JP, um jornal-herói, entra no 25º ano de vida (e batendo)

Jornal Pessoal, radar da Amazônia

Jornalista Lúcio Flávio Pinto

Ele é um jornalzinho feio (jornalzinho porque pequeno; feio porque feio mesmo). Tem 12 páginas – sem cor e sem fotos. Circula de quinze em quinze dias. É um herói, e por várias razões:

  • Nenhum outro veículo brasileiro é tão rigoroso com os preceitos jornalísticos;
  • Para garantir a independência de seu conteúdo, o jornal não aceita publicidade. Vive exclusivamente da venda avulsa (R$ 3 a edição);
  • Do PT ao DEM, de Lula a Serra, o jornal disseca as entranhas e retira as tripas – e mostra tudo a seu público, sem medo de chocar;
  • Fiscaliza com lupa o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Denuncia com vigor relações promíscuas entre capital & poder. Vigia a mídia;
  • Se uma autoridade, um empresário ou um jornalista mentiu, o jornal, quando tem provas, publica: “mentiu”. Se roubou, diz “roubou”. Simples assim;
  • Sua coragem não é exercida sob a proteção de multidões ou instituições do Sul Maravilha. Sua base fica na distante Belém; sua praça é a Amazônia dominada por feras que, com liberdade, agem acima da lei;
  • Como bate muito, o jornal apanha. Advogados de notório saber e jagunços de soco inglês já foram acionados para tentar calá-lo. Na Justiça, contam-se mais 30 processos e quatro condenações contra seu editor. Nada, porém, deteve o jornal. Em 2011, terá início o seu 25º ano de publicação.

Este é o Jornal Pessoal, uma teimosia de Lúcio Flávio Pinto.

Com admiradores (muitos) e colaboradores (alguns) espalhados pelo mundo, o JP é uma experiência solitária de um dos maiores jornalistas do Brasil. De 1966 a 1988, Lúcio Flávio passou por algumas das maiores e melhores redações do país, sempre com foco na Amazônia. Ganhou, entre outros, quatro prêmios Esso, o mais cobiçado do jornalismo nacional.

Em busca de um jornalismo extremado, em 1988, Lúcio Flávio abandonou a grande imprensa para se dedicar exclusivamente ao seu Jornal Pessoal. Desde então, a agenda amazônica do jornalista é acompanhada, no Brasil e no exterior, com vivo interesse – e aplausos.

Por seu trabalho em defesa da verdade e contra as injustiças sociais, recebeu em Roma, em 1997, o prêmio Colombe d’oro per La Pace. Em 2005 recebeu o prêmio anual do CPJ (Comittee for Jornalists Protection), de Nova York, pelas denúncias que faz em seu jornal e pela defesa da Amazônia e dos direitos humanos. Entre uma edição e outra, Lúcio Flávio escreveu quinze livros, todos sobre a Amazônia.

Fora do Brasil, Lúcio Flávio é tratado com reverência. Um exemplo: o jornalista norte-americano Larry Rohter, ex-correspondente do New York Times no Brasil, registrou no seu livro (Deu no New York Times) que o JP foi o primeiro a detectar a importância da penetração chinesa na Amazônia, em 2001. No Brasil, contudo, as coisas não são fáceis para Lúcio Flávio e seu JP.

Além da imensa pressão que enfrenta por parte daqueles que querem calá-lo, Lúcio Flávio banca o jornal sozinho. Como não abre mão da independência, não aceita anúncios. Em 2008, abrindo uma nova frente para o JP, o jornalista começou a colocar ao alcance público, na internet, todo o arquivo do jornal (www.lucioflaviopinto.com.br). Como, nesse caso, além de não contar com receita de anúncios, ele não iria faturar com a venda direta aos leitores, Lúcio Flávio abriu uma conta bancária para receber doações. O dinheiro, no entanto, mal pingou, e Lúcio Flávio mais uma vez teve de assumir os gastos (sem reclamar, diga-se de passagem – Lúcio Flávio não faz o estilo vítima).

Assim, contrariando as tendências do mercado, o Jornal Pessoal caminha para completar um quarto de século. Que venham outros! Quando o JP bate, a gente gosta.

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