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Netanyahu se alia a premier húngaro, acusado de antissemitismo

Sob críticas, premier dá apoio a Orbán. Motivos? Os dois detestam George Soros
Orbán observa discurso de Netanyahu em Budapeste Foto: BERNADETT SZABO / REUTERS
Orbán observa discurso de Netanyahu em Budapeste Foto: BERNADETT SZABO / REUTERS

BUDAPESTE - Acusado de promover o antissemitismo no país, o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, recebeu na terça-feira em Budapeste o premier israelense, Benjamin Netanyahu, numa visita que despertou críticas na imprensa de Israel. Os dois, líderes de partidos de direita, têm ao menos um desafeto em comum que os aproxima: o bilionário judeu húngaro George Soros.

Na visita, a primeira de um premier israelense à Hungria desde a queda do comunismo em 1989, Orbán recordou a colaboração do país com o regime nazista na Segunda Guerra Mundial, e se comprometeu publicamente a proteger a comunidade judaica húngara.

— Em vez de proteger os judeus, decidimos, durante a Segunda Guerra Mundial, cooperar com os nazistas. Isso nunca mais acontecerá — afirmou Orbán, cujo partido, Fidesz, lidera uma campanha contra Soros, à qual a Chancelaria de Israel, segundo o jornal britânico “Guardian”, deu apoio. — Deixei claro para o primeiro-ministro que esse governo protegerá a minoria judaica e não tem qualquer tolerância com o antissemitismo.

Netanyahu afirmou ter ouvido “palavras importantes” de Orbán e recebido “garantias inequívocas” de seu apoio à comunidade judaica, apesar de recentes comentários do primeiro-ministro húngaro. Orbán classificou o almirante Miklós Horthy — que promoveu leis antissemitas durante o período em que comandava a Hungria, e cuja colaboração com os nazistas levou à morte de cerca de 550 mil judeus no país — como “um estadista excepcional”.

Desde o início do ano, Orbán — considerado um dos governantes mais autoritários da Europa — conduz uma série de ações para desacreditar Soros, acusado de “querer fazer dezenas de milhares de migrantes entrarem na Europa”, subsidiando organizações de defesa dos direitos humanos. Por sua vez, a Chancelaria israelense o classifica como “alguém que frequentemente mina os governos democraticamente eleitos de Israel ao financiar organizações que difamam o Estado judaico e tentam negar seu direito de se defender”. Soros é um dos financiadores do J Street, grupo judaico liberal dos EUA crítico de Netanyahu.

Segundo a oposição húngara, a campanha contra o bilionário é uma estratégia do Fidesz para atrair eleitores do partido de extrema-direita Jobbik, seu principal adversário político. A campanha usa uma imagem do bilionário sorrindo, acompanhada do slogan “Não deixe que Soros ria por último”. Pôsteres espalhados pela capital húngara foram vandalizados com suásticas e mensagens antissemitas, algo que o porta-voz do bilionário, Michael Vachon, descreveu como “semelhante aos momentos mais sombrios da Europa”. Nascido em Budapeste, o bilionário de 86 anos e que agora vive nos EUA, teve seu sobrenome original — Schwartz — alterado na infância, devido ao antissemitismo na Hungria.

“Estou chocado com uso do atual governo húngaro de imagens antissemitas como parte de sua campanha de desinformação deliberada”, afirmou Soros em comunicado. O rabino Zoltán Radnóti, um dos líderes da comunidade judaica húngara, disse que embora a campanha possa não ser abertamente antissemita, “pode despertar sentimentos descontrolados”.

— A visita de Netanyahu pode ajudar Orbán, pois dá crédito às alegações de que a campanha contra Soros não é antissemita — afirmou à AFP o analista político húngaro Csaba Toth.

Em Israel, a imprensa questionou a aproximação entre Netanyahu e Orbán. Em seu editorial, o “Haaretz” teve como título: “Israel se alia a antissemitas”.

Orbán discursa junto a Netanyahu, em Budapeste: críticas Foto: BERNADETT SZABO / REUTERS
Orbán discursa junto a Netanyahu, em Budapeste: críticas Foto: BERNADETT SZABO / REUTERS