FERREIRA, FBIO LUIS LULA DA
SILVA, MARISA LETCIA LULA DA SILVA e LUIZ INCIO LULA DA SILVA. O ex-Presidente
da Repblica foi ainda denunciado pelo delito do artigo 299 do Cdigo Penal por, no ano de
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2015, ter feito declarao falsa em sua Declarao do Imposto sobre a Renda da Pessoa Fsica
acerca da propriedade de cota-parte do imvel 141 do Edifcio Salinas do Condomnio
Solaris506.
Quando da anlise acerca do recebimento da acusao, a Juza de Direito da 4
Vara Criminal da Comarca de So Paulo declinou a competncia para o julgamento dos fatos
para o Juzo da 13 Vara Federal de Curitiba, com base no artigo 76, II e III, do Cdigo de
Processo Penal507.
Em suma, enquanto o Ministrio Pblico do Estado de So Paulo no teria
indicado a origem do favorecimento consubstanciado na cesso do apartamento 164-A do
Condomnio Solaris perpetrado pelos denunciados em favor de LUIZ INCIO LULA DA
SILVA, MARISA LETCIA LULA DA SILVA e FBIO LUIS LULA DA SILVA, elementos
probatrios colhidos no mbito da Operao Lava Jato demonstrariam que referido
favorecimento teria sido concedido pelos executivos da OAS ao ex-Presidente da Repblica e
seus familiares em razo dos benefcios obtidos pela empreiteira atravs do esquema ilcito
perpetrado no mbito e em desfavor da PETROBRAS.
De acordo com a deciso proferida pela d. Magistrada, pelo que consta daquelas
investigaes e processos, e do que decorre logicamente das imputaes feitas nesta demanda,
a lavagem de dinheiro teria como crime antecedente desvios da Petrobrs, o que j objeto
de apurao e processamento perante a 13 Vara Federal de Curitiba, sendo inegvel a
conexo entre ambas as demandas, havendo vnculo dos delitos por sua estreita ligao.
Em adio, consta em referida deciso que a prtica do delito do artigo 299 do
Cdigo Penal por LUIZ INCIO LULA DA SILVA constituiria crime meio para a prtica do
delito do artigo 1, I, da Lei n 8137/90, uma vez que referida declarao falsa teria sido
apresentada Receita Federal do Brasil. A competncia para o processamento da prtica
delituosa, portanto, da Justia Federal, nos termos do artigo 109, I, da Constituio da
Repblica.
Declinou-se, assim, a competncia para o processamento do feito para a 13 Vara
Federal de Curitiba/PR, ressaltando-se, porm, a possibilidade de desmembramento e
devoluo dos fatos pertinentes na hiptese de entender esse Juzo restar de competncia
estadual o julgamento de parte dos delitos objeto de referida acusao 508.
Foi a deciso mantida pelo Tribunal de Justia do Estado de So Paulo 509 aps
julgamento pela 10 Cmara de Direito Criminal dos recursos em sentido estrito n 002148377.2016.8.26.0050, 0022708-35.2016.8.26.0050, 0021488-02.2016.8.26.0050 e 002355197.2016.8.26.0050 interpostos pelo Ministrio Pblico do Estado de So Paulo e pelas defesas
de LUIZ INCIO LULA DA SILVA, MARISA LETCIA LULA DA SILVA, FBIO LUIS LULA DA
SILVA, JOO VACCARI NETO, ANA MARIA RNICA e LETICYA ACHUR ANTONIO.
Conforme dito anteriormente, a denncia oferecida em apartado tem como
objeto, dentre outros, a prtica do delito de lavagem de capitais decorrente da cesso e da
506 ANEXOS 297 e 300.
507 ANEXO 301.
508 ANEXO 301.
509 ANEXO 302.

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realizao de benfeitorias no apartamento 164-A do Condomnio Solaris, em Guaruj/SP,


sendo que as vantagens ilcitas originaram-se no esquema delituoso perpetrado no mbito e
em desfavor da PETROBRAS por organizao criminosa de grande proporo composta,
inclusive, por empreiteiros, agentes pblicos empregados da PETROBRAS e agentes polticos,
alm de operadores financeiros.
Deste modo, acertada a deciso do d. Juzo da 4 Vara Criminal da Comarca de
So Paulo ao declinar a competncia para o julgamento de referidos fatos para a 13 Vara
Federal de Curitiba.
Igualmente, ainda que no constitua objeto da acusao ora ofertada, devem os
fatos supostamente delituosos concernentes declarao apresentada por LUIZ INCIO
LULA DA SILVA Receita Federal do Brasil acerca da propriedade de cota-parte do
apartamento 141 do Edifcio Salinas do Condomnio Solaria, a princpio, ser investigados
nesta jurisdio, uma vez que intimamente relacionado ao recebimento de vantagens
indevidas, consubstanciadas no apartamento 164-A do Condomnio Solaris e das benfeitorias
nele realizadas, pelo ex-Presidente da Repblica e sua esposa.
No que respeita aos delitos de estelionato (artigo 171 do Cdigo Penal) e contra
a incorporao imobiliria, bem como de falsidade ideolgica relacionada s atas de
assembleias e de lavagem de capitais no relacionados ao apartamento 164-A do
Condomnio Solaris, este rgo ministerial no vislumbra, em princpio, conexo com os fatos
investigados no mbito da Operao Lava Jato, pelo que requer seu desmembramento e
devoluo para a 4 Vara Criminal da Comarca de So Paulo.
No mesmo sentido coloca-se a apurao do delito de associao criminosa
(artigo 288 do Cdigo Penal) pelo qual foram denunciados JOS ADELMRIO PINHEIRO
FILHO, FBIO HORI YONAMINE, LUIGI PETTI, TELMO TONOLLI, ROBERTO MOREIRA
FERREIRA, JOO VACCARI NETO, ANA MARIA RNICA, VAGNER DE CASTRO e IVONE MARIA
DA SILVA. Pelo que se depreende da denncia ofertada pelo parquet do Estado de So Paulo,
em princpio, referida associao criminosa teria atuado apenas no mbito do BANCOOP, em
contexto diverso daquela organizao criminosa relacionada aos crimes objeto de apurao
na Operao Lava Jato.
Face ao exposto, requer seja a apurao e o julgamento dos ilcitos tipificados
pelos artigos 171, 288 e 299 do Cdigo Penal, artigo 65 da Lei n 4591/65 e artigo 1 da Lei
de Lavagem de Capitais no relacionados ao Triplex 164-A do Condomnio Solaris
desmembrados das investigaes ora conduzidas e remetidos 4 Vara Criminal da Comarca
de So Paulo, para que l sejam processados no mbito dos autos n 001701825.2016.8.26.0050.
5 Requer, ainda, o Ministrio Pblico Federal:
a) seja disponibilizado, no interesse da defesa, acesso aos vdeos das
colaboraes premiadas, cujo contedo no se encontra sob sigilo, dos colaboradores ora
arrolados como testemunhas;
b) sejam juntadas as Folhas de Antecedentes Criminais de todos os denunciados
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constantes dos bancos de dados a que tem acesso a Justia Federal.


Curitiba, 14 de setembro de 2016.

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